CapÃtulo 18
No hospital se recuperando da cirurgia, Adriana ficava sozinha, as meninas passavam para vê-la à noite, Felipe trabalha e não poderia ficar com ela durante o dia, a morena tinha que tentar se virar sozinha,
No primeiro dia que Alessandra e Paula foram visita-la, Alessandra pegou o número do quarto errado e foi parar na ala da maternidade, quando chegaram ao quarto encontraram uma plaquinha na porta com um anjo azul desenhado que dizia: “Bem Vindo Renato”. Paula olhou para a esposa e já percebeu que ela tinha pegou o número errado.
-- Alessandra você anotou o quarto errado.
-- Não, eu tenho certeza que ela me passou esse aqui. – olhava a palma da mão anotada com caneta --
-- Mas Adriana não veio aqui para dar a luz a nenhum Renato, e eu tenho certeza que se fosse filho dela não seria esse nome.
-- Qual o problema com o nome?
-- Nenhum Ale, nós vamos ter que voltar na recepção para perguntar qual é o quarto.
Quando finalmente encontraram o quarto de Adriana, as duas entraram e viram que a morena estava sozinha, adormecida, até que Paula a chamou.
-- Drica acorda.
Adriana moveu o corpo, e abriu os olhos devagar. Avistou as amigas e tentou se acomodar na cama, sentia a perna doer e fez uma careta.
-- Oi amiga. Como você está? – Paula segurava sua mão --
-- Oi meninas, eu estou bem, minha perna está doendo, mas de resto está indo.
-- Quem está ficando aqui com você?
-- Ninguém.
-- E sua mãe?
-- Ela não quer falar comigo.
Seus olhos lacrimejaram.
-- Por quê? – Paula fez um carinho em seus cabelos--
-- Eu contei sobre Ana Paula, eu disse a ela que me apaixonei por uma mulher.
-- Não tinha uma hora pior para você fazer isso não? – colocava as mãos na cintura --
-- Alessandra!
-- O que foi?
-- Paula, apenas saiu, eu não queria mais esconder isso dela, uma hora eu teria que contar, ela estava me pressionando sobre namorados novamente, eu acabei soltando.
-- Ela ficou brava?
-- Brava? Ela ficou furiosa, foi embora ontem e não voltou mais, eu ligo para casa dela e ela manda Felipe me atender.
-- Ai Adriana, e agora como você vai fazer?
-- Eu não sei, mas eu vou ter que me virar. O Felipe trabalha o dia inteiro, ele passa aqui à noite para me ver e só ele. Eu não esperava que a reação dela fosse ser tão ruim.
-- Confesso que eu achei que a sua mãe não ficaria tão brava.
-- É, mas ficou, vocês tinham que ver as coisas horríveis que ela me falou.
-- Esquece isso, depois quando ela esfriar a cabeça ela conversa com você e vocês fazem as pazes, você vai ver. – Paula ainda acariciava seus cabelos --
-- Você vai ficar aqui por quanto tempo?
-- O médico não falou, mas eu devo sair amanhã.
-- Você vai para casa?
-- Tenho que ir, eu ia ficar com a minha mãe, mas ela não quer nem ouvir o meu nome. Eu vou ficar sozinha no apartamento.
-- Nós vamos resolver isso.
As meninas contaram para Drica que foram parar na maternidade, e a garota se acabou de rir, principalmente quando apontou para a etiqueta de visitante que estava colada na blusa das meninas mostrando que tinha o número correto do quarto que Adriana estava.
-- E a queixa? Você já decidiu se vai processar a maluca?
-- Felipe prestou depoimento, e veio um policial aqui para pegar o meu, para liberar a minha moto, eu disse que não vi quem foi, uma testemunha pegou o número da placa, deixa que a policia mesmo descubra, eu não quero envolver Ana nisso.
-- Ai amiga, você é boba demais, se você fala que a viu, ela seria presa e acabaria com isso de uma vez.
-- Ale, você não entende, o marido dela é capitão de alguma coisa que eu não lembro, é militar, você acha que ele não vai dar um jeito de não dar em nada?
-- Mas que palhaçada, só no Brasil mesmo que isso acontece.
-- Mas acontece, então, eu preferi não denunciar para não sofrer retaliação, se ela já fez isso, é por que sabe que vai ficar impune..
-- Isso é um absurdo.
