Capítulo 27 - A Cor Vermelha
E quando Rhian e Diana saíram daquele quarto já era quase três da tarde. Desceram e Diana já era outra pessoa, muito mais relaxada, quem precisava de rum quando se tinha Rhian como namorada? Noiva. Era sua noiva e aquilo deixava Diana tão feliz que ela quase conseguia ignorar os olhares de Marnie para Rhian.
Marnie ainda estava magoada, era muito claro, a situação no Rio havia sido difícil e ela tinha aquela mesma coisa que Flávia tinha quando Diana começou a ficar com Rhian: ela gostava de Rhian, gostava de verdade, além de uma coisa de ego, enfim, Diana entendia, mas ao mesmo não tinha nada que ver com aquilo. Ela devia ter ficado em Tortola, não tinha nada que estar ali. Perto do pôr do sol, desceram para a praia, apenas uma escada de pedra separava a parte de trás da mansão da areia e tudo foi muito agradável. Levaram drinques e frutas para o quiosque, começaram a preparar uma grande fogueira e Diana pode conhecer melhor aquelas garotas de quem tanto já havia ouvido falar. Uma outra prima além de Michelle, a designer de sua gargantilha preferida, outras três que haviam crescido com Rhian, mais três ou quatro de quem ela muito falava e então as outras que não eram tão próximas, eram amigas de amigas e pelo o que Diana entendeu, sempre haviam garotas novas naquele grupo. O flerte era solto e natural, e a grande maioria era gay ou bissexual e Diana apesar de estar namorando Rhian há quase dois anos nunca havia estado num grupo com tantas lésbicas. E menos ainda com tantas mulheres olhando para a sua. Porque no final da tarde quando o rum caribenho se fez mais presente, as coisas esquentaram muito por ali. Eram mãos, e olhos, e bocas que tanto insistiam em se encontrar e Rhian sabia que talvez aquele ali fosse o limite de aceitação para sua namorada, que havia crescido longe do Caribe numa comunidade fechada em Brasília. Então era hora de tirá-la dali.
Rhian pegou Diana pela mão e a levou para um passeio na praia, agarradas, num momento só delas e a noite veio encontrá-las numa enorme rocha onde se podia sentar e colocar os pés na água, com uma vista privativa da praia, do mar e dos olhos uma da outra. Diana não entendia como os olhos dela podiam ficar ainda mais lindos a noite, mas ficavam e Diana não sabia explicar, só sabia olhar e beijar aquela boca, e sentir as mãos dela, os carinhos dela e tudo era tão bom! Ficaram ali naquele namoro gostoso, sentindo a temperatura e a salinação do Caribe enquanto olhos espectadores viam cada pequeno movimento daquela paixão... Marnie estava sentada na areia, assistindo tudo de longe. Atirou a garrafa vazia de rum para longe e tentou se mover para pegar outra garrafa, mas suas pernas falharam.
_ Ei, ei, ei! Nada de sujar a natureza!_ Lhe repreendeu Kes.
_ Sim, sim, ela não pode ser mudada, não é?_ Perguntou com a voz muito arrastada_ Olha para a Rhian, “ela nunca vai namorar ninguém” e agora quer casar com a branquela ali...
E ela estava alterada demais, não se precisava de muito para perceber.
_ Marnie, Marnie, por que a gente não vai dormir?_ Perguntou Michelle, se aproximando dela.
_ Você vai dormir comigo? Sinto muito, você até que é Laham, mas nunca será Kier...
Não era. E ainda que fosse Kier, ainda não seria Rhian. Ninguém era como Rhian e ninguém melhor que Diana sabia disso. Entraram aos beijos perto da meia-noite, geralmente Rhian teria ficado naquela praia até o amanhecer, mas não cabia, não dava, por mais que tivesse com saudades de suas amigas, não queria amanhecer do lado de ninguém diferente de Diana. Rhian foi dormir no céu depois do amor gostoso que não conseguia parar de fazer com Diana e sinceramente esperava que o próximo dia pudesse ser mais tranquilo que o anterior, Diana já conhecia as garotas, havia gostado da maioria delas e não pareceu se importar de ter sido acordada com música alta as sete da manhã. E o dia amanheceu lindo demais, com o sol brilhando forte e Diana foi a primeira a saltar na piscina, com um biquíni azul e comportado porque já estava bom o suficiente Rhian ter que aturar olhos naquela bunda linda que era sua, mas fazia parte, não podia exigir que uma deusa como Diana passasse no meio de mulheres gays e que nenhuma delas olhasse.
