CapÃtulo 28
Os Anjos Vestem Branco - Capítulo 28
No Leblon.
-- Priscilla, não precisa dividir a cama. Eu fico aqui no meu cantinho - afastou-se e ficou na beirada da cama.
-- Não confio em você Sabrina.
-- Assim você me magoa Prí - virou-se para o outro lado e tampou a cabeça.
-- Também não precisa tanto né - Priscila aproximou-se dela e a virou - desculpe Brina. Não tive a intensão de te magoar.
-- Mas magoou. Fique sabendo que por trás dessa mulher forte e destemida, existe um ser humano frágil e sensível.
Priscilla fitou-a por alguns instantes. Quanto drama! Mas tudo bem. Realmente havia sido dura demais com ela.
-- Vem cá, vem. A Prí é mal, né? - A puxou para mais perto -- Mas não se passa Brina.
-- O que eu fiz?
-- Eu senti a sua mão na minha perna.
-- Foi sem querer, Prí.
-- Sei - falou irônica - Pode se encostar mas controla a mão boba.
-- Pode deixar - dormir de conchinha sentindo o cheirinho do cabelo dela, era tudo o que Sabrina sempre sonhou.
Na Barra.
-- Sabe Vic, eu só sei que quero passar o resto da minha vida com você. Quero casar e ter vários filhos - Bruna e Victória conversavam no quarto - Por mim teria uma vidinha normal, do trabalho para casa da casa para o trabalho. Dar cheirinho na cabeça dos pequenos. Isso não tem preço, amor.
Victória ficou emocionada com as palavras da garota. Como era bom encontrar uma pessoa com os mesmos sonhos, saber que aquela pessoa é a certa, que não vai te machucar, e se te fazer chorar vai ser de gargalhadas.
-- Aonde você estava escondida, hein?
-- Estava esperando a hora exata, o momento certo e a pessoa ideal para ser feliz.
-- Sabe Brú, as vezes acho que estou vivendo um sonho e que a qualquer momento tudo vai desabar. Para mim foi sempre assim. A felicidade e a tristeza andam sempre lado a lado na minha vida.
-- De agora em diante amor, vamos dar um pontapé na tristeza e um chute na amargura -- deu um beijo na boca dela, arrancando um sorriso de Victória.
-- Que beijo de língua gostoso -- puxou Bruna para a cama e começaram um beijo bem gostoso.
Bruna levantou o vestido de Victória, entrou debaixo, beijava suas pernas, acariciava seu bumbum passava as mãos pelas costas. Logo ela lambia o pescoço da morena a deixando muito excitada.
Victória a puxou contra ela.
- Ah Bruna, além de linda você é muito gostosa sabia? Seu corpo é lindo.
Victória acariciava seus cabelos enquanto a beijava. Ela ajudou Bruna a tirar a camiseta. Era um sonho mesmo. Sentir aquele corpo quente, sua barriga, seus ombros, ouvir sua respiração ofegante próximo ao ouvido.
Bruna mais que rápida fez o mesmo com Victória e tirou o vestido dela.
Como ela era cheirosa, a loira acarinhava a cabeça dela, enquanto Victória passava o rosto em seu pescoço.
Victória e Bruna não trans*vam. Faziam amor. Era sempre doce, terno. Victória demonstrava o seu amor através dos afagos, dos carinhos e da paciência com que sempre tratava Bruna.
Bruna fazia questão de sempre estar entre beijos, abraços, risos e carícias.
Se tocavam e beijavam nos olhos, rosto, testa, lábios, com toques suaves que nem penas. Tudo era calmo entre elas. Tocavam cada centímetro de pele e tremiam de desejo com aqueles toques quentes. Apaixonados.
Lá fora haviam pessoas conversando, buzinas de carros que passavam à toda velocidade, todo tipo de ruído, mas alí dentro, era como se nada disso existisse.
Depois que faziam amor, Bruna abraçava Victória e fazia carinhos. Falava baixinho ao seu ouvido até ter certeza que ela dormiu.
-- Ao seu lado descobri que entre o sonho e a realidade, existe um espaço chamado felicidade, e para que a minha felicidade se torne realidade, preciso estar ao seu lado.
Na cabeça de Bruna nada poderia separar elas. As loucuras do pai, o preconceito que algumas pessoas, ou grupos nutrem contra os homossexuais, até mesmo a morte. Nada jamais as separaria...