-- Felipe deve retirar minha moto no fim de semana, vocês viram como ela ficou? Ela está muito destruída?
-- Não, amiga, eu não vi. Eu não sei como ela está.
-- Isso vai me dar um trabalhão.
-- Drica, a moto é o de menos, você precisa se concentrar em se recuperar.
-- Eu sei, será que eu consigo viajar?
-- Consegue sim, você é forte, vai estar pulando por ai em menos de um mês.—Alessandra pulava no quarto—
Nessa hora o médico que fez a cirurgia de Adriana entrava no quarto e viu a cena de Alessandra que pulava de um pé para o outro ao lado da cama da contadora.
-- Boa noite senhoras, parece que tem alguém ai com disposição. É cooper?
-- Boa noite doutor. – Ale estava completamente vermelha –
-- Não se preocupe, fazer exercícios é muito bom para a saúde.
Adriana ria com dificuldades e Paula balançava a cabeça negativamente rindo também.
-- E você, jovem, como está se sentindo hoje?
-- Eu estou sentindo dores na perna, e meu braço está me incomodando também.
-- Isso é normal, sua cirurgia foi ótima, eu creio que a sua recuperação será muito boa também, o braço teremos que esperar a cicatrização mesmo, não tem jeito.
-- Doutor, qual foi o procedimento que foi feito?
-- Nós colocamos duas hastes de titânio acompanhando o canal medular do osso fraturado para dar sustentação à perna da Adriana. – fazia o caminho com uma caneta sobre a perna de Adriana – Essas hastes foram usadas para reduzir a fratura unindo novamente o osso que até então estava quebrado.
-- Ai, só de ouvir eu já estou sentindo a dor. – dizia Ale –
-- O procedimento é invasivo, mas a recuperação é bem mais rápida, dependendo da sua recuperação, podemos retirar as hastes dentro de seis a doze meses.
-- Eu vou estar nos Estados Unidos nesse período.
-- Ou você opera por la, ou volta para retirarmos aqui.
-- Entendi, e quando eu posso ir para casa?
-- Ah você ainda fica aqui até sexta-feira, para eliminarmos qualquer suspeita de rejeição, ai sim você poderá ir embora.
-- E esse colar, está me incomodando muito.
-- Deixa eu ver.
O médico retirou o colar cervical do pescoço de Adriana e fez alguns movimentos com sua cabeça para ver se ela ainda tinha dores no pescoço.
-- Você sente alguma coisa?
-- Não, eu estou bem.
-- Então eu vou suspender o colar para você ficar melhor. Amanhã faremos uma tomografia para ver se tem algum dano só para nos certificar, e de resto é muito repouso e daqui a um mês você pode começar a fisioterapia.
-- Maravilha.
-- Bom, eu vou embora e volto amanhã para ver como você está.
-- Obrigada.
-- Até mais meninas.
-- Tchau. – as duas responderam juntas –
-- Ai Ale, você me mata de vergonha.
-- Como eu ia adivinhar que ele ia entrar aqui naquela hora?
-- Gente eu não posso rir que dói tudo, eu vou proibir a entrada de vocês aqui.
-- Não, só de Alessandra.
-- Palhaça.
As meninas riam as situação, como sempre estar com Alessandra era garantia de muita diversão.
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Passado um mês, Drica já estava andando de muletas em pequenos espaços dentro do apartamento, sem colocar o pé operado no chão, passou todo esse tempo sem falar ou ver Ana Paula, ela tentava ligar e a loira não atendia, ela mandava sms, mas ela não respondia, enviou vários e-mails e não tinha resposta, Adriana se sentia abandonada.
Sua mãe não voltou mais no hospital, e também não atendia suas ligações só Felipe que falava com ela, até o seu pai ficou revoltado com a nova escolha da filha, o que deixou Drica muito deprimida, além do acidente, de ter perdido Ana Paula ainda perdeu a família por causa de uma pessoa que agora a ignorava, se Ana pelo menos estivesse por perto sua dor seria menor, haveria uma compensação.
Paula e Alessandra tentaram ajudar como puderam, ficaram alguns dias na casa de Adriana, e acabaram contratando uma pessoa para cuidar de Drica durante o dia já que ela não podia fazer esforço e nem colocar o pé no chão.
Isadora fazia a ponte entre Ana Paula e as informações sobre a morena, quando ligava para a contabilidade para falar sobre algo relativo a trabalho aproveitava para saber como estava o estado de saúde de Adriana.
