Olá meus queridos, tudo bem?! Nossa, que saudade que estou de vocês, das minhas histórias, de tudo!
Eu deveria ter passado por aqui há mais tempo, peço desculpas por isso, mas talvez, apenas agora, tenha sido o momento certo para tal conversa.
Os últimos tempos não tem sido muito gentis comigo, não que eu esteja reclamando, mas passei e ainda estou passando por problemas e renovações na minha vida que têm demandado mais tempo e cautela do que eu realmente gostaria. Eu não priorizei minha saúde e não estava me priorizando há um bom tempo e uma hora a conta vem e vem cara… Quero que saibam que estou bem, na medida do possível e que minha atual situação é bem melhor do que há uns dois ou três anos - pelo menos isso. Não cabem maiores detalhes aqui, mas sentia que devia isso a vocês, que têm acompanhado minha trajetória desde o início, sempre me motivando a dar o meu melhor.
Fora os problemas pessoais, vamos ao que realmente interessa… Fios do Destino.
Apesar do longo tempo sem postar, não se preocupem, estou trabalhando com dedicação. Porém, minha rotina está bem mais pesada, com escrita, trabalho, vida pessoal, fisioterapia, terapia e como autora independente.
Estou tentando conciliar a fic com a versão original. Fios do Destino está no segundo e-book na Amazon e tenho mais boas novas… Em novembro do ano passado entramos em campanha de pré-venda ela editora FLYVE e finalmente realizei o grande sonho de termos nossa querida história em versão física.
Caso queiram me acompanhar no instagram meu perfil é @karinmaia. Lá vocês podem acompanhar de pertinho o processo do livro físico e as demais atualizações… Eu só não falo sobre as fanfics por lá pq realmente não posso, pois provavelmente eu seria obrigada a apagar as fics por conta dos originais, algo que não quero, pois muitas pessoas não tem condições de comprar os livros ou e-books e essa é uma forma de ler minhas histórias.
Desde já, agradeço ao carinho e compreensão de todos, espero que estejam bem e nos vemos muito em breve!
O jardim de Adonis
"Cada batida de seu coração quebrou as mentiras em pedaços
Fazendo as fundações tremerem
Cada onda no lago fez a porcelana quebrar
E eu me arrepio..."
~***~
Annabeth estava inquieta, e tamanha inquietude parecia transparecer aos demais que lhe cercavam, porém pouco se importou, deixou que lhe julgassem mesmo que os covardes o fizessem apenas em pensamento... Deveriam divagar sobre o peso de suas responsabilidades e o quão forte uma mulher - ainda que filha de uma deusa - seria para manter as rédeas de uma guerra de proporções jamais imaginadas.
A semideusa sempre cordial e educada mais parecia como as estátuas esculpidas em templos suntuosos: fria, dispersa e sem vida, com burburinhos bajuladores ao seu redor. Tentou se concentrar, mas era impossível, aquela sensação não lhe deixava, sua noite foi atribulada, assim como um par de noites pouco aproveitadas antes desta. Nem mesmo Luke, a quem tinha algum apreço mesmo que por obrigação, não tivera êxito em lhe roubar qualquer mísero olhar, o que para o regente deveria ser algo inesperado devido os caminhos tomados na noite anterior.
Luke, que normalmente carregava um sorrisinho astuto e malicioso nos lábios, tinha uma feição um pouco mais séria. Provavelmente arquitetava as próximas etapas do seu plano, ou alguma alternativa emergencial, já que suas investidas até então não surtiram o efeito esperado... Bem sabia que Annabeth não cederia aos seus encantos tão facilmente como qualquer outra mulher faria, mas até mesmo suas manobras políticas para conseguir o que queria não tiveram qualquer boa sorte com a semideusa.
A voz de Perseu se sobressaiu, atraindo de imediato a filha de Athena novamente ao plano terrestre, os olhos cinzentos captaram de forma analítica uma cena intrigante.
A guerreira espartana aproximava-se acompanhada da filha de Afrodite, sorrisos discretos, poucas palavras, a mão de Silena cuidadosamente apoiada no antebraço da mais alta. Sua inquietude padeceu naquele instante, mas algo dentro de si acendeu perigosamente como o fogo grego... Clarisse já deveria estar na companhia dos demais competidores, pois havia permanecido na residência de Temístocles, ou assim bem recordava, já Silena havia pernoitado no templo de Afrodite, motivo pelo qual deixou as demais festividades na noite anterior; respirou profundamente, poderia ser apenas fruto de sua imaginação, ou das palavras da filha de Afrodite derramadas venenosamente sobre si, tampouco seria de sua importância o que talvez tenha acontecido entre as duas.
Seus olhos encontraram os verdes assim que as recém-chegadas tomaram seus devidos lugares, compartilhariam de uma refeição rápida com os demais antes de retomarem os jogos. A expressão indecifrável tanto quanto o olhar eram especificidades da guerreira, Clarisse sempre lhe olhava como se pudesse ler a sua alma, sentiu um arrepio involuntário ao recordar-se da noite anterior... A forma que Clarisse lhe olhou, a forma que em seguida tentou não olhar, sentiu algo lhe tomar o corpo assim que recobrou a cena, os olhares se desconectaram com dificuldade e evidente desejo.
- Que tal um pouco mais de emoção para hoje? - A voz de Luke ressoou entre o burburinho dos demais participantes dos jogos e indivíduos de ímpar importância.
Pares de olhos curiosos e ansiosos lhe dirigiram a atenção assim como esperava, dentre eles aquele que esperava fisgar com maior interesse.
- Fez uma bela entrada na corrida, princesa espartana. - gracejou elevando brevemente o seu cálice de vinho, enaltecendo o feito heroico de Clarisse. - O que me diz de uma disputa com sua ilustre presença?!
O sorrisinho de lado se fez presente no rosto da mulher, o brilho tão característico de seus olhos já antecipara sua resposta antes que as palavras se fizessem audíveis.
- Não costumo fugir de embates e essa não seria a primeira vez. - sentenciou de forma firme, mesmo sabendo que o Coríntio não faria tal proposta sem qualquer motivo. - Não creio que os deuses me abençoaram com tamanha boa sorte... Finalmente terei a honra de um duelo com você?! - Clarisse estreitou o olhar de forma desafiadora, sabendo que tal ardil de Luke jamais o envolveria, serpentes como ele não costumavam se arriscar, mesmo que minimamente, entretanto queria ter a satisfação de escutar do regente sua desculpa.
