Capítulo 19
Na sala de espera do hospital as lembranças passavam na minha mente como um filme, recordei de toda a ansiedade até a confirmação da gravidez, lembrei também das sessões de terapia, quando começamos a conversar sobre ter filhos e relembrei da primeira vez que a Pilar comentou sobre o seu sonho.
Nós duas tínhamos acabado de sair do colégio, na época éramos apenas amigas e ela sorriu quando avistou um bebê no colo da mãe.
- Rúbia, eu sonho em ser mãe, sabia? (ela revelou).
- Sério? Nossa deve dar muito trabalho (comentei).
- Deve ser incrível, eu até me imagino cuidando de uma criança, deve ser gratificante. Sempre tive este sonho.
- Ei, seja mais discreta ao olhar para a criança, daqui a pouco a mãe vai ficar com medo de você.
- Já sei, vamos roubar o bebê dela, agora será nosso!
- Sua louca, quer ser presa?
- Estou brincando, jamais roubaria uma criança. Quero ter o meu mesmo e você também quer ser mãe?
- Eu não.
- Como não? A vida deve ser muito triste e vazia sem filhos.
- Que visão romântica, sabia que eles choram de madrugada?
- Claro que eu sei, faz parte. Ser mãe é uma tarefa difícil e maravilhosa.
- ok futura mamãe, agora podemos mudar de assunto? Já cansei deste papo de maternidade, nem começamos a faculdade e você com estes pensamentos. Vamos estudar para o vestibular isso sim.
- Sua chata!
Tínhamos dezesseis anos quando ela me contou que sempre sonhou em ser mãe.
Em uma das viagens que fizemos, ela até pegou um recém-nascido no colo, faltou babar na criança. Estávamos no interior de São Paulo, fomos em um Festival de Música, já tínhamos completado dois anos de namoro e resolvemos passear em uma praça no centro da cidade.
- Pilar, que município tranquilo, olha que sossego (disse observando a praça e as pessoas).
- Eu ficaria entediada morando num local assim.
- Eu também, prefiro a nossa cidade mesmo. O que aqueles idosos estão fazendo? (questionei).
- Parece que estão jogando e olha que cheio aquele parquinho, vem vamos sentar naquele banco.
- Poxa justo perto de tantas crianças.
- Pare de reclamar.
Seguimos até o banco em frente ao parque e ficamos olhando as crianças que brincavam com alegria. Depois de alguns minutos uma senhora acompanhada de duas crianças nos cumprimentou e sentou ao nosso lado.
- À tarde esta tão bonita e meu filho só queria saber de vir ao parque (ela nos contou).
- Quantos anos ele tem? (Pilar perguntou e o garoto correu para o balanço).
- Ele tem seis anos e ela vai completar um mês (respondeu apontando para o carrinho).
- Que lindo a senhora tem um casal, quando ela acordar posso pegar ela no colo um pouquinho?
- Claro, ela já esta acordando e daqui a pouco vai querer mamar novamente. Ela eu tive num parto normal, minha recuperação foi excelente, já ele como eu era muito nova fiz cesárea.
- Ele é muito peralta?
- Não, é até tranquilo e ela também, chora bem pouco.
- Que bom!
- Você quer ser mãe?
- Sim, quero muito, sonho em ser mãe.
- Eu também sonhava, planejei as duas gestações e agora não quero mais filhos, já operei. Ela acordou, pode pegar!
Eu fiquei só observando o diálogo delas e de fato a Pilar pegou a bebê. Ficou quase meia hora com a criança nos braços, só devolveu para a mãe quando a bebê chorou querendo ser amamentada.
Horas depois quando regressávamos para o hotel comentamos sobre o episódio.
- Fiquei com medo de você querer roubar a criança (comentei provocando ela).
- Você viu que linda e que calma, nem estranhou meu colo.
- Ainda bem que você não assustou o bebê né.
- Rúbia como você é boba.
- Sou boba por você (afirmei).
- Amor, vamos ter filhos?
- Que papo é esse? Pronto agora, só você mesmo.
- Nós podemos adotar ou até fazer inseminação.
- Somos novas para falar sobre isso.
- Concordo somos novas, mas podemos planejar, depois da faculdade que tal?
- Eu quero é saber do show que nós vamos hoje, isso sim.
- E eu quero ter vários filhos, quero crianças que alegrem nosso viver.
Com frequência no decorrer dos anos ela voltou a expressar seus sentimentos com relação à maternidade, por um bom tempo sofreu em virtude da minha insegurança, se calou e até deixou seu sonho de lado e hoje a Pilar corre riscos, estava sendo submetida a um parto de emergência.
Minha esposa é mais uma das inúmeras mulheres que sofrem com pré-eclampsia, uma doença comum durante a gravidez e que afeta diversas gestantes, elevando a pressão arterial. O mais complicado é saber que a hipertensão é responsável pelos principais casos de mortes maternas no Brasil, sendo a principal causa de óbito durante a gravidez no país.
Pilar é uma pessoa saudável, sempre teve uma pressão muito boa, porém nesta gestação seu organismo passou por várias mudanças emocionais, psicológicas e físicas.
Fiquei um bom tempo recordando e pensando em tudo que estávamos vivendo.
- Rúbia, estou te chamando e você não me responde (minha mãe falou preocupada).
- Desculpa! Eu estava pensativa.
- Filha, seu pai foi até a lanchonete, trouxe um suco e um lanche para você.
- Obrigada! Mas eu não quero.
- Toma e tente comer só um pouco, você precisa ficar bem.
- Estou sem fome. Será que vão demorar muito? É tão ruim ficar sem notícias (reclamei).
- Ô meu amor, eu não sei, mas vai ficar tudo bem, ela é forte.
- Mãe, eu não posso perder a Pilar, eu não sei viver sem ela.
- Eu sei minha filha.
Minha mãe voltou a me abraçar e choramos juntas. Meu pai nem falava, ficou em silêncio nos observando. Eu enfrentava a noite mais difícil da minha vida e o futuro incerto me assombrava.
Fim do capítulo
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lis
Em: 01/09/2016
Oi May, tudo bem? Tenso isso que aconteceu hein, mais acho bem legal e interessante abordar temas assim nas histórias para ajudar as pessoas a entenderem determinadas coisas, parabéns.
Resposta do autor:
Olá!
Sim, bem felizmente e contigo como vai?
Obrigada pelo novo comentário =D
Beijos e abraços.
Tenha um lindo final de semana!
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wood
Em: 01/09/2016
Muito triste mais é a realidade de muitas mulheres,as vezes a mãe e o bebê vão a óbito ou só a mulher ou o bebê. Pior tristeza na vida de uma mulher esperar 9 nove e voltar pra casa sem o bebê,experiência própria .Torcendo pra ficar bem com esse lindo casal e os bebês.Parabéns May tá show sua estória até o próximo capitulo????
Resposta do autor:
Olá!
Como vai?
Muito obrigada pela companhia e fico muito grata por receber todos os seus comentários.
Um doce e feliz final de semana para nós. Até breve! Beijos e abraços, May.
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