EPÍLOGO
Passado… Presente… Futuro. O que são esses aparentes singelos tempos verbais que influenciam tanto na vida terrestre? Nada, absolutamente nada é imune à eles e com eles é possível nascer, aprender, crescer, evoluir e morrer, talvez não necessariamente nesta ordem e nem faça tanto sentido se estiverem. O que faz menos sentido é como a complexidade humana é capaz de lidar com todos eles sem enlouquecer? Bom, sim talvez tenhamos muitos loucos por aí, graças ao relógio cronológico da vida, o que não anula o fato de milhões de seres também estarem conectados graças a estes tempos. Se faz sentido?
Para elas fazia, e como fazia. Isabella penteava e trançava os cabelos de uma Lis radiante em seu aniversário de seis anos, que seria comemorado junto com sua melhor amiga… Tia Mi. A garota surtara quando soubera que ambas faziam aniversário no mesmo dia. Inacreditavelmente Micaela enfim aceitara estar presente no mesmo ambiente que seus familiares, pela primeira vez depois de anos, tudo para fazer o desejo de Lis e de sua amada que pedira com carinho. A festa seria na casa de Tia Elisa, é claro. Com os familiares e alguns coleguinhas da pequena. Apenas Isabella, Lis e alguns amigos sabiam da presença da morena na festa, ainda não haviam exposto o namoro para os familiares e isso deixava Micaela ainda mais tensa e uma Isabella estranhamente confiante. Pela primeira vez em anos a fisioterapeuta sabia exatamente o que estava fazendo. O coração pleno e tranquilo.
- Você está linda, Lis!
Micaela se ajoelhou e abriu os braços recebendo o abraço carinhoso da pequena, além do beijo estralado na bochecha. A menina estava mais ansiosa do que de costume, numa euforia sem tamanho.
- Você vai né, tia Mi?
- Óbvio que vou, pequena… Não perco nossa festinha por nada. - Beijou seu rosto fazendo cócegas em suas costelinhas.
A garota gargalhou se contorcendo toda.
- Vão estragar a trança que eu fiz! - A mãe repreendeu com carinho, mas olhando feio para a morena.
- Hum… Você também fez tranças? - A morena perguntou se levantando e conferindo a trança embutida que ela fizera. Seus pensamentos libidinosos lhe dando ideias do que fazer com aquela trança.
- Fiz e se comporte! - Os olhos azuis ficaram escuros, sabendo exatamente o que ela estava pensando. - Deu um trabalhão e eu vou descabelada se você continuar me olhando assi…
Micaela a calou com um beijo cheio de promessas. Isabella enrubesceu se segurando em seu ombro.
- Amor, a Lis… - Isabella alertou sem tirar as mãos dela. Elas haviam conversado com a filha sobre Tia Mi não ser só uma “amiguinha” da mamãe, o que pareceu bem mais fácil do que imaginavam para ela entender, pois a mãe já havia tido uma outra presença semelhante; Camila. Contudo Isabella possuía ressalvas quanto à demonstrações exageradas em frente à criança, carinho e afeto eram aceitos, mas o que ela estava sentindo naquele instante com o olhar negro quase lhe devorando estava longe de ser apenas um carinho inocente.
- Qual Lis, aquela? - Apontou para a mini Micaela que roubava brigadeiros dos vasilhames que elas levariam.
- Liiiiiiiissss!!! - A mulher gritou correndo atrás da filha que tinha dois brigadeiros em cada mão, já amassados pelo susto e tentativa de escapar da mãe.
A morena gargalhava gritando estratégias para a garota escapar, as tranças da pequena se desfaziam, numa cena que Micaela mais uma vez quis ter fotografado, mas que ficaria registrado apenas na memória.
Chegaram à casa da tia Elisa quase em cima da hora combinada. Graças ao cabelo da filha que Isabella precisou refazer. Entraram as duas primeiro, com Micaela logo atrás. O silêncio sepulcral que se formou com a visão da prima “perdida”, entrando depois de anos ali foi no mínimo épico. Os avós e tios a cumprimentaram falsamente, alguns a abraçaram e outros preferiram o bom e velho aceno distante.