O sorriso convencido crispou-se, como se Luke provasse de um azedume que não lhe era costumeiro. Negou brevemente com a cabeça enquanto sorvia de um pouco de vinho antes que dirigisse a resposta à princesa.
- Quem sabe em um momento mais oportuno. - contra argumentou da forma mais tranquila e límpida que pôde, não soaria como um covarde, como bem gostaria de enfatizar a mulher. - Damon, demonstrou interesse em uma peleja amistosa com a herdeira do senhor da guerra.
O guerreiro citado nada mais era do que o hoplita de maior prestígio entre os soldados de Luke e também o mais temido dentre eles, possuía o mesmo instinto sanguinário de seu senhor e intimidava seus oponentes apenas com sua presença... Não poderia dizer que era um deus, pois se ali algum dia residiu beleza, o campo de batalha havia lhe tomado com cicatrizes medonhas, mas o grande porte e a quantidade de indivíduos que havia enviado a morada de Hades, certamente fazia qualquer um contestar se não havia de fato algum resquício de divindade.
Os olhos da espartana brilharam em contentamento, infelizmente não seria o momento de colocar o regente de Corinto em seu devido lugar, mas por hora ela se contentaria com algum divertimento que aparentemente poderia valer o seu tempo. O homem lhe sorriu brevemente, um grunhido de satisfação escapando pelos lábios antes de tomar o líquido ainda presente em sua taça em um só gole.
Burburinhos começaram mais uma vez, alguns mais animados pela disputa que aconteceria brevemente, outros mais contidos, assim como os olhares temerosos dos mais prudentes.
~***~
A manhã ensolarada convidava os demais a desfrutarem das belezas naturais dos jardins. Pequenos grupos se dispersaram pelas dependências aproveitando as sombras proporcionadas pelas árvores frutíferas, relaxados sobre mantas e almofadas coloridas e bem trabalhadas. Por mais que estivessem distraídos em amenidades, aguardavam ansiosamente a disputa entre Damon e Clarisse.
Após partilharem de uma refeição leve e se dispersarem, Annabelle desviou-se de conversas inoportunas de forma delicada e inteligente, tornaram-se costumeiras suas medidas evasivas agora que seu tempo estava focado na politicagem de Athenas e em estratégias de guerra... Contudo, seu foco não era esse.
Seus passos apressados, porém comedidos, de forma que não levantasse qualquer alarde, lhe levaram até o pátio interno da residência, onde as aias e demais mulheres responsáveis pela manutenção do oikos conversavam enquanto costuravam e preparavam a próxima refeição, já que os demais campeões estavam dispersos pelas adjacências. A semideusa pôde enfim encontrar alguma quietude ao pôr os olhos na espartana, parecia quieta demais próxima ao altar de Zeus Xenios, o protetor dos lares.
- Já ouvistes a história de Acteão, o caçador?
Passaram-se alguns segundos até que Clarisse deixasse seus pensamentos e girasse em seus calcanhares para encontrar os belos olhos cinzentos da semideusa.
- Triste fim, não é mesmo?! O belo caçador que foi transformado em cervo, caçado pelos melhores amigos e estraçalhado por seus próprios cães. - declarou com olhar firme e um sorriso de canto.
Era comum entre os gregos repassarem histórias de heróis, deuses e semideuses desde a infância, e claro que em uma pólis militarista como Esparta não faltariam oratórias sobre deuses mais bélicos como Ares, Athena e Ártemis, não era surpresa que a princesa, filha do deus da guerra, soubesse do trágico fim do descendente de Apolo.
- Ele infringiu regras, foi tomado por sua curiosidade, seus olhos capturaram algo que jamais deveriam. - Clarisse lhe ofereceu o braço, para que lhe fizesse companhia e assim não despertassem maior curiosidade, Annabeth aceitou, seus dedos correram suavemente a pele desnuda causando uma sensação morna por seu próprio corpo. - Qualquer ato, por mínimo que seja, tem suas consequências.
A espartana lhe prendeu mais uma vez naquele olhar intenso e misterioso antes que tomassem qualquer caminho, seus dedos correram da forma mais delicada possível os pequenos fios que se soltaram do penteado bem alinhado devido a brisa singela antes de deslizarem pelo maxilar e queixo da atheniense, onde depositou mais um cuidadoso carinho, deixando os olhos cinzentos ainda mais nivelados com os seus.
- Cada segundo de contemplação deve ter valido a pena, independente das consequências. - declarou de forma baixa, a voz levemente carregada. Já não sabendo se ambas conversavam sobre o cruel destino de Acteão ou sobre o pequeno ato furtivo praticado pela princesa guerreira na noite anterior.
Annabeth sentiu a própria respiração tornar-se mais pesada. Foi guiada de forma gentil por sua companhia até a pasta mais próxima - uma espécie de corredor que interligava todos os cômodos do oikos ao pátio interno, servindo também como condutor de luz e ventilação.
- Teve uma boa noite de sono? - questionou Annabeth sem qualquer malícia, por mais que ainda se sentisse atormentada pelas palavras de Silena e a incerteza que se infiltrara em seu coração.
- Não dormi muito bem... - ficaram frente a frente assim que chegaram até o corredor, sem pares de olhos curiosos ou até mesmo espiões por perto, bem sabia que qualquer passo de Annabeth era vigiado ao extremo. - Talvez eu não esteja acostumada ao frescor e conforto de Athenas, os dias em Esparta são escaldantes e os invernos inóspitos e desoladores.
- O que mais tem atormentado seu sono, espartana? Os dias de glória tão esperados por você tem lhe tirado a calmaria dos últimos dias de mascarada paz?!
- Não se case com ele... - sussurrou a princesa segurando no rosto delicado da semideusa. As mãos de Annabeth alcançaram as suas, depositando um carinho delicado.
- Princesa... Eu... - Os olhos cinzentos se fecharam brevemente, procurando por palavras assertivas e diretas, precisava disso, mas elas não lhe vieram.
