Capítulo 38

 

O silêncio permaneceu por algum tempo. Os olhos diziam coisas que a boca não conseguiria pronunciar naquele momento. 

 

Luiza lentamente estendeu a mão, tentando tocar no rosto da ruiva. Como se houvesse lhe dado um tapa, Rebecca despertou e afastou-se de forma brusca.

 

-- Não ouse encostar em mim! - disse áspera. 

 

Luiza levantou-se e observou a ruiva. 

 

-- Rebecca tenho muitas coisas para te falar... - falou com dificuldade, pois estava emocionada. 

 

Rebecca a encarou com olhos cheios de raiva. Observou a médica por um tempo. Luiza havia mudado... seus cabelos estavam com alguns cachos perfeitos, diferente do cabelo bagunçado da adolescência. Sua pele estava mais clara, pois dificilmente Luiza pegava sol, mesmo assim, ainda possuía aquela cor do pecado. Seu corpo havia ganhado ainda mais curva, que chamavam a atenção de qualquer um.

 

Rebecca olhou nos olhos verdes de Luiza. Ela ainda possuía aquela mesmo olhar... Doce e tranquilo. Rebecca sempre sentiu uma paz enorme quando olhava para Luiza, desde a primeira vez que a viu, anos atrás. 

 

A ruiva lembrou-se que deveria manter distância daquela garota, que no passado partiu seu coração sem nenhum remorso. 

 

Rebecca sorriu irônica. 

 

-- Não temos nada para falar...

 

-- Você pode não ter, mas eu tenho, por favor, me escuta - implorava. 

 

Luiza tentou aproximar-se da ruiva, mas Rebecca se afastou rapidamente. 

 

-- Já disse para você não encostar em mim! - falou alterada. 

 

O celular de Luiza voltou a tocar e ela lembrou que precisa ir para o hospital. Olhou para o celular em sua mão e depois encarou Rebecca angustiada. 

 

-- Por favor... Eu só preciso que você me escute, estou com pouco tempo. 

 

-- Você pode ir para onde quiser... Senhorita - disse irônica. 

 

-- Nem toda essa sua irônia irá fazer eu desistir de conversar com você - falou determinada. 

 

Rebecca a encarou furiosa. 

 

-- Escuta aqui sua... 

 

-- LUIZA! 

 

Vick aproxima-se da prima quase sem ar. Quando percebeu que Rebecca estava ali, Victoria abriu a boca surpresa, mas conseguiu disfarçar. Não era o momento para aquilo. 

 

-- Luiza precisamos ir - Victoria segurou a mão da prima a puxando. 

 

Luiza sabia que precisava ir, apesar de querer mais que tudo ficar. Encarou Rebecca mais uma vez. 

 

-- Eu preciso muito falar com você... Eu só quero alguns minutos Rebecca... Não posso agora, mas eu vou te procurar depois. 

 

-- Vai perder seu tempo - disse a ruiva friamente - Não temos o que conversar. 

 

-- Eu não vou desistir, não agora, com você tão próxima de mim... Você está aqui... Alguma coisa isso significa... Esse encontro... Após tantos anos... 

 

-- Me deixa em paz, Ana Luiza! - gritou. 

 

-- Eu não consigo, meu amor... Eu nunca consegui... Você faz parte de mim. 

 

-- Eu odeio você! - a ruiva já sentia os olhos úmidos. 

 

 

-- E eu te amo! Mais que tudo na minha vida! 

 

Victoria sabia que aquele era momento que Luiza esperou nos últimos anos e mesmo não querendo, sabia que tinham que ir. 

 

-- Vamos Lu... - disse apertando a mão da prima. 

 

Luiza encarou a prima e concordou. Victoria a puxou pela mão a levando para longe da ruiva. Luiza olhou para trás. 

 

-- Eu vou te procurar... 

 

Rebecca esperou as duas sumirem para começar a chorar. Um choro cheio de dor, mágoas, raiva, ódio e amor... O mais puro amor, aquele que ela nunca conseguiu esquecer... Aquele que ela sentia mais vivo ainda em seu coração. Sentia-se furiosa por ainda possuir tal sentimento por Luiza. 

