Fernanda estava chegando em casa com um misto de ansiedade e nervosismo com o qual não estava acostumada. Naquele dia havia feito uma semana que ela e Alexya tiveram aquela conversa pessoal após a reunião sobre os processos. Fernanda ainda passou alguns dias pensando a respeito das palavras da velha amiga, até que chegou a conclusão que ela tinha razão. Esperar era adiar o inevitável e Fernanda Azevedo não adiava nada; principalmente ter as coisas que queria. E ela sentia que iria querer Jasmine pelo resto da vida; a ultima semana havia provado isso das mais diversas formas possíveis.

Elas se entendiam sem a necessidade de palavras diversas vezes. Pietro já havia dito que depois de vê-las juntas ele não conseguia mais acreditar que amor a primeira vista não existia. Mas a editora sabia que não era o caso delas. Não havia sido a primeira vista, apesar de ter sido rápido. Jasmine havia sido uma tempestade no horizonte de um mar aberto, Fernanda a viu, mas não estava em seu curso, portanto apenas a deixou passar. Só que os ventos mudaram rápido e jogaram uma contra a outra. A tormenta havia acabado, mas as marcas dela residiriam para sempre em Fernanda. E, como sempre, depois da tempestade vem a calmaria. A calmaria de Fernanda era olhar os olhos da fotógrafa por trás antes dela mirar a lente em algo, o sorriso surgindo por baixo da câmera quando o foco da lente de Jasmine era ela, o calor do corpo junto do som daquele coração batendo calmamente enquanto ela adormecia.

Fernanda se achava a mais clichê das pessoas pensando essas coisas, mas ela não podia mais negar que eram verdades. Por isso decidiu seguir os conselhos de Alexya. Ela faria aquilo que quisesse fazer, como sempre fez em toda sua vida. Não seguiria padrões de nenhuma outra pessoa além dos próprios. Ela sabia que o que sentia pela fotógrafa era algo sério, forte, grande e intenso. Nada a faria se conter quanto aos seus desejos e sentimentos. Isso não significava que ela não estava nervosa com a expectativa do que a esperava naquela noite.

Ao entrar Fernanda vou deixando os sapatos pelo caminho, já estava descalça quando parou na entrada da sala e pode observar a fotógrafa sentada em seu sofá. As pernas estivadas sobre o móvel com um notebook no colo, a máquina conectada ao aparelho estava no chão enquanto ela passava algumas fotos avaliando-as; era o por do sol daquela tarde. Fernanda podia ver a tela por estar atrás de Jasmine e reconheceu a foto como um dos ângulos da sacada de seu quarto. Sim, Jasmine já tinha livre acesso à casa da editora em menos de 10 dias de relacionamento; oito exatamente, não que Fernanda estivesse contando, mas ela não conseguia não lembrar.

Jasmine não morava com ela, apesar de terem passado a noite juntas nos três últimos dias. A fotógrafa sempre voltava para seu apartamento quando ela ia trabalhar, mas no começo da noite estava de volta ao apartamento da morena. Ela ainda não tinha roupas ali; ao menos não mais do que quatro ou cinco peças. Fernanda queria mais do que qualquer coisa mudar isso logo. Respirou fundo antes de se fazer notar. Ela deslizou as mãos abertas pelos ombros da fotógrafa, depois seus braços e então indo na direção do colo de Jasmine, quando parou as palmas contra a cintura da fotógrafa ela já estava com o rosto colado ao da outra.

Fernanda sempre foi uma mulher ligada a palavras, ao discurso e à conversação. Mas não havia necessidade de muitas palavras com a fotógrafa. Ela olhou algum tempo para a tela do notebook analisando a imagem, recebeu um beijo na bochecha que a fez sorrir e virar o rosto na direção de Jasmine que, ainda sorrindo também, deu-lhe um selinho demorado. Avisou que iria tomar um banho, pediu que ela ligasse para algum restaurante e pedisse o jantar para as duas e então subiu as escadas.