Annabeth não era o tipo de pessoa que temia algo, sempre foi forjada para que fosse o espelho de Athena, sua mãe e patrona, contudo, naquele exato momento, ela temia encontrar os olhos de Clarisse. O polegar da espartana raspou de leve sobre o seu lábio, sua respiração saiu entrecortada com a sensação experimentada, abriu os olhos com as forças que ainda possuía em si, deveria se afastar, sabia disso, mas Clarisse tinha o poder de lhe ler de uma forma jamais vista por outra pessoa.
- Eu não vou deixar... - A princesa rodeou sua cintura, trazendo o corpo da loira para mais próximo do seu, podia sentir a aceleração dos seus batimentos. - Ele não vai encostar um só dedo em você.
Aproveitou-se dos breves segundos de vulnerabilidade da atheniense e tomou-lhe os lábios. Clarisse não queria ser desrespeitosa com Annabeth, sempre havia respeitado aquela distância que as mantinham daquela forma por tempo demais... Não poderia simplesmente perdê-la para alguém tão desprezível como Luke.
Sentiu a resistência contra os seus ombros quando tomou-lhe a boca sob assalto, mas Clarisse apoiou as costas da loira contra a parede, onde ela não poderia escapar de sua investida. As unhas cravaram contra sua pele assim que suas línguas tocaram pela primeira vez, as mãos que por poucos instantes tentaram lhe repelir lhe trouxeram para perto, subindo por seu pescoço e fechando contra os fios castanhos, aprofundando ainda mais o beijo.
Sentiram um forte calafrio, além de um desejo intenso, como se aguardassem aquele encontro a mais tempo do que realmente aparentava. Clarisse teve de se conter, por mais que fosse de sua vontade tomar Annabeth para si, ela não era uma qualquer... Respirou fundo entre pequenos beijos trocados após diminuírem o ritmo. Eros não tomaria sua sanidade naquele momento.
Afastaram-se com o pesar, nenhuma palavra trocada entre elas, mas não era necessário. Clarisse recuou alguns passos, liberando a semideusa de seu domínio, precisava se preparar para a disputa que aconteceria em breve.
- Não lute contra Damon... - aconselhou Annabeth, apesar do seu torpor, o coração ainda acelerado por seu ato impensado. - Não seja inocente ao ponto de pensar que não há qualquer estratagema de Luke por trás de uma simples disputa.
Clarisse deu um sorriso de lado, do tipo convencido, que adorava desafios muito maiores do que ela mesma.
- Sei lidar muito bem com aquela cobra peçonhenta. - aproximou-se mais uma vez e plantou um beijo leve e casto na fronte da atheniense. - Não se preocupe.
~***~
Os boatos de que aconteceria uma luta épica entre o prestigiado guerreiro de Corinto e a princesa de Esparta espalharam-se como fuligem; os jogos em honra a Athena aconteceriam no ginásio local e havia um fervor sem igual entre a população assim que os dois participantes se fizeram presentes na arena.
Clarisse e Damon se reuniram em volta da demarcação assim como os jurados da disputa. Selariam ali pequenas regras antes de começarem os jogos.
- Estamos reunidos em mais um dia de honra e glória a deusa Athena! - Temístocles iniciou o seu pronunciamento; ao seu lado estava Annabeth, e do outro, um senhor que apesar da idade já avançada, possuía um porte invejável, indicando que já vivera bem os seus dias de glória como competidor. - Temos aqui dois representantes distintos e de respeitáveis origens! Que os deuses os abençoem em uma disputa justa e limpa.
- Estimados cidadãos da Ática, é com grande orgulho que vos apresento Damon! - Luke tomou a fala do magistrado e general assim que Temístocles pronunciou-se. - O guerreiro mais temido de toda a Hélade, domador de bestas e assassino de gigantes, o campeão de Corinto!
O público aplaudiu o homem que levantou o punho com um sorriso largo em seu rosto, Damon não era conhecido apenas por suas batalhas, mas também já havia vencido notórias disputas em Olímpia e nos jogos ístmicos. Quando as palmas cessaram, esperava-se que a adversária fosse devidamente apresentada assim como Luke fizera com o seu campeão, contudo Clarisse apenas trocou um breve olhar com seu irmão Mark e em silêncio a princesa aproximou-se de seu desafiante.
- A eloquência espartana... - sussurrou Temístocles com um sorriso mínimo nos lábios. Seus olhos encontraram os de tom cinza de sua jovem pupila, podia sentir ali uma leve apreensão.
Damon entregou a túnica que usava a um de seus servos, ficando apenas com o subligar, uma espécie de proteção para as partes íntimas dos competidores; Clarisse deixou o seu traje aos cuidados do irmão, a espartana também trajava o subligar e o estrófio, a proteção que cobria os seios.
Assim que assumiram a suas posições do centro da arena, Luke levantou sua mão, chamando a atenção dos jurados:
- Desculpem a interrupção, mas creio que esqueci a menção de um pequeno detalhe. - Sua voz saiu irritantemente teatral para o momento, como se estivesse prestes a revelar algo que seria significativo. Teve a atenção voltada para si e um sorriso malévolo e satisfeito pairou em seus lábios. - Temos dois grandes competidores aqui... Porque não aproveitamos suas habilidades ao máximo?! - Clarisse deixou sua posição, os olhos se estreitaram, esperando que ele desse fim aquele lento veneno em forma de palavras e revelasse de fato seus planos soturnos. - Não foi você, príncipe de Esparta, que declarou que a filha de Ares seria capaz de ganhar do melhor dos meus homens até mesmo de olhos vendados?!
A espartana trocou um rápido olhar com o seu irmão, esperando que aquele teatro fosse algum tipo de brincadeira estúpida, contudo, o príncipe tinha as sobrancelhas franzidas, como se tentasse recordar em qual momento havia proferido tais palavras... Provavelmente a ingestão de álcool em demasia na noite anterior teria lhe afetado mais do que gostaria.
- Tomaste como um desafio direto tais palavras sob efeito do vinho e festividades amistosas?! - Mark ainda parecia descrente.
- Compreendo... - O regente demonstrou um leve desapontamento.
Clarisse respirou fundo, independente de qualquer circunstância, não deixaria que aquele ser repugnante fizesse de si ou de seu irmão uma piada.
