Capítulo 1
O dia que finda , o pôr-do-sol que se alonga ao fundo na praia quase deserta e o meu corpo rebol*ndo no vazio , sem amparo .
O azul do céu mudando de tons, as ondas rosadas , imensas , trazendo as estrelas pontinho a pontinho para costurar o rendilhado das constelações .
Como um boneco articulado vou caindo de bruços com os braços desarticulados e as pernas atrás de mim .
A multidão caminha , depressa ou devagar , há abraços apertados e sorrisos de quem cumpriu o seu dever.
A força da gravidade assobia nos meus ouvidos , as imagens passam ao contrário nos meus olhos . Milhares de pensamentos caem comigo neste precipício negro que me envolve e aperta como uma cobra estranguladora .
As emoções escapam-me em lágrimas furtivas que voam do meu rosto atrás das constelações que vão surgindo no céu .
Queda livre , morte certa, não vejo o fundo , o chão , imagino mil pedaços de mim espalhados na laje fria .
tento decidir se fecho os olhos ou se os fechos , se me esqueço de quem sou ou se me lembro de tudo o que fiz , contudo o o corpo inerte volteia no ar e confunde-me os pensamentos , não sei se resista ou se me abandone ...não sei .
E o baque , impacto em cheio , falta-me o ar .
Silêncio.
O coração bate tão forte enquanto me junto nos teus braços, quero contar-te tudo o que vivi neste dia , mas, não agora, que me apanhaste do nada , entre o céu e o chão . O dia inteiro fica enevoado , como o sopé da serra quando desce a neblina .
A tua mão em caricia distraída no meu cabelo, sinto-me criança assim no teu colo , quero dizer-te que caio o dia todo desde que saio do pé de ti , tenho medo das alturas , as vertigens trocem meu estômago conforme te largo as mãos e me afasto . Vou caindo ao longo do dia sem ti , um corpo desarticulado .
Quando o sol quase toca o mar a minha queda está quase no fim, o ar rarefeito quase me sufoca , os olhos já perderam as lágrimas todas e os lábios estão secos e frios .
Devagar curvas-te sobre mim , os teus cabelos fazem-me cócegas enquanto me beijas . Enxotas-me o cansaço e acendes-me vontades . Brincas com os teus lábios nos meus provocando incêndios vastos por todo o meu corpo . E , não te resisto, arrasto-te no meu delírio e jogo , bem devagar , esse jogo de sedução .
Desvendo o teu corpo por baixo da roupa e ponho a nu o desejo insano de provar a tua essência . Cada caricia é como cair de novo no precipício , mas contigo , pele com pele, com as mãos entrelaçadas , oiço-te dizer loucuras e quero mais devaneios.
Lá no fundo, no chão de tudo , tu e eu em muitos pedacinhos brilhantes, onde não sei onde começa o teu braço e termina a minha perna, à luz do teu sorriso, conto-te como foi o meu dia .
Alaya
Fim do capítulo
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