CapÃtulo 32 - Pistantrofobia
- Do que você está falando, Stef? – Theo perguntou, estava sentada em cima da mesa de Claire, enquanto Sam e Claire conversavam na mesa de reuniões ao lado.
- O pessoal de TI me repassou que vários logins foram feitos nessa coordenada, nessa sala.
- Stefan, você sabe que isso não é tão preciso assim, pode ter sido você mesmo na sala ao lado. – Claire rebateu.
- Ou até mesmo aqui, durante alguma reunião em que você tenha participado. – Sam completou.
- Acho pouco provável. E então, ninguém vai assumir? Terei que contratar uma empresa terceirizada para investigar?
- Que besteira, nós três temos nossas IDs para acessar o sistema, e com o mesmo nível de acesso que você, ninguém teria motivos para usar o seu, é tudo igual.
- Eu também não sei com qual objetivo, mas irei averiguar isso, podem apostar. – Stefan ameaçou, e saiu da sala.
- Ele é meio paranoico, não liguem. – Theo disse.
Sam e Claire ainda assimilavam a visita do colega conselheiro, fitando um ponto qualquer em silêncio.
- Foi alguma de vocês? – Theo perguntou.
- Eu não.
- Muito menos eu.
- Stef só ladra, mas não morde, relaxem meninas.
- Você quer continuar a verificação dos itens amanhã? – Sam convidou Claire.
- Pode ser, não estamos nem na metade, amanhã a gente finaliza.
Claire guardou os papeis eletrônicos numa pasta, Sam foi até a mesa se pôs entre as pernas de Theo.
- Quer ir para casa? – Sam convidou, lhe roubando um beijo.
- Não, sabe onde quero ir?
- Não faço ideia.
- Numa caverna sombria e sinistra que era habitada por almas atormentadas.
- Que?
- Quero ir na sala do meu pai, matar a saudade, tem mais de dois anos que não piso lá.
- A sala está fechada, só usamos às vezes em reuniões maiores.
- Eu sei, me leva lá?
Theo desceu da mesa e ajeitou-se nas suas muletas brancas. Caminharam até o final do corredor, Sam aproximou seu rosto do identificador biométrico e a porta se abriu.
- Prontinho, estamos na sala da presidência.
A herdeira deu alguns passos pela sala, encontrou a mesa onde seu pai trabalhava, correndo os dedos pela lateral, pensativa.
- Ali ainda tem um sofá horroroso marrom? – Theo apontou para o lado.
- Tem sim.
- E ali tem um campinho de mini golfe?
- Tem.
Theo abriu um sorriso maquiavélico, foi tateando até chegar na outra parede, tateou até achar o local onde os tacos eram guardados, tomando um deles. Recostou as muletas no chão.
- O que você vai fazer?
Theo não respondeu, apenas simulava tacadas no ar.
- Cuidado para não quebrar nada. Ou cair. – Sam alertou.
Tateou novamente a parede, encontrando um dispenser de bolinhas, colocou duas no bolso e pousou a outra no chão, na marca de onde se davam as tacadas iniciais.
Concentrou-se segurando o taco com ambas as mãos, ameaçou a tacada algumas vezes, como se mirando no escuro. Fechou os olhos e fez a tacada, a pequena bola passou a um palmo do primeiro buraco.
- Passou perto. – Sam se aproximou, a assistindo.
Theo colocou calmamente a segunda bola na marca, e seguiu o mesmo ritual, batendo de olhos fechados.
- Uuuuh. Quase. – Sam disse.
Na terceira bola, levou alguns segundos a mais na concentração, e finalmente bateu.
- Parabéns, ganhou o primeiro buraco. – Sam disse, rindo.
Theo apenas abriu um sorriso convencido.
- Você brincava nisso? – Sam perguntou.
- Desde que voltei ao Brasil, quando tinha dois anos. – Theo respondeu pegando mais bolinhas do dispenser.
- Essa sala é uma coisa quase faraônica, e tem uma vista ótima. – Sam comentou.
- E você deveria ocupá-la. – Theo disse após colocar a bola na marca.
- Eu? Trabalhar aqui?
- Sim, a sala está sem uso, já está na hora de você sair da barra da saia da Claire e ter sua própria sala.
- Mas eu... Mas eu acho que aprendo muito mais trabalhando com ela, eu ainda estou um tanto perdida nessa empresa.
