Não a olhei, ela tocou meu ombro, mas apenas fechei os olhos, teria que ser a “amiga” que eu sempre tinha que ser diante dele, ela tirou Anna da agua e a levou para cumprimentar o pai, a pequena ainda não tinha se acostumado com ele, ponto pra mim, porque quando ele aparecia ela sempre dava preferência a mim, não demorou muito ela voltou correndo se jogando na piscina, parecia um peixinho na agua, fiquei ali observando-a por algum tempo, Henrique se aproximou comentando:

-Ela está nadando bem.

-Está sim... Ela é meu peixinho favorito...

Dissera aquilo sem olhar para ele, Jéssica aproximou quebrando aquele clima gelado dizendo:

-Filha, venha aqui um instante, por favor!

A pequena encostou em minhas pernas que estava na agua e a ajudei a sai enrolando-a em uma toalha e a enxugando, ela sacudia os cabelos me molhando toda, sorri dizendo:

-Ei, para senão jogo você na agua de novo.

Ela sorria balançando a cabecinha ainda me molhando, a abracei fazendo cocegas, Jéssica sorriu comentando:

-Essas duas viu...

Nós olhamos, mas desviei o olhar, ela foi dizendo olhando de canto de olho para mim:

-Filha, seu pai irá viajar no domingo sem data para voltar e gostaria de levar você no zoológico hoje.

Olhei para Jéssica desviando rapidamente o olhar disfarcei um sorriso em uma fungada nervosa balançando a cabeça apertei meus dentes com força demais fechando meus punhos na beira da piscina inspirei fundo soltando o ar de vagar, já sabia o que viria, ela não iria deixar a filha ir sozinha com o pai ainda mais em outra cidade, Anna veio em minha direção dizendo:

-Tia Bia... Vamos ver os macacos, você falou ontem íamos nos divertir hoje?

Olhei sorrindo para ela apenas comentando:

-Não posso ir doçura, mas você vai se divertir muito com a mamãe e... Seu pai... Mas podemos ir outro dia se você quiser... ver os bebes cavalos, o que acha?

-Você vai trabalhar?

Ela abaixara a cabeça tristinha, toquei o rosto dela carinhosamente e sussurrei:

-Preciso ir doçura, mas olha só, prometo que iremos nos divertir muito outro dia, vamos andar na Fênix e correr como sempre corremos...

-Quero andar no bebe cavalo...

-Claro que sim, mas agora coloca um sorriso no seu rostinho e vá se arrumar que eu também preciso ir.

Ela correu pela casa subindo a escada, levantei sorrindo meio a contragosto para os dois, Henrique parecia feliz, Jéssica aflita, entrei em casa subi a escada querendo socar alguma coisa, quando entrei no quarto inspirei fundo para não bater à porta com força, estava irritada, coloquei a mão na cabeça andando de um lado para o outro.

Sentei no sofá olhando para aquela cama onde tínhamos acabado de fazer amor, desviei o olhar para um ponto qualquer no quarto, Jéssica entrara no quarto se aproximando com cautela se abaixou em minha frente sussurrando:

-Desculpa amor, ele...

-Tudo bem! Eu vou pra casa ou sei lá para qualquer outro lugar...

-Você não precisa ir, pode vir conosco...

-É mesmo Jéssica? E eu vou fazer o que lá? Me portar como sua “amiga” diante de seu ex-marido enquanto ele exibe a filha e a mulher ao mesmo tempo?

-Bia...

Levantei colocando uma mão na cabeça e a outra na cintura, não olhava para ela, estava com raiva daquela situação... Estava com raiva dela por ser covarde... Estava com raiva do destino por ter me colocado naquela situação, ela levantou e ficou me olhando, balancei a cabeça irritada e apenas disse com o coração doendo muito:

-Não aguento mais isso Jessy, pra tudo tem um limite... E o meu já acabou.

Peguei minha mochila juntando minhas coisas jogando de qualquer forma dentro dela, coloquei uma calça e calcei um tênis, peguei a mochila colocando nas costas olhei de relance para ela, vi que estava chorando, mas havia tomado uma decisão e daquela vez não voltaria atrás.

Fui em direção a ela, estava cabisbaixa, levantei sua cabeça passando os dedos de leve pelo seu rosto limpando suas lágrimas, meu coração apertado desviei meu olhar dos dela e sussurrei:

-Eu amo você, mas não podemos viver em paz desse jeito...