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Ana Paula se dividia entre trabalhar muito e fazer as vontades de Gisele, Ana estava apática, não se divertia mais, não saia mais com as amigas nem com Camila, ficava em casa como em cárcere privado à disposição de Gisele ligar e ela ter que ir correndo, ela ainda sentia algo por Gisele mas já estava longe daquele amor que a acometera no início da relação das duas.
Ela sabia que já estava chegando perto do embarque de Drica para o exterior, e isso a deixava aliviada, sua intenção era enfrentar Gisele quando Drica deixar o Brasil para que ela fique segura longe das garras da outra.
As vezes quando saía do trabalho, ao invés de ir para casa, dirigia sem destino pelas ruas de Niterói, e quando percebia estava parada na rua de Adriana olhando para aquela janela no quinto andar que em sua maioria das vezes estava com a luz acesa a noite, onde ela sabia que sua salvação se encontrava, onde ela tinha certeza que deveria estar, mas não poderia, não naquele momento. Algumas vezes teve sorte e acabou vendo a morena na janela, mas não deixava que Drica a visse. Não era o momento.
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Adriana fazia um tratamento intensivo para conseguir viajar a tempo e não perder a matricula do curso, à medida que a viagem se aproximava ela ficava mais nervosa, Drica tentava se reaproximar dos pais, mas eles estavam fieis ao seu pensamento.
-- Alo, Felipe.
-- Oi maninha, você está bem?
-- Eu estou sim, e você está tudo bem?
-- Tudo certo. Irmã você se lembra da Luana, irmã do Carlos, meu amigo?
-- Lembro sim.
-- Nós estamos namorando, nós já estávamos ficando e eu a pedi em namoro ontem.
-- Que bom mano, parabéns, ela é muito bonita.
-- Drica, eu não tenho que me preocupar com vocês duas não né?
-- Que isso fedelho? Você está me estranhando?
-- É que depois que você começou a gostar do mesmo produto que eu gosto, eu fiquei meio receoso.
-- Cala a boca Felipe, vai ver se eu estou na esquina, eu não sou nenhuma predadora não, eu me apaixonei por uma mulher, e só.
-- Eu sei paixão, eu estou brincando com você.
-- Lipe, e mamãe, ainda não quer falar comigo?
-- Drica, nem ela nem o pai, eu falo de você e insisto, mas eles não querem. Ontem eu comentei que você vai viajar semana que vem e ninguém se manifestou. Eu acho até que mamãe foi para o quarto chorar, mas ela não quer dar o braço a torcer.
-- Ai Felipe, o que eu vou fazer? Eu estou sozinha, eu só tenho você agora.
Adriana começou a chorar no telefone, o que cortou o coração do seu irmão que não sabia o que dizer, ele encarou com mais naturalidade a revelação de Drica, para ele tanto faz se sua irmã gosta de meninos ou de meninas ela continua sendo sua irmã mais nova que ele sempre protegeu.
-- Adriana, eu vou passar ai hoje para ver você, eu vou levar Luana para te apresentar, tenta se comportar. – falava para provocar a irmã--
-- Palhaço.
Adriana desligou o telefone muito chateada, estava em casa sozinha e não parava de pensar em Ana Paula. Seus pais não falavam mais com ela, estava a uma semana de viajar para outro país e não conseguiria se despedir deles.
À noite o Felipe cumpriu a promessa de ir visita-la, levou a nova cunhada de Adriana e coincidentemente Alessandra e Paula também apareceram no apartamento.
Estavam todos na sala, Adriana já estava andando de muletas mas ainda não podia colocar o pé no chão. Ela ficava o tempo inteiro com a perna esticada sobre almofadas.
Pediram pizza e finalmente Adriana conseguiu relaxar, Felipe brincava com ela e não escondeu da namorada que Drica se apaixonou por uma amiga, o que também não chocou a menina, isso a deixou muito confortável.
-- Adriana você já arrumou as malas?
-- Alguma coisa já está arrumada, eu tenho que fazer devagar, não dá para ficar indo de um lado para o outro.
-- Quem é que vai cuidar do seu apartamento? –Felipe perguntava --
-- Eu aluguei por um ano, a Pitty vai ficar com Paulinha e Ale e eu só volto ano que vem.
-- Nossa, eu vou ficar um ano sem você.