Já Victória por diversas vezes sentia uma sensação muito forte de que algo ruim iria acontecer. Era algo tão forte que a estava deixando assustada...
No Leblon
Sabrina não conseguia dormir. Sentia que Priscilla dormia profundamente, até ressonava, bem aconchegada sobre o braço dela. Estava com o corpo todo dolorido por estar a tanto tempo na mesma posição, mas por nada se mexeria com medo de acordar a garota.
Estava embriagada com o cheiro dos cabelos dela. Um braço em baixo do seu pescoço e o outro ao redor da cintura. A mão tocava levemente a barriga, as cochas encostando nas dela. Muitos poderão achar que é tão pouco, mas para Sabrina, não. Aquela aproximação era muito mais do que havia conseguido a anos de convivência. Era uma esperança que renascia em seu coração. Será que algum dia conseguiria ser merecedora de um pouquinho do seu amor?
Foi vencida pelo sono.
Barra da Tijuca.
-- Bom dia Thiago - Bruna levantou cheia de energia.
-- Bom dia Bruninha. Já fiz café. Vai querer bolo?
Bruna pensou um pouco.
-- Quero.
-- Bom dia Thiago! - Victória apareceu enrolada na toalha.
-- Bom dia Vic. Estamos felizes hoje, então?
-- Muito. Noite gostosa! - Completou feliz -- Me dá uma carona até a clínica, Brú? - Abraçou a loira por trás.
-- Claro, amor - acariciou a mão que lhe abraçava fortemente.
-- Vou me vestir. Já volto - saiu em direção ao quarto para se arrumar.
-- Thiago. No supermercado o pai diz para o filho:
- Olha, filho! Uma latinha com o seu nome!
- Eu te odeio, pai!
- Não diga isso, Mucilon.
-- Eu já conhecia essa - Thiago falou sem dar muita importância.
-- É flashback, seu mal-humorado.
-- Bruninha, amanhã vou com o Ric no noivado dos anônimos.
-- Tudo bem. A Prí vai com a Sabrina. Eu e a Vic vamos sair sete horas daqui.
-- Nós vamos sair no mesmo horário lá do apartamento do Ric.
-- Legal, a gente se encontra lá então.
No Leblon.
Priscila acordou com Sabrina agarrada a ela. Estava com os braços e as pernas sobre ela. Não conseguia mover um músculo sequer. Olhou para ela e sorriu. Como brigaria com Sabrina? Ela era um amor de pessoa. Tão carinhosa, amorosa e prestativa.
Passou a mão pelo rosto dela, afastando uma mexa de cabelo. Em seguida colocou a mão sob seu queixo, levantou-lhe o rosto e a chamou docemente.
-- Sabrina. Sabrina, acorda - sorriu achando engraçada a cara de sono que ela estava.
-- Já amanheceu? - Tinha a impressão que havia dormido a poucos minutos.
-- Já, e nós temos muitas coisas para fazer hoje.
-- Estou um bagaço - espreguiçou-se, estava com o corpo todo dolorido.
-- Credo Sabrina, viemos dormir tão cedo e você ainda está com sono? - Levantou em um pulo - Pois eu dormi como um anjo. Levanta logo e vamos tomar café. Estou morta de fome - entrou no banheiro e ligou o chuveiro.
Priscila nem imaginava que Sabrina havia passado a noite inteira acordada, desfrutando do prazer que lhe era proporcionado somente com o toque involuntário daquele corpo no seu.
Mais tarde no café.
Quando Bruna entrou na cozinha, Priscilla e Sabrina tomavam um belo café da manhã juntas.
-- Bom dia - olhou admirada para as duas - Por um acaso vocês estão tendo um love affair e não me contaram nada?
As duas ficaram vermelhas.
-- Piada sem graça né Brú - Priscila levantou, foi até um armário que ficava no canto da cozinha e pegou uma caixa de Sucrilhos, recompôs-se e voltou para a mesa - Eu não sou lésbica - falou segura.
-- E daí? - Bruna sentou em uma cadeira e pegou um guardanapo fingindo ser uma carta.
"Oi Bruna, meu nome é Fulana. Minha vida estava tranquila e pacata, até que eu conheci Beltrana, e aí tudo mudou. Eu acho que estou interessada, mas não tenho certeza. Se eu estiver interessada, significa que eu sou lésbica? "
-- Minha cara ouvinte Fulana, muita calma nessa hora. O primeiro conselho que eu dou nesses casos é bem simples: VIVA.
