Capítulo 1
Não me corresponda
Elise Saiu da biblioteca apressada. O coração acelerado. A muito que esperava por aquilo, que a outra tivesse um ato de coragem, e agora segurava nas mãos a prova daquele ato. Aquele envelope, onde graciosamente a outra havia escrito seu nome. Sentou na praça sem poder esperar chegar em casa e abriu o envelope passando a ler aquela carta.
Elise
Esta não é uma carta de amor. Não, não é. Isto é uma pré carta de amor. A carta de amor te enviarei em alguns dias. Já a escrevi e sei que não posso mais me conter. Sei que em poucos dias te enviarei uma carta pedindo que me ame. Esta pré carta de amor, escrevo pedindo, por tudo que considera importante, que não me corresponda!
Pode parecer estranho, eu sei bem! Mas peço que não corresponda este amor que te sinto, e vou explicar os motivos. Sei que depois de ler esta, quando receberes a minha carta de amor, por mais que ela te toque, vai me compreender, e simplesmente fingir que nada recebeu.
O que sei bem, é que muito aos poucos, a cada vez que tu entravas nesta biblioteca, fui me apaixonando. Cerca de duas mil pessoas entram aqui todos os dias, mas foi por ti que me apaixonei. Aos poucos também me notou, e vejo que teus olhos brilham quando me olha, e também sentes esta mágica quando trazes até mim os livros que queres e nossas mãos se tocam. Além da tua beleza, teu gosto por livros de romance e poesia, e teus dados pessoais, nada mais sei. E tu ainda menos sabes de mim.
Te digo o que basta por enquanto. Me chamo Rosa, em verdade Rosa Alma, o que se põe mais ridículo. Sou bibliotecária, e acho que nada mais se faz importante dizer agora. Apenas quero te dizer dos motivos que me fizeram escrever esta pré carta de amor, pedindo que não corresponda esse sentimento.
Andei pensando em como tudo seria. Tu receberias minha carta de amor, e teu coração se envolveria em minhas palavras, pois já percebi que sentes algo como eu. Talvez me escreveria outra carta, e trocaríamos algumas, até o momento que nos surgiria um encontro. Nossos corações acelerariam, eu te faria ver tudo que sinto, receberia teus sentimentos, e teríamos nosso primeiro momento, nosso primeiro beijo! Seria mágico! Depois disto... Ah o depois! Sempre chega! No início eu te mostraria o melhor de mim, e tú me mostraria o melhor de ti. Andaríamos de mãos dadas cada vez mais apaixonadas. Mas nem tudo são rosas, aliás, eu sou Rosa e garanto que nem as rosas são assim perfeitas. Lembrando que estou totalmente apaixonada, e nem consigo conceber a ideia de que tenha defeitos, vou basear nossos futuros problemas nos meus.
Em breve tu descobriria que só durmo de luz acesa, com a TV ligada e a porta do quarto aberta, que acordo no meio da noite, só durmo com velhas meias de lã, tenho mania de entupir a casa com velhos jornais e revistas, não sei cozinhar, tenho um cachorro velho e chato, que não faz nada além de encher o sofá de pelos e latir em horas impróprias, tenho ex namoradas que não fazem nada além de encher o saco e aparecer em horas impróprias. Tenho um irmão folgado que aparece do nada e toma a casa toda por semanas a andar de cuecas na frente de quem quer que seja.
Descobriria que tenho uma mãe controladora que te encheria de perguntas e julgamentos, e te poria defeitos na sua frente, sempre dizendo que minha ex, que ela detestava por sinal, era muito melhor que você. Descobriria que ronco quando estou muito cansada, que perco a paciência fácil quando outra pessoa chora, que sou incapaz de chorar mesmo que eu me emocione ou sofra. Que este meu loiro não é natural, que uso uma máscara gelatinosa estranha três vezes por semana na cara. Também descobriria que detesto esportes e não tenho paciência para eles, e já te vi trajada em uniforme de jogo, talvez de vôlei ou basquete, mesmo assim eu não teria paciência para ver-te jogar. Descobriria que não gosto de poesia, que só ouço música clássica instrumental, e nenhum outro tipo, que sou vegana e não posso nem olhar carne que me enoja. Que não gosto de sair de casa, e só vejo filmes de terror. Descobriria ainda que não sou chegada a romances, sou prática e nada sonhadora, por este fato é que escrevo isto tudo.
No começo meus defeitos te pareceriam pequenos para o tamanho de nosso amor, como te parecem agora, mas com o tempo, nossa convivência acabaria desgastando o que sentimos, e tudo se perderia.
Devido a tudo isto, peço que quando receberes minha carta de amor, apenas ignora, e assim manteremos essa mágica que há toda vez que nos olhamos, esta sensação elétrica e boa que nos percorre quando nossas mãos se tocam, e por toda a vida lembrarei da menina da biblioteca pela qual sempre fui apaixonada. Será um amor lindo para sempre, um que nossa ânsia por contato corporal não conseguiu estragar.
Para manter a beleza do nosso amor eternamente é que te peço, assim que receberes minhas palavras de amor, não me corresponda.
Rosa
Fim do capítulo
Prática a Rosa! Pena que nada prática eu!
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