 

Rebecca tornou-se uma moça fria e controladora diante de tudo. A única coisa que não conseguia, nem se tentasse, era controlar o que sentia por Luiza. Se sentia frustrada com isso... Chorou, chorou como há muito tempo não fazia e chorou pela mesma pessoa que sempre foi o motivo das suas lágrimas mais doloridas... Ela... Ana Luiza novamente, mas dessa vez a ruiva não deixaria que Luiza a mágoa-se como no passado. 

 

***************

 

-- Estou preocupada com a Kristen... - comentou Amanda. 

 

-- Relaxa, ela provavelmente está se divertindo por aí - Cassandra disse divertida. 

 

-- Eu não sei... Kristen é tão infantil às vezes... 

 

-- Ela está bem querida - Gabi disse colocando a mão sobre a de Amanda. 

 

A mulher encarou Gabriela com um sorriso doce nos lábios. 

 

-- Gabriela você viu a Luiza? 

 

Gabi encarou Poliana que estava visivelmente embriagada. 

 

-- Não, ela está aqui?

 

-- Sim, disse que ia no banheiro com a amiga dela e sumiu - disse com a voz pastosa. 

 

-- Poliana você está muito bêbada! - Cassandra disse com uma voz de desgosto. 

 

-- Ah Cassandra, me erra! - tinha dificuldade em falar. 

 

-- Muito bonito pra você Poliana! Está agindo como uma criança! 

 

Poliana bufou. A enfermeira enxergou Bia. 

 

-- Ei garota! - gritou. 

 

Apesar do som alto, Bia escutou a jovem lhe chamando. Aproximou-se com um sorriso tranquilo no rosto. 

 

-- Olá aniversariante... 

 

-- Cadê.. a Luiza? - perguntou com dificuldade. 

 

-- Ela foi para o hospital. Parece que houve uma emergência, sei lá. 

 

-- Mas ninguém... Me avisou - a enfermeira disse pensativa. 

 

-- Ainda bem né... Não ia fazer nenhuma diferença - disse debochada. 

 

-- Aff... Esse... Esse pessoal não consegue... nos deixar em paz... Nem nesses momentos - resmungou. 

 

Cassandra se levantou e com certa dificuldade conseguiu convencer a irmã a ir tomar um banho e beber alguma coisa para amenizar o efeito do álcool. 

 

Beatriz avistou Gabriela e aproximou-se. 

 

-- Gabi! 

 

A jovem sorriu. 

 

-- Bia! 

 

As duas se abraçaram. 

 

-- Finalmente saiu do armário! - Bia observou Amanda. 

 

Gabriela ficou muito envergonhada. Seu rosto corou por completo. 

 

-- Não... Nós somos apenas conhecidas... - Gabi explicou ainda corada. 

 

-- Ahhhh... Entendo... Foi mal - Bia falou fazendo uma careta - Prazer me chamo Bia - aproximou-se de Amanda estendendo a mão. 

 

Amanda sorriu e apertou a mão da jovem. 

 

-- Oi... Eu sou Amanda, muito prazer - disse simpática. 

 

Bia analisou toda aquela mulher que apesar ser mais velha era linda e gostosa. Muito bem cuidada. 

 

-- Bom agora eu vou dar um role por aí... Quem sabe eu não encontre algo interesse... Enfim, fui... 

 

Beatriz deixou as duas mulheres sozinhas. Gabriela ainda estava envergonhada e Amanda a analisava por completo. 

 

-- Você conhece a Rebecca de onde? - Amanda tentou puxar algum assunto, não era legal falar da ex, mas não encontrou outro assunto em comum. 

 

-- Eu a conheci na adolescência... Tínhamos uma amiga em comum. 

 

-- Quem seria? - perguntou curiosa. 

 

-- A Daniela - disse séria. 

 

-- Ah... A Daniela... 

 

-- Você a conhece? - Gabi perguntou surpresa. 

