Última Noite de Amor -- Capítulo 65 -- O Destino de Valentina
Três dias depois...
-- A aeromoça quando viu a poderosa roxa daquele jeito, perguntou toda preocupada: -- O que foi, senhorita? Falta de ar?
E ela respondeu: -- Não, dona... É falta de terra mesmo!
-- André! Não fala assim. Tadinha da minha gatona -- Isabel começou a acariciar os cabelos dela, afastando as mechas do rosto, ajeitando-as carinhosamente atrás da orelha -- Está melhor vida?
-- Vou ficar bem melhor quando esganar aquela galinha loira de macumba. Ela fez de propósito Isa, eu sei que fez -- Alexandra estava com a cabeça deitada no colo de Isabel que fazia cafuné em seus cabelos.
-- Não acredito que a Bruninha derrubaria a ampola de propósito no chão só pra você viajar acordada.
-- Pois eu acredito Isa. Vi o sorrisinho maldoso que ela tinha nos lábios quando falou: "Caiu". Parecia a Rose já idosa, no final do filme "Titanic" quando deixou a joia cair no mar -- André olhou para as unhas e falou maldoso: -- Se eu fosse você, poderosa, procurava ela para conversar.
-- ANDRÉ!!! -- Isabel falou brava -- Para de colocar lenha.
-- Acho que ele tem razão amor.
-- Tem nada! A Bruna foi um amor com a gente. Se tivermos que procurar por ela, será para conhecer a sua família e agradecer pela ajuda.
Alexandra fez um leve trejeito com a boca. Não parecia convencida, mas resolveu deixar pra lá... por enquanto.
Edna saiu brava da cozinha e parou diante de André com as mãos na cintura.
-- Vai ver a sujeira que a sua galinha está fazendo na lavanderia. Tem merda pra todo lado.
-- Óiaqui. Num carece faize iscândelo e impricar -- André também colocou as mãos na cintura e encarou Edna.
-- E essa agora? Porque está falando assim?
-- Estou usando o dialeto caipira para interagir com a có-có -- falou olhando para Alexandra -- A poderosa que me aconselhou.
Embora Isabel não estivesse olhando diretamente para Alexandra, viu pelo canto do olho que ela se encolheu em seu colo.
-- Você fez isso Xanda?
-- Ah Isa...tadinha da có-có. Como você se sentiria se fosse uma galinha caipira que chegou recentemente na cidade?
-- "Só Jesus na causa" -- Edna balançou a cabeça -- Desisto. Não dá para discordar de loucos -- falou baixinho e caminhou até a porta da cozinha -- Venham almoçar. Aonde estão os outros?
-- Estão na sacada batendo papo.
-- Então fale para esse bando que eu preparei um "Escondidinho de Charque com Macaxeira". Já está na mesa. Apurem antes que esfrie.
Como nos velhos tempos todos voltaram a reunir-se em volta da mesa. A alegria estava de volta. As brincadeiras, as trapalhadas. Porém havia muita coisa a ser esclarecido, muitas perguntas sem respostas e Alexandra tinha consciência de que seus amigos precisavam saber de tudo o que aconteceu.
-- André quer experimentar essa carne?
-- O que é isso Jana?
-- É costelinhas de porco com geleia em crosta de castanha de caju.
André olhou para o prato, pensou por alguns segundo, depois devolveu para Janaína.
-- Não obrigado -- fez uma careta -- Isso me lembra de duas pessoas que devem ter sido devoradas pelos leões -- falou olhando diretamente para Alexandra.
-- ANDRÉ!!! -- Todos falaram ao mesmo tempo.
Alexandra sorriu discretamente e piscou para Valéria.
-- Tá bom, tá bom. Entendi o recado -- fez um gesto com a mão para que esperassem um pouco -- Vou contar tudo o que aconteceu com Valentina, Gustavo e Heitor. Aliás... Valéria vai me ajudar a contar.
-- Valéria? -- todos ao redor da mesa perguntaram se olhando admiradores.
-- Como assim a Valéria, poderosa?
-- É, a Valéria, André. Porque você não conta o que aconteceu naquele dia Valéria? Todos estão curiosíssimos.
-- Tá certo. Eu conto -- falou se divertindo com os olhares de surpresa dos amigos -- Naquele dia enquanto vocês se preparavam para retornar ao hotel, eu fui conversar com a Alex...
-- Dengue, pode seguir o combinado. Aqueles malvados merecem...
-- Prefiro Dengo Alexandra.
-- Que seja...
Batidas na porta chamaram a atenção dos dois. A expressão do rosto dela foi de irritação pela interrupção.
-- Pode entrar -- falou bufando.
Valéria colocou a cabeça para dentro meio que sem jeito.
-- Estou atrapalhando?
-- Pode entrar Valéria -- Alexandra esperava que a qualquer momento ela a procuraria para conversar -- Imaginei que viria.