A morena sentia as pernas fracas, o semblante envelhecido dos avós lhe trazendo lembranças e dores, assim como carinho e pena. Os primos foram mais efusivos, abraçaram-na, salvo Ygor que se manteve impassível com sua presença, como se não a conhecesse. Túlio que viera especialmente para a festa foi o primeiro a dizer:
- Você tá ótima prima, parabéns pelo estúdio e pelo prêmio! - Ele a abraçou e Isabella sorriu sentindo um orgulho imenso dela e do seu trabalho premiado.
- Tio Túlio, a tia Mi faz aniversário hoje também, sabia? - Lis contava para o tio, assim como fizera com praticamente todos os familiares, toda feliz por essa coincidência. O tio sorria como sempre encantado com a pequena.
Micaela olhou ao redor procurando pelos pais. E tia Elisa saiu da casa quase infartando com o que via, seu grito de felicidade chamando a atenção de todo resto.
- Eu não tô acreditando! - Ela chorava se jogando nos braços da sobrinha que tanto amava, claramente visível de onde Fernando herdara seu drama. - O Fer vai surtar quando chegar e ver você!
Eles não sabiam de muita coisa, mal sabiam que já tinha estado com o primo diversas vezes, sempre de forma sóbria e contida da parte dela ou que jogara cerveja e o xingara em um bar com a esposa. Mas aos poucos eles voltavam a conversar, Micaela sempre acabava rindo sem perceber de alguma piada idiota que ele fazia quando eles saíam todos juntos. Sim, depois de assumirem oficialmente o relacionamento, as duas passaram a sair quase semanalmente com a “turma da Isa”, era assim que a morena chamava quando ia contar as novidades para Júlia que sempre estava radiante com a nova rotina da amiga.
Micaela gostava de todos, especialmente de Ulisses que passara de arqui inimigo para um confidente, depois que ele acabara beijando Gabriel em uma baladinha qualquer. Agora o pobre amigo de Isabella tentava a todo custo repetir o “auê” (como ele dizia), mas Gabriel relutava, com questões emocionais sobre a descoberta de ser bissexu*l* e não hétero como supunha. A morena dialogava longas horas com ele, assim como Isabella, em uma tentativa de persuadi-lo a buscar terapia e não exigir demais do seu emocional ou tentar se rotular. Se ele havia gostado, então não haveria motivos para negar, a questão era por qual razão gostar de beijar um homem gay o incomodava.
Os pais das duas saíram de dentro da casa curiosos com o alvoroço que acontecia no quintal, os gritos de tia Elisa atraindo até mesmo alguns vizinhos que espiavam nos portões. Silvia foi a primeira a vê-la, a surpresa deixando-a boquiaberta, nos olhos um carinho, mas ao mesmo tempo um receio que a presença de Micaela traria conflitos novamente, um misto de sentimentos que com certeza renderia boas horas de reflexão e diálogo com o marido. Nessa hora Isabella entrelaçou os dedos com os da morena, dando maior apoio para o que ela enfrentaria. O pai limpava disfarçadamente uma lágrima e se aproximava das duas cauteloso, quase lento.
- Filha…
- Oi, pai. - A morena apertou os dedos de Isabella agradecendo por ela estar ali, estendeu a outra mão para o pai, em um cumprimento que ele não recusou e também não fez menção de prolongar ou evoluir para um contato mais caloroso. O homem estava em choque, precisaria de no mínimo “algum tempo” para entender e se acostumar com a ideia de ter sua “Bubu” por perto novamente. Silvia havia comentado com ele sobre a volta da filha, depois que Isabella lhe contara por telefone, havia sido de fato uma surpresa, mas não remoera o assunto. Vê-la pessoalmente mudava um pouco as coisas, agora ele percebia como não podia simplesmente ignorar e deixar o assunto de lado, como se não existisse.
