Capítulo 46

 

-- Onde você estava Fernando?! – Daniela perguntou quase gritando, assim que o rapaz entrou.

-- Por aí... - falou se jogando no sofá.

-- Não mente pra mim, Fernando! Eu sei que você foi procurar a imbecil da sua irmã! Porr*! diz o que foi falar com ela! – Daniela estava com ódio e descontrolada.

Fernando não ficou nenhum pouco surpreso, por Daniela saber que ele havia ido procurar a irmã.

-- Estava com saudade da minha maninha – disse irônico, fazendo a morena ficar com ainda mais ódio.

-- Seu caralh*, burro! – gritou com os olhos brilhando de ódio.

-- Não fala assim comigo, Daniela! – Fernando falou no mesmo tom.

-- Eu falo do jeito que eu quiser com você, seu maldito tarado!... Já imaginou o que sua irmã faria se descobrisse o que o irmãozinho dela faz... – despejou todo o seu veneno contra o rapaz.

Fernando ficou em silêncio por um bom tempo. No fundo sabia que a morena estava coberta de razão. Ninguém o compreendia como ela, afinal, os dois tinham praticamente o mesmo caráter.

-- Fernando... – Daniela viu que havia conseguido atingir o jovem e somente por isso amenizou seu tom de voz – Eu sou a única pessoa nesse mundo que te entende. Sua irmã não pensaria duas vezes em te manda pra cadeia. Ela teria horror de você – disse acariciando o rosto do rapaz – Eu sempre estarei ao seu lado.

-- Eu sei disso Daniela –Fernando tinha uma voz triste.

A morena sorriu vitoriosa. 

-- Vai ficar tudo bem... - Daniela dizia tentando consolar o jovem.

-- Você vai fazer mal a ela, Daniela... - Fernando estava com os olhos úmidos.

-- Entenda uma coisa, Fernando... Não se meta no meu assunto com sua irmã. Deixe isso pra lá! Não é da sua conta! Cuide das suas coisas, ok?

Fernando não disse nada, apenas balançou a cabeça concordando. Ele sabia que a irmã havia assinado sua sentença de morte e sofria por isso. Mas não se meteria mais nessa história, seria o melhor para ele.

 

********************

Carol chegou ao apartamento puxando o ar fortemente e bastante vermelha. Vick que já esperava por Érika na sala se assustou com o estado da garota. 

-- Carol, tudo bem? - se aproximou preocupada.

A baixinha estava encostada na porta e ainda puxava o ar fortemente. Fez sinal para a prima esperar um pouco. Passado algum tempo, Carol já parecia bem melhor e encarou Vick seriamente.

-- Tô ótima! - respondeu malcriada.

Antes que Vick pudesse devolver a forma como foi respondida, Luiza apareceu para conter os ânimos das duas.

-- Carol... O que houve contigo? - perguntou examinando a irmã com o olhar.

-- Nada... Só vim correndo - sorriu divertida.

-- Aff!! Carol você nunca viu táxi ou ônibus na vida? - Luiza disse contrariada.

-- Ah, eu tava aqui perto, não precisava pegar esses troços!

--Aham... Sei....

-- Vejo que já estão todas aqui... - falou Érika que já estava banhada e com roupas limpas.

-- Fala de uma vez, Érika! - Carol estava ansiosa.

-- Calma... Vamos sentar, pois o que eu tenho a falar é algo bem sério.

Todas fizeram o que a jovem disse. Se sentaram e ficaram observando a médica, que parecia escolher as palavras certas.

-- Hoje o Fernando veio me procurar...

Luiza e Vick arregalaram os olhos espantadas. Carol ficou bastante seria.

-- Fer... Nando... - gaguejou Vick.

-- Existem coisas que vocês precisam saber... -Érika encarou Carol que fez sinal positivo com a cabeça.

-- Fernando passou todos esses anos envolvido com Daniela - Carol foi quem tomou a palavra - Eu nunca deixei de seguir os passos dos dois... Érika, essa não foi a melhor forma que eu encontrei para falar essas coisas, mas no momento é a única que eu tenho. Você sempre soube que seu irmão é um doente – Carol suspirou – Andei investigando a vida dele... Fernando tem uma ficha bem suja... Ele é acusado de estupro, agressão e homicídio. Seu irmão sequestra meninas e abusa delas, comete agressões e muitas vezes acaba matando essas garotas. Ele já foi acusado, mas nunca conseguiram provar nada, eles sempre dão um jeito de mexer os pauzinhos. Daniela faz questão de deixar todos em silêncio. Sinto muito em te falar essas coisas, mas você tem o direito de saber a verdade – falou encarando a loira.