- Não acharia melhor ter apostado meu rab*? - resmungou a espartana para que apenas seu irmão lhe escutasse. - Dei-me o meu xiphos. - Mark pareceu surpreso, mas não pôde contestar Clarisse lhe mataria se o fizesse.
A filha de Ares retomou o centro da arena, acompanhada de sussurros incrédulos e olhares alarmados. O regente de Corinto lhe sorriu, nem mesmo Luke esperava tal reação.
- Onde está a venda? - A voz da guerreira se fez audível de forma poderosa, ela não se deixaria intimidar com tão pouco. Seus olhos encararam com fúria contida Damon e Luke. - O que houve... Com medo de perder o seu melhor vassalo?!
Damon rangeu os dentes levemente, ele não era um simples peão, pegou seu escudo e sua espada com o seu escudeiro, já Luke estalou os dedos e logo lhe trouxeram o item que deixaria aquele duelo ainda mais dramático e emocionante.
Annabeth prendeu o ar, aquilo seria loucura e um verdadeiro massacre, não poderia deixar que isso acontecesse, porém, assim que fez a mais leve menção de pronunciar-se, Temístocles tocou-lhe a mão com leveza, fazendo sua razão sobressair-se ao que o seus sentimentos tentavam transparecer... Deveria mostrar-se impassível, para o bem de Athenas e principalmente para o bem daquela por quem tentava ocultar sua predileção.
Clarisse tomou a venda das mãos do regente sem muita paciência para atos teatrais. Amarrou-a firmemente, privando-se do mais precioso dos seus sentidos em um momento delicado como este.
- Não vai ser tão difícil assim - brincou com um singelo sorriso nos lábios. - preciso apenas seguir o odor de esterco.
Damon franziu as sobrancelhas, aquela estúpida mulher metida à semideusa engoliria todos os dentes muito em breve. Os guerreiros mais uma vez assumiram seus postos e o silêncio absoluto entre os espectadores era algo jamais presenciado em jogos. Clarisse adotou uma postura defensiva, apurando seus sentidos para que assim pudesse dar conta da privação de seus olhos, prendeu o ar assim que escutou o sinal do juiz, bem como o som da espada de Damon batendo no escudo no segundo seguinte.
O coríntio investiu diretamente, preferia acabar com aquela disputa o mais rápido possível, investiu em um ataque cruzado, mas ele não estava lidando com uma adversária comum, deveria saber muito bem disso.
A espartana abaixou-se rapidamente ao sentir a proximidade de seu adversário, investido contra o mesmo com uma estocada seguido de mais dois golpes consecutivos e seguros, o som que embalava aquele momento de grande tensão era o xiphos espartano ressoando contra a espada e o escudo de Damon, que cauteloso, apesar de ríspido e bruto, recuou alguns passos à medida que Clarisse tentava ditar o ritmo... Não poderia deixar que isso acontecesse.
Assim que bloqueou o último ataque, encaixou um golpe cruzado no intuito de acertar o escudo contra o rosto da princesa, entretanto, sua altura e porte tornavam-no mais lento que a mulher, apesar de visivelmente aparentar ser mais forte. A espartana desviou-se de imediato e jogou-se contra a perna esquerda do hoplita, levando-o ao chão e subindo em suas costas, seu intuito era desarma-lo, bateu sua mão contra o solo empoeirado, mas seu adversário era resistente.
Damon deixou a arma e rolou para sair daquela posição, desfavorável. Clarisse agora estava por baixo, seus punhos rapidamente assumiram mais uma vez a guarda para se proteger e suas pernas prenderam contra a cintura do outro.
Suspiros e burburinhos eram crescentes entre os espectadores. A cada novo soco que Damon desferia contra a oponente, mais audível eram os clamores em sua honra, dando-o ainda mais vigor em seus golpes pesados.
A espartana precisava revidar, e rápido, por mais resistente que fosse, não poderia simplesmente contar com a boa sorte. Os socos cessaram ao mesmo tempo em que Damon tentou segurar em sua garganta, porém agiu com destreza, evitando o pior, suas pernas, que antes estavam na cintura do guerreiro, agora aplicavam uma chave de perna, prendendo o braço que pouco antes tentava lhe sufocar.
Irritado como um animal selvagem tentou se soltar com base na força, mas quanto mais tentava, mais a espartana deixava um dos seus braços imóvel, e a respiração já incomodava pelas pernas travadas em seu pescoço. Usou de sua boa envergadura e força descomunal para erguer o corpo de Clarisse, sua mão livre segurou firmemente no braço da semideusa e erguendo-a em um movimento inesperado para logo em seguida jogá-la contra o chão com toda a força que possuía.
O solo rachou com o impacto, o ar faltou nos pulmões de Clarisse, assim como naqueles que assistiam sem ousar piscar um só segundo. Luke possuía o seu sorriso desprezível com o desempenho de seu homem de confiança, sabia que poderia confiar a tarefa plenamente em suas mãos; já Annabeth tentava manter sua feição impassível, porém fazia orações silenciosas para que sua mãe não deixasse que qualquer infortúnio alcançasse a guerreira.
Cada um dos competidores rolou para lados opostos, Damon alcançou o seu escudo e Clarisse levantou-se rapidamente, suas mãos adotaram uma postura defensiva, mas o leve atordoamento não lhe deu a direção precisa de seu oponente, que obviamente aproveitou-se de sua vantagem para golpeá-la com a borda do escudo na altura da coxa, manchando o solo com o tom rubro.
A semideusa travou a mandíbula ao sentir a ardência, indo novamente ao chão, já o oficial de Corinto erguia os braços e esbravejava em tom vitorioso, encorajando a plateia que se dividia entre o choque e o fervor empregado na disputa.
- Vamos, levante! - sussurrou Silena, inquieta demais para se concentrar em tamanha barbárie. - Não podem permitir que isso continue. - indignou-se ao ver a espartana levar um chute no estômago assim que se apoiou nos joelhos para levantar-se e logo em seguida recebeu outro golpe desleal no rosto.
Perseu, que lhe fazia companhia na plateia, postou a mão sobre a sua como forma de tranquilizá-la, para que não se esquecesse de quem estava ali apesar do evidente revés.
