CapÃtulo 35
Entre Lambidas e Mordidas -- Capítulo 35
-- O quê? -- Daniela perguntou, incrédula -- Raptaram a Débora? -- sua reação foi de total incredulidade.
Doutor Müller fez uma careta, e uma ruga de desespero apareceu em sua testa.
-- Posso garantir que estamos... tomando medidas extrema... para encontrá-la -- olhou rapidamente para ela e esforçou-se para encontrar as palavras corretas.
-- No extremo vai ficar a sua cara se vocês não a encontrarem -- Daniela corou de raiva e ele colocou a mão em seu braço -- Não toca em mim -- murmurou afastando-se um pouco.
-- Fique calma, querida! -- Lavínia pediu num sussurro, ajeitando-lhe o cabelo atrás da orelha -- Eles vão encontrar a Débora.
-- Espero que sim. Isso o que aconteceu é o cúmulo da incompetência. Como vocês permitem uma pessoa entrar em um hospital, roubar uma paciente que está em coma e ninguém ver?
Müller olhou para ela, sabendo que aquela situação toda era muito constrangedora para o hospital. Depois olhou outra vez para Roberta que parecia mais calma.
-- Vocês estão cobertas de razão. Sinto muito, mesmo. Com licença, vou atrás de noticias.
-- Eu ainda não consigo acreditar -- Daniela abriu os braços -- É coisa demais para a minha cabeça -- soltou os braços ao lado do corpo.
-- Não falei na frente do médico para evitar especulações, mas tudo dá a entender que foi a Paula -- Roberta falou e todos voltaram seus olhares para ela.
-- Impossível! -- Lavínia deu um passo à frente, em direção à Roberta -- Conheço muito bem a Paula, não faz o tipo dela planejar e executar planos mirabolantes. É muito pra cabecinha dela.
-- Quem mais poderia querer roubar a Débora? Era ela quem estava vendo o fantasma de minha sobrinha.
-- Fantasma não, espírito -- Daniela estendeu a mão e colocou-a sobre o ombro de Bianca -- Também não podemos ficar acusando as pessoas sem provas. Eu e a Bianca temos que ir para a faculdade, mais tarde me liga -- falou para Roberta.
-- Ligo sim. Boa sorte na apresentação de vocês.
Yasmin saiu do quarto e foi a cozinha tomar água. Encostou-se ao balcão de pia e, com a mão trêmula, levou o copo aos lábios. Havia tido um pesadelo e não conseguia parar de pensar no lobisomem que a atacou e mordeu seu pescoço arrancando sua cabeça.
-- Quanta besteira! -- riu de sua covardia -- Tanta coisa para se ter medo e, eu com medo de lobisomem -- riu baixinho, colocou o copo sobre a pia e se virou para sair.
A rede balançou na varanda e ela se assustou, fitando a porta trancada. Ficou paralisada quando ouviu o sussurro de vozes. Seu coração disparou.
Poucos instantes depois, Yasmin escutou diversos ruídos de passos ao redor da casa. Não conseguia parar de tremer. Os passos cruzaram a varanda. A maçaneta da porta principal foi sacudida com vigor.
-- Quem está aí? Seu Zé é o senhor? Dona Brenda? -- ninguém respondeu.
A maçaneta voltou a ser sacudida.
-- Vamos arrombar a porta dos fundos -- disse um homem para outro.
Silêncio.
Yasmin pensou em correr até o quarto pegar o celular e pedir socorro.
Uma sonora batida na porta dos fundo e Yasmin estremeceu.
-- Chute de novo -- um dos homens ordenou -- Rápido.
-- Socorro! -- Yasmin gritou mesmo sabendo que dificilmente seria ouvida por alguém -- Socorro! -- mesmo com as pernas bambas ela tomou coragem, e começou a andar, em direção ao seu quarto.
Cada segundo significava angústia e desespero.
-- Onde está o celular? -- abriu a bolsa, a gaveta, jogou roupas no chão e nada -- Meu Deus...
Yasmin se virou e avistou dois homens abrindo caminho através do que restara da porta.
Restava-lhe correr, mas para onde? Estava encurralada.
O primeiro homem se aproximou e a segurou pelo braço.
-- Então aqui está você! -- gritou com uma voz fanha -- Não adianta espernear.
-- Traga essa mulher para cá -- falou o outro homem.
Ele colocou a mão sobre a boca de Yasmin para que ela não gritasse e a arrastou à força sobre os restos da porta.