Luiza e Victoria escutaram atentamente tudo que Carol dizia. Érika mesmo sabendo que o irmão era um crápula, jamais imaginou que aquele menino que viu crescer havia se tornado um homem tão ruim. Nunca imaginou que Fernando pudesse ter feito tantas loucuras. Não conseguiu segurar as lágrimas que molhavam seu rosto, mas a jovem não fez nenhum movimento, seu rosto permanecia indiferente a tudo, apenas suas lágrimas denunciavam seu verdadeiro estado.

-- Não acredito nisso... - Érika tinha dor na voz - Preciso ficar sozinha... - se levantou rapidamente e seguiu para o quarto tentando conter as lágrimas que saiam sem controle.

-- Também preciso ficar sozinha...

Luiza apesar de tudo estava triste, não queria que Fernando tivesse se tornado esse tipo de pessoa, no fundo ainda acreditava que um dia ele fosse se arrepender de tudo, mas ela estava enganada.

-- Luh... - Carol chamou a irmã preocupada.

-- Agora não, Carol...

Luiza saiu e deixou apenas Vick e Carol que permaneceram em silêncio por um tempo. Victoria estava totalmente pasma, não conseguia dizer uma palavra. Carol estava pensativa, sabia  o que estava por vim, tinha que ficar ainda mais atenta naqueles dois, pois a qualquer momento Daniela poderia aprontar.

-- Nunca pensei que esses dois iriam se tornar pessoas tão perversas - disse Vick, chamando a atenção da baixinha.

-- Existem muitas pessoas assim, Vick...

-- Eu sei, mas poxa o Fernando... Ele foi criado com a gente... Era um chato, mas eu nunca imaginei que ele se tornaria uma pessoa assim...

-- Nem sempre as coisas acontecem como a gente imagina....

-- Eu tô com medo - confessou Vick.

-- Não vou deixar que nada de ruim aconteça com vocês - Carol estava pensativa - Eles são dois malucos! Só que a Daniela é uma maluca inteligente... Bem inteligente por sinal.

-- isso é verdade!

O celular de Victoria passou a tocar, ela não reconheceu o número, mas mesmo assim atendeu rápido, coisa de médico mesmo.

-- Alô...

-- Victoria? - era voz de mulher.

-- Sim, é ela.

-- Oi Victoria, aqui é a Elise...

Vick encarou Carol que a encarava desconfiada.

-- Ah... Oi, tudo bem? - não conseguia mais encarar a baixinha.

Carol apertou os olhos e suspirou cruzando os braços sobre o peito e encarou ainda mais a prima.

-- Tudo bem, minha linda...  Eu só liguei pra te fazer um convite... 

-- Hum... Qual?

--  Primeiro, só queria dizer que você é a mulher mais linda que conheci - Vick corou e Carol percebeu - Quer sair pra jantar comigo amanhã?

Vick suspirou.

-- Elise amanhã não vai dar. Pode ser na sexta? – a pediatra queria resolver as coisas com a mulher.

Carol se levantou bruscamente. Victoria se assustou e a encarou.

-- Claro minha linda. Sexta está ótimo - a médica escutou Elise dizer.

Carol pegou sua mochila e saiu sem encarar Vick que havia ficado muda.

-- Victoria? - Elise estranhou o silêncio da médica.

-- Ãn... Ah, oi Elise.

-- Tudo bem?

-- Sim, claro... Eu só me distrair vendo uma coisa aqui.

-- Desculpa, você deve estar ocupada...

-- Sim, um pouco, mas tudo bem.

-- Vou deixar você trabalhar. Sexta ta ok né?

-- Claro, Elise.

-- Está certo, minha linda. Beijos.

-- Beijos.

“ Droga! Onde ela foi? Nossa, como isso é difícil... Preciso resolver logo essa minha vida”

****************

Rebecca precisou voltar com urgência para Nova York, sua mãe havia passado mal e a avisaram imediatamente. Nem teve tempo de avisar Luiza. Somente quando chegou a cidade, conseguiu falar com sua amada e Luiza como sempre foi compreensível. Rosemary havia tido um enfarto. A ruiva ficou muito preocupada com a mãe, mas dona Rose estava bem melhor. A mulher ficou feliz com a felicidade que sua filha exalava, há muito tempo não a via tão feliz. Emily contava entusiasmada de suas aventuras no Brasil e principalmente, falava de Luiza e o quanto tinha gostado dela.  Rebecca avisou a mãe que pretendia morar no Brasil imediatamente e apenas resolveria algumas coisas, Rose não se opôs, ao contrário, deu toda a força para sua única filha. Rebecca tinha um grande amor por aquela mulher e a convidou para morar com elas, mas a mulher mais velha não aceitou. Rose admirava a mulher cheia de força que sua filha se tornou, tinha orgulho da ruiva. Rebecca tentava adiantar o máximo de coisas que conseguia, tudo que mais deseja era está ao lado de Luiza. Não pensou duas vezes em ir morar perto de sua amada. Ela conseguiria trabalhar perfeitamente no Brasil, apenas teria que fazer algumas viagens, mas isso sempre aconteceu mesmo, então não se importa muito. 