- Sam, você frequenta a Archer há seis meses, não aprendeu nada? – Theo disse de forma séria.
- Aprendi, mas sozinha eu vou ficar igual uma barata tonta, não serei útil.
Theo respirou fundo, fechou os olhos e deu a tacada, certeira novamente.
- Você que sabe. – Arrematou. – Eu sou boa nisso, não acha?
- Eu não acertaria nem enxergando.
- Eu gosto de golfe, mas prefiro basquete.
- Dia desses eu assisti um vídeo antigo de um jogo de basquete, achei divertido.
- Ah é? Algum campeonato?
- Sim, liga das universidades de San Paolo.
Theo apertou os olhos.
- Que times estavam jogando? – Theo perguntou, com o taco parado no chão.
- Você estava jogando, Theo.
- Sério? Você assistiu um jogo do meu time? – Theo abriu um sorriso.
- Sim, eu estava com insônia. – Riu.
- E o que achou do meu enorme talento?
- Você ficou mais no banco do que em quadra, e foi expulsa por excesso de faltas, mas até que acertou algumas cestas.
- Eu sou aquele tipo de jogadora que entra para definir, não perco tempo.
- Isso eu já percebi.
Theo deu mais uma tacada, e voltou a falar.
- Sam, eu estive pensando, acho que está na hora de você devolver meu nome.
Sam fez um semblante confuso, estava sentada no sofá marrom.
- Acho que não entendi.
- Já está na hora de anularmos a procuração, não acha? Eu já posso responder por mim.
- Por que você está propondo isso agora? – Sam perguntou temerária que Theo tivesse descoberto algo das especulações secretas que andava fazendo.
- Eu já tinha pensado nisso umas semanas atrás, mas esqueci. Lembrei agora.
- E você quer isso por algum motivo específico? – Sam perguntou cheia de dedos.
- É perigoso ser Theodora Archer, quero tirar isso das suas costas.
- Ãhn... Ok.
- Nada vai mudar para você nas suas funções aqui dentro, é um detalhe burocrático apenas, mas você ficará mais segura. - Theo largou o taco e tomou suas muletas de volta, indo na direção do sofá.
- Eu vou conversar com os advogados nos próximos dias, me informar como proceder. Você tem pressa?
- Não, não tenho. – Sentou-se em seu colo, de frente para Sam.
- Não sei quem cuidou disso naquela ocasião em que você estava em coma, mas vou verificar.
- Stef.
- Stefan? – Sam ergueu apenas uma sobrancelha. – Não foram os advogados?
- Stef é advogado, e é do conselho também. – Theo entrelaçou o pescoço dela com os braços.
- Eu não sabia.
- Ele não exerce mais a advocacia, é só um conselheiro chato agora, mas ainda trabalha em conjunto com os advogados de vez em quando.
- Stefan e Sandro são difíceis de lidar, e parecem estar sempre sussurrando nas sombras, confabulando. – Sam disse.
- Cisma sua, eles são apenas mal-humorados mesmo. E eu admito que torrei muito a paciência deles quando era mais jovem, quebrava tudo com o taco de golfe ou a bola de basquete.
- Espero que você tenha razão, mas não confio muito neles.
- Confia em Claire?
- Sim, nela eu confio.
- Ela já tentou algo com você?
- Algo?
- Não se faça de desentendida.
- Não, Claire nunca tentou nada comigo, ela me respeita.
- Nunca te deu uma cantada?
- Ãhn, não sei, talvez, eu não sou boa em detectar essas coisas.
- Que ingênua a minha oficial. – Theo riu, e saiu do sofá.
- Não sou ingênua, só sou inexperiente.
- Não estou brigando com você, só estou perguntando. – Theo seguiu com as muletas até a mesa que era utilizada por seu pai e sentou-se sobre ela.
- Às vezes não sei se ela está sendo simpática ou se está dando em cima de mim. – Sam confessou, ainda sentada no sofá
- Ela dá em cima de você, isso é fato. E na verdade não estou nem aí.
- Mas se você confia em mim não tem com o que se preocupar.
- Quem disse que confio em você? – Theo riu.
- Não confia?
- Não totalmente, e não quero que você confie totalmente em mim também.
- Por que? – Sam perguntava com espanto.