Ele a levou para fora. O sol brilhava intensamente. Provavelmente todos os empregados estavam ocupados na lavoura, pois o lugar estava deserto.
Enquanto se debatia, Yasmin imaginava uma maneira de fugir. Mas não tinha jeito, era humanamente impossível pois estava completamente dominada.
O homem grisalho que parecia ser o chefe, abriu a porta do carro e o mais novo a empurrou para dentro entrando em seguida e sentando-se ao seu lado.
-- Toca logo essa merd*! -- berrou e o carro saiu levantando poeira.
Lavínia entrou no apartamento e fechou a porta com força. Foi direto ao quarto de Marjorie e a encontrou deitada na cama cochilando com um livro sobre a barriga.
-- Preciso falar com você Marjorie.
Marjorie sentou-se na cama, as mãos entrelaçadas sobre os joelhos e o olhar de preocupada.
-- O que aconteceu?
O olhar de Lavínia fixou-se na amiga. Marjorie era uma anarquista revolucionária, mas era uma pessoa inteligente e observadora.
-- Alguém raptou a Débora do hospital -- Lavínia falou e ficou esperando para ver a reação dela.
Ela deu uma risada meio exasperada.
-- Você está brincando.
-- Tenho cara de quem está?
-- Na verdade, não -- Marjorie fez uma pausa longa -- Isso é incrível.
-- Eu queria te perguntar uma coisa -- Lavínia disse, com uma expressão ansiosa.
-- Pode perguntar -- deu de ombros.
-- Você acha que a Paula seria capaz disso?
-- Meu Deus, você está insinuando que ela invadiu o hospital e tirou a Débora de lá? E escondeu aonde? A mulher já deve ser um defunto -- comentou Marjorie com uma risada.
-- Não estou insinuando nada. Estou apenas querendo me tranquilizar. E se aquela maluca fez isso mesmo?
Marjorie levantou-se de um salto e começou a andar pelo quarto nervosamente.
-- Não seja ridícula! A Paula não tem capacidade de levar o Pedra para passear, imagina realizar um sequestro magistral como esse?
Lavínia sentou-se na cama com o Pedra em seu colo.
-- E se ela contasse com a ajuda de alguém?
O carro se movia em alta velocidade. O motorista, pelo visto, conhecia muito bem a região pois cortava caminho por becos e ruas de barro vermelho.
De repente, com um barulho de freios e o carro parou em frente a uma casa.
O homem grisalho abriu a porta e a puxou de dentro do carro rudemente.
-- Vem sua imbecil! -- ele não berrou, mas agarrou seu braço com tanta força que doeu. Yasmin tentou se desvencilhar, mas as mãos dele eram grandes e fortes -- Uma pessoa está ansiosa para ver você -- fechou a porta do carro batendo com força
-- Que pessoa? -- questionou Yasmin, receosa -- Me solte! Vocês vão se arrepender -- ela o encarou, o medo e a tensão a dominava.
-- Tem certeza que não sabe? -- ele disse friamente.
A boca de Yasmin secou. Pedro a mataria se voltasse a pôr as mãos nela.
-- Não vou entrar -- falou encarando-o de frente.
Seguiu-se alguns segundos de silêncio, carregado de tensão e medo, que foi interrompeu bruscamente pelo homem.
-- É o que veremos -- ele ignorou os protestos dela, colocou-a no colo e levou-a para dentro.
-- Me solta, me solta... Socorro! -- Assustada como uma criança, Yasmin agitava os braços e as pernas no ar.
Daniela estava exausta quando chegou em casa. Apesar disso estava feliz pois foi parabenizada com entusiasmo pela banca examinadora. Havia sido finalmente recompensada por seu grande esforço.
-- Amor! Cheguei! -- foi até a cozinha e não encontrou Yasmin -- Amooorrr... -- quando chegou ao quarto não a encontrou, preocupada, procurou-a no banheiro, mas também não estava. Um terrível pressentimento invadiu-lhe -- Não, não. Eu devo estar imaginando coisas -- Daniela sacudiu a cabeça e voltou para a sala. Yasmin deve estar com a dona Brenda -- Claro! As duas ficam horas e horas conversando sobre bebê.
Pegou o celular e ligou para ela.
-- Dona Brenda. A Yasmin está aí com a senhora? Não? O jardim? Lógico! Porque não pensei nisso antes? Obrigada dona Brenda.