Clarisse postou-se mais uma vez de pé rapidamente assim que escutou o som da lâmina da espada raspando contra o chão. Os gritos e clamores vindos dos espectadores estavam lhe atrapalhando, dificultando ainda mais que ela localizasse com maior precisão o seu oponente. A lâmina raspou em seu ombro, mais uma vez manchando sua pele com carmim, porém não emitiu nenhum som.
Damon girou lançando um golpe cruzado, desta vez sendo desviado e quando investiu novamente a espartana prendeu a sua mão, travando o golpe. Aproveitando-se da maior proximidade, Clarisse desferiu um golpe certeiro no rosto do guerreiro, deixando-o desnorteado o suficiente para puxá-lo contra si, levando ambos para o chão novamente, mas agora ela tinha a vantagem, sentada sobre seu dorso ela começou a castigá-lo com golpes pesados.
O coríntio mal conseguia se defender, resistiu as pancadas contra o seu rosto enquanto sua mão tateava o solo em busca da espada. Tentou um golpe às cegas da melhor forma que lhe foi permitido, mas Clarisse não só travou o golpe como forçava agora a espada contra aquele que a empunhava, Damon estava em uma posição desfavorável e mesmo possuindo uma força sobre humana, cada segundo subsequente sentia a lâmina mais próxima de seu pescoço.
- Vamos, levante-se! - ordenou Luke com a feição indignada, não conseguia acreditar no que seus olhos registravam.
Mas suas palavras de nada serviriam, viu em completo silêncio seu melhor homem sucumbir de forma agonizante até seu sangue jorrar sobre o solo. O silêncio tomou conta de todos novamente, talvez chocados demais para assimilarem o ocorrido. Nem mesmo os mais civilizados da elite atheniense se pronunciaram em prol de Damon e Luke teria em engolir sua amarga insatisfação, era a honra da espartana que havia sido colocada na balança e por mais amistosa que Clarisse fosse com a maior pólis rival, impedi-la de concretizar tal ato seria sandice.
Assumiu sua postura altiva automaticamente assim que a guerreira levantou-se e a passos lentos vinha em sua direção. Retirou a venda que antes cobria seus olhos, limitando seus sentidos, agora maculada pela poeira e o sangue da própria espartana, parecia o próprio Ares, após regozijante carnificina... não tinha qualquer veste imponente, mas exalava uma divindade incontestável.
Frente a frente, a princesa deixou a cabeça de Damon aos seus pés, sua feição era impassível, mas o olhar entregava a fúria contida destinada ao regente coríntio:
- Tente quantas vezes quiser, com todos seus artifícios baixos, eu irei me sobressair, hoje foi a cabeça do seu maior serviçal, em breve, se assim os deuses desejarem, pode ser a sua. - proferiu em um tom tão baixo e tranquilo, que Luke teve uma leve dificuldade em escutar, apesar de ter entendido muito bem a mensagem.
~***~
As festividades do fim, nada como vinho de moderação duvidosa, sorrisos e conversas para camuflarem o que estava por vir e o episódio tenso que acontecera entre Clarisse e Damon. Não faltava muito para que a roda da fortuna deixasse claro o destino de cada um que ali se encontrava, bem como dos pobres mortais que se dirigiam para o mais profundo das cavernas com o pouco que tinham de algum valor e o suficiente para tentarem sobreviver a tamanho revés.
Mark aproveitava-se das companhias amigáveis que pouco costumava desfrutar e entoava canções talvez obscenas demais para os pudicos ouvidos athenienses, mas pouco se importava, cantava em honra a Zeus e sua querida irmã, a quem o deus da guerra havia afortunado sua família com o partilhar do convívio. A princesa apenas deixou que o braço forte circundasse seus ombros, vez ou outra lhe balançando de forma trôpega assim como o som levemente embolado da voz de Mark... era bom vê-lo assim, divertido, companheiro, quase nunca pôde ver um sorriso espontâneo em seu rosto e lá no fundo sabia que aquela poderia ser a última vez de todos ali.
Sua cabeça estava longe, seu cálice ainda cheio pela bebida intocada, como se seu corpo já estivesse preparado para o campo de batalha, antecipando etapas sombrias que estavam por vir. Sua atenção foi roubada apenas por Silena, que foi recebida pela roda de amigos com o fulgor de sempre; ter a filha de Afrodite por perto era sempre um conforto e grande satisfação.
Poucas palavras foram o suficiente para poder retirar a espartana dos braços de seu irmão, que agora cantarolava com o jovem Perseu, arrancando ainda mais gargalhadas de suas desafortunadas vozes desprovidas das bênçãos das musas ou de Apolo. Clarisse agradeceu silenciosamente apenas com um olhar, não era só a tensão do momento que tanto havia esperado em sua vida, mas tais festividades sempre lhe deixavam deslocada, por mais que pertencesse à realeza, era fato que o campo de batalha e as solitárias noites pelas proximidades do Taigeto lhe pareciam bem mais afáveis.
Clarisse respirava devagar, o burburinho das vozes havia ficado para trás, bem como o som suave dos musicistas, sentia-se melhor.
- Precisava lhe salvar o quanto antes... - brincou a filha de Afrodite lhe acariciando levemente a bochecha com o polegar, um sorriso mínimo acompanhou o gesto singelo. - Obrigada por ontem, não sei o que poderia ter acontecido se os deuses não tivessem lhe enviado naquele exato momento.
Na noite anterior, os acontecimentos foram intensos e rápidos demais para que pudessem analisar com a devida calma. Clarisse fez orações em agradecimento aos deuses por terem guiado seu caminho e assim conseguindo evitar o pior.
- Estás segura agora, não precisa temer mais nada. - trouxe o corpo da semideusa para próximo do seu, lhe rodeando em um abraço seguro. Uma de suas mãos subiu até os longos fios negros, depositando um carinho demorado até sentir o corpo de Silena relaxar.
Um dos homens de Luke estava no encalço da filha de Afrodite desde que o regente havia lhe punido severamente, acostumado à barbárie, achou que passaria despercebida a tentativa de tomar umas das seguidoras de Afrodite à força, apoiando-se no prestígio que Luke possuía nas demais pólis, contudo, ele não esperava as duras penas advindas da filha de Afrodite. Se não fosse por Clarisse, se uma força maior não tivesse lhe guiado, talvez o pior poderia ter acontecido a Silena.
