"Eu faria uma das maiores burrices da minha vida, mas eu namoraria você".

Sim, eu realmente ouvi certo, ela me disse isso com maior sinceridade.

E eu? Eu não sei o que pensar, não sei se essa declaração me deixa feliz ou triste, ainda mais que ela foi dita em um momento tão difícil para nós duas.

Decidi depois de alguns meses de contatos telefônicos diários que eu não iria conhecê-la pessoalmente, na realidade eu disse um não para nós.

Conhecer ela é algo que eu idealizei todos os dias, fiz planos mirabolantes para vê-la e que nunca cheguei a colocar em prática.

Quando decidi dizer não, não era porque não gostava dela ou por achar que o que tínhamos não era forte o suficiente.

Sempre soube que ela não se assumiria e de verdade, nem eu sei se o quero fazer.

Não vivi nada igual, nada com tamanho querer.

Para muitos pode passar a ideia de uma relação pouco intensa e nada envolvente, mas não foi isso o que vivemos.

Intensidade tivemos em todos os momentos, desde a nossa primeira conversa.

Com ela eu me permiti, me abri, contei meus segredos, fiz planos e ela se tornou a minha melhor amiga.

Sabe aquela sensação de reconhecimento?

Aquela ansiedade na espera de uma mensagem ou ligação?

O bater acelerado do coração só por ouvir a voz dela?

A gente teve tudo isso, passamos muitas noites e dias sentindo a presença uma da outra sem realmente estar perto fisicamente.

Não temos a mesma idade, aliás, a diferença de idade sempre foi algo que ficou nos rondando, sempre fomos muito realistas e sinceras uma com a outra.

Ela me dizia o que pensava e opinava sobre minha vida sem receio algum, me disse muita coisa que tenho certeza que nem minha família tinha coragem para me dizer.

Ela é uma pessoa linda, tem um coração generoso, é inteligente, prática, segura, experiente, intuitiva, perspicaz e muito sedutora.

Foi dela os meus maiores sorrisos e minhas maiores crises de ciúme. Sim, eu que até então não era uma pessoa ciumenta, passei a ser. E o olha que nem a vi pessoalmente, não senti seu cheiro e nem provei do seu sabor.

Depois desse meu não, a gente resolveu seguir com a amizade somente, mantendo contato diário e uma sendo o suporte da outra.

Teve dias em que a saudade e a vontade de realmente estar junto era grande demais e acabávamos nos permitindo reviver alguns momentos.

Assim ficamos durante quase dois meses, não nos envolvemos com ninguém de fora, uma forma de "fidelidade" e esperança de um algo a mais, pelo menos de minha parte.

Ficamos nesse ciclo até a noite de ontem, quando em uma chamada para desejarmos boa noite ela me contou que vai fazer uma viagem e se encontrar com outra mulher.

Fiquei arrasada, poucas noites chorei tanto em minha vida.

Meu corpo tremia de frio, mas não era um frio por causa do clima, mas um frio interno, como se o gostar dela que me mantivesse aquecida houvesse enfraquecido.

Me senti sozinha, perdida, decepcionada e infeliz.

Chorei muito, deixei que todas as emoções confusas desses meses saíssem com as minhas lágrimas.

 Senti medo não somente de perder a pessoa pela qual sou apaixonada, encantada, mas medo de perder a minha melhor amiga.

Somente adormeci após o cansaço e a dor de cabeça me vencerem.

Desde que a conheci, me distanciei um pouco das minhas outras amizades.

Não por ela ter me pedido isso, não mesmo, me distanciei porque as minhas outras amizades pareceram superficiais demais, não me sentia compreendida como me sentia conversando com ela.

Ela me disse que a escolha sempre foi minha e que ela me deu as oportunidades de conhecê-la e eu as recusei.

Não tiro a razão dela, ela está certa quanto a isso, só queria que ela tivesse a certeza que eu realmente gosto dela e que a minha escolha foi baseada na minha insegurança e inexperiência em me entregar totalmente para alguém.

Hoje nós conversamos novamente, não foi uma conversa fácil, ela está certa da decisão que tomou e eu tenho consciência que não tenho o direito de interferir na vida dela.

Eu falei como estou me sentindo e ela me disse que não pode ficar amarrada a mim se eu mesma que a mandei embora, ela vai sim curtir novamente com a ex.

Tive vontade de brigar, gritar, mandar ela a merd*, mas como fazer isso se ela sempre foi muito sincera comigo e sempre me deixou ciente que um dia isso poderia acontecer caso a gente não desse certo.

Falamos muitas coisas uma para a outra até eu ouvir essa frase do início desse meu texto.

 "Eu faria uma das maiores burrices da minha vida, mas eu namoraria você". Falou como sendo o único segredo que ainda restava entre nós.

Não sei o que fazer, ela é muito importante pra mim e saber que ela estará nos braços de outra está me despedaçando por dentro.

Ao mesmo tempo que não quero falar com ela, sinto uma vontade absurda de ouvir sua voz e aproveitar esses dias que tenho até a sua viagem.

Me sinto uma boba, imatura e não gosto do fato de estar chorando tanto por ela.

Não estou escrevendo esse texto para me vitimizar, eu sei que ela gostou muito de mim e ainda gosta, mas o meu não a decepcionou.

O fato dela envolver-se novamente com a ex só serve para me mostrar que a outra teve e tem o desprendimento de se arriscar e ir com ela pra qualquer lugar, desprendimento que eu não tenho e nem tive.

Sei que a marquei assim como ela também o fez em mim, não é em outros corpos que ela vai conseguir as sensações que eu causo nela, mas isso não impede que o ciúme me cegue.

As minhas palavras de agora vem com o intuito de desabafo porque nunca vivi algo assim e não estou sabendo bem como reagir.

O senhor tempo é um velhinho sábio, quem sabe ele me traga a maturidade de que preciso nesse momento e eu consiga lidar com essa mistura de sentimentos que está dentro de mim.

Não sei se serei capaz de respeitar a decisão dela e o rumo que nossa relação tomou.

Se ela tivesse me dito antes que namoraria comigo eu talvez não teria dito não para nós.

Talvez tivesse agido, colocado um dos planos de ver ela em prática.

Mas quem sabe também eu ficasse tão insegura e fugisse do que sinto por ela e do que ela causa em mim assim como o fiz anteriormente.

Neste momento me sinto cansada e sinto que está um pouco tarde para eu ficar fazendo suposições e pensando no "e se..."

A certeza que tenho unicamente é a de que me resta hoje colocar a cabeça no travesseiro e tentar dormir, sem a voz dela do outro lado para embalar meu sono.

Como sempre digo, a vida é feita de escolhas, nem sempre tomamos a atitude mais sábia, mas o que nos faz crescer como pessoa é o fato de não fugirmos de suas consequências.

Teremos muitos dias felizes, outros nem tanto, dias em que estaremos amando e outros em que veremos outros serem amados, mas sempre com a certeza de que devemos simplesmente viver um dia de cada vez.

Fim do capítulo