-Bia, por favor...

Sai do quarto, no corredor a pequena Anna estava correndo com a tolha enrolada no corpo, sorri, ela veio em minha direção me abraçando, prometi voltar depois e desci a escada, Henrique estava ali na sala olhando as fotos das duas, passei por ele e nem disse nada, peguei minha chave e meu capacete e sai dali, estava na moto quando Jéssica abrira a porta e veio em minha direção dizendo:

-Está terminando comigo Bia? Pelo amor de Deus... Não faça isso conosco...

-Não estamos terminando Jessy, mas também não podemos viver dessa forma, não foi assim que programamos... Não foi assim que planejei...

-Eu sei amor... Eu vou tentar concertar, mas por favos não saia daqui dessa forma!

Ela praticamente implorava, a abracei forte segurando-a em meus braços senti suas lagrimas em minha camiseta e mordi meu maxilar segurando minhas próprias lagrimas, mas não voltaria atrás, a afastei com carinho e apenas disse:

-Desculpa...

Montei na moto e sai em disparada, não olhei para traz, mas senti o peito apertar estava deixando para trás as duas coisas mais importante da minha vida, não chorei, não iria demonstrar fraqueza naquele momento, acelerei a moto e entrei na rodovia, iria para o único lugar que poderia me acalmar, sai da rodovia entrando na estrada de barro até avistar o Haras.

Passei direto parando a moto próximo ao estábulo, deixei minhas coisas ali entrei em busca de minha garota, a encontrei e quando ela me viu sussurrei:

-Preciso de você agora!!

Parece que ela estava à minha espera, balançou a cabeça como se concordasse com o que eu falava, encilhei e saímos caminhando de dentro do estábulo, montei quando chegamos do lado de fora, ela foi galopando até a estradinha que levava aos pastos, quando pisamos na grama a forcei correr e saímos em disparada pasto a fora, não percebi que minha mãe chamara de longe.

Não queria ver ninguém naquele momento, só queria correr e sentir o ar cortando meu corpo e arrancar aquele sentimento de dor e perda de mim, corremos o mais rápido que podemos, gritei o quanto minha garganta aguentava e a Fênix me levou, ela me conhecia e sabia para onde eu queria ir e foi lá que ela me levou.

Quando nos aproximamos da arvore ela foi diminuindo a velocidade, quando paramos suspirei descendo dela e me ajoelhando no chão e ali... Somente ali eu chorei, deixei que as lagrimas caísse até que meu corpo começou os espasmos de soluço.

A égua me cutucava com a cabeça como se quisesse me consolar, mas não tinha nada naquele momento que o fizesse, minha cabeça doía, meu peito ardia... Meu coração estava em pedaços e meu único pensamento era Jéssica e Anna, fechava os olhos e as duas vinham em minha cabeça, com lágrimas caindo senti que mãos fortes me abraçavam e sussurrava baixinho:

-Oh minha filha... De novo não....

Meu pensamento voltara a 8 anos atrás quando ali naquele mesmo lugar chorava por outra mulher, as circunstâncias eram diferentes, eu não havia perdido, apenas me afastado para voltar depois... Ou talvez não...

Deixei ser levada pelo abraço de minha mãe que falava palavras carinhosas em meu ouvido, não consegui dizer nada naquele momento, apenas chorar e ela entendia e ficou comigo ali até que consegui narra tudo o que acontecera e os meus medos, ela me consolava e dizia que tudo iria ficar bem, fazendo de tudo para acreditar naquelas palavras.

Como se aquilo pudesse me confortar e me acalmar, chorei não sei por quanto tempo e ela sempre ao meu lado, depois tentou me convencer a voltar com ela para o Haras, mas eu precisava ficar ali sozinha, precisava acalmar o coração, ela se fora não querendo ir, mas entendia que eu precisava fica sozinha, a fiz prometer que não contaria a Jéssica caso ela ligasse perguntando de mim.

Ela concordara indo embora me fazendo prometer também que voltaria logo para casa, levantei e fui caminhando até a arvore e fiquei observando onde Jéssica deixara sua marca e a pequena Anna depois com minha ajuda fizera um desenho para completar a moldura, fiquei ali observando aquele pedaço de arvore não sei por quanto tempo recordando aquele dia, estávamos felizes...

Fim do capítulo