Ouviram um leve pigarro, os olhos verdes se conectaram aos cinzentos que a poucos metros estavam de distância. As duas não se distanciaram, pois nada de errado estavam a fazer, mas o peso daquele olhar lhe causava um incômodo indecifrável.
- Temístocles confia em demasia em ti, filha de Afrodite, não o desonre frente a olhos invisíveis. - aconselhou em tom levemente rígido.
Silena afastou-se da espartana, não porque estivesse incomodada, mas precisava partir, sussurrou mais um agradecimento e sem mais intrigas com Annabeth, apenas seguiu novamente para onde desfrutavam de festividades.
- Deveria estar comemorando o seu grande feito, espartana. - A semideusa aproximou-se com cautela. Ela não conseguia ter controle dos seus sentimentos e isso a assustava, sua cabeça parecia nublada demais para agir da forma racional de sempre, e ainda poderia sentir a adrenalina correndo seu corpo após a disputa desigual e nada amistosa entre Clarisse e Damon.
- Essas festividades... - suspirou brevemente antes de concluir - eu não faço parte desse mundo.
- Me intriga sua falta de familiaridade, afinal não és uma princesa?! - Foi a vez de Clarisse aproximar-se um pouco mais, também com cautela, apenas escutava as palavras de leve azedume. - Não me olhes dessa forma, eu sou sua anfitriã.
- Você não é essa máscara que tem sustentado pesadamente desde que tiveres conhecimento de teu destino. - Sua respiração alterou por breves segundos, Annabeth era uma semideusa assim como ela e como tal Clarisse tinha conhecimento do que se passava em seu íntimo. - Porque insistir em viver uma mentira?
- Eu sou uma mulher, e como tal, não tenho as rédeas de meu próprio destino, nem mesmo tu tens! - disparou de postura altiva e tom autoritário, se assemelhando as mulheres de Esparta.
- Não cases com um crápula como ele, você é filha de uma deusa, patrona de Athenas e a mulher mais inteligente a pisar sobre o solo dos mortais. - Seu polegar correu de forma delicada o maxilar da loira, por segundos ela demonstrou uma fragilidade que fez o peito de Clarisse comprimir dolorosamente.
- Somos apenas duas mulheres. - reforçou a atheniense sentindo seu corpo levemente trêmulo com o singelo toque. - Não possuímos escolhas sobre os nossos destinos, eles já foram traçados!
Clarisse não retrucou, não esbravejou, nem sequer jogou aquela mulher teimosa sobre o seu ombro, tirando-a daquele covil de abutres para enfim colocar-lhe alguma ideia sensata em seus miolos. Deixou-a partir e ali ficou até sumir de suas vistas por completo. Por mais que não concordasse, ela entendia a sacerdotisa.
Quando recobrou o pouco de sua sanidade tentou colocar os pensamentos no lugar e retornou a área externa onde ainda havia festividades, seus passos eram tranquilos para não despertar qualquer curiosidade, não procurou Annabeth com o olhar, mas de alguma forma sentia que sua presença não pertencia aquele lugar. Seu irmão estava por demais distraído para notar sua presença e assim agradeceu aos deuses.
Nas ruas de Athenas, a movimentação ainda era grande por parte daqueles que decidiram de última hora deixar a grande pólis para garantir sua sobrevivência. A chuva torrencial tornava aquela imagem ainda mais lamuriosa, contudo, ela já estava acostumada há tempos difíceis.
Foi até os estábulos onde Phobos já estava em alerta, como se esperasse sua senhora a qualquer momento, contudo, tirá-lo de onde estava e conduzi-lo pelas rédeas não fora das tarefas mais fáceis.
- Minha senhora, para onde vais com tamanha tormenta? - demandou o seu escudeiro assim que a avistou.
Clarisse suspirou com leve pesar, estava fácil demais, sabia que seu fiel companheiro jamais lhe deixaria sozinha.
- Seguirei antes da comitiva, permaneça para transmitir minhas desculpas ao anfitrião. - explicou de forma simples, Phobos ainda estava agitado, relinchava e apoiava-se nas patas traseiras. - seguirei para as Termópilas e iniciarei os ritos necessários.
- Clarisse... - O escudeiro lhe chamou não apenas como um serviçal, mas também como um amigo. - Não consegues ver? Talvez seja um sinal dos deuses.
A chuva torrencial, sua mente nublada, a agitação completamente atípica de Phobos, algo estava errado.
- Zeus mija na minha cabeça e você acha que é uma benção? - retrucou com um resmungo típico de seus momentos de humor duvidoso.
Com cautela, o escudeiro tomou-lhe as rédeas de sua montaria e seguiu sem mais palavras, sabia que não poderia abusar do limite de sua senhora e tomou a atitude mais sensata para o momento.
Nem mesmo a chuva ou os trovões subsequentes foram capazes de abafar o grito de tamanha frustração contida. Fechou os olhos por longos instantes e assim permaneceu até sentir-se mais calma, um toque em seu ombro lhe trouxe novamente ao mundo dos vivos e antes que pudesse proferir algo, Silena apenas fez um sinal silencioso e pediu para que lhe seguisse.
Não fez qualquer questionamento, por mais que sua cabeça estivesse embaralhada demais, o toque da filha de Afrodite também lhe ajudava a manter certa calmaria em seu ser, o que de fato ajudou a ser conduzida sem rodeios. Não passaram pela área externa, tomando caminhos que talvez somente a própria semideusa tivesse conhecimento, chegando até uma pequena escada - provavelmente usada pelas serviçais -, Silena lhe sorriu amigavelmente como forma de encorajamento e mesmo sem entender, seguiram por caminhos distintos.
Clarisse chegou ao pilo superior da residência, um local completamente dedicado às mulheres da casa, lá às athenienses poderiam vigiar as ruas sem serem vistas, tendo assim maior privacidade. Era uma área bem ventilada, com vasos provenientes do festival de Adonia, mais afastado do ponto onde se encontrava, havia uma área coberta, com trançados delicados de plantas que ocultavam a visibilidade ao seu redor. A pouca iluminação era gerada por lâmpadas de terracota e conseguia distinguir a silhueta de alguém, apoiada delicadamente sobre almofadas coloridas.