-- Alessandra, um ano passa rápido, quando você menos esperar eu vou chegar ao escritório para você encher meu saco.
--Traz um tablet e um notebook da Apple para mim, eu te mando o dinheiro, ah e um Iphone.
-- Eu vou ser presa por contrabando, quer que eu traga a terra do tumulo do Steve Jobs também?
Eles riram de Alessandra pedindo vários aparelhos para Drica trazer.
-- Ah amiga, eu trouxe aquele cartão que tinha ficado lá em casa. – procurava algo na bolsa --
-- Que cartão Alessandra?
-- Aquele da arquiteta gostosa. -- Ai! – Paula jogou uma almofada na esposa –
-- O que foi?
-- Amor, para de chamar essa arquiteta de gostosa, isso me irrita.
-- Mas ela é gostosa ué. Ai! – outra almofada voava em Alessandra –
Todos na sala riam da situação.
-- Vocês não sossegam mesmo hein.
-- Aqui amiga, pega, liga para ela qualquer dia.
-- Que ligar nada, você bebeu? Para que eu vou ligar para ela? Eu estou inválida, não posso sair para lugar nenhum, e outra, eu amo outra pessoa.
-- Ah Adriana, você é muito careta, solteira, linda, bem sucedida, e com suas amigas lindas e bem sucedidas como nós – apontava para Paula – não vai se limitar por causa de um detalhe desses não é.
Paula e Felipe riam da amiga.
-- Ale, esses parafusos e essa barra de titânio que agora vivem dentro da minha perna não são só um mero detalhe. – apontava para o canto da sala -- Aquela cadeira de rodas é um detalhe maior ainda.
-- Pelo menos seria uma companhia.
-- Ale, deixa ela, sossega essa bunda ai. – Paula puxou Ale pela calça para ela sentar no sofá --
-- Amiga você não está inválida, não fala assim.
-- Mas é como eu me sinto. – seu olhar era perdido –
Paula veio para o sofá e sentou ao lado da amiga.
-- Você é uma sortuda, que está só com esse ferrinho ai na perna, poderia ter sido pior.
-- Adriana, você vai para Harvard, e logo você estará pisando novamente, sua condição não é permanente, você vai ficar bem. Eu estou muito orgulhoso de você. – Felipe dava força para a irmã –
Por volta das dez horas, Felipe resolveu ir embora, Alessandra e Paula também saíram, e Drica ficou sozinha novamente, já tinha desistido de tentar algum contato com Ana Paula, mas ainda pensava nela dia e noite.
Sentada na sala com o pé apoiado na mesa de centro ela olhava o celular, pegou o aparelho e ameaçou discar o numero de Ana, desistiu, jogou o aparelho no sofá de volta, pegou o aparelho novamente, ela olhava para o visor, acessou a agenda, e colocou o cursor sobre o nome de Ana, ficou ali, pensando se valia apena tentar novamente, desfez a ação e jogou o celular longe.
Olhou o cartão da arquiteta Mariana Santos, morena linda, que enchera Adriana de auto estima devido o seu interesse, mas a contadora pensou melhor e resolveu não mexer nisso, já iria viajar e no mais, qual assunto elas teriam?
Adriana apenas esperava que a viagem pudesse ajudar na cura da abstinência que ela sentia da companhia da advogada.
*********
Ana Paula estava na casa de Gisele, enquanto a namorada assistia à novela, Ana brincava com o celular, passava pelo nome de Adriana diversas vezes, queria muito fazer aquela ligação, mas não podia, queria saber como ela estava, queria ouvir a sua voz, queria toca-la e não poderia. Como sair daquela situação? Ela já estava imaginando como faria depois que Drica fosse embora, daria o fora em Gisele e a amiga estaria segura em Harvard.
-- Eu vou dormir Gi.
-- Espera um pouco, já está acabando.
-- Eu vou deitar, se você quiser vem comigo.
O tratamento de Ana com Gisele estava meio ríspido, a loira não aguentava mais paparicar a outra, mas no fundo o que a deixava mais frustrada é que no final de tudo ela percebia que mesmo com toda a pressão da chantagem ela ainda gostava de estar perto de Gisele.
Na cama ela estava deitada esperando por Gisele e novamente passava com o dedo pelo celular até o nome de Adriana. Gisele entrou no quarto de mansinho e Ana levou um susto,
-- O que foi? Está assustada comigo?