- Por que as pessoas erram, agem por impulso, tomam decisões estúpidas, mudam de ideia. É melhor não ter essa carga de expectativa em cima das pessoas.
Sam ficou um instante pensativa.
- Você pensa assim porque muitas pessoas traíram sua confiança, não é?
As palavras de Sam desarmaram a atitude cheia de si de Theo.
- Não...
- Inclusive eu.
- As pessoas erram, Sam.
- Sabe qual o preço de não confiar?
- Pistantrofobia.
- Que?
- É o medo de confiar por causa de experiências ruins do passado.
- Além de pistan.. pistranfoto...além disso que você disse, você acaba atraindo o pessimismo. – Sam dizia com propriedade. - Eu sei que quando estou perto de você, e estou quieta, ou estranha, você já imagina que vou contar algo decepcionante, que vou confessar alguma burrada, ou dar a notícia que fiquei com outra pessoa, que fiquei com Claire, algo do tipo.
- Por que está falando isso?
- Eu percebo, tem momentos que percebo que você espera o pior de mim.
- É assim que nos preparamos para o que der e vier. – Theo rebateu.
- Não acha melhor mantermos boas expectativas? Os sonhos são feitos disso.
- Um equilíbrio entre as duas coisas, quem sabe.
- Vejo uma evolução. – Sam respondeu com um sorriso.
- A gente nunca sabe de onde vem a pancada.
- Posso te perguntar algo pessoal?
- À vontade. – Theo balançava as pernas na frente da mesa.
- Você já traiu?
- Hum. – Franziu as sobrancelhas. - Sim.
- Evelyn?
- É, eu ficava com outras pessoas, mas ela também ficava. Na verdade acho que nunca fui monogâmica. – Theo riu.
- Nem com Letícia? – Sam perguntou surpresa.
- Eu ficava com outras meninas.
- Você traia Letícia?
- Acho que ela não se importava, ela me disse algumas vezes que se eu aprontasse ela não queria ficar sabendo. No fundo ela sabia que eu aprontava.
- E Janet, que te traiu e você quebrou a casa dela?
- Eu não traí Janet, eu era ingênua na época.
- Então você está me dizendo que não trair é ingenuidade?
- Achar que ninguém trai é ingenuidade, as pessoas não costumam se contentar com uma pessoa só por muito tempo.
Sam ouvia estarrecida.
- Você vai fazer isso comigo? – Sam perguntou com medo da resposta.
- Provavelmente não, com você não, com você é diferente.
- Por que?
- Eu sei o quanto isso te machucaria, eu não ia suportar te fazer mal.
Um estrondo leve foi ouvido na sala.
- Ops, esqueci que o tampo dessa mesa é uma tela... – Theo disse, rindo.
- Você quebrou a tela com a sua bunda?
- Quebrei.
- Machucou?
- Não. – Ficou um instante em silêncio. - Sam, você me trairia? De novo?
- Por que isso teria importância para você e todo esse seu espírito livre e poligâmico? – Sam gesticulou rodando a mão.
- Depois que comecei a namorar com você percebi que não sou tão poligâmica assim... – Theo riu. – Eu quero uma relação monogâmica com você.
- Consequência da idade?
- Consequência do amor mesmo.
***
Sete semanas depois.
- Como pode uma estudante de medicina detestar tanto hospitais? – Letícia perguntou a Theo, que estava se ajeitando em seu leito hospitalar, já com uma bata azul clara.
- Você também se sentiria desconfortável se tivesse passado dois meses presa numa cama dessas, e recebendo visitas agradáveis como de Mike e Tio Elias, eles nem trouxeram flores.
Sam entrou no quarto, sentando-se ao lado de Letícia no sofá duro.
- Confirmei lá, a cirurgia será as três da tarde mesmo. – Sam informou.
- Três? Achei que seria meio-dia. – Theo disse desolada.
- Não, é três mesmo.
- Mas meu jejum ainda não começou, não é? Eu posso pedir que você busque algo da lanchonete do hospital para mim? Agora nem são dez da manhã.
- O jejum já começou.
Theo suspirou com visível decepção.
- Você não tomou café em casa? – Letícia perguntou.
- Tomei, as oito, já estou com fome.
- O nome dessa fome é ansiedade, tente não pensar na cirurgia, escute algo na tela, escute música, se distraia. – Sam disse.