Seus passos eram cautelosos, mas não duvidava que as batidas de seu coração pudessem ser facilmente identificadas por quem se ocultavam despreocupadamente, não se sentia digna de estar ali, estava encharcada pela chuva que havia frustrado seus planos de fuga. Seus sentidos foram tomados aos poucos, o cheiro que lhe intrigava era muito específico, apenas Annabeth o possuía, seus olhos se prenderam aos cabelos soltos, longe dos penteados imponentes, caiam pelas costas desprovidas de qualquer tecido, era uma túnica muito simples, porém extremamente delicada.
Annabeth virou na direção da recém-chegada de forma graciosa, passaram um longo tempo de contemplação mútua; estavam sozinhas, sem olhos curiosos sobre as duas figuras mais importantes de Esparta e Athenas, ninguém para julgá-las. Os olhos cinzentos correram pelos cabelos escuros e levemente grudados ao rosto da guerreira, sinal de que ainda se atrevera a enfrentar a forte chuva que embalava a última noite de falsa quietude do povo heleno.
- O que deseja de mim? - perguntou Clarisse tentando conter tudo o que estava sentindo até então.
Annabeth deixou as mantas e almofadas onde repousava despreocupadamente; aproximou-se devagar, a ponta dos dedos correram com delicadeza e extrema curiosidade pelo ombro que estava desnudo sentindo a umidade contra eles.
Clarisse sentiu sua respiração pesar, os últimos acontecimentos ainda permeavam sua mente de forma latente, pensou em se valer de algumas poucas palavras, era o máximo que poderia naquele momento, mas os dedos da atheniense agora corriam pelos seus cabelos de forma nunca feita antes, desfazendo a trança que comumente ostentava.
- Que tipo de encanto você tem... - sussurrou a loira mais para si do que para a espartana. - tem tirado a minha sanidade desde que nos reencontramos, estou a noites em claro e não é por temor a nenhum exército invasor.
Clarisse nada respondeu, apenas acompanhou as palavras com devota atenção e registou quando o broche da túnica foi retirado. Sem nenhum pudor despiu-se do tecido colado ao corpo deixando-o longe da tapeçaria bonita e bem detalhada.
- Annabeth... - fechou os olhos com o toque delicado, ela esperava muito que a atheniense não recuasse, pois ela mesma já não possuía forças para conter seus sentimentos. - não mais me rejeite, por favor, Eros tem me tentando desde que meus olhos pousaram sobre.
Seus olhos correram pelo tecido delicado que cobria o corpo da protegida de Athena, nada mais cobria o corpo da jovem.
- Minha... - sussurrou Annabeth ainda levemente entorpecida. - não quero outra pessoa lhe tocando.
Clarisse tinha a respiração desregular, o tom utilizava mais do que autoritarismo, havia desejo. Os olhos verdes escureceram, se entregando a cada detalhe captado.
Annabeth sentiu o próprio peito acelerar com o efeito de suas palavras, a guerreira estava a sua mercê. Aproximou-se sentindo a respiração pesada contra a sua.
- Filha de Ares... - Os braços da atheniense trouxeram a guerreira para próximo do seu corpo, extinguindo a quase inexistente fresta entre eles. - Como pode ser tão irresistível?! - sorriu de forma tentadora ao escutar o gemid* contido de Clarisse assim que suas mãos deslizaram do abdômen até os seios.
Uma de suas mãos subiu até a nuca da princesa de Esparta, retirando alguns fios grudados do pescoço, admirou por pouco tempo até seus lábios correrem pela pele fria e molhada, depositou uma breve mordida e beijou o local novamente.
- Annabeth... - outro gemid* contido chegou aos seus ouvidos e nada poderia se comparar ao som de Clarisse lhe chamando de forma tão prazerosa. Era como se pudesse sentir na própria pele a luta da espartana entre lhe tomar e tentar manter a respiração controlada.
Os braços de Annabeth rodearam o pescoço da morena, seus lábios se encontraram pela segunda vez naquele dia, porém de forma mais lenta, sem o desespero do momento, mordeu-lhe o lábio com carinho, se entregando aos poucos as sensações mundanas que a tanto havia se privado. Suas mãos deslizaram com extremo carinho, memorizando cada parte do corpo perfeito que tão bem se entrelaçava ao seu, apertou-lhe as nádegas com desejo incomum, sendo agraciada pela reação de sua guerreira.
Aquele foi o ápice do seu controle, seus dedos se fecharam rente aos fios dourados na nuca de Annabeth, tendo assim total acesso ao pescoço da sua senhora. Plantou beijos intercalados entre leves e intensos, sendo agraciada com pequenos gemid*s. Voltaram a se beijar, mas desta vez com extremo fervor, cuidadosamente Clarisse conduziu a jovem, deitando-a sobre as mantas e almofadas postas dedicadamente para aquele momento. Admiraram-se trocando breves carícias, Clarisse usou de toda a delicadeza que não possuía para retirar o tecido que ainda cobria o corpo de sua doce amada.
A forma que a espartana lhe olhava era tão febril e intensa que sentiu uma leve pontada entre suas penas. Annabeth lhe ajudou no processo, aproveitando-se da proximidade para morder o queixo e o lábio, já não mais responderia por suas ações, tamanho era o desejo que estava lhe consumindo. Trocou de posição com a espartana, deixando-a por baixo de seu corpo, a atheniense fez um breve caminho com sua boca, iniciando na testa da guerreira, com um beijo casto, beijou-lhe a ponta do nariz e por fim correu a língua demoradamente pelo lábio inferior.
Suas línguas se tocaram lentamente, apesar da urgência reclamada de seus corpos, como se há tempos implorassem por aquele encontro. Os toques intensos sobre a pele começavam a deixar pequenos rastros, as mãos de Annabeth por mais uma vez se deliciaram com os seios de Clarisse, sentindo os mamilos intumescidos contra os seus polegares, arrancando-lhe um gemid* mais profundo.