Daniela desligou o telefone em estado de perplexidade. Correu até o jardim completamente aflita.
-- Yasmin! -- chamou apreensiva -- Yasmim, meu amor! Onde está você?
Não se ouviu resposta.
-- Encontrou ela? -- dona Brenda e seu Zé acabavam de chegar.
-- Não, eu não a encontrei... Meu Deus... Yasmin...
-- Calma minha filha. Ela deve estar passeando pela fazenda.
Daniela não falou nada, precipitou-se desesperada pela ruazinha que cortava a fazenda. Um nó trancou sua garganta e ela caiu num pranto convulso. O mundo parecia ter desmoronado.
Daniela correu por algum tempo e parou, finalmente percebeu que não adiantava de nada ficar procurando por ela. Yasmin não sairia sem avisar. Ela nunca fez isso e, em passos largos voltou para casa.
Entrou novamente em casa e dessa vez com mais atenção, observou a porta dos fundos completamente destruída e o quarto todo bagunçado.
Suas mãos tremiam enquanto discava o número de Roberta. E quando ela atendeu, falou em meio à lágrimas:
-- Vem pra cá tia. Estou precisando de ajuda.
Yasmin passou a tarde toda numa crescente ansiedade. Trancada em um minúsculo quarto, sem poder fazer nada a não ser esperar por uma oportunidade de escapar. Já havia gritado tanto que estava rouca.
Ouvia vozes no lado de fora do quarto de quando em quando, mas ninguém atendia ao seu chamado.
-- Deixem-me sair! -- gritou novamente.
Yasmin percebeu que não adiantava ela gritar. Ninguém a ouviria, estavam completamente isolados do mundo.
-- Oh, Deus, por favor, ajude a mim e aos meus filhos -- sentou-se na cama e acariciou a barriga -- Dani, me ajuda, meu amor.
Roberta desceu de seu carro com o rosto sombrio e preocupado. Muitas coisas passavam-lhe pela cabeça naquele momento. Um breve olhar para Daniela foi o suficiente para perceber que a situação era gravíssima.
Correu ao seu encontro e agarrou-a pelos braços.
-- O que aconteceu? -- perguntou -- O que aconteceu, Dani? -- insistiu.
Gaguejando, Daniela lhe contou o que sabia. Roberta saiu então correndo em direção ao quarto e conferiu com seus próprios olhos o que a sobrinha acabara de relatar.
-- Só pode ter sido ele -- constatou amargamente -- Só pode ter sido o Pedro.
A senhora Brenda concordou com a cabeça. Seu rosto estava pálido.
Daniela só tinha uma coisa na cabeça naquele momento: Encontrar Yasmin. Sentou-se na sala, esperando inconscientemente o telefone tocar. Acreditava que a qualquer momento Pedro ligaria lhe fazendo ameaças ou pedindo algo em troca de Yasmin.
-- Será que ele tem coragem de fazer mal a ela e aos bebês? -- indagou com a voz sumida.
Roberta ficou em silêncio. Não sabia o que dizer. Pedro era um louco.
Em pânico Daniela sentiu um aperto na garganta.
-- Se ele fizer algo contra ela, juro a vocês... Eu mato ele -- Daniela sentia o coração disparar e a palma das mãos ficarem úmidas e geladas.
-- Ele pode ser louco, mas não é burro -- Roberta se levantou impaciente, as mãos nos bolsos da calça e o semblante fechado. Saiu e foi até a janela. A vista dali era deslumbrante. As montanhas, a lua que começava a iluminar a mata. As árvores que se agitavam levemente com o vento brando que refrescava a noite quente de dezembro.
Daniela conteve as lágrimas e foi até a porta. Uma sensação estranha de dejà vu lhe dominou.
-- Não vou perder mais ninguém que amo -- se virou para Roberta e encarou-a com uma expressão agoniada -- Mesmo que para isso tenha que abandonar os meus conceitos de humildade e simplicidade.
-- O que você está querendo dizer com isso?
-- Que se um Pauly não consegue vencer um Vargas... Talvez um outro Vargas consiga vencer -- Daniela fungou e secou as lágrimas com o dorso da mão -- Chame o melhor advogado de São Paulo. Quero tudo o que me pertence. Inclusive a presidência da Vargas S.A -- Daniela prosseguiu, mantendo uma expressão dura -- Agora eles terão um adversário à altura. Vou pegar as minhas coisas e vamos para o apartamento da Daniela. Chama o Matias, a Lavínia e a Bianca. Quero todos lá em uma hora.