 

-- Como  não conhecê-la se ela não desgrudava da Rebecca.

 

-- Elas ainda tem contato? 

 

-- Sim... Essa mulher acho que é a única amiga dela.

 

Gabriela estava realmente surpresa. 

 

-- Nossa - foi a única coisa que disse.

 

-- É tão difícil assim imaginar que elas sejam amigas? - perguntou intrigada. 

 

-- Confesso que sim... Elas não se davam muito bem... São completamente diferentes. 

 

-- Entendo... E você tem razão. A Rebecca e completamente diferente da Daniela. Aliás, nunca gostei dessa garota. 

 

Gabriela estava pensativa. 

 

-- Mas você sabe que ela... Bem... Que elas namoraram por alguma tempo? - disse hesitante. 

 

Amanda sorriu. 

 

-- Sim, a Rebecca falou... Nunca me preocupei com a Daniela, pois sabia que a Rebecca jamais daria qualquer chance a ela. Isso está escrito na cara dela... Pena eu não poder dizer o mesmo da Ana Luiza. 

 

Gabriela arregalou os olhos. Amanda riu do espanto da garota. 

 

-- A Rebecca também me falou dela, aliás eu a vi uma vez por foto quando ainda era uma adolescente - continuou. 

 

Gabriela ficou pensativa. 

 

-- Então você a reconheceu - constatou. 

 

-- Sim... Assim que coloquei meus olhos sobre ela. Impossível não reconhecê-la. 

 

-- Hmmm... A história delas é complicada... 

 

-- Eu sei... Vocês são amigas? 

 

-- Sim... A Rebecca nunca gostou muito da nossa amizade - disse sorrindo lembrando das crises da ruiva. 

 

-- Por que não? 

 

-- Eu gostava da Luiza. 

 

-- Ahh... Entendo... Qual sua idade? - Amanda perguntou querendo mudar de assunto. 

 

-- Tenho 26 recém completo - disse simpática -  E você? 

 

-- Daqui a três semanas faço 39.

 

Gabriela ficou surpresa. 

 

-- Nossa, não parece... Tipo, eu te daria uns trinta - disse sorrindo. 

 

-- Eu me cuido muito bem. 

 

-- Se cuida mesmo...

 

-- Você trabalha com o que? 

 

-- Sou estilista... Adoro meu trabalho - Gabriela falou animada e com um brilho nos olhos, que Amanda admirou - E você? 

 

-- Sou formada em administração... Trabalho em uma empresa, sou vice presidente. 

 

-- Uau, estou falando com uma mulher importante... 

 

As duas ficaram a festa toda em um papo descontraído, mas infelizmente Amanda precisou ir. Gabriela deu o número para a mulher mais velha, que prometeu ligar. 

 

*****************

 

Vick estacionou o carro e encarou Luiza, que não tinha falado nada durante todo o caminho. A jovem parecia está perdida em um lugar distante. Victoria sabia que aquele não era o melhor momento, mas Luiza precisava voltar a si. Pegou seu celular e discou um número tentando a sorte. 

 

Para sua sorte atenderam. 

 

-- Érika! 

 

-- Já era para vocês estarem aqui! - disse a loira irritada. 

 

-- Eu sei... Você tá muito ocupada agora? 

 

-- Não acabei de sair de uma cirurgia, apenas descansando um pouco, mas já estou pra voltar! O que você quer? 

 

-- Estou no estacionamento do hospital, a Luiza tá aqui... Ela não está bem, Érika... Hoje ela encontrou a Rebecca e agora parece que está viajando na maionese... Totalmente fora de órbita, impossível ela conseguir fazer qualquer coisa nesse estado - disse rapidamente. 

 

-- Ok, tô indo aí - falou desligando. 

 

Não demorou muito para Érika chegar. Victoria saiu do carro. 

 

-- Pode ir, Vick... Eu cuido das coisas agora. 

 

-- Tá bom - concordou correndo em direção a entrada. 

 

Érika entrou no carro e observou Luiza. 

 

-- Acorda Luiza! Isso não é hora de ficar lerda! 