_ Diz pra mim que você está sofrendo_ Disse Amelie, vendo os olhos das garotas no nado submerso de Diana na piscina. Era como uma sereia perfeita deslizando por aquele azul-veraneio.
_ 50/50, metade sofrendo, metade orgulhosa, eu vou sobreviver..._ E foi quando Marnie apareceu na área da piscina, já com uma garrafa de rum nas mãos_ Marnie, já está bebendo?
_ Desde as sete da manhã. Rhian, eu estou com pena dela. De verdade. Ela continua sofrendo por você.
_ E decidiu vir sofrer aqui? Kes, ela sabia que eu vinha com a Diana, qual o ponto?
_ Eu não sei. Orgulho ferido não tem ponto nenhum. Mas eu sinceramente estou preocupada.
_ Não precisa. Ela não vai ousar fazer nada...
E realmente não ousou. Não ousou chegar perto de Rhian, melhor, Diana não deu a ela chances de se aproximar de Rhian, e realmente estava decidida a passar bem aqueles cinco dias ali, por Rhian, porque sabia que havia razão em algumas coisas que ela havia dito. Não queria podá-la de nada que fosse importante para ela e menos ainda estragar aquele momento tão mágico que estavam tendo ali. Rhian estava tão feliz, Diana podia ver, havia se misturado a aquelas garotas perfeitamente, Diana a viu sorrindo, rindo, brincando com elas, falando com aquele sotaque tão gostoso. E dançando, fazendo graça e era um desafio para Diana vê-la fazendo tudo isso com outras garotas, mas se casaria com ela, precisava começar a confiar.
Mas então veio aquele final de tarde.
Marnie estava completamente bêbada, Diana sabia, por isso relevou quando ela se aproximou de Rhian, por isso teve paciência quando ela começou a falar e mais do que isso, educadamente deu uma desculpa para retirar Rhian de cena quando ela começou a ficar mais atrevida. E então o celular de Rhian não parava de tocar. E Diana começou a perguntar quem estava ligando, e era Marnie, mas também não era, era Marina, era Joseph, eram números sem nomes de Bahamas e Rhian recusando todas as ligações, e Diana começou a perguntar o que estava acontecendo, e ela começou a desconversar, deixando Diana irritada, porque ela não era idiota. E a festa continuava, e mais rum caribenho desaparecendo, mais música alta, e risadas e garotas se pegando e o celular de Rhian tocando outra vez, e Diana percebeu que ela queria atender, mas não iria porque Diana estava por perto e a briga anunciada aconteceu. Elas discutiram e Diana exigiu que ela atendesse o tal celular de uma vez, e Rhian se recusou e Diana mandou ela atender no inferno enquanto desceu as escadas para a praia rapidamente sem dar chances de Rhian intervir.
Diana saiu andando sem destino pela praia apenas de biquíni. Os cabelos molhados, um frio estranho na pele, deveria ser a raiva, deveria ser o gosto amargo de ser contrariada e mais, o gosto amargo do “não se importar” de Rhian. Andava acontecendo mais ultimamente. Aquele comportamento nela. Diana discordava de alguma coisa e ela não se movia para convencê-la do contrário, como naquele momento. Ela poderia ao menos negar que não queria atender o celular por causa de Diana, mas não, ela afirmava e agia para afastar Diana de uma vez. E era por essas coisas que Diana ainda se sentia tão insegura naquele relacionamento. Por esses pequenos momentos em que Rhian a tratava como as outras garotas. E era nisso que ia pensando, se irritando e quase chorando quando praticamente tropeçou em Erica Marnie na areia.
_ Oh, ok, nem estava tão terrível ainda..._ Ela falou num inglês arrastado, cheio de sotaque e de alterações alcoólicas. Erica estava sentada na areia, apenas de biquíni secando outra garrafa de rum_ O que você está fazendo aqui? Não, espera_ Ela disse, ficando subitamente empolgada_ Me deixa adivinhar, a noiva perfeita machucou seu coração?
_ Marnie...
E ela riu. Riu alto.
_ Ela machucou seu coração! Fica feliz, levou mais do que eu esperava!_ Ela continuou, tropeçando em si mesma para se pôr de pé, só não indo ao chão porque Diana a segurou.