Victoria bem que tentou falar com Carol, mas a baixinha não dava oportunidade. As duas sempre acabavam discutindo e trocando acusações. Érika e Luiza não conseguiam entender qual era o problema daquelas duas. Estava na cara que as duas se gostavam, mas eram muito teimosas para ceder primeiro e isso tudo virava uma grande confusão.

Os dias foram se passando...

Luiza e Rebecca se falavam todos os dias, estavam cada dia mais apaixonadas, era uma maravilha sentir a felicidade das duas. A ruiva passou a falar bastante de Luiza para Emily, que ficava toda animadinha, pois parecia sentir que a mãe estava muito feliz. Rebecca só precisava resolver algumas coisas na empresa e logo iria de vez morar no Brasil, perto de sua amada. Ficava contando ansiosamente os dias para finalmente ficar de vez com Luiza.

Bia e Érika estavam se dando a cada dia mais bem. Beatriz estava bastante feliz e o sorriso não saia de forma alguma do seu rosto. Érika mesmo sendo bastante discreta também não conseguia disfarça sua felicidade, isso era perceptível. Seu lado azedo havia diminuído consideravelmente mas, claro que vez ou outra ela soltava alguns de seus comentários sarcásticos e os alvos favoritos da médica eram sem dúvida Carol e Vick, pois a jovem acabava se irritando com as constantes briga das duas.

Carol e Vick viviam em atrito, qualquer coisa era motivo pra uma discussão e quem sempre tentava amenizar o clima, era Luiza, mas até mesmo ela já estava ficando de saco cheio de tudo. Victoria passou a sair bastante com Elise, as duas estavam se conhecendo e Vick não conseguia negar que se sentia atraída pela mulher. Elise tinha um ótimo papo e elas sempre tinham muitas coisas a dizer, nesses momentos ela até conseguia esquecer um pouco da esquentadinha da prima.

Já Carol vivia estressada com tudo. Primeiro Vick que vivia saindo com tal mulherzinha. A baixinha não suportava ficar pensando nas duas juntas e quase sempre acabava saindo para pensar melhor nas coisas, ela amava fazer isso. Ainda tinha que ficar de olhos bem abertos, pois tinha certeza que Daniela poderia aprontar a qualquer momento. A morena estava sumida. Daniela sabia que tinha que esperar para atacar. Ela teria que tirar o foco da atenção das meninas, principalmente de Carol e ela já sabia muito bem o que fazer, só estava esperando o momento certo.

******************

Luiza estava mais uma vez tentando conter os ânimos entre Carol e Vick.

-- Carol, por favor, a Vick ta certa! Você não devia ter deixado essa taça de sorvete em cima do sofá... Agora olha a porcaria que ficou... - Luiza disse fazendo sinal negativo e olhando para o sofá que estava com uma mancha bem grande de morango.

-- Foi sem querer - tentava se defender a baixinha - Eu acabei esquecendo e...

Victoria a cortou.

-- Ah Carol, você sempre acaba esquecendo essa taça aí, todos os dias! - Vick estava furiosa.

-- Cala essa boca, Victoria!

-- Não gosta de escutar a verdade é, Carolina? - disse irônica - Você é uma tonta mesmo! - a raiva que Vick vinha guardando explodiu de vez.

-- É né... Devo ser mesmo - a baixinha falou debochada.

-- Escuta aqui Carol...

-- Já chega as duas!! - Luiza gritou.

Victoria e Carol a olharam assustadas.

-- Não tem um único dia que vocês não briguem! Chega disso! Vocês precisam se entender, antes de tudo as duas são primas, então parem! Eu tô cansada disso tudo! - Luiza pegou sua bolsa e saiu do apartamento, deixando as duas jovens atônicas.

-- Será que a Luh ta usando drogas? - Carol perguntou sem noção, ao menos ela conseguiu fazer Victoria sorrir.

-- Não! - disse se sentando no sofá que não estava sujo - Ela tem razão, a gente não para de discutir um minuto e tudo por besteiras - tinha um semblante cansado.

A baixinha acabou se sentando ao lado da prima, no sofá menor.

-- Isso é verdade... - suspirou profundamente.

-- Desculpa pelas coisas que falei - Vick pediu sincera.

