Capítulo 1
Bem alinhadas as árvores contornam o caminho .Dás-me a mão distraidamente , sinto os teus dedos entrelaçarem-se nos meus como aquela trepadeira acolá que dá a volta a um tronco meio tombado .
era tão simples,sabes, ser um tronco meio tombado no meio de um bosque e esperar pacientemente que te enroscasses em mim . Só que esta ansiedade em mim pede a urgência do teu abraço, do teu corpo todo no meu, rápido , imediato.
Quantas vezes para sobreviver ás tuas ausências eu revejo a tua perna a rodear-me a cintura e amarrar-me nesse teu beijo que sabe a frutas que só existem na minha imaginação , numa floresta que criei com o que vais deixando em mim em cada beijo, caricia ou palavra .
Tenho consciência de toda a tua mão na minha , os nós dos dedos, as unhas as palmas cheias de traços de vida, tenho vontade de subir no teu pulso e num impulso te despertar desse devaneios em que vais , mergulhando nos teus lábios um beijo cheio de luxuria . No entanto hoje vais longe de mim ...e deixo-te estar.
Inquieta-me o silêncio . A tua mão quase esquecida na minha , dedos esvaídos de vida . Invento palavras que não saem pela minha voz . Fico a um canto a tentar escutar os teus pensamentos , oiço os pássaros , o vento , as abelhas , as folhas secas a estalarem debaixo dos pés , mas de ti apenas o silêncio.
Quero dizer disparates , uns quaisquer , uma piada, um trocadilho parvo, contudo zango-me comigo, porque tenho de ser eu a escalar a parede do silêncio ? Porque não vens tu aqui dizer-me qualquer coisa ?
Amuo ... que coisa ! Uma nuvem encobre o sol , está a pôr-se frio e levanta-se o vento , quero soltar-te a mão e apertar o casaco e se te vais embora ? Se estas só à espera que eu desenrole os dedos dos teus para me dizeres adeus ? Nada é mais frio que a tua ausência, por isso não te largo, venham as gripes e constipações !
Já o vento me revistou o avesso do casaco e os dentes gastaram o marfim de se morderem para dominar a tremura . Ralho comigo em pensamento , já grito cá dentro e puxo-te pelos dedos, à bruta, com uma vontade secreta de te magoar um pouco, pois não vês que me gela esse teu silêncio.
Atiro os meus lábios contra os teus, o frio se derrete num vontade febril de te provar . O teu peito choca com força em mim , como se os corações atraídos um para o outro arrastassem os corpos rígidos.
O calor, o teu calor, dá-me vida , vontade de chegar à tua pele e tecer caricias. Encosto-te a uma árvore , uma dessas muito bem alinhada com as outras a ladear o caminho por onde vamos . Só nós estamos em desalinho e temos fome de amor . O silêncio agora está cheio de murmúrios e eu invado a tua intimidade sem pudor. As tuas mãos apertam-me e sinto a ponta das tuas unhas quase dor, quase prazer.
Os pássaros levantam voo naquele momento em que voamos também , em que as nossa almas esbarram e se enroscam.
Percebo que as nuvens já caminharam no céu e destaparam o sol que te contorna o rosto, mas são os teus olhos que mais brilham . Tens um sorriso lindo, tens sempre , mas depois de fazermos amor o teu sorriso ainda fica mais límpido, assim como uma manhã de primavera que é só felicidade . Beijas-me outra vez e refilas comigo , dizes que demorei uma eternidade a abraçar-te . E eu ralho mentalmente comigo, porque demorei tanto a chegar a ti ?
Alaya
Fim do capítulo
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