 

Luiza encarou a prima. 

 

-- Eu a vi, Érika - disse emocionada. 

 

A loira suspirou. 

 

-- Eu sei a Vick me contou... Mais do que ninguém eu sei o quanto você esperou por esse dia - Érika apertou a mão da jovem - Mas nesse momento eu não quero essa Luiza sensível, eu preciso de você forte! Eu quero a doutora Luiza... Temos que saber separar o pessoal do profissional, e eu sei o quanto você é exemplar em tudo que faz, principalmente se isso for relacionado a trabalho - Érika segurou o rosto da prima com as duas mãos e a fez encará-la - Existe pessoas lá dentro que precisam muito da sua ajuda, do seu brilho... Por tanto esqueça o mundo aqui fora, deixe seus problemas aqui, e faça aquilo que você mais do que ninguém sabe fazer... Luiza você consegue fazer isso? 

 

Luiza ficou encarando a prima e como se houvesse acordado de um sonho, a jovem moveu a cabeça positivamente. 

 

-- Consigo! Vamos fazer nosso trabalho, Érika! Vamos ajudar essas pessoas - disse determinada. 

 

Érika sorriu e concordou. 

 

As duas entraram no hospital e Luiza fez todo seu trabalho de forma brilhante, como sempre aconteceu, deixou para pensar em Rebecca em outro momento, pois havia pessoas precisando de sua ajuda. O hospital estava um caos, havia muitos feridos. 

 

*****************

 

Daniela procurava Rebecca por todo canto da festa, mas não havia tido sorte. Parecia que a empresária tinha evaporado. As esperanças da morena se acenderam quando a ruiva disse que estava se divorciando. Era muito bom saber daquilo, finalmente Rebecca estava livre para ser dela. Daniela não iria desistir tão fácil assim, estava determinada a finalmente conquistar a ruiva. 

 

Sentiu quando alguém a cutucou. A morena sorriu imaginando que fosse a ruiva. Virou-se para encarar a pessoa e não pode deixar de ficar surpresa. 

 

-- Você... 

 

-- Oi Daniela. 

 

-- O que você faz aqui? - disse áspera. 

 

-- Eu poderia te fazer a mesma pergunta - debochou. 

 

-- Não seja cínica Ana Carolina. 

 

-- Se é para falarmos de cinismo então o que dizer de você né - irônica. 

 

Daniela a fuzilava, mas depois ficou pensativa. 

 

-- Com quem você está aqui?

 

-- Eu acho que isso não te interessa... Agora você... Veio ao Brasil após tantos anos... Boa coisa eu sei que não veio fazer. 

 

-- Cala essa boca garota! 

 

Carol comeu um doce e fez uma careta. 

 

-- Eca! Esse povo rico tem um gosto tão duvidoso. 

 

-- Sei paladar é de pobre... Por isso você acha ruim - debochou. 

 

-- Tá falando a moça que nasceu rica... 

 

-- Eu nem sei porque estou perdendo meu tempo falando com você - tentou se afastar. 

 

-- Espera... Só mais uma coisa - Daniela a encarou - Sei que você é o mesmo demônio do passado. Eu não vou deixar você fazer nem uma de suas maldades! - disse seria. 

 

Daniela sorriu. 

 

-- Não tenho medo de você pirralha... Vai precisar comer muito ainda pra conseguir pôr medo em alguém. 

 

-- Não duvide da minha capacidade Daniela.

 

-- Não se meta no meu caminho coisinha - disse ameaçadora. 

 

-- Não tenho medo de suas ameaças. Guarde elas pra quem realmente teme, pois para mim não passam de piadas. 

 

-- Ana Carolina você não sabe com quem está se metendo. Vê se não enche garota! - disse dando as costas para a baixinha e andando a passos firmes.

 

-- Sei muito bem com quem estou me metendo... Aliás, dê lembranças ao Fernando - disse irônica e caminhando para o lado aposto ao da morena. 

 

Daniela parou de andar e observou a baixinha se afastando. 

 

"Como ela sabe disso?"