- Ok, tentarei ficar calma sabendo que vão mexer na minha cabeça de novo, e que talvez amanhã eu volte a enxergar, ou talvez não. Coisas corriqueiras, não é mesmo?
- Corriqueiras não, mas esperadas há muito tempo. Esperamos tantos meses até você estar razoavelmente recuperada para finalmente fazer essa cirurgia, é um risco calculado. – Letícia sintetizou.
- Eu gostaria de saber como o médico chegou ao número 30.
- Dos 30% de chances da cirurgia dar certo? Ele deve ter alguns parâmetros para calcular isso. – Sam disse.
- Tem água aqui? – Theo tateou a mesinha ao lado, derrubando um copo d’água.
- Tinha. Espera, eu enxugo isso. – Sam foi até o banheiro e trouxe papel toalha.
- Desculpe.
- Talvez esse seja seu último copo derrubado. – Letícia disse, com otimismo.
- Acho que Theo vai continuar derrubando copos mesmo se voltar a enxergar. – Sam disse rindo.
- Mas vou conseguir acertar tapas em você. – Theo deu um tapa no ar, passando próximo do ombro de Sam.
Sam tomou sua mão ainda no ar, trouxe para perto e beijou a palma.
- Falando sério agora, tente não ficar pensando nisso, será uma tentativa, se não funcionar vamos tentar de novo e de novo e de novo... – Sam disse.
- Tentarei. – Theo aproveitou a mão no rosto dela para trazê-la para perto, e dar um beijo. – Quem eu tenho que levar para a cama para conseguir um copo de água por aqui?
A cirurgia ocorreu pouco depois das três da tarde, Theo voltou semiacordada para seu quarto as 21:30h.
- Meu Deus, demorou uma eternidade. – Sam sussurrou, já sentada ao seu lado no leito, correndo a mão por sua testa e por seus cabelos.
Theo apenas concordou movendo lentamente a cabeça, estava dopada. Havia ataduras enroladas ao redor de sua cabeça, cobrindo os olhos.
- Você está bem?
- Sim... – Murmurou. – Sobrevivi.
- Sente dor?
- Náuseas...
- Quer que eu peça um remédio para seu enjoo?
- Antiemético...
- Esse é o nome?
- Sim.
- Vou pedir então.
- Não, agora não... Sono...
- Ok, durma um pouquinho. – Sam beijou sua testa e apagou a luz do quarto, deixando apenas uma mais fraca acesa.
- Espera, você desligou a luz? – Theo perguntou.
- Sim.
- Eu percebi. – Theo abriu um sorriso sonolento.
- Você percebeu a luz apagando? – Sam sorriu abertamente. – Isso é um ótimo sinal, isso é muito bom.
- É sim... É um bom sinal... – Acabou adormecendo, Sam continuou com seu sorriso fixo no rosto por algum tempo, a vendo dormir.
Duas horas depois Theo acordou confusa, tateando as barras laterais da cama.
- Não é a minha cama. – Disse com pânico na voz, Sam saltou do sofá para perto dela.
- Não, essa é a cama do hospital, você está no hospital.
- O que é isso no meu rosto? – Theo tateava as ataduras afoitamente.
- Não mexa, você acabou de passar por uma cirurgia. – Sam tomou delicadamente suas mãos.
- Por que você está segurando minhas mãos?
- Para que você não se machuque.
- Eu não vou machucar você.
- É para que ‘você’ não machuque a si mesma.
- Também não.
- Pronto, mãos soltas, mas não coloque no rosto, combinado?
Theo continuou com as mãos erguidas, como se esperando algo.
- Eu posso coçar o nariz? – Perguntou cheia de confusão.
- Pode sim. Está sentindo alguma coisa?
- Dor de cabeça.
- O médico disse que você vai sentir dor de cabeça, confusão, e tonturas nos próximos dias, mas vou checar se você pode tomar algo agora. – Apertou o botão na parede.
Uma enfermeira apareceu segundos depois, Sam conversou com ela, que aplicou mais algum analgésico e saiu.
- Isso vai melhorar um pouquinho. – Sam disse, sentando ao seu lado, mas Theo não respondeu, apagara de novo.
- É, dormir também ajuda a minimizar a dor. – Sam falou sozinha.
Quarenta minutos depois, Theo novamente acorda confusa.
- Hospital?
- Sim, e você parece um peixinho dourado, sabia? – Sam brincou.