Os olhos de Daniela eram verdes mata quando ela estava alegre ou despreocupada e, naquele momento estavam escuros. Escuros de raiva.
Entrou no quarto e bateu a porta. Deixando Roberta, dona Brenda e seu Zé com os olhos arregalados fixos na porta fechada.
Sem descanso, Yasmin andava de um lado para outro, desesperada para sair dali.
-- Que pesadelo, meu Deus! Me tira daqui! -- berrou e chutou a porta.
-- Cala a boca vadia! -- ela ouviu uma voz grossa do outro lado da porta.
-- Não vou suportar esse pesadelo -- Yasmin suspirou, vendo o homem grisalho abrir a porta e entrar.
-- Você tem visita amorzinho. Papai chegou -- o grisalho parou junto à porta, deixando que Pedro entrasse primeiro no quarto.
Pedro entrou e ficou parado na porta olhando para ela. Ele nada disse. Nem era preciso. Yasmin estremeceu apenas com seu olhar.
-- Sabia que você voltaria. Obrigado por se juntar a nós -- disse Pedro, de modo delicado, como se não a tivesse arrastado para aquele lugar.
-- O que você pensa que vai fazer? Vai me matar?
-- Acalme-se, meu anjo. Se eu quisesse matá-la, já teria feito -- ele caminhou em volta dela -- Você está carregando uma coisinha muito importante para os Vargas -- ele lhe segurou as mãos dela -- Estou feliz por tê-la perto de mim.
Yasmin puxou a mão com violência.
-- Não toque em mim seu monstro!
Pedro deu uma gargalhada.
-- Yasmin, Yasmin. Não me deixe aborrecido. Você sabe que sou bipolar, agora estou bonzinho, daqui a pouco posso estar bem violento -- tentou beija-la.
Yasmin empurrou-o e correu para um canto do quarto.
-- Não se atreva a tocar em mim. Tenho nojo de você.
-- Você ainda é minha esposa Yasmin e, como seu esposo tenho todo o direito sobre você. Inclusive tocar o seu corpo -- cinicamente, ele sorriu para ela -- Amanhã eu volto. Durma bem meu amor.
Yasmin esperou Pedro sair e sentou-se novamente na cama. Desesperada, começou a chorar. Não havia nada a fazer a não ser rezar para que Daniela a encontrasse.
Se você tem um animalzinho de estimação e quiser mandar a foto dele para participar da capa de uns dos capítulos do romance, envie nesse whats: 47 91333878 ou no Facebook da autora: https://www.facebook.com/ojardim.dosanjos.5
Não se esqueça de colocar o nome do fofinho (a) para participar da história.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
rhina
Em: 19/12/2016
Dani em um minuto amadureceu 10 anos....
agora todas as cartas na mesa......e o jogo começa
amando autora.
rhina
Resposta do autor:
Olá Rhina.
Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.
Daniela percebeu que era hora de mudar, tomara que não seja tarde demais.
Beijão.
Rita
Em: 17/12/2016
O que será que o Pedro vai fazer? Meu Deus! Gostei da atitude da Dani :) eles estão mesmo a pedi-las.
Resposta do autor:
Olá Rita
A Daniela percebeu que não seria possível mudar as suas circunstâncias agindo da forma que estava agindo. A situação necessitava de uma atitude mais energica. Agora vamos ver no que dá.
Beijão.
[Faça o login para poder comentar]
Mille
Em: 15/12/2016
Bom dia Vandinha
Yasmim agora nas garras de Pedro, poxa ela subestimaram o Pedro e agora rezar que nada de mal aconteça com a Yasmim e os filhos. Infelizmente ele ainda é marido mais acho que ele não pode deixa-la em cárcere privado.
Daniela agora vai agir como uma Vargas e deixar o Pedro mais maluco pois a presidência é o cargo que ele mais queria.
Novas emoções e reviravolta vai acontecer.
Ninguém acreditou na Paula, quando ela falou sobre a Débora está falando com ela, e agora que a Débora sumiu a Lavínia acredita que foi ela, e todos discordam por achar que ela não tem mentalidade para executar tal ato, ela teve que tomar uma medida pois ninguém a ouvia e elas iriam desligar os aparelhos, e tirou ela por enquanto do quarto. Agora a perguntar aonde a Paulinha escondeu a Débora???
Bjus e até o próximo
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]