 

*****************

 

-- Aiii senhorita! Não precisa apertar com tanta força - disse fazendo uma careta. 

 

-- Olá - Luiza disse entrando no quarto e observando a paciente, que estava vermelha - Como estão as coisas por aqui Ângela? 

 

-- A paciente bateu fortemente a cabeça e chegou até a desmaiar. A alguns ferimentos pelo corpo, mas nada assim tão grave. O problema mesmo foi a pancada na cabeça. 

 

Luiza aproximou-se da loira que estava com uma expressão enorme de dor. 

 

-- Como está sentindo? - perguntou docemente. 

 

-- Quando essa moça parar de passar essas coisas que ardem em mim, estarei bem melhor - disse de mau humor. 

 

Luiza encarou a enfermeira, que estava com uma cara de cansada. 

 

-- Ângela pode deixar, eu cuida da moça a partir de agora. 

 

Ângela sorriu agradecida e se foi. 

 

-- Bom... - Luiza pegou a ficha e leu o nome da loira - Senhorita Kristen... - a encarou - Acho que já nos vimos antes... - disse pensativa. 

 

-- Nós nos conhecemos quando sua amiga Gabriela estava falando comigo e minha irmã - explicou a jovem. 

 

-- Ah, lembrei de você - disse sorrindo - Kristen, você teve alguns leves ferimentos, nada de grave, mas vai ser preciso tirar um raio X  de sua cabeça. 

 

-- Isso vai demorar? - fez uma careta. 

 

-- Um pouco. Você quer avisar alguém? 

 

-- Sim, por favor. Minha irmã deve está uma fera comigo. 

 

-- Vou providenciar isso... Mas antes vamos  fazer alguns exames. 

 

Kristen concordou e fez todos os exames necessários. Finalmente conseguiu falar com a irmã, que ficou desesperada. A jovem ficou esperando os resultados do exame. Sabia que a irmã iria enchê-la. 

 

Luiza voltou depois de um tempo com o resultado dos exames. A médica sorriu docemente. 

 

-- Olá Kristen... 

 

-- Diz pra mim que eu já posso ir pra casa, Luiza - disse ansiosa. 

 

A médica sorriu. 

 

-- Está tudo bem com você... Sua cabeça está perfeita e todo o resto também. Vim apenas lhe passar alguns remédios, caso você tenha dor - disse entregando a receita para a jovem - Você já pode ir se quiser.

 

-- Posso esperar minha irmã? É que eu não sei andar nessa cidade e... - disse tímida. 

 

-- Claro que pode, fique a vontade - Luiza já estava saindo. 

 

-- Espera! 

 

A médica a encarou. 

 

-- Você está muito ocupada? 

 

-- Até que não... As coisas estão bem mais tranquilas - disse sorrindo. 

 

-- Você poderia me fazer companhia? Até minha irmã chegar... 

 

Luiza sorriu. 

 

-- Certamente - disse simpática. Sentando-se em uma cadeira próxima a jovem. 

 

Kristen a observou por um tempo. 

 

-- Quantos anos você tem? 

 

-- 22 e você? - Luiza havia gostado daquela jovem. 

 

-- 26... Gosta do que você faz? 

 

-- Amo! 

 

-- Você tem um inglês perfeito. 

 

-- Anos de estudo - disse sorrindo. 

 

-- Você tem cara de ser viciada em livros - brincou. 

 

-- Realmente eu sou. 

 

-- percebe-se... Já esteve nos Estados Unidos? 

 

-- Sim, tem alguns anos... 

 

-- Qual sua cor favorita? - Kristen perguntou mudando de assunto. 

 

Luiza achava engraçado toda aquela curiosidade. 

 

-- Vermelha e a sua? 

 

-- Preto, gosto da escuridão... Tem irmãos? 

 

-- Sim, uma,  Carol - respondeu com os olhos brilhando.

 

-- Pelo visto você gosta muito dela. 

 

-- Demais! 