_ Você está completamente bêbada. Qual é o seu problema?!
_ Você é o meu problema! De onde você apareceu? O que é que você tem que eu não tenho? Que merda faz você especial?_ Ela perguntou, agora tropeçando nas palavras_ Eu amo a Rhian! Desde quando tinha dezesseis anos. E ela nunca ficou na minha mão. Ficava um pouco, pelo tempo de uma gozada, e então escapava, sumia, não era minha. E então você aparece e numa noite, numa única noite, me tira até as gozadas.
_ Marnie, você não quer ter essa conversa comigo..._ Iria matar aquela garota, Diana podia sentir.
_ E eu vou ter com quem? É você quem tem que ouvir, é você quem tem que saber que eu quero o que você tem! Eu quero a sua ilha, Diana Ferraz! Ela é uma ilha, você já notou isso? Ela tem o verde das árvores nos olhos, a cor do sol na pele, e ela é tão cítrica, tão fresca, tem tanto nela para se provar, ela é uma ilha. E você tem essa ilha. E tem tanta sorte... Você é amor da vida de uma mulher que é o amor de tantas vidas por aí... Ela é o amor da minha vida. E ela é sua. E você é uma bastarda. E é uma abusadora. Uma maldita de uma abusadora. Você sabe disso também? Você abusa dela! E abusa da sorte, oh my, como você abusa da sorte... E você sabe o que é pior? É que eu sempre espero que ela volte, e toda vez que ela volta é muito pior que a última vez. Eu lembro da última vez que ela esteve aqui e foi muito ruim. E então agora ela está aqui com você e está sendo tão, mas tão pior... E vai ser ainda pior quando ela for embora, mas no outro dia eu vou acordar e ainda vou querê-la. Ainda que ela só queira você. A vida é uma vadia, não é? Uma vadia enorme. Mas nem perto da vadia que você é. E tudo o que eu te desejo é o pior, do pior, do pior de todas as coisas que Rhian Kier pode causar, pode demorar, mas eu sei que você vai provar. E desculpa por ficar ligando pra ela, mas é que..._ Ela riu_ Ela é aquela pra quem todo mundo liga quando bebe, eu sei que eu não devo ser a única. Você também vai ligar para ela bêbada quando ela cansar de você...
E Diana a pegou pela nuca segurando-a pelos cabelos firmemente. E então parou. Teve que parar. Erica não tinha condições nem de evitar aquela pegada.
_ Eu parei de beber quando conheci a Rhian. E para o seu bem, você deveria fazer o mesmo_ E soltou Marnie, a deixando cair sozinha na areia.
Diana voltou para a mansão em passos rápidos e furiosos e pegou Rhian ainda na escada de pedras.
_ Diana...
_ Vai para o inferno!_ E correu para dentro e para as escadas com todas as palavras de Marnie batendo em sua cabeça, tudo o que ela sabia que era verdade, e a pretensão daquela garota, o jeito que ela havia falado e Diana estava tão, mas tão fora de si! E só queria ir embora, era tudo o que queria, escapar daquela casa, daquelas garotas que deveriam vê-la como uma coitada que seria abandonada por Rhian, que estava acreditando nela, que desfilava tão iludida com aquele anel sem significado no dedo. Entrou no quarto e procurou sua mochila, buscando suas coisas, seus documentos, onde estavam? Diana não ficaria ali nem mais um segundo.
_ Ei, o que você tá fazendo?_ Rhian entrou no quarto atrás dela, de biquíni preto, seus cachos soltos, subindo os óculos para a cabeça, o retrato da calma e de quem não estava entendendo o descontrole de Diana. E Diana respondeu a aquela calma toda atirando o anel de noivado contra Rhian_ Diana! Faz ideia de quanto custa este anel?!
_ Custa o meu bom-senso! Onde eu estava na cabeça quando disse sim pra você?!
_ O que eu fiz, Diana? Por favor!_ Rhian não estava entendendo nada daquilo, ela estava indo embora, era isso? Era_ Diana para, para com isso, o que você está fazendo?
_ Eu não fico nessa casa nem por mais um minuto!
_ O quê? Você está nas Bahamas, não em Brasília, você não vai a lugar nenhum!
_ Sai da minha frente Rhian, desaparece da minha frente! Eu vou pra qualquer lugar, mas não fico mais aqui!