- Peixe? Que peixe? É o jantar?
- Sabe onde está e o que aconteceu?
Theo levou a mão à lateral da cabeça, sentindo as ataduras.
- Lincoln Memorial, cirurgia de reconstrução dos nervos ópticos.
- Muito bom.
Theo mexeu a cabeça de um lado para outro, com sonolência.
- E a luz está acesa.
- Sim, a enfermeira acendeu. Pronto, agora apaguei.
Ficou algum tempo em silêncio, e voltou a falar.
- Se existisse um emprego que consistisse em informar se a luz está acesa ou apagada, eu poderia ter esse emprego, não acha? – Theo dizia devagar e grogue.
Sam riu, e sentou ao seu lado na cama.
- E você seria uma boa informadora de status luminoso na empresa.
- Você vai dormir aqui? – Theo acariciava a mão de Sam, em cima da cama.
- Vou sim.
- Onde?
- Tem um sofá nada convidativo aqui atrás.
- Dorme comigo.
- Aqui na cama?
- Sim, dorme aqui.
- Eu tenho receio de acabar batendo na sua cabeça acidentalmente.
- Sam, minha cabeça aguentou um tiro, não vai aguentar seu cotovelo?
- Tá bom, mas prometa que se estiver desconfortável você vai me expulsar.
- Jogar você para fora da cama poderia ser meu nome do meio. – Theo deslizou para o lado.
- Eu sei, os velhos hábitos que nunca se perdem... – Sam resmungou, tirou os tênis e deitou-se sob o cobertor.
- Você está longe, deite aqui. – Theo a chamou para seu peito, Sam seguiu a orientação, aconchegando-se cuidadosamente, ajeitando os pequenos tubos.
- Confortável? – Theo perguntou baixinho, afagando seu ombro com o polegar.
- Aqui sempre é confortável.
Ficaram alguns minutos em silêncio, apenas ouvindo suas respirações, batidas, e os bips da sala.
- Talvez essa seja a última noite sem ver você, talvez amanhã eu vá dormir conhecendo sua imagem real. – Theo refletiu.
- Seria maravilhoso... Mas isso tem me deixado em pânico.
- Por que?
- Eu morro de medo de você detestar o que enxergar.
- Eu já disse que isso seria impossível, não tem jeito do que eu sinto por você se esvair assim de uma hora para outra. Sem chance.
- Mas pode perder o encanto.
- Todas as coisas que eu sinto por você... Tudo... Foi tudo formado sem te enxergar. Existe a possibilidade de minha imagem criada ser bem diferente da imagem real, mas eu me adaptaria com a convivência, com o tempo.
- Engoliria a decepção... – Sam resmungou.
- Não, é só uma questão estética, mudança de percepção. Jamais a perda do encanto, ou do amor. – Theo beijou o alto de sua testa. - Eu me apaixonei por tudo que não enxergo.
- Não fuja com a enfermeira, ok? – Sam disse sorrindo, tentando espantar seu medo real.
- Amanhã à tarde fugirei daqui com você, de preferência enxergando o caminho.
- Uhum. – Bocejou.
Theo deslizava seus dedos pelo rosto de Sam, como se tentando obter mais um pouco da fisionomia dela.
- Eu percebi que você mal dormiu a noite passada. – Theo murmurou.
- Preocupada com a cirurgia. – Suspirou alto. – E com aquilo que já mencionei.
- Ok, eu vou contar uma coisa para você, e você promete que não vai contar para Letícia.
- Que você enchia a cabeça dela de chifres?
- Nunca mencione isso para ela. Mas não é isso, é outra coisa.
- O que?
- Ela me contou que você é linda.
Sam riu.
- Eu posso ter pago a ela para dizer isso.
Silêncio.
- Você pagou?
Sam riu mais.
- Você nunca saberá.
- Talvez amanhã. Agora feche os olhinhos e durma. – Theo passou a mão pelo rosto dela.
- Eu conheci você assim.
- Cega?
- Com essa bandana de ataduras ao redor dos olhos.
- É, é verdade. Deve ter sido estranho topar com uma pessoa assim correndo no escuro.
- Foi bem estranho. Engraçado que minutos antes eu tinha dado um último gole num caneco de chope barato em comemoração à virada do ano, e tinha feto uma pequena prece pedindo que Deus permitisse que eu chegasse viva até a virada do ano seguinte.
