Já era noite quando meu telefone tocou. Atendi com saudades.
– Meu bem, como está você? – quis saber.
Sempre achei essa conversa de dia seguinte a mais difícil de todas. Só perdia para a de fim de relacionamento.
– Tudo bem. Olha, queria te pedir desculpa por hoje – disse ela.
– Não tem porque se desculpar. Só quero que saiba que se quiser conversar, estou aqui – me coloquei à disposição.
– Tá, obrigada. Vai fazer o que hoje à noite? – desconversou.
– Estava esperando você ligar para saber – eu disse.
– Estou cansada, não sei se quero fazer nada – disse ela, arredia.
– Quer vir assistir seriado aqui em casa?- convidei.
– Pode ser. Eu levo o jantar, ok? – sugeriu.
– Combinado. Até mais tarde – disse.
Às 20h, ela chegou.
– Boa noite, senhorita – disse, ao abrir a porta.
– Boa noite. Vim trazer seu jantar – brincou ela.
– Por que eu não pedi comida neste restaurante antes? Se a comida for do nível da entregadora… – respondi, em tom de brincadeira.
Ela riu me entregando a embalagem de alumínio que tinha nas mãos.
– Trouxe gnocchi, espero que goste – disse ela.
– Adoro, mas prefiro você – disse, puxando ela pela cintura e beijando-lhe a boca.
A partir daí, nós duas relaxamos. O jantar foi super agradável e depois fomos para o sofá assistir Grey’s Anatomy, por escolha dela.
Abri o sofá para ficarmos mais confortáveis. Ela então, confirmando sua vocação para gato, sentou entre as minhas pernas, apoiando as costas em meu peito.
Estávamos tão cansadas da madrugada movimentada que cochilamos assistindo à tevê. Acordei algum tempo depois sem conseguir me mexer, com o corpo todo doído por causa da posição. Luísa dormia em meu peito, o que me impedia de fazer qualquer movimento. Tive que acordá-la para irmos para o quarto.
– Vou para casa – disse ela.
– Por quê? Já está tarde e eu queria que você ficasse – pedi.
– Amanhã eu trabalho – respondeu.
Vendo que ela não estava convicta do que dizia, puxei a blusa dela e rolamos pelo chão da sala. Transamos ali mesmo, sem fazer questão de qualquer conforto. Quando acabamos, ela disse:
– Você foi convincente nos argumentos usados para eu não ir embora – disse, muito séria.
– Fui, é? Posso continuar tentando se você quiser… – falei.
– Queria ficar, mas trabalho amanhã – explicou ela.
– Que horas você trabalha? – perguntei.
– Tenho uma audiência às 15h, mas preciso passar no escritório para colocar as coisas em ordem antes e ainda tenho que ir em casa para trocar de roupa – disse ela.
– Acordamos cedo e você passa em casa e depois vai para o escritório. Dá tempo – planejei.
– Então coloque o despertador para não perdermos a hora. Não posso me atrasar – pediu.
Levantei rápido e fiz o que ela pediu.
Fomos de mãos dadas até a minha cama e deitamos de conchinha.
O despertador tocou às 8h no dia seguinte e acordei rapidamente, com medo que ela perdesse a hora. Mas ficamos na cama até que não fosse mais possível.
Quando ela foi embora, voltei para cama e dormi mais um pouco para recuperar as energias. Acordei no final da manhã e saí para comer alguma coisa.
No final da tarde, liguei para Luisa. Ela atendeu ofegante:
– Tá cansada? Atrapalhei alguma coisa? – perguntei, desconfiada.
– Não. Eu tô correndo no parque – explicou.
– Ah! Então eu ligo depois – sugeri.
– Não, pode falar – insistiu.
Perguntei sobre a audiência e sobre o dia dela. Ela me deu algumas explicações técnicas como resposta, as quais, obviamente, não entendi. Então, me limitei a perguntar:
– Você ficou satisfeita com o resultado?
– Muito satisfeita – disse ela.
– Pronto, era isso que queria saber. Na verdade, não só isso…vai fazer o que hoje? – perguntei.
– Vou ter que trabalhar numa petição complicada que tenho que entregar amanhã sem falta – disse ela.
– Bom, então só me resta dormir – lamentei.
– Desculpe, meu bem! – falou.
– Tudo bem, vou me entregar aos seriados – concluí.