"Não adianta a gente tentar se apressar, met*r os pés pelas mãos e tirar conclusões precipitadas. Experimente! Teste, tente, questione-se, vá atrás. Não fique parada tentando definir o que você quer baseada apenas em teorias.
Viva esse momento como se não houvesse amanhã, pois o importante é que você esteja feliz, sorrindo e satisfeita. Seja com um homem, com uma mulher ou com uma avatar... O importante é que você esteja com alguém que te trate bem, alguém que você deseje, alguém com quem você se importe, alguém que te traga boas sensações.
Portanto, não se preocupe em responder "Eu sou lésbica? ". Preocupe-se em responder: "Eu gosto dessa pessoa? "
-- Um abraço Fulana e seja feliz! - Deu um beijo na cabeça da irmã, outro no rosto de Sabrina e saiu.
As duas ficaram se olhando por uns instantes, depois continuaram a tomar o café em silencio. Cada uma perdida em seus próprios pensamentos.
No Hospital Sontag.
-- Borges - Nestor entregava um cheque para o segurança - Depois que terminar o serviço quero que pegue umas férias e vá para um lugar bem longe do Rio. De preferência para o outro lado do mundo. O valor que estou lhe passando é o suficiente para viver muito bem por um longo tempo.
O segurança olhou o cheque e engoliu em seco.
-- Se falhar, susto o cheque e você também.
O homem fitou-o assustado.
-- Brincadeirinha. Você não irá falhar - levantou, foi até a porta e abriu - Agora vá, não quero te ver tão cedo na minha frente.
-- Não se preocupe doutor. Até algum dia.
Borges saiu e nem olhou para trás.
Na sala em frente.
-- Débora está tudo pronto. Todos os documentos estão redigidos e serão levados a análise da diretoria no dia da reunião - Dulce advogada e amiga de Débora finalizava os tramites legais para a transmissão de cargo.
-- Excelente Dulce - pegou os documentos e deu uma lida rápida - Tenho tantos planos para o hospital. Vou mudar muita coisa aqui dentro. Estamos precisando modernizar. O setor pediátrico praticamente foi abandonado depois da morte da Helena.
-- Os investimentos praticamente foram direcionados somente ao setor de cardiologia e cirurgia.
-- Porque será né? - Bufou - Vou promover o Ricardo a chefe do setor de geriatria e a Adriana do setor de ortopedia.
-- Ótimas escolhas. São dois profissionais excelentes e boas pessoas também.
Débora levantou e foi pegar um copo de água no frigobar.
-- Está nervosa Débora? Estou achando você um pouco agitada hoje. Está preocupada com alguma coisa relacionada ao hospital?
-- Não. Na verdade, estou pensando na minha caçula - sentou de frente para a advogada - Como te contei ontem, amanhã é a festa de noivado dela.
-- Então?
-- Então. Eu disse que não iria, mas a razão fala uma coisa e o coração teimoso fala outra coisa.
-- Você está balançada. Não é mesmo?
-- Muito. Estou pensando em mandar toda essa mágoa para o inferno e dar essa alegria para a minha filha.
-- E para você também - sorriu -- Deixe de lado esse sentimento ruim que só te prejudica. Ouvi alguém dizer um dia que a raiva e os ressentimentos são como os cupins e concordo com essa teoria.
-- Boa teoria. Vou amadurecer a ideia, amiga. Quem sabe esse gesto não seja uma bela de uma facada em Nestor.
Dulce deu uma gargalhada.
-- Amiga, ele vai ficar P da vida.
-- Para quem se achava " a última jujuba do pacote", está mal hein?
Risadas altas.
No hospital da Barra.
-- Não Bruninha. Você vai ter que ir na frente. Quando a Vic chegar na casa de Angra, você já deve estar lá.
-- Há tá. Eu vou dizer o que para ela? Amor, não estou afim de te dar uma carona. Vai com a Sabrina - falou irônica - Ela não vai aceitar nunca.
-- Assim não, sua lerda - Sabrina perdeu a paciência - Amanhã eu e a Prí pegamos a pick up e vamos buscar ela na Barra. Você vai de moto e chega na frente. Nós vamos falar que surgiu um imprevisto e que você irá mais tarde. Entendeu loira?
-- Você é cheia dos esquemas Sabrina. Transforma um simples noivado em uma operação mirabolante e ultrassecreto da Policia Federal. Até parece que eu vou resgatar o Fernandinho Beira-Mar da cadeia e não noivar.