_ Diana...!_ E Rhian respirou fundo, calma, precisava manter a calma_ Diana, calma, me ouve, sobre o telefone, eu só não queria...
_ Atender na minha frente, você já deixou isso bem claro!
_ Diana ouve!
_ Você não confia em mim, eu não consigo entender! Você me traz para cá, faz todas aquelas cenas no iate, me dá esse maldito anel de diamante, é para me fazer ficar quieta? É isso? Você me trouxe aqui para me calar, para eu ficar quieta diante das coisas que eu vejo, você promete que casa comigo e então eu tenho que aceitar esse monte de mulher perto de você, tenho que aceitar os seus segredos de família, se eu não sou digna da sua família por que você me ilude com um maldito pedido de casamento?!
_ Diana, de onde você tirou isso, pelo amor de Deus? Eu te amo, droga! Qual a dificuldade de você acreditar que eu te amo? Que eu confio em você? Eu só quero te proteger...
_ Me proteger? Me proteger do que, Rhian, me diz! Você está brincando comigo...
_ Não, é você quem está de brincadeira comigo. Eu peço você em casamento e você faz isso aqui com o meu pedido!
_ Desce e joga esse anel para o alto que aquelas garotas vão se matar para pegar em baixo!_ E colocou a mochila nas costas e incisivamente andou para a porta e Rhian sentiu que a coisa era séria mesmo.
Parou na frente da porta impedindo que ela passasse.
_ Não, não, não, para, pra onde você vai, amor? Eu não vou te deixar sair sozinha daqui, você sabe disso_ Disse, tentando delicadamente segurá-la pelos braços.
_ Eu vou ficar com a Michelle, ela mora aqui perto, não mora?_ Respondeu tentando passar, se segurando muito para não chorar.
_ Mora, mas você não vai ficar com ninguém além de mim. Amor escuta, olha, você tem razão, você tem toda razão, eu nunca deveria ter trazido você pra cá assim, nunca deveria ter deixado as garotas virem pra cá, eu me enrolei, eu agi mal...
_ Rhian, eu nem sei mais se este é o maior dos nossos problemas. Eu estou cansada disso tudo! Cansada desse tanto de amigas entre nós duas, cansada das coisas que você não me diz, das conversas em tom baixo, das ligações que você esconde de mim. Quem mais te liga quando eu não estou por perto? Me fala!
_ O quê? Ninguém me liga, Diana...
_ Liga sim! Ela me disse que liga, aquela coitada que anda atrás de você.
_ Diana, eu não acredito que você está dando ouvidos para a louca da Marnie!
_ A louca que você namorou, que você abandonou. E eu te disse Rhian, na primeira vez que a gente ficou que eu não iria ser parte da sua estatística, e aqui nós estamos. Você não vai mais me fazer de idiota!
_ Diana, por favor! Eu não faço você de idiota, para com isso...
_ O que você acabou de fazer, Rhian, me diz?! Quem estava ligando pra você? Por que eu não podia ouvir? Eu estou cansada dessas coisas, cansada das coisas que eu não sei, que você esconde de mim, cansada de tudo isso!
_ Era a minha mãe, Diana!
E Diana atirou a mochila contra Rhian furiosamente.
_ Diana!
_ Você não desdenha da minha inteligência!
E a briga foi longa e intensa, e Diana estava furiosa e irritada com tantas coisas que era difícil até para Rhian se defender. Rhian sabia de tudo, o que andava irritando Diana, o que estava a deixando desconfortável, sabia que ter deixado Marnie perto dela havia sido a pior decisão possível, mas o que podia fazer? Tudo já estava feito e lhe restava a missão de, de forma nenhuma, deixar Diana passar da porta do quarto para fora. E Rhian não deixou. Rhian deixou ela esbravejar, ela gritar e quando Diana começou a chorar, o coração de Rhian quebrou um pouco mais. Odiava ver Diana chorando, odiava ter perdido o controle das coisas, odiava que sua viagem mágica às Bahamas pudesse terminar daquela forma. E foi por isso que não deixou.
Em algum momento daquela noite em que as mãos de Diana se agarraram aos punhos de Rhian e ela irritada e decidida gritava que iria embora, e iria embora agora, os dedos mudaram de posição e Rhian silenciou a boca dela com um beijo. Roubado, forçado e então aceito, e então incendiado, e foi quando os pés de Diana saíram do chão, foi quando as pernas dela enroscaram por Rhian que imediatamente, a levou para a cama. Os lábios escorregando uns pelos outros, as línguas visivelmente se tocando, as mordidas, as mãos e os biquínis desaparecendo dos corpos unidos, grudados, apoderados daquele tesão misturado com irritação tão profundamente...