-- Sim, eu estava distraída.
-- Ou você recebeu alguma mensagem da sonsa?
-- Gisele não viaja, não tem mensagem nenhuma aqui, esquece a garota, O seu problema é comigo.
-- Desculpa meu amor, agora vem aqui que eu quero ter você só para mim.
-- Eu não quero, eu estou enjoada, deixa para amanhã.
-- Poxa, já é a segunda vez que você me dispensa essa semana.
-- Amanhã nós conversamos.
Ana Paula virou de costas e deixou Gisele a ver navios, ela fazia isso exatamente como punição para a loira por tirar a amizade de Drica do seu convívio, ela atingia o ponto fraco da namorada.
Nessa guerra de egos, no final de tudo, ninguém ganhou, ao contrário, todos saíram perdendo, Adriana e Ana permaneciam longe uma da outra, sofrendo por amor e Gisele que pensou ter conseguido o que queria, só fez o amor incondicional de Ana Paula enfraquecer.
********
Chegou o dia da partida de Adriana para Harvard, Alessandra e Paula a levaram para o aeroporto internacional do Rio de Janeiro, Drica já havia feito o check in, estava conversando com as meninas esperando para entrar para o embarque, Felipe chegou com Luana, sem os pais.
-- Oi Adriana, ainda bem que eu consegui chegar, eu peguei um engarrafamento agora, teve um acidente na Av. Brasil, eu fiquei com medo de não te encontrar.
-- Papai e mamãe não vieram?
-- Eu sinto muito mana, mas eles não quiseram vir.
Adriana esboçou um choro, o irmão a amparou, de longe Ana Paula assistia a cena, ela foi até o aeroporto para ver Drica partir, mesmo que não falasse com ela, queria ver a morena antes de embarcar. De longe podia ver a morena na cadeira de rodas com as muletas sendo carregadas pelo irmão, e a perna imobilizada com uma bota ortopédica do pé até o joelho, ainda tinha alguns curativos no braço pelas queimaduras no asfalto, aquela cena cortou o coração da advogada, que ainda se culpava pelo acidente provocado por Gisele.
Adriana olhava em volta procurando por ela, imaginava que Ana poderia aparecer para dizer adeus pelo menos.
-- Ela também não vem. – baixou a cabeça --
-- Amiga, esquece essa mulher, ela não te merece.
-- Eu queria pelo menos dizer adeus. Vê-la uma ultima vez.
-- Eu sei. De repente ela aparece. – Paula dizia --
-- Eu duvido.
Paula cutucou Alessandra, ela não podia deixar de fazer algum comentário sem noção.
-- O que foi? – Ale perguntava --
No alto falante do aeroporto, foi anunciado o embarque do voo de Adriana, ela sentiu um calafrio subindo pela coluna, estava deixando sua vida inteira para trás e aterrissaria em um lugar novo para conhecer pessoas novas. Partia com o coração despedaçado, sentindo saudades de Ana Paula e dos pais, ela sentia que perdera o sentido da vida.
Despediu-se das amigas e do irmão com um abraço bem forte, deu mais uma olhada em volta e se dirigiu para o embarque, ha medida que ela empurrava a cadeira, ela saia do raio de visão de Ana, que começou a caminhar na direção de Adriana para ver a amada ir embora. Adriana atravessou para a área de embarque e virou para dar mais um adeus ao irmão, foi quando viu Ana Paula afastada em um canto assistindo sua partida, ela voltou para a lateral da área, não poderia mais voltar para o saguão mas Ana poderia ir até ela. As meninas não entenderam o que aconteceu e foram até as roletas, Drica não parava de olhar para o fundo e Ana viu o olhar de Drica na sua direção ela não conseguiu se esconder o tempo todo.
-- O que foi Adriana?
Adriana não falava nada, apenas encarava os olhos azuis de Ana que deixava lágrimas escorrerem pelo seu rosto.
As meninas olharam para trás e viram quando Ana resolveu correr na direção delas enquanto Adriana levantava com dificuldade e abraçou Drica com tanta força que a morena poderia jurar que algum osso tinha se quebrado.
Adriana estava magoada, ela hesitou um pouco, mas retribuiu o abraço em Ana Paula mas com certa reticencia, não entendia o sumiço da advogada e ficou se perguntando por que ela apareceu no embarque.