A “torta de climão” havia sido servida e Isabella sorria de lado para estranhamento da morena que só queria ir embora o mais rápido possível. Não dava para acreditar que ela conseguia conviver com aquelas pessoas, mas entendia que também eram sua família e se Isabella os amava, faria de tudo para gostar também. Apesar de já ter tentado desde que nascera ali.
- Vamos entrar… Quer beber alguma coisa, minha querida? - Tia Elisa abraçou a sobrinha direcionando ela para o interior da casa, onde estava mais vazia e ela certamente ficaria mais a vontade.
Isabella serviu-se de uma batida, enquanto a morena bebia reticente uma longneck de cerveja. Quase receosa de que a atacariam a qualquer momento e a lançariam entre as chamas. Seu olhar parecia o de um gatinho acuado, em meio à uma alcateia faminta. Tentava se manter calma, por Isabella e por Lis, as únicas que importavam para ela naquele momento.
- Relaxa, amor… - A fisioterapeuta murmurou carinhosamente ajeitando os óculos no rosto apreensivo da outra.
- O que não faço por vocês duas… - A morena resmungou suspirando e tomando mais um gole, visivelmente ansiosa.
- E eu prometo te agradecer da melhor forma… - Ela sorriu safada deslizando os dedos por sua nuca.
Micaela riu olhando-a de lado. Com certeza cobraria. Estavam vivendo meses incríveis, um verdadeiro conto de fadas que a morena já fizera trocadilho diversas vezes, alegando um vício inegável que tinham uma pela outra. Corroborando com seus pensamentos Isabella bebeu um gole da sua bebida e passou a língua nos lábios sem tirar os olhos azuis da sua boca. Micaela engoliu em seco, disfarçadamente conferindo se alguém havia visto a interação entre as duas, nada inocente por sinal.
- Ah, lembrei que queria te mostrar uma coisa… - Isabella cortou seus pensamentos colocando a bebida sobre o balcão e puxando-a pela mão.
Levou-a até o quarto do amigo e pai de sua filha, que obviamente logo Micaela reconheceu, apesar de estar bem diferente de quando ficava horas ali jogando videogame com o primo.
A morena se distraía revivendo o passado e olhava os brinquedos das crianças quando ouviu o “clique” da porta sendo trancada. Virou-se depressa a tempo de ver Isabella se virar calmamente e soltar a trança que fizera. Arfou desconfiada e ao mesmo tempo excitada.
- O quê tá fazendo? - Ela perguntou conferindo o vidro fumê da janela que proporcionava uma visão da piscina, mas impedia que vissem quem estava do lado de dentro.
- Você já é bem grandinha para saber o que eu tô fazendo… - Ela puxou o vestido que usava para cima, revelando parte da calcinha de renda que Micaela adorava.
A morena gem*u mordendo os lábios, amedrontada e já gotejando.
- Tá louca, amor? - Micaela exclamou, mas já se aproximou puxando seu vestido para cima. Passou a mão em suas pernas parando na bunda que agarrou com vontade. - Gostosa demais, você acaba comigo quando coloca essa calcinha…
Isabella puxou seu rosto beijando sua boca, o sex* entre elas era algo tão natural quanto respirar, depois de definitivamente os sentimentos estarem resolvidos, elas se entregavam em praticamente qualquer lugar possível, aproveitando todo o tempo perdido, como uma lua de mel acumulada de juros, multa e correção. Micaela mordeu seu lábio sentindo o tesão e a tensão aumentarem.
- E se alguém entrar? - Já respirava ofegante sentindo o corpo se arrepiar com a boca da outra em seu pescoço, as mãos ligeiras já por dentro da camiseta, tocando-lhe os seios por cima do top.
Isabella gem*u sentindo os mamilos da morena despontarem sob o tecido, arranhou levemente com a unha desejando “beijá-la”. Então se situando e olhando o pequeno sofá com brinquedos em cima, empurrou a morena até ele e jogou os brinquedos para o chão, pedindo perdão mentalmente para a filha e seus primos. Micaela hesitou quando ela fez menção de tirar sua bermuda.