As bocas se apartaram brevemente apenas para conhecerem e reconhecerem novos pontos de prazer; Annabeth aproveitou-se da entrega da guerreira e sugou-lhe o pescoço, deixando ali sua primeira marca enquanto suas mãos ainda acariciavam com desejo os seios de sua amante, finalizando com um pequeno beijo em cada.
Clarisse precisava de mais, projetou seu quadril contra o de Annabeth, mas a loira impedia com leve satisfação, mesmo que seu próprio corpo implorasse pelo contato, a atheniense brincava com o desejo de ambas, até que por fim decidiu continuar a desbravar o corpo da espartana com sua boca. Beijou-lhe o abdômen, registrando o sabor da pele, ignorou o ponto onde Clarisse mais necessitava, beijando e mordendo a parte interna de suas coxas, tinha um sorriso levemente malicioso ao registar a feição nublada.
- Não me faça implorar! - A voz de Clarisse saiu entredentes, levemente trêmula pelo prazer.
Os olhos de Annabeth brilharam ao constatar o quão excitada estava Clarisse, sorriu orgulhosa de seu pequeno feito antes de deslizar a língua pela região onde a espartana mais desejava. A guerreira movia o quadril no mesmo ritmo que a loira lhe lambia e sugava, uma das mãos pousaram sobre os fios loiros, ajudando-a no processo. Annabeth queria um pouco mais, levou dois dedos até a entrada da morena e inseriu com cuidado ao notar a pressão contra sua investida. Clarisse prendeu a respiração e forçou o quadril contra os dedos da garota, puxou seu cabelo com um pouco mais de força devido a ardência da invasão.
Annabeth beijou-lhe a virilha e voltou a lhe lamber lentamente até sentir a espartana mover-se novamente seus contra os seus dedos.
- Annabeth... Mais rápido! - implorou Clarisse sendo invadida por uma sensação não experimentada até então.
Não existia imagem mais linda do que ter aquela guerreira deslumbrante se curvando ao seu toque, aquela imagem ficaria consigo por toda a eternidade. Annabeth penet*ou-a mais rápido e mais fundo, aumentando a pressão contra o ponto de prazer de Clarisse... Estava perto. Os quadris tentavam impor um ritmo mais rápido, mas o prazer era tão intenso que não conseguia coordena-lo, o corpo da guerreira arqueou brevemente e a pressão entre os dedos de Annabeth indicava que Clarisse havia atingido o seu ponto máximo.
- Espero não ter te machucado. - sussurrou Annabeth após beijar o corpo da morena novamente até chegar a seu pescoço. Tinha um leve rastro de sangue nos seus dedos, Clarisse havia lhe esperado.
A guerreira que já não era conhecida por grande oratória encontrava-se completamente incapaz de qualquer resposta, as ondas de prazer ainda se faziam presentes em seu corpo.
Ao abrir os olhos, seu primeiro registro foram os olhos cinzentos sobre os seus; intensos como nunca antes. Sorriram de forma cúmplice uma para a outra, até Clarisse sentir o corpo da loira contra o seu e seus lábios se entregarem a um beijo intenso, havia resquícios do seu prazer na boca de Annabeth.
Encostaram as frontes após o beijo, Clarisse ainda tentava recuperar o próprio fôlego quando sentiu novas ondas de prazer lhe tomando o corpo... Precisava de Annabeth, precisava tê-la de todas as formas. Sem qualquer aviso prévio ela trocou de posição com a atheniense, deixando-a a sua mercê. Seus olhos estavam tomados por um tom escuro, as mãos de Annabeth estavam presas acima da cabeça, beijou-a com desejo intenso, enquanto sua coxa deslizava contra o sex* molhado da loira.
Annabeth gem*u alto com o contato inesperado, Clarisse beijou-lhe o pescoço por diversas vezes enquanto sua mão livre tocava sua umidade com delicadeza. A atheniense tentou soltar as mãos, mas a espartana o mantinha firme.
- Você é tão perfeita... - sussurrou contra a orelha de Annabeth, sentindo-a cada vez mais entregue ao seu toque.
- Me faça sua! - ordenou a semideusa com o corpo trêmulo, tomado pelo desejo.
Clarisse soltou as mãos de Annabeth assim que lhe penet*ou, sentiu o ardor em seus ombros no mesmo instante, apesar do pequeno grito que saiu de forma estrangulada, a espartana bombeou seus dedos até conseguir atingir o local perfeito. Seu polegar rodeou o ponto de prazer de Annabeth, enquanto sua boca dava atenção aos seios da atheniense. Os gemid*s já não podiam mais ser contidos e elas estavam entregues uma a outra.
- Você é minha, apenas minha... - sussurrou de forma possessiva conta o lóbulo da orelha de Annabeth, beijando o local em seguida.
Sentiu o corpo da loira enrijecer contra o seu quando seu dedo circundou seu ponto já extremamente sensível e enrijecido, Annabeth agarrou-se ao seu corpo com força, enquanto era tomada por um prazer intenso.
Aos poucos, Clarisse foi tornando os movimentos mais leves, prolongando o prazer da semideusa, até por fim retirar seus dedos da loira. Deitou ao lado da protegida de Athena, olhando-a com devoção, esperava não ter sido tão intensa ao ponto de lhe machucar. Annabeth mantivera os olhos fechados por alguns instantes e Clarisse agora repousava na curvatura de seu pescoço. Suas respirações voltaram a sincronia, pôde sentir que mesmo repousando em seu ombro, Clarisse lhe observava. Seus olhos se conectaram como tantas outras vezes, agora com muito mais significados; a espartana fez menção de falar algo, mas Annabeth lhe interrompeu, tocando seus lábios.
- Eu sou e sempre serei sua, minha estúpida guerreira. - As duas sorriram com evidente carinho uma pela outra.
Clarisse poderia ter levado como brincadeira, mas o olhar de Annabeth era límpido quando aos seus sentimentos. Beijaram-se de forma apaixonada, as mãos da atheniense já procuravam pelo corpo de sua amante de forma insaciável... A espartana sabia que não eram palavras proferidas apenas no calor do momento, mas que de alguma forma seria até o fim das duas.
Fim do capítulo
Bom meus queridos, não sei se foi o tão esperado capítulo de retorno que vocês tanto queriam, mas agradeço pela espera até então. Muito obrigada e vejo vocês nos comentários.
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