Adriana começou a chorar, no fundo ela sabia que Ana Paula apareceria, ela sabia que ela sentia algo.
-- Eu sabia que você ia aparecer. – acomodou o rosto em seu pescoço --
-- Eu não podia deixar você partir sem te ver uma ultima vez. – falava em seu ouvido --
-- Por que você não me atende? – Adriana olhou nos olhos de Ana -- Você sumiu, eu achei que você tinha me esquecido.
-- Eu nunca vou te esquecer, mas eu não podia te ver, me perdoa. – segurou o rosto da contadora entre as mãos --
No alto falante do aeroporto, era dada a ultima chamada para o voo de Drica.
-- Eu preciso ir. – soltou as mãos da advogada de seu rosto e as segurou --
-- Eu te adoro. Se cuida.
-- Você também. – Adriana baixou os olhos --
Ana se aproximou para um beijo, mas Adriana evitou o contato, virou o rosto, ela soltou a mão de Ana aos poucos, palma a palma, até as pontas dos dedos e seguiu para o avião, com o sentimento de deixar uma vida inteira para trás. Mas feliz por enfrentar uma nova dali para frente, estava receosa por ir para outro país sozinha, mas ficou feliz por saber que Ana ainda tinha sentimentos por ela.
Ana Paula lá fora, olhava para a porta de embarque desolada, com as lágrimas caindo como chuva em dias frios, percebeu a mágoa de Adriana quando ela não quis o beijo, Paula como sempre no alto de sua sensatez, confortou a loira mesmo sob o olhar de reprovação de Alessandra. Felipe curioso acabou se enrolando com a namorada.
-- Ale, essa é a mulher que a Drica se apaixonou?
-- Sim, é ela mesma.
-- Nossa, pelo menos minha irmã tem bom gosto.
Luana que estava perto deu uma cotovelada na sua costela.
-- Ai.
-- Esqueceu-se de mim amor?
-- Eu estava brincando meu amor. Só brincando. É a amiga dela que estava no hospital na noite do acidente.
-- Então você já a conhecia.
-- Eu só reparei agora.
Todos partiram deixando para trás uma fase da vida que se encerrava ali, e por um ano perderia uma das protagonistas.
No carro pegando a Ponte Rio-Niterói, Ana pensava o que faria a partir de agora, Adriana foi embora e ela estava livre para terminar com Gisele, mas no fundo ainda sentia um aperto muito grande quando pensava em terminar com a namorada, acreditava que o melhor era ficar sozinha, mas ainda tinha esperanças que Gisele voltasse a se comportar como no inicio do namoro, e se separasse finalmente.
No rádio Isabela Taviani embala o caminho de volta para casa, e ela lembrou-se de Adriana, ela viu aquele amor puro escorrer pelos seus dedos por conta de medo e insegurança, viu a mulher que poderia ajudar a esquecer o seu amor por Gisele entrar em um avião e cruzar o oceano, viu sua paixão levantar vôo para Harvard. E não sabia se haveria uma segunda chance, se a encontraria novamente, se ela a perdoaria pela sua fraqueza.
https://www.youtube.com/watch?v=AZ7iyQD-YH0
Falsidade Desmedida
Isabella Taviani
Quero ver sair da sua pele o cheiro de amor derramado nos lençóis
Quero ver esquecer de tudo entre nós
E voltar pra sua vida carregando uma mentira
Quero ver cumprir sua promessa de bater a porta e não voltar
Logo agora que me provou o mel do meu lugar
E voltar pra sua vida fabricando outra mentira
Se você realmente me ama
Veja o sol nascer para sempre nos meus braços
Não adianta ficar com ela querendo a mim
Você vai se arrepender quando eu não estiver aqui
Quero ver suprir a minha falta bebendo outros beijos sem sabor
É preto e branco é indolor
O seu prazer insosso
Esta é a sua vida falsidade desmedida
Nossa chama pode apagar ao relento da covardia
Há um vento migrando pra outro lugar
De onde não quer mais voltar
Pode nunca mais voltar
Ana sentia o gosto amargo da separação e era quase ouvir a música na voz de Adriana, ela poderia nunca mais voltar.
*******
No avião Drica sentou na janela, olhava o céu se aproximando enquanto o veículo levantava voo. Seria uma maratona de quase doze horas de voo, considerando uma parada em São Paulo e outra em Nova Iorque. Drica deixava sua vida para trás, seus pais, seu emprego, e o seu amor. Ainda tinha o pé imobilizado, precisava de alguns cuidados especiais. Ela viajou sentada na primeira fila para que ela pudesse esticar o pé.