- Espera… Cadê o Fer? E se ele quiser entrar?
- Não vai! - Ela garantiu com tanta confiança que a morena não questionou, a bermuda foi jogada ao lado, a cueca box que usava tomando o mesmo rumo. Isabella ainda teve a presença de espírito de puxar o cabelo para cima em um coque frouxo, se preparando para o que ia fazer.
- Aahh, Isaa… - A morena gem*u baixo quando ela ajoelhou-se entre suas pernas e mergulhou sua língua com vontade nela. A morena acariciou a cabeleira castanha presa no coque, segurando os sons que se formavam em sua garganta, mordia os lábios sentindo a excitação escorrer e Isabella sugar sem desperdiçar nada, a boca macia lhe tirando toda razão. - Que delícia…
- Você é uma delícia. - Isabella sussurrou de encontro ao ponto intumescido e úmido, antes de penet*á-la com os dedos, fazendo a morena jogar a cabeça para trás.
Micaela respirava rápido, a visão dos cabelos castanhos entre suas pernas elevando sua temperatura ao limite do quarto de Fernando. Isabella era excepcional em… “beijá-la”. Fazia com uma destreza e aptidão invejáveis, não gostava nem de pensar onde ela aprendera a ser tão… Gem*u fechando os olhos. Ela já tinha uma boca gostosa na adolescência, agora então parecia que fizera doutorado naquilo, o movimento dos lábios perfeitos, seus dedos habilidosos e atrevidos. A morena cerrou os dentes sentindo que terminaria mais rápido do que gostaria.
- Não goz* ainda… - A fisioterapeuta ordenou sem parar de fodê-la. Sabia como ela era precoce quando era dominada. Sentia os músculos pélvicos se contraindo em seus dedos.
- Então espera… Espera… Ahhh…
Isabella intensificou o movimento da língua enquanto entrava e saía dela, as pernas da morena tremeram, anunciando o orgasm*, então ela parou imediatamente se levantando e arrancando um xingamento de Micaela, que com certeza a faria pagar por isso.
- Boca suja, ein… - A fisioterapeuta exclamou com um sorriso indecente.
Virou-se de costas para ela e levantou o vestido mostrando a calcinha fio dental. Micaela passou a mão nos cabelos despenteando os fios negros e depois agarrou sua bunda mordendo um dos lados. A fisioterapeuta abaixou a calcinha e o movimento permitiu que a morena vislumbrasse o plug anal que ela usava, a pedra da cor dos seus olhos do lado de fora denunciava o objeto. Os olhos negros escureceram ainda mais, a boca salivou, assim como os lábios entre as pernas.
Micaela deu-lhe um tapa forte na bunda, arrancando um gemid* doce dos lábios da outra, aquela pedra brilhando em sua direção fazendo com que quase goz*sse só de olhá-la.
- Safada! - A morena se levantou encaixando seu corpo ao dela, numa voracidade que assustaria se Isabella já não conhecesse seu jeito lascivo quando estavam a sós. - Senta… Eu vou te foder, agora. - Micaela ordenou tão seriamente que a outra não ousou contrariá-la.
Isabella sentou-se no sofá afastando as pernas de forma despudorada, o vestido enrolado em sua cintura, a vulva úmida… Encharcada. A pedra brilhou fazendo Micaela cair de joelhos e quase venerá-la, depois afastou suas pernas ainda mais, a flexibilidade da outra permitindo tal ato, a puxou suavemente pela penugem pubiana, arrancando um gemid* de Isabella que se segurava nos encostos do sofá, já ciente da queda que seria aquela “montanha russa”. Mas Micaela a admirava, sem pressa. Sem intenção de tocá-la mais a fundo, causando uma euforia na outra.
- Vai, amor… Não judia, por favor. - Ela pediu em um fio de voz, sabendo que não tinha esse direito depois de praticamente deixá-la no ápice.