- Suas chances agora são bem maiores.
- Ele mandou você.
- Irônico, né? – Theo sorriu.
- Providencial.
***
Passavam alguns minutos das onze da manhã do dia seguinte, Doutor Franco prometera aparecer lá a tarde para remover as ataduras e curativos, efetuando um exame básico para verificar o resultado da delicada cirurgia. No sofá desconfortável Sam e Dani procuravam posições melhores, enquanto Letícia e Maritza estavam sentadas em cadeiras. Theo estava um tanto calada, caia em si do que poderia vir pela frente, a ansiedade aumentava com o passar das horas.
Sam também estava apreensiva, resolveu descer para almoçar mais cedo, no restaurante do hospital, incentivada por Theo.
- Ok, eu já volto, me liguem se o médico aparecer.
Optou por um lanche rápido, foi até a cafeteria e pegou um sanduíche, sentou-se numa mesa quadrada de quatro lugares, estava no meio de sua rápida refeição quando percebeu alguém sentando na cadeira a sua frente.
- Esqueceu que dia é hoje, sobrinha postiça? - Era Elias, com seu sorriso grande e cínico.
Sam parou seus movimentos, suas feições tencionaram de imediato, um ardor subiu pelo estômago ao encará-lo.
- Eu não consegui fazer o que você pediu, está além das minhas possibilidades. – Respondeu nervosamente.
- Você poderia ter se esforçado mais, você tem acesso ao mundo Archer por inteiro.
- Tenho acesso, mas não poderes, e se eu fizer uma coisa dessas me matariam no dia seguinte.
- Então é uma questão de escolha, por quais mãos você quer morrer. – Elias sorriu com sarcasmo.
- Me dê outra chance, por favor.
- Te dei dois meses, tenente.
- Por favor não me mate, não hoje. – Sam implorou, segurando sua vontade de chorar.
Elias a fitou ainda com o mesmo sorriso debochado, tomou o copo de água sobre a mesa e bebeu calmamente.
- Quer terminar a refeição? – Ele perguntou, gesticulando discretamente para dois brutamontes, que vieram em sua direção.
- Hoje não, por favor, hoje não, me dê mais alguns dias.
- Seu carro está no estacionamento do hospital?
- Está.
- Ótimo, vamos dar uma voltinha, meus amigos vão conosco, ok? Só para garantir que você se comportará na viagem.
- Para onde?
- Um lugar que você conhece.
Pistantrofobia: s.f.: medo de confiar nas pessoas, devido a experiências negativas do passado.
Fim do capítulo
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Ana_Clara
Em: 05/07/2016
Capítulo ótimo! E quando a gente pensa que elas vão finalmente se ‘conhecer’ vem o lixo do Elias para estragar tudo. Mas não entendo a lerdeza da Sam… Ela sabia das ameaças e mesmo assim está sem seguranças? Puxa vida, será que o Elias levará a Sam para o novo Circus? Caraca, ansiosa pelo próximo capítulo.
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Angel 1001
Em: 05/07/2016
Bom eu acho que não ele não ira levar pro novo Circus por q ele disse: "-um lugar q vc conhece" e a Sam ainda não conhece o "novo" Circus e so esteve no antigo uma vez... estou achando a Sam meia lentinha poxq ela sabe q o Elias esta a solta e não anda armada: / tomara q ela esteja guardando algo na "manga" e penso eu q ele possa levar ela para aquele lugar onde esta as outras clones da Theo ou tbm pra empresa... um dos dois... mas estou torcendo pra Sam reagir.. amooll a história parabéns autora
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Baiana
Em: 05/07/2016
Não acredito que esse gêmeo do demônio vai fazer algum mal para a Sam,justo quando a Theo vai descobrir se voltará a enxergar ou não com essa cirurgia. Mas estou aguardando o momento em que a Theo vai se vingar do Elias,ele vai pagar pelo que fez e pelo que pensou em fazer também
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lay colombo
Em: 05/07/2016
Pqp o Elias tinha q surgi Justo agora ? Sério? 😠😠😠😠
Aff pra onde será q ele vai levar a Sam, só falta ele leva ela pro "novo Circus" 😠😪
E tadinha da Theo logo agora q ela ia poder ver o amor da vida dela 😞
Espero q a Sam fique bem e q o Elias se foda
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