Teve certa pressa quando chegou ao quarto, trancou a porta por precaução, apesar de saber que a fotógrafa não viria procura-la exceto, talvez, se a comida chegasse antes dela descer. Jasmine já conhecia o costume de banhos demorados quando a editora voltava do trabalho, era um ritual da morena. Fernanda estava nervosa enquanto organizava o quarto da forma que havia idealizado nos últimos dias enquanto planejava aquela noite. Terminou de arrumar tudo e correu para seu banho que foi o mais rápido que ela se lembrava de já ter tomado. Vestiu-se, a tarde noite mais fria pedindo uma calça no lugar do short que ela pretendia. Chegou ao final da escada e Jasmine voltava da porta com os diversos embrulhos com comida.

- Pedi daquele restaurante italiano que você disse gostar – contou ela sorrindo e se aproximando da editora – Vou levar tudo para a cozinha.

- Porque não comemos na sala? – sugeriu a morena segurando o rosto da fotógrafa e dando-lhe um beijo rápido – Deixe as coisas na mesinha de centro e pegue pratos e talheres que eu vou buscar um vinho pra gente – ela sussurrou contra os lábios da outra e foi em direção à cozinha escolher o vinho, deixando os pratos e talheres já separados para Jas leva-los depois de deixar a comida na sala.

Jasmine voltou pelos pratos e saiu deixando Fernanda ainda a escolher o vinho enquanto arrumava tudo para comerem. A editora queria ter tido mais tempo para se preparar, mas não teve. Levou a garrafa, o abridor e as taças para a sala e se sentou no chão com suas pernas ficando debaixo da mesa de centro. A fotógrafa estava sentada de lado para a mesa e a recebeu com outro beijo rápido.

Diferente do que Fernanda esperava ela conseguiu relaxar durante o jantar. Ela conectou seu celular ao aparelho de som da sala e uma playlist com musicas calmas e suave foi reproduzida durante todo o tempo que levaram para comer. Acabaram usando apenas os talheres e comeram direto das embalagens enquanto conversavam sobre assuntos aleatórios. Jasmine contou sobre as fotos do por do sol de sua sacada, eram um projeto que a fotógrafa estava organizando com alguns conhecidos e que poderia se tornar uma pequena exposição. A morena relaxou e, quando terminaram de comer e se sentaram uma o lado da outra com as costas contra o sofá, ela já não estava mais tão nervosa com o que faria a seguir.

Fernanda se aconchegou contra o corpo da fotógrafa que a abraçava por cima dos ombros; sua cabeça se apoiando no ombro da outra e seus cabelos pretos escorrendo por cima do braço de Jasmine. Ela olhou para cima, diretamente para o rosto dela e sorriu enquanto a ouvia falar de uma possível exposição.

- Acho que eu dei início a um monólogo aqui – falou a fotógrafa rindo baixo e olhando para Fernanda – Está tudo bem com você? Está calada hoje.

- Estou ótima – respondeu a editora se estivando até capturar os lábios da outra com os seus numa silenciosa demonstração de carinho; Jas sorriu contra seus lábios o que só fez Fernanda sorrir ainda mais – Vem morar aqui comigo – pediu ela antes de abrirem os olhos – Sei que paga metade do aluguel do apartamento que divide com Ana Júlia, não terá que pagar nenhum aluguel aqui e pode continuar ajudando-a.

- Você me quer morando aqui? – perguntou a fotógrafa com um tom claro de surpresa; Fernanda apenas abriu os olhos e confirmou com um gesto – Não estamos indo rápido demais com isso? – questionou a fotógrafa, mas seu sorriso denunciava que tinha gostado da ideia.

- Não – afirmou Fernanda com outro sorriso – E se estivermos eu não me importo. Quero você aqui comigo.

- Você entende o espaço que vai estar me cedendo na sua vida Fernanda? – questionou a fotógrafa apenas para ter certeza de que aquele não era um pedido feito sem reflexão – Você está pedindo pra dividir seu espaço comigo e eu já notei o quanto você pode ser territorial e ciumenta com suas coisas.

- Você tinha derrubado meu par de sapatos preferidos Jasmine Meirelles – reclamou a editora rindo – Nunca mais deixo aquela porta aperta pra você esbarrar nela de novo – as duas riram, mas Fernanda logo ficou série de novo – Eu sei disso, de tudo isso. Morar juntas é dividir a vida, o espaço, tudo. Eu confesso que não estou acostumada a dividir as coisas, eu não costumo dividir absolutamente nada. Mas quero fazer isso com você. Sei que vou levar tempo pra me adaptar, sei que posso ter que mudar alguns costumes pra nos adequarmos.