 

-- Também amo muito minha irmã... Ela me criou como se eu fosse uma filha. Nossa mãe morreu no meu parto e desde então, Amanda assumiu a responsabilidade de me criar. Praticamente fez tudo por mim. Eu agradeço muito por tê-la em minha vida - disse carinhosa. 

 

-- Eu te entendo perfeitamente... Por quê você está no Brasil? 

 

-- Vim cuidar da minha irmã... Ela anda em crise no casamento. 

 

-- Hmmm... 

 

-- Minha irmã é casada com uma mulher muito mais nova que ela... - disse analisando Luiza - Você não tem nada contra não é? 

 

-- Oh, claro que não. 

 

-- Que bom... Aiiii - disse fazendo careta. 

 

-- O que houve? O que está sentindo? - Luiza levantou-se preocupada. 

 

-- Apenas uma dor na cabeça... Nada de mais. 

 

Luiza percebeu que o curativo sobre a sobrancelha da jovem estava mal feito. 

 

-- Preciso refazer seu curativo - disse olhando atentamente para o ferimento. 

 

-- Acho que a enfermeira que fez isso estava praticamente dormindo -  sorriu -  Sei o quanto o trabalho de vocês é pesado - disse compreensiva. 

 

-- Você não tem noção do quanto - Luiza pegou tudo que precisava para refazer o curativo - Isso vai arder um pouquinho, mas é uma dor suportável. 

 

Kristen sorriu e concordou. Luiza limpou novamente todo o ferimento. Dessa vez Kristen não sentiu dor nenhuma, Luiza tinha uma mão extremamente leve, seus toques eram doces. Kristen a encarou durante todo o tempo em que a médica fazia seu curativo. Luiza sorriu para ela. 

 

-- Pronto, agora estar perfeito - disse se afastando. 

 

-- Amanda tem razão... Você é muito linda - Kristen estava encantada. 

 

Luiza apertou os olhos sem entender. 

 

-- O que? 

 

-- Você não tem nada de horrorosa, muito pelo contrário - disse sorrindo. 

 

-- Não estou entendendo - Luiza estava confusa. 

 

-- Eu conheço a Rebecca, Luiza - Kristen falou sem enrolação - Ela é mulher da minha irmã. 

 

Luiza abriu os olhos surpresa. Não teve tempo de falar nada, pois Amanda chegou e foi direto abraçar a irmã. 

 

-- Você quer me matar do coração, Kristen! - disse em meio ao abraço - Como você está, minha linda? - Amanda observou a irmã dos pés a cabeça. 

 

-- Eu estou bem, Amanda... Foi apenas um susto. 

 

-- Como você some assim? E ainda se mete em um acidente?! - Amanda estava brava. 

 

-- Conheci umas pessoas e decidimos ir à uma festa mais animada - disse sem graça. 

 

-- Você só pode ser louca Kristen! Imagina sair com desconhecidos! 

 

-- Eu sei que agi errado - estava realmente arrependida. 

 

Amanda a abraçou mais uma vez, beijando seu rosto. 

 

-- Pelo menos está tudo bem com você isso é o que importa. 

 

-- Sim, eu estou ótima! Graças a doutora Luiza... - sorriu encarando a médica. 

 

Amanda virou-se para encarar a jovem residente. Luiza finalmente a reconheceu, a mesma mulher de anos atrás. A mesma que viu com Rebecca. Era uma mulher muito linda. 

 

Amanda sorriu agradecida. 

 

-- Obrigada por ter salvo minha irmã - disse emocionada. Ela sabia quem era Luiza. 

 

-- Eu não fiz nada... Sua irmã é muito forte - respondeu sorrindo. 

 

Ficaram em silêncio, apenas se analisando. 

 

-- Amanda como você entra desse jeito em um hospital....

 

Luiza reconheceu imediatamente a voz da ruiva. Rebecca a encarou surpresa. Tudo naquele quarto estava estranho e constrangedor. 

 

Rebecca não conseguia parar de encarar Luiza e nem ela de olhar para a ruiva. Amanda e Kristen observavam caladas toda aquela cena. 

 

Fim do capítulo