-- Pára de reclamar e faz como eu te disse. Vai dar tudo certo.
-- Doutora tem uma paciente idosa com muito vomito e diarreia - a técnica de enfermagem entregou a ficha para Bruna.
-- Pode traze-la, por favor - levantou, foi até Sabrina e espalhou o cabelo dela - Mesmo assim, obrigada. Você é uma irmãzona muito querida.
Sabrina ficou emocionada com as palavras da garota. Também tinha o mesmo sentimento pela amiga.
-- Eu faço qualquer coisa por você, minha loira - beijou a cabeça da garota e saiu.
-- Pode entrar dona Armênia - a idosa estava parada na porta.
-- Com licença, minha filha - entrou e sentou na cadeira disposta a frente da mesa.
-- Me falaram que a senhora está com muito vomito e diarreia. É isso mesmo?
-- É isso mesmo doutora Bruna - falou e apontou para o nome bordado no jaleco.
-- Vou examinar a senhora - pegou na mão da senhora e a ajudou a subir na maca - Se doer me avisar dona Armênia.
-- Claro - olhou séria para a garota e falou: -- Bruna você tem medo do escuro?
Bruna estranhou a pergunta, mas mesmo assim respondeu.
-- Não dona Armênia. Não tenho.
-- Que bom. Bruna, "Deixe-se guiar pela luz, representada pela esperança e pelo amor. Ilumine-se com ela, não deixando nenhum resquício de trevas em seu caminho. " (Valdemir Barbosa). "Não te desesperes em vão, se te sentes excruciado por problemas e dores. Recorda-te de Jesus e deixa-te por ele conduzir. " (Joanna de Ângelis).
A mulher levantou da maca.
-- Estou bem melhor.
-- Mas... - tentou impedir.
-- Não se preocupe comigo, minha filha. Não esqueça: "Diante da noite, não acuse as trevas. Aprenda a fazer luz." (André Luiz).
A mulher idosa saiu porta a fora, sem dar mais explicações. Deixando Bruna sem palavras e reação.
Sábado no Leblon.
Bruna e Priscila saíram logo cedo para caminhar pela praia.
-- Que dia lindo mana. Em sua homenagem.
-- Lindão - caminhavam pela areia sentindo as ondas em seus pés - Só que queria estar com a Vic agora.
-- Não pode desgrudar um pouco? Você vai passar o resto da vida ao lado dela, maninha.
-- Vamos sentar alí mana, quero te contar uma coisa.
Sentaram-se em um quiosque na beira da praia e pediram uma latinha de cerveja cada.
-- Conta - Priscila pediu ansiosa.
-- Lembra que eu falei que tinha planos para o dinheiro da herança da vovó Helena?
-- Lembro.
-- Pois é. Vou construir uma clínica igual à que vovó construiu antes do hospital Sontag - bebeu um gole de cerveja.
-- Que dez, mana - sorriu feliz - Isso quer dizer que você não irá trabalhar no Sontag.
-- Sinto pela mamãe, mas o Sontag é um hospital de luxo. Não combina com a minha filosofia de vida, mana.
-- Entendo.
-- Ela vai ficar ainda mais chateada, porque vou roubar alguns funcionários dela. Se eles toparem, lógico.
-- Quem?
-- Ric, Adriana e a Sabrina.
-- A Sabrina nem é funcionária do Sontag.
-- Imagina se depois que ela terminar a residência, a mamãe não vai contrata-la, Prí.
Priscila somente sorriu. Tinha certeza disso.
-- Vamos voltar mana? Ainda tenho algumas coisas a fazer antes de pegar a estrada.
-- Vamos Brú. A chata da Sabrina já deve estar atrás de nós.
Risos.
Mais tarde...
-- Bruna, nós já vamos. Não demora, hein - Priscila estava com um vestido branco, tomara que caia. Ela estava linda com uma leve maquiagem em seu rosto.
-- Vou logo em seguida, mana - esfregava as mãos nervosa.
-- Então vamos Brina - puxou a amiga pela mão.
-- Vai lá casalzinho - Bruna debochou.
Sabrina virou-se e mostrou a língua.
Assim que elas saíram Bruna colocou a mochila nas costas e pegou o capacete.
-- Bruna.
Virou-se e viu a mãe descendo os degraus. Ela estava linda. Discreta, mais linda.
-- Não perderia o noivado da minha filhinha, por nada nesse mundo...
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Fim do capítulo
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