- Como o de ficar horas no banheiro ouvindo musica alta dentro daquela sua banheira gigante e, por isso, não ouvir ninguém chamar – enumerou a fotógrafa fazendo Fernanda rir e concordar – Ou a mania de largar tudo pelos cantos e esquecer onde deixou.

- Eu não esqueci, apenas não notei que havíamos empurrado sua câmera para debaixo da cama – se defendeu a editora e as duas começaram a rir de novo – Como eu já disse: sei de tudo isso.

- E mesmo assim ainda quer que eu venha morar com você? – questionou Jasmine um pouco mais séria.

Fernanda sorriu e se levantou, estendeu a mão para a outra e esperou que ela se levantasse também. Sem entender o que estava acontecendo Jasmine foi puxada levemente pela mão até as escadas e, dali, para o quarto de Fernanda. Quando entraram os olhos da fotógrafa se arregalaram com o que viram dentro do quarto.

A prateleira que ficava na parede oposta a do closet e tinha alguns livros e objetos de decoração espalhados estava meio vazia. Alguns objetos que costumavam ser muito espaçados estavam amontoados e os livros mais próximos uns dos outros de forma que três das oito prateleiras estavam vazias. A parede da porta que antes era vazia agora tinha algumas fotos pregadas, fotos tiradas por Jasmine que Fernanda havia revelado sem ela saber. Pela porta aberta do closet a fotógrafa também podia ver os espaços abertos onde antes haviam apenas roupas de Fernanda. Algumas malas estavam no chão, provavelmente cheias com as peças que a editora menos usava ou não gostava mais. O mesmo havia acontecido com a estante de sapatos, apesar de que esta tinha um espaço aberto menor. Jas não poderia ver de onde estava, mas dentro do banheiro metade dos produtos de Fernanda haviam sido realocados dentro dos armários antes quase vazios abrindo espaço para novos frascos.

- Você entrou no meu coração sem pedir, mas eu aceitei – falou Fernanda enquanto Jasmine ainda analisava as mudanças no cômodo – E eu já abri espaço pra você na minha vida quando admiti pra mim mesma que te amava. Eu não tenho dúvidas disso mais, então não vejo porque esperar mais para abrir mais espaço pra você na minha casa – ela falou indo para perto da cama e pegando um pequeno embrulho que estava sobre a mesma – Eu nunca achei que faria isso, mas nesse exato momento eu não vejo nenhuma razão para não fazer. Pra não ceder ainda mais espaço pra você.

- Fernanda você tem mesmo noção do que isso pode vir a significar no nosso relacionamento? – questionou a fotógrafa um tanto insegura com tudo o que estava acontecendo.

- Acho difícil não ter – admitiu a editora com um pequeno sorriso e os olhos de Jasmine se arregalaram ainda mais quando viu a morena retirar uma pequena caixinha preta de dentro do embrulho – Nós nunca definimos o que era nosso relacionamento Jasmine, mas eu quero fazer isso agora – ela afirmou com tanta convicção que deixou a fotógrafa sem palavras, principalmente depois de abrir a caixinha e revelar um par de alianças prateadas com alguns detalhes em pedras azuis circundando os anéis – Eu não me importo se é cedo demais; não se você quiser tanto quanto eu. Jasmine, eu estou numa posição na qual nunca me imaginei – falou Fernanda se aproximando mais da outra até estarem a centímetros de distancia – Mas eu nunca tive tanta certeza de algo antes na minha vida. Eu quero ser sua namorada, mas você tem que querer isso também.

Jas não teve o que falar, ela não conseguiria nem que tivesse. Tudo o que pode fazer foi segurar o rosto da menor e puxá-la para mais perto colando os lábios das duas num beijo que disse para Fernanda tudo o que ela precisava saber. Um beijo longo e apaixonado que demonstrava tudo o que uma sentia pela outra. Depois desse beijo só houve tempo suficiente para uma colocar a aliança uma na outra antes que voltassem a se beijar. Elas não conseguiriam manter seus lábios longe da outra naquela noite. Mas antes de beijarem qualquer outro lugar, ambas beijaram a mão da outra que continha a aliança num gesto de extremo carinho que Fernanda viria a descobrir se uma das cosias que ela mais amaria fazer.

Fim do capítulo