-- Desculpa Alex, mas estou vivendo um turbilhão de emoções. Eu não mando no meu coração, mando na minha cabeça, mas a minha cabeça, segue o que o coração acha que é melhor -- Valéria passou a mão pelos cabelos loiros. Parecia nervosa - Valentina por pior que seja é a minha irmã. Dizem que amor de irmãos tem uma memória muito curta. E deve ser verdade pois essa é única explicação para superarmos tantos desentendimentos. Um irmão é uma parte de nós, é um prolongamento de nossas vidas - deu uma pausa para respirar e continuou -- Você não tem irmão Alex, talvez não compreenda, mas...
-- Sua irmã matou aquela que era a minha irmã por opção. Giovana era para mim a irmã de sangue que não tive.
-- Então você entende -- falou desanimada. Alexandra parecia irredutível -- Meus pensamentos estão enrolados e tudo virou um caos na minha cabeça. Estou começando a duvidar até da minha fé. Me sinto frustrada e preocupada com toda situação envolvendo Valentina. Estou abalada, em choque. Minha mãe antes de morrer pediu para que cuidássemos uma da outra e... ao invés disso... eu participo de sua morte... - Valéria chorava, e seu choro tocava Alexandra - Não consigo estar em paz, tranquila, com meus sentimentos em desordem.
Meu coração, as pulsações são batidas de desespero e preocupação. Basta fechar os olhos, sentir e ouvir o que ele está dizendo: Nunca irei me perdoar, nunca mais serei a mesma.
Valeria respirou fundo e tentou se acalmar, procurou organizar seus pensamentos pouco a pouco até conseguir se mexer e caminhar até a porta.
-- Espera Valéria -- Alexandra a chamou -- Realmente somos muito diferentes.
-- Eu sei - olhou com tristeza para a empresária.
-- Se eu estivesse em seu lugar, lutaria com mais empenho por minha irmã.
-- Como assim? -- Valéria ficou confusa.
-- Iria ao extremo. Não ficaria só choramingando -- Alexandra olhou para Demo e sorriu -- Você tem que ser mais guerreira, mais violenta. Você é muito molenga -- Alexandra provocou.
Valéria foi tocada em seus brios. Olhou ao redor buscando por uma luz. A pistola de Alexandra estava sobre a mesa. Não pensou duas vezes, pegou a arma e apontou para a cabeça dela.
-- Ei... - Alexandra e Demo levantaram os braços -- Também não precisa ser tão ao extremo assim.
-- Todos merecem uma segunda chance.
-- Continua. Me convence.
-- Qualquer punição, porque sei que ela merece, menos a morte.
Alexandra olhou para Demo e deu de ombros.
-- O que você acha?
-- Eu acho que você deveria deixar ela comigo -- deu um sorrisinho sacana -- Sou um homem tão solitário. Não tenho nenhuma diversão. Garanto que em um ano a dona Valentina será outra mulher.
-- Então? O que você acha Valéria? É pegar ou largar.
Valéria sorriu.
-- Algo me dizia que não iria me decepcionar. Você é uma pessoa linda Alex.
-- Sou tão linda que quando eu nasci o médico me jogou pra cima e falou: Se voar é anjo -- sorriu abaixando os braços -- Agora larga essa arma antes que você deixe a Isa viúva antes de casar.
Os amigos riram muito imaginando a cena.
-- Eita Valéria! Teve o seu minuto de glória hein garota? -- Tatiana bateu palmas para a amiga.
-- Não tá morto quem peleja -- Malú tocou no ombro dela.
-- Estou tão orgulhosa de você amor -- Janaína deu um selinho nela e todos comemoraram.
-- E eu estou mil vezes mais orgulhosa de você, minha vida -- Isabel estendeu a mão e passou os dedos por algumas mechas do cabelo de Alexandra -- Cada dia te admiro mais.
Alexandra sorriu realizada. Ouvir essas palavras da mulher amada, fazia valer a pena ter um coração mole.
-- Mas o resto da história? Deve ter acontecido muito mais coisas além disso.
-- Você tem razão Tati. A Valentina e o Gustavo sempre foram muito previsíveis -- Alexandra pegou seu copo e tomou um longo gole de vinho -- Quando pedi para os homens levarem os dois para a selva, tinha certeza que eles tentariam subornar meus parças. Inocentes, aqueles caras trabalhavam para o meu pai. Me conhecem desde criança, eles são mais do que empregados, são meus amigos.
-- E o que aconteceu?
-- Eles aceitaram o acordo, Ramon. Levaram os dois para um lugar retirado e no dia seguinte...
Assim que o carro preto estacionou próximo à propriedade de Demo, o motorista virou-se para trás e falou para Valentina:
-- Nós dois entramos e pegamos o dinheiro, enquanto você... -- apontou para Gustavo -- Segue com meu colega direto para o aeroporto.