Chegando em solo americano, Drica foi recebida por um carro da universidade que estava esperando por alunos que chegariam no mesmo horário. Acomodou-se na van e outras pessoas também chegavam, uma menina sentou ao seu lado e já puxava assunto, Adriana era mais reservada, mas acabou conversando com ela.
-- Oi, você é brasileira também?
-- Oi, sou sim. – ajeitava o cinto de segurança --
-- Ai, que bom, finalmente eu encontrei alguém que fala a minha língua.
-- Você não sabe falar Inglês?
-- Não. – passava batom olhando em um espelhinho --
-- E como você vai fazer o curso?
-- Com um tradutor no meu Iphone.
-- Eu não vejo como isso pode dar certo. – Adriana ria, lembrava de Alessandra e percebeu que encontrara a cópia fiel da amiga ali ao seu lado --
-- Ah, o importante é estar aqui. – guardou a maquiagem --
-- Mas como você passou na prova?
-- Minha irmã fez para mim.
Drica olhava para a menina sem entender nada.
-- Eu tenho uma irmã gêmea.
A garota puxou o telefone e mostrou a foto da irmã, idêntica a ela, parecia que a foto tinha sido feita em um espelho.
-- Nossa, vocês são muito iguais.
-- É, ela fez economia em São Paulo, é inteligente para caramba, eu fiz contabilidade, e sou o oposto dela, não gosto de estudar.
-- Qual é o seu nome?
-- Desculpe, eu nem me apresentei. Viviane.
-- Eu sou Adriana.
-- Prazer.
Adriana notou que a moça era muito bonita, os cabelos ondulados, pintados de vermelho, os olhos verdes realçavam com a pele morena. Estavam sentadas, não deu para avaliar o corpo, mas parecia em forma.
Depois de recepcionar todos os alunos que eram esperados, eles rumaram para a universidade. Rodaram por algumas horas e Drica finalmente vislumbrou o campus imponente da Universidade de Harvard, os prédios totalmente em uma arquitetura clássica eram perfeitos, Adriana estava maravilhada.
A van parou em frente ao um prédio grande, estilo clássico, e o motorista indicou que era o alojamento dos estudantes que ficariam morando dentro da universidade. Adriana obteve ajuda para descer do veiculo, Viviane desceu do carro deslumbrada com o local, a ruiva olhava tudo como se fosse uma criança em um parque de diversões. Adriana ria da atitude da garota.
Como ela estava de muletas. Suas malas foram trazidas pelo pessoal que estava com ela na van, todos os alunos foram recebidos por uma senhora que aparentemente coordenava o prédio. Identificou os alunos e distribuiu os quartos, para a surpresa de Adriana ela ficaria no mesmo quarto que Viviane, o que fez a garota dar um gritinho de alegria. Adriana muito discreta queria abrir um buraco no chão para cair, enquanto os outros alunos riam da menina maluquinha que estava junto deles.
Os colegas ajudaram Adriana com as malas, deixaram-na dentro do quarto, ela agradeceu a todos, é lógico que os meninos estavam de olho na morena brasileira de curvas bem delineadas, e beleza tropical.
Depois de acomodadas, Adriana arrumava o restante de suas coisas em um dos armários, quando Viviane falou que ia dar uma volta.
-- Amiga, eu vou dar uma volta por ai, fazer um reconhecimento de campo.
-- Tudo bem vai lá, eu até iria com você, mas eu não posso andar muito, eu estou cansada de ficar na mesma posição no avião.
-- Tudo bem, se eu achar alguma coisa por aqui eu trago para você comer.
Vivi saiu e Adriana ficou rindo, a morena tomou um banho e sentou no computador, entrou no MSN para ver se encontrava alguém on line, mas não tinha ninguém, mandou um e-mail para o irmão e para as amigas, inclusive Ana, dizendo que chegou bem e que já estava no alojamento da universidade.
Com o cansaço da viagem Adriana acabou pegando no sono, foi despertada pelo barulho de Viviane entrando no quarto com um saco de uma lanchonete fast food nas mãos.
-- Amiga, você não vai acreditar, o lanche aqui é a metade do preço que nós pagamos lá no Brasil. Eu comi muito. Eu trouxe para você, eu não sabia o que você gostava, ai eu trouxe o basicão.