A risada rouca da fotógrafa arrepiou seus pêlos.
Micaela umedeceu os lábios em seguida, também louca de vontade de prová-la. Prendeu dois dedos na pedra azul, puxando o objeto com cuidado para fora, arrancando um som sofrido e entregue da garganta da amante. Micaela voltou a penet*á-la com o objeto e com a outra mão penet*ou-a com os dedos em sua vulva… Devagar, torturante. O quadril de Isabella inquieto, a voz da morena gem*ndo:
- Você dá tão gostoso… Isso, amor! Rebola pra mim! - Ela coordenava sem parar de admirar como ela ficava inchada, vermelha… E molhada.
Isabella rebol*va aumentando a fricção dos dedos e do plug, a excitação a lançando muito alto, ela receosa por não conseguir controlar a voz quando “caísse” e o plano ir por água abaixo caso alguém desconfiasse do sumiço das duas.
- Não… Não me beija… - Ela suplicou quando a morena fez menção de descer a cabeça entre suas pernas. Micaela sorriu devassa sabendo que ela estava perdendo o controle. Os dedos da fisioterapeuta se agarravam com força ao encosto do pequeno sofá.
Parou de fodê-la com o plug e o encaixou novamente até o fundo, depois puxou a penugem pubiana para cima indo contra sua súplica e “beijando-a” com vontade, enquanto continuava o entra e sai com os dedos, a outra mordendo a própria mão para impedir que gritasse. A língua da morena literalmente se deliciando com a textura e sabor que ela tinha. Ch*pou por poucos segundos até perceber que ela começava a tremer, o ponto intumescido inchava-se facilitando o beijo. Micaela parou o movimento de penet*ação, com os dedos ainda dentro dela apenas estimulando o ponto por dentro… Continuou a sugá-la, para enfim sair e voltar a penet*ar quando ela começou a se contrair em um orgasm* intenso.
- Aahh, amor… - Ela soltou segundos antes da queda, gem*ndo abafado contra as próprias mãos, o esforço em reprimir o gemid* a deixando vermelha e ofegante. Extremamente excitada. Caiu e como caiu… Uma queda livre com contrações que quase dobravam seu corpo ao meio, a pedra azul se movendo a cada espasmo muscular.
A morena subiu em seu colo sem permitir que ela se recuperasse totalmente, puxou sua mão e colocou entre suas pernas gem*ndo quando Isabella entrou nela.
- Eu amo você… Amo… - Isabella sussurrava em seu ouvido enquanto sentia a morena rebol*r em seu colo também em um orgasm* alucinante e longo.
Micaela a abraçou quase desfalecendo em seus braços. Beijou seus lábios várias vezes, ainda ofegante tentando recuperar o fôlego em vão. A fisioterapeuta agarrou suas pernas a puxando para mais perto, os olhos presos um no outro, agora totalmente despidos de qualquer insegurança.
- Eu amo sua safadeza… - A morena a beijou mais algumas vezes já acostumada com aquela mulher insaciável.
- Feliz aniversário. - Isabella respondeu entre beijos, sorrindo feliz por ter ela em sua vida e mais ainda pelo que estava por vir.
Saíram quase vinte minutos depois do quarto do primo de Micaela com um sorriso incontido nos lábios, a morena bem mais calma e uma Isabella agora nitidamente ansiosa. Como orquestrado pela fisioterapeuta a filha estava distraída com os primos e alguns coleguinhas. Fernando e Verônica ainda não haviam chegado, como planejado.
- Onde vocês estavam? - Uma tia Elisa desconfiada sorria observando os dedos entrelaçados das duas. - Estão com fome? - E ela lhes ofereceu um mundo de comida que ambas não recusaram. Estavam famintas.