-- Não acho uma boa ideia -- Gustavo falou.
-- Eu também não acho -- Valentina concordou balançando a cabeça com veemência -- E se eles estiverem na casa?
-- Acalme-se eu liguei perguntando. Não tem ninguém. Meu carro está na garagem, partimos logo em seguida.
-- E porque tenho que ir na frente?
-- Por questão de segurança. Não confiamos em vocês. E tem outra coisa, se começar a colocar empecilhos... esqueça o acordo.
Mesmo ameaçada e aflita, Valentina não viu outra saída senão aceitar.
-- Então vamos logo pegar esse dinheiro -- decidida, abriu a porta do carro e saiu -- Gustavo, vá com ele e explique para o Heitor o que está acontecendo. Se eu não aparecer até a hora do voo. Venham atrás de mim.
Os dois entraram na casa e foram direto pegar a bolsa com o dinheiro.
-- Aqui está -- abriu a bolsa e jogou o dinheiro sobre a cama -- Pegue a sua parte e vamos cair fora daqui.
-- Porque tanta pressa Valentina? Não estava com saudades da gente?
Valentina simplesmente congelou. Ela largou a bolsa com suas mãos que tremiam. A voz de Alexandra quase a fez gritar de susto.
-- Perdeu a voz? Está emocionada?
-- O que vocês fazem aqui? -- olhou para Valéria, depois para Demo e por último fixou-se em Alexandra.
-- Estávamos lhe esperando. Você realmente pensou que depois de ter assassinado a Giovana? De ter atentado contra a minha vida? E de ter infernizado de todas as formas a vida da Isa? Você simplesmente iria embora para a Europa como se nada houvesse acontecido? Você só pode estar brincando -- A expressão do rosto de Alexandra era indescritível. Aproximou-se e colocou seu dedo embaixo do queixo de Valentina e o levantou -- Se dependesse de mim, nesse momento, você e o Gustavo já teriam servido de biscoitinhos para os leões, mas como a sua irmã me pediu e eu considero demais ela, vou permitir que continue viva.
-- Obrigada Alex -- pegou na mão de Alexandra, mas ela puxou de volta com violência.
-- Não me agradeça Valentina. Você não faz ideia de como será a sua vida de agora em diante -- Alexandra caminhou lentamente até Demo e pegou em sua mão -- "Por mais longe que esteja, sempre estará por perto, em meu coração e em meu pensamento..."
Demo a abraçou com força e beijou sua cabeça.
-- Sentirei sua falta Alex -- falou com a voz embargada.
-- Eu também Dengo -- disse e se desvencilhou do aperto do amigo, caminhou até a porta e falou para Valéria -- Cinco minutos. Te espero lá fora.
Valéria ergueu o olhar e concordou.
-- Ah, sim... Já vou.
Ouve silêncio entre elas. Um silêncio desconfortante e constrangedor.
-- A gente podia ficar dias sem se falar, a gente podia brigar, a gente geralmente não concordava uma com a outra, a gente ficava afastada por dias, enfim, entre a gente aconteceu de tudo, mas eu tenho certeza que entre nós duas existe um amor verdadeiro. Eu sinto isso -- Valéria secou uma lágrima teimosa que rolava dos olhos -- Adeus Valentina. Espero que tudo isso tenha servido como lição e lhe transforme em uma pessoa melhor -- estava quase do lado de fora quando ouviu da irmã:
-- Desculpas pelos momentos que te deixei triste, pelos momentos que te fiz chorar, pelos momentos que falei palavras duras, pelos momentos que não te ajudei, e por todos os momentos que de alguma forma te deixei sozinha. Quero que saibas que além disso tudo, eu te amo demais.
Em seguida, as duas se abraçaram e ficaram assim por algum tempo.
-- Uma coisa é certa né gente, nem sempre os irmãos brigam... só quando eles se encontram.
Risos.
-- E agora amor? Como vai ser a vida da Valentina?
-- Nada fácil Isa. O Dengo me enviou uma mensagem dizendo que hoje ela esfregou todo o chão da casa e amanhã vai lavar os banheiros.
-- Ela merece né Isa. É minha irmã, mas saiu barato.
-- E você Malú? O que vai fazer de agora em diante?
-- Vou largar tudo, Tati. Vou tomar rumo na vida.
-- Isso mesmo Malú! Se aposenta porque já deu o que tinha que dar.
-- XANDA!!!
-- O que foi que eu fiz?
-- Come e fica quieta.
-- Eu hein!
-- E o Gustavo? O Heitor? O Vemba? O dinheiro? -- Simone perguntou curiosa -- O que aconteceu com eles?
-- Agora não Mone -- Isabel encheu a sua taça e a de Alexandra -- Mais tarde a Xanda fala sobre eles. Agora quero propor um brinde: Ao destino de Valentina!
-- AO DESTINO DE VALENTINA!