A noite estava calada quando a luz do celular acordou Rhian depois do amor. Olhou, e eram mensagens avisando que ela tinha ligações perdidas. Pegou o celular rapidamente, apagando a luz, olhou de lado e Diana dormia profundamente. Nua, enroscada nos lençóis depois de ter desistido daquela ideia de ir embora. Já haviam brigado muito, mas nunca haviam tido uma briga assim, Rhian havia se complicado, sabia, mas prometeu a si mesma que seria a última vez...
Que se complicaria.
Rhian levantou devagar, vestiu-se num robe fino e saiu do quarto com o celular na mão. Caminhou por aqueles longos corredores silenciosos e encontrou uma varanda aberta. As boias coloridas abandonadas na piscina, o mar rosnando a distância, os restos da festa aqui e ali. Haviam muitas ligações, era verdade, seu celular não havia parado de tocar desde quando pisou em Nassau, mas faria o quê? O máximo que podia fazer era atender. Rolou por aquelas ligações até chegar na ligação que importava. Olhou a hora, eram quatro da manhã, não achou que ela fosse atender, mas ligou de qualquer forma.
_ Mãe..._ E Marina atendeu, reclamando da hora_ Sim, eu sei que horas são, mas foi você quem me perturbou o dia inteiro, o que aconteceu agora?_ E Marina disse a ela o que estava acontecendo e Rhian não conseguia entender porque tinha que passar por aquilo_ Mãe, não! É claro que não, eu não acredito que você... Este é o meu nome, é o único nome que eu ainda posso usar e não, eu não o quero sujo! Como eu posso passar um nome sujo para a mulher da minha vida, me diz, você não pensa nisso?!... Sim, ela aceitou o pedido, mas tanta coisa aconteceu... Mãe, você mesma me disse que ela é perfeita, sou eu quem luta para estar à altura, você não tem como entender isso... _ E Marina falou um pouco mais_ Eu não preciso desse dinheiro, aliás, não preciso de dinheiro nenhum, estou estudando muito para não precisar_ E sua mãe lhe perguntou se Rhian fazia ideia do quanto havia gastado só nos últimos dias e Rhian quis responder mal, mas não o fez, afinal era sua mãe_ Mãe, eu não concordo e nem entendo, ver essas coisas vindas do papai tudo bem, mas de você... Não, não consigo ver o seu ponto, não suje o meu nome, não suje o nosso nome, acho que você ainda não notou o quanto isso pode ser perigoso. Por favor, não me liga mais para falar dessas coisas... Não, eu não vou dizer nada disso para a Diana, ela não tem que saber. E eu não vou afundar com esta família. Eu juro que se você insistir nisso, eu jogo os meus dois sobrenomes no lixo e passo a assinar Rhian Ferraz muito orgulhosamente.
Desligou e não conseguiu mais dormir. Ficou andando por aquela casa enorme, tomou banho ao ar livre e frio, se trocou, tomou café. E quando voltou para o quarto, Diana já estava acordada. E vestida, penteando seus longos cabelos castanhos que estavam molhados.
_ Bom dia, amor!_ E a abraçou por trás a beijando no pescoço.
_ É você quem vai me dizer se é bom. Eu sei que você levantou no meio da noite para fazer uma ligação e sei que não voltou a dormir desde então.
_ Diana...
_ Shssssssss, você só ouve! Eu vou acreditar que é alguma coisa que está acontecendo na sua família, ok, tudo bem, mas tem algo que eu não vou engolir.
Rhian respirou fundo se afastando dela, cruzando os braços, sentindo que algo difícil estava por vir.
_ Você vai mandar aquela garota embora.
_ Diana...
_ Ou ela saí, ou eu saio, Rhian, é você quem decide.
Ai, o algo difícil.