Algum tempo depois e Micaela brincava com Lis na piscina. Já haviam cantado os parabéns para ela com o bolinho colorido, os coleguinhas da escola que vieram já haviam se despedido, agora aguardavam os parabéns da morena. O sol já se punha baixinho no horizonte, mas o calor permitia que elas aproveitassem a água por mais tempo. Os filhos de Ygor estavam com o pai que os “protegia” fazendo com que eles mantivessem distância das duas e elas o ignoravam, apenas. Felizmente ele partira algum tempo depois, fazendo questão de se despedir de todos, menos da morena, mas isso felizmente não a afetava em nada, a felicidade de fazer Isabella e Lis felizes ofuscando qualquer “sombra” que tentasse se sobrepor.
- Tia Mi, olha o que eu sei fazer. - A filha de Isabella subiu na borda com dificuldade e depois pulou de cabeça quase infartando a morena.
- Lis… É bem legal, mas cuidado tá? Você pode se machucar. - Ela pegou a menina no colo assim que ela emergiu, um medo irracional de proteção e cuidado que ela estava aprendendo a entender, seu amor por Lis crescendo e enraizando a cada dia. Os olhinhos da pequena já estavam vermelhos do cloro, de tanto tempo que ficaram ali, mas antes que pudesse sugerir que saíssem ouviu;
- Vamos cantar parabéns? - Tia Elisa apareceu no quintal chamando quem ainda permanecia na festa e a morena procurou Isabella com os olhos não encontrando. A maioria havia partido, salvo os primos mais chegados, os avós e os pais das duas.
- Lis, você viu sua mãe? - Micaela perguntou colocando-a na borda.
- Não. - A menina respondeu simplesmente e depois correu em direção à tia que segurava um bolo com mais velinhas do que foi o de Lis.
A morena saiu da água se enxugando com a toalha que trouxera, pegou os óculos que deixara sobre a cadeira e olhou para os lados sem parar de procurar pela amada. Vestiu a camiseta e saiu em direção à casa, mas então alguém a puxou com força para trás quase a derrubando o que arrancou-lhe um palavrão dos lábios, o coração aos pulos prestes a enfrentar quem quer que fosse o imbecil que a puxava e…
- Júlia??? - A morena arregalou os olhos quase gritando de tão incrédula. A amiga se jogando em seus braços, com lágrimas nos olhos. Talita estava logo atrás também com um sorriso no rosto, mas bem mais contido, a morena diria que ela estava feliz até demais para uma “Talita”. - Cara, o que você tá fazendo aqui? Como assim?
- Feliz aniversário, gatinha! - E piscou para alguém atrás da morena antes de beijar sua bochecha.
Micaela olhou para os lados à procura da única pessoa responsável por aquela surpresa, mas Isabella tinha simplesmente evaporado do lugar.
- A Isa que te ligou, não é? - Micaela sorria feliz pela surpresa e não parava de procurar a namorada.
- Sua namorada sabe ser insistente, não é mesmo? - A psicóloga riu animada olhando para Talita.
- Você quase me mata do coração… - Micaela gargalhou ainda surpresa demais com a aparição da amiga ali, colocou a mão no peito, sempre olhando para os lados.
- Vem, seu presente tá no carro! - Júlia avisou puxando ela pela mão.
A morena zombou pelo fato dela ter esquecido no carro seu presente, mas a acompanhou de bom grado até o lado de fora, onde o veículo estava estacionado do outro lado da rua, estranhamente Talita não as seguiu e a morena não se prendeu nesse pensamento. A ex e amiga abriu o porta malas, mostrando um embrulho simples e minúsculo que estava quase escondido no fundo. Micaela riu achando engraçado ela guardar o micro presente logo ali, naquele espaço todo, então obviamente brincou tirando sarro dela.
- Vai, pega… - Júlia ignorou a troça e incentivou apontando o objeto.
Micaela franziu o cenho ainda rindo e obedeceu dando de ombros, quase entrou dentro do porta malas para alcançar a caixinha, depois se ergueu e beijou seu rosto a abraçando com carinho.
- Te amo, Ju… Obrigada por ter vindo. - A morena agradeceu com o