Drica ainda meio sonolenta levantou da cama com cara de ontem.
-- Ai, desculpa, eu te acordei, eu nem vi que você estava dormindo.
-- Tudo bem, eu precisava comer mesmo.
Adriana levantou com a ajuda das muletas e foi até a escrivaninha, onde Viviane deixou o pacote com o lanche, a garota ficou observando o deslocamento de Adriana pelo quarto como se fosse em câmera lenta, Adriana vestia um short curto e justo, deixando suas coxas bem torneadas totalmente a mostra, e um top colado no corpo que ela usava para dormir modelando suas curvas moldadas dia a dia na academia.
Hipnotizada com aquela visão a garota ficou praticamente muda, quando Adriana ofereceu um pedaço do sanduiche e ela nem percebeu.
-- Viviane, você quer?
-- O que?
-- Você quer um pedaço?
-- Ah, não, eu comi que nem um poço sem fundo, eu não aguento nem ver mais hambúrguer.
Adriana ria da nova amiga.
-- Mas e ai, você é de onde?
-- Eu sou de São Paulo, capital.
-- Eu vim do Rio, cidade de Niterói.
-- Ai, o Rio, eu tenho loucura para visitar, deve ser lindo. – abraçava o travesseiro --
-- É sim, quando nós voltarmos você vai me visitar no Rio, fica no meu apartamento.
-- Maravilha, eu já pego o voo direto com você.
-- Calma menina, teremos muito tempo para isso.
-- Sim, eu sei. Eu estou brincando.
-- Por que você resolveu vir fazer o curso?
-- Eu queria era sair da casa dos meus pais, eles pegam muito no meu pé, eu já tentei morar sozinha, mas eles não deixaram, ai quando surgiu a possibilidade de vir para cá, eu agarrei. Longe deles e em outro país, melhor impossível.
-- Cuidado que você pode ser extraditada se fizer alguma merd* grande.
-- Eu tenho cara de quem faz merd*?
-- Desculpe a honestidade mas tem sim.
Viviane fez uma careta para Adriana, que riu bastante com a menina, Viviane é jovem também, mesma idade de Adriana mas muito moleca, a maturidade que Adriana possuía era além do entendimento da infantilidade de Vivi, o que uma tinha de responsável e outra era totalmente o oposto.
Depois de comer, Adriana deitou na cama e ficou pensando em sua vida, em tudo que acontecera e o que a levou até ali. De certa forma ela estava seguindo um bom caminho pelos motivos errados. Fugir de um amor proibido lhe rendeu um bom curso na melhor universidade do mundo. Será um grande peso no seu curriculum.
Adriana percebeu que Viviane mexia no notebook na cama ao lado, resolveu deixar a garota quieta e tentar dormir.
****************
No Brasil dias depois do embarque de Adriana, Ana Paula começava o seu martírio para se separar de Gisele, a loira não dava tréguas para a advogada.
-- Ana Paula vem para cá no fim de semana.
-- Gisele eu não vou. Acabou, eu não quero mais ficar com você.
-- O que você está falando?
-- Que eu não quero mais você. Nosso caso acabou, chega de ser usada por você. Procura outra otária.
-- Eu não aceito isso, você não vai se livrar de mim assim.
-- O que você vai fazer?
-- Você já viu do que eu sou capaz, não me provoque.
-- Gisele, só se você me matar, porque Adriana está fora do seu alcance.
-- O que você quer dizer com isso?
-- Ela não está no Brasil. Então se você pretende me chantagear, é melhor que seja com outra coisa.
-- Por isso que você esta me desafiando desse jeito. Você não vai me deixar.
-- Tchau Gisele.
Ana desligou o telefone e ficou encarando a parede, Claudinha entrou na sala e tentava chamar a atenção de Ana.
-- Ana.
.......
-- Ana Paula acorda.
-- Oi, desculpe Claudinha. O que foi?
-- Você esqueceu a audiência de hoje?
-- Verdade, eu quase esqueci. Claudinha falta quanto tempo para você se formar?
-- Um ano.
-- Hum.
-- Por quê?
-- Nada não, vamos.
Gisele do outro lado estava irada, tentou telefonar para Ana Paula novamente, sem obter resposta, começou a elaborar um novo plano para manter Ana Paula por perto.
Fim do capítulo
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