Rhian tinha fama de não ter coração com nenhuma garota com quem havia ficado antes de Diana, mas a verdade é que ela tinha, a verdade é que inclusive ela evitava terminar oficialmente porque não gostava de ver ninguém magoado. Menos ainda alguém de quem gostava. Que conhecia há tanto tempo. Era tão constrangedor quanto podia ser. E a situação era amarga. Sabia que metades das garotas ficariam chateadas com sua atitude, mas no momento em que caminhou por aquele longo corredor em busca de Marnie, Rhian entendeu pela primeira vez na sua vida que não podia ter tudo. E nem escapar de tudo. Haviam coisas que precisavam ser ditas, haviam coisas que precisavam de um novo lugar. Encontrou Marnie, ela estava com as garotas na piscina tomando café da manhã. E parecia sóbria. Para piorar, Marnie pela primeira vez desde quando haviam chegado estava sóbria. Diana seguiu Rhian de perto, queria ter certeza que ela o faria da maneira correta. E Rhian decidiu fazer de uma vez.
_ Marnie, você precisa ir.
_ Ir para...?
Rhian respirou fundo.
_ Embora. Você não pode mais ficar aqui.
Embora? Marnie não entendeu, se levantou, totalmente descrente do que achava que estava ouvindo.
_ O que você está dizendo? Eu vim das Ilhas Virgens para ver você!
_ E não respeitou a Diana. Eu pedi ela em casamento, Marnie, você é minha amiga, o mínimo que eu esperava era um relacionamento educado...
_ Relacionamento educado? Rhian, nós somos amigas há anos e você está me pondo pra fora da sua casa na frente de todo mundo por causa de uma garota que...!
_ É a minha namorada. Você deveria ter respeitado isso.
_ Você..._ E Marnie olhou para Rhian, olhou para Diana atrás dela, para todas as garotas que estavam assistindo aquela cena tão constrangedora que ninguém ousava falar_ Você está falando sério?_ Aquela frieza no rosto de Rhian lhe confirmou que sim_ Rhian, você não pode fazer isso comigo! Como você pode...?_ E ela não disse mais nada, e Marnie sentiu que desabaria se continuasse ali. Então olhou para Rhian uma última vez e então dirigiu seus olhos feridos para Diana atrás dela_ Eu estava bêbada.
_ É sua responsabilidade.
_ Eu estava bêbada e magoada! Mas sabe de uma coisa? É tudo verdade! E você vai descobrir que é verdade da pior maneira possível, no momento em que trocar de lugar comigo. Eu só quero que você saiba que eu não vou esquecer. E você vai precisar de mim, porque o Carma é uma puta que veste vermelho. Você vai precisar de mim.
E Diana sentiu algo esquisito quando a ouviu dizendo aquilo. Uma coisa por dentro, uma... Coisa ruim, desconfortável. E quando viu Marnie enfim saindo daquela casa um gosto estranho ficou em sua boca. Diana voltou para o quarto. Sentou na cama. Pensou um pouco mais em tudo o que havia acontecido. E foi quando Rhian entrou de volta.
_ Amor, nós vamos sair de iate, vamos até Nassau almoçar, passear e comprar umas coisinhas.
_ Só nós duas?
_ Não, as meninas vão com a gente_ Ela respondeu, buscando pelas gavetas.
_ Elas vão? Achei que... Fossem ficar chateadas.
_ Por causa da Marnie? Ela estava enchendo todo mundo, não se preocupe com isso. Achou o seu anel? Eu deixei no criado-mudo.
Diana olhou de canto de olho e a pequena pedra de diamante brilhou suave. Olhou para frente, olhando para dentro.
_ Eu sei que deixou. Mas ele não vai voltar para o meu dedo, Rhian.
E Rhian se virou olhando para ela.
_ O que você está dizendo?
_ Eu não vou mais casar com você. Ao menos não por enquanto.
O Carma é uma puta que veste vermelho...
Foi exatamente nisto que Rhian pensou assim que viu a médica de plantão parando a sua frente. Olhou nos olhos dela, a estudou, e tornando-se a garota má que salvava o dia, a caribenha discretamente levou o dedo em riste junto aos lábios.
Shssssss.
E Marnie olhou para ela, e então olhou para aquela moça que há anos atrás, havia sido responsável por um dos momentos mais constrangedores e destruidores de sua vida.
E por sorte, aquele momento havia a tornado outra pessoa.
Ou na verdade, apesar de tudo, Marnie ainda era a mesma de antes. Aquela que ajoelhava diante dos olhos de Rhian Kier. E fosse por um motivo ou por outro, a verdade é que o único vermelho por ali, seria o código da emergência.
_ Código vermelho, código vermelho! Ela está séptica, código vermelho, rápido, rápido!