-- Tudo bem, eu também te devo desculpas...

Ficaram um tempo em silêncio e depois se encararam e começaram a rir.

-- Pra Luiza ter dado piti a gente devia ta troplicamente mais chatas que a Érika - disse rindo.

-- Tro... O que? - perguntou rindo muito - Ah, deixa pra lá.

-- Ei cara, vamo fuxicar... Anda reparando na Bia e na Érika. Essas duas estão amando.

-- Sei disso é só ver a cara de boba da Érika, mesmo que ela tente disfarçar - as duas riam cúmplices - Espera! Não se mexe - Vick disse olhando algo nos cabelos da baixinha - E... Pronto! - tirou algo e observou - Eca Carol, que nojo! Que isso?

Carol riu e segurou a mão de Vick pra ver o que era.

-- Ah ta... É cereal. Eu comi hoje de manhã.

-- Que horror! - Victoria fez careta e limpou a mão, mas voltou a tocar nos cabelos castanhos claros da baixinha, procurando outras "porcarias". Victoria nem percebeu quando sua procura se tornou uma leve carícia.

Carol encarou aquela linda mulher com rosto de menina. Vick era toda delicadinha e bastante calma. Elas eram um oposto uma da outra. Carol sorriu e fechou os olhos para sentir melhor o carinho que recebia. Vick era perfeita, seus cabelos super pretos, assim como os olhos a pele branquinha, o sorriso tranquilo e acolhedor, ela abriu os olhos, mas fechou em seguida apertando-os fortemente e suspirando. A baixinha teve total consciência naquele momento de que estava perdida... Perdida de amor por Victoria, sempre esteve perdida, mas agora já sabia disso. Voltou a abrir seus olhos que encontraram com os de Victoria, que a olhava de uma forma diferente. Uma forma que Carol nunca tinha visto antes.

Victoria não sabia se olhava para os olhos, boca ou as sardinhas que se espalhavam pelo rosto de Carol, que não eram muitas, mas isso dava um charme enorme aquela garota. Quantas vezes Vick não se viu contando cada sinalzinho do rosto da prima, enquanto a mesma dormia. Carol abriu um lindo sorriso para ela, que parou de fazer carinho e suas mãos pousaram sobre o rosto da baixinha. Victoria também abriu um lindo sorriso para ela e seus olhos posaram sobre a boca vermelhinha. Vick foi se aproximando aos poucos. Não tinham mais como fugir e nem desistirem. Victoria queria aquilo, sempre quis, sempre desejou um beijo da prima, sonhou com isso por muitos anos e agora iria realizar. Carol também queria e desejava mais que tudo um beijo de Vick, na verdade queria muitas outras coisas da jovem doutora. Elas já respiravam com dificuldades, Carol também foi se aproximando aos poucos da prima, elas já sentiam a respiração uma da outra e já fechavam os olhos, mas para o azar das duas o celular voltou a atrapalhar o clima entre elas. Dessa vez era o celular de Carol. A baixinha suspirou profundamente e tirou o celular do bolso da calça, ainda respirava com dificuldade. Atendeu sem nem ao menos ver quem era, pois ainda encarava Vick.

-- Alô...

-- Carolina não diga que sou! Estou querendo conversar com você...

A baixinha reconheceu na mesma hora a voz.

-- Ah, oi... - se levantou rapidamente se afastando de Victoria, para a médica não escutar a conversa.

-- Já pode falar?

-- Sim. O que você quer Daniela? - Carol perguntou baixinho.

-- Quero falar com você, já disse! - áspera.

-- Fala coisa!

-- Não! Tem que ser pessoalmente. É um assunto delicado.

-- Hum... - Carol olhava atenta os carros que passavam. A baixinha estava desconfiada, mas tinha certeza que Daniela não iria fazer nada contra ela - ok, onde?

-- Anota o endereço...

Carol pegou uma folha de papel e uma caneta e passou a anotar  endereço. Nada mais falaram e Daniela desligou. A baixinha ficou um longo tempo encarando a folha de papel, estava tão distraída que nem percebeu Victoria se aproximava.

-- Carol, tudo bem? - estava preocupada.

A baixinha a encarou séria.

-- Ta tudo bem, Vick... - sorriu - Vou ter que sair agora... - apertou fortemente o papel em suas mãos - Trabalho... - explicou antes de pegar sua mochila e sair rapidamente. Victoria se sentou no sofá e deu um grande suspiro. -- Malditos celulares! - não pode evitar o sorriso. 

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Daniela sorria largamente. Havia chegado a hora de virar o jogo. Era hora de vencer esse jogo.

-- Vamos jogar mais um pouquinho! - gargalhou - Adoro fazer isso!

 

Fim do capítulo