Você é hétero e tem namorado.
O primeiro beijo se tornou o segundo, o terceiro e logo as duas perderam as contas de quantos já haviam sido.
Júlia nunca havia beijado uma garota antes, aquilo era diferente de tudo que ela já experimentara.
O gosto de Alex era doce e os movimentos suaves que a garota fazia com a língua a deixava prestes a perder o controle. Podia sentir sua respiração aumentando a cada segundo.
– Espera, vamos devagar – Alex segurou os ombros de Júlia enquanto alisava o cabelo da menina – preciso entender o que está acontecendo. O que estamos fazendo?
– Estamos nos beijando – Júlia respondeu com um sorriso grande sem acreditar que estava mesmo fazendo aquilo.
– Não podemos fazer isso. Você é hétero e tem namorado – Alex disse alarmada, lembrando-se da situação complicada em que seus sentimentos estavam envolvidos.
– Podemos não pensar nisso agora? – Júlia pediu com carinho – Eu passei todos os dias do último mês pensando em você, como seria seu beijo e até outras coisas mais. E definitivamente agora não é hora para você se preocupar com o Gustavo.
– Ok – Alex suspirou fundo e cedeu aos desejos que a paralisavam.
As duas garotas continuaram ali trocando beijos, risadas, sorrisos e conversas durante boa parte da manhã, até que Natasha entrou no quarto feito um furacão.
– Nat, eu agradeceria muito se você batesse na porta antes de invadir meu quarto – Alex disse enfiando o rosto vermelho em um travesseiro.
– O que vocês estão fazendo? – Natasha perguntou interessada.
– Nada que seja da sua conta – Alex respondeu mal-humorada.
– Tá legal. Só vim avisar vocês que estou saindo. Os pais do César estão viajando, vou passar o final de semana com ele.
– Quem é César?
– Um cara que conheci no teatro – Natasha respondeu puxando na memória de onde conhecera o rapaz – ou no bar. Não me lembro.
– Natasha, quando você vai crescer?
– Se crescer significa ser incrivelmente chata então eu espero que nunca.
Alex revirou os olhos irritada.
– Vou precisar de cobertura.
– Não.
– Por favorzinho – Natasha juntou as duas mãos e implorou.
– Absolutamente não.
Júlia acompanhava atenta a conversa das irmãs. Era bonito ver a forma como as duas mesmo com todas as diferenças se apoiavam uma na outra. Ela tinha um irmão mais velho, mas desde a doença da sua mãe a relação com ele não era mais a mesma.
– Alex, eu vou perder a razão se passar mais um final de semana nessa casa. Por favor, me dá cobertura e eu lavo a louça e faço sua lição por um mês.
– Eu sou representante estudantil, posso advertir vocês se descobrir que estão fazendo qualquer irregularidade acadêmica – Júlia disse piscando para Alex.
– Você vai ter que melhorar muito se quiser ser minha cunhada – Natasha jogou um travesseiro em Júlia e Alex corou.
– Tá bom, eu te dou cobertura. Não desligue o celular e me mande mensagem a cada duas horas ou contarei a verdade para o pai e ele colocará a polícia atrás de você – Alex resolveu ajudar a irmã antes que ela a constrangesse mais.
– Obrigada – Natasha deu pulinhos animados – você é a melhor. Tchau little sis, tchau cunhadinha. Ah, o pai deixou um recado, surgiu alguma coisa importante e ele teve que ir ao escritório hoje. Não deve voltar tão cedo.
– O que ela quis dizer com acobertar? – Júlia perguntou quando Natasha saiu do quarto.
– Vou ter que me passar por ela – Alex disse casualmente – quando meu pai começar a ficar preocupado eu saio pela janela e entro pela cozinha fingindo ser ela. Não se preocupe, fazemos isso o tempo inteiro.
– Como isso pode dar certo? É impossível confundir vocês.
– Eu visto as roupas da Natasha e assumo a personalidade trevosa. Acredite, sempre funciona. Vem, vou fazer nosso almoço. Você deve estar com fome.
Alex segurou a menina pela mão e não resistiu ao impulso de beijá-la novamente. Não queria sair do quarto, sua vontade era deitá-la em sua cama e conhecer cada pedacinho do corpo da garota, mas sabia que precisava ir com calma. Júlia era hétero e tinha um namorado e, além disso, Alex também tinha suas próprias questões obscuras que ainda precisava resolver.
Os dias se passaram rapidamente e a cada encontro Júlia queria mais de Alex. Estar com a garota a fazia despertar sentimentos intensos que ela nunca sequer pensou que pudessem existir. Sua vida havia sido virada de cabeça para baixo, mas ela gostava daquilo. Gostava da explosão de emoções que invadiam seu corpo quando estavam juntas. Era excitante trocar beijos escondidos nos banheiros da escola, mas Júlia sabia que em breve não aguentaria mais ter apenas aquilo. Ela precisava de Alex, seu corpo pedia por ela. Implorava por ter mais da menina, mas ainda não sabia como faria para atender os desejos do seu corpo e também do coração.
O campeonato nacional Sub-20 começara e Júlia se desdobrava para dar conta dos treinos, jogos, escola, as coisas em casa, estar com Gustavo e é claro, com Alex.
Certo dia Alex apareceu no ginásio onde Júlia treinava e sentou-se na arquibancada para admirar a garota que estava concentrada e não a vira. Enquanto a observava, Alex tentava entender o que aquela garota lhe provocava. O que sentia pela atleta tomava seu coração com uma força como ela nunca havia sentido antes. A menina já havia se relacionado com muitas outras garotas, inclusive namorava sério com uma garota antes de a sua vida desmoronar e ela ser obrigada a se mudar para o Brasil, mas nunca havia experimentado algo como o que estava vivendo com Júlia. Era intenso, gostoso, real, novo, mas também era perigoso. Alex sabia que era arriscado entregar seu coração para uma garota que não poderia se assumir, mas ao ver a menina correndo pela quadra e se jogando no chão para alcançar uma bola, ela se dava conta de que era cada vez mais difícil não se apaixonar.
– Natasha vai dormir na casa de uma amiga hoje. Quer ir lá para casa estudar para prova de inglês? – Alex perguntou quando Júlia veio até o canto da quadra de onde ela assistia ao treino e a abraçou discretamente.
– Não consigo pensar em professora melhor – Júlia deu um dos sorrisos que fazia Alex perder o ar – mas infelizmente hoje eu não posso. O time masculino vai jogar e eu preciso ir ver...
– Ver o Gustavo – Alex completou a frase e suspirou com tristeza.
– Alex, não faz isso.
– Me desculpa. Eu só não aguento mais essa situação. Me dói imaginar que você me beija com os mesmos lábios que beija ele.
– Eu sei que é difícil para você, eu vou terminar com ele. Prometo. Só me dê um tempo.
– Ok. Vou embora então. Tenho algumas coisas para estudar.
– Alex – Júlia chamou sentindo o coração doer. Odiava ver a garota naquela situação, mas não sabia o que fazer.
– Está tudo bem, a gente se fala depois – Alex deu um pequeno sorriso para a garota e deixou a quadra.
Júlia sabia que estava completamente apaixonada por Alex de um jeito que nunca estivera por Gustavo, mas ela ainda não tinha coragem de assumir seus sentimentos. Seus pais eram evangélicos e nunca aceitariam uma filha lésbica. Estar com Gustavo era cômodo. Ele era um garoto legal, se importava com Júlia e havia estado todo tempo ao lado dela durante a doença da mãe. A menina sabia que não poderia enganá-lo daquele jeito e além de tudo devia isso a Alex, se quisesse estar com ela precisava terminar com Gustavo. Não tinha o direito de fazer aquilo com nenhum dos dois. Mas quando pensava na reação dos seus pais, Júlia imediatamente se amedrontava. Precisava convencer Alex a aguentar um pouco mais, seu técnico a estava preparando para uma peneira que envolvia um contrato com um time maior. Logo ela não precisaria mais morar com os pais e tudo seria mais fácil.
Ou pelo menos eu espero que seja, Júlia pensou enquanto voltava para quadra.
Fim do capítulo
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NovaAqui
Em: 11/03/2017
Alex vai ter que ter um pouco de paciência e esperar o momento certo para Júlia terminar com o namoradinho.
Adorando muito mesmo
Abraços fraternos!
Resposta do autor:
Oie! Sim, Alex é bem paciente, mas Júlia também vai precisar ter coragem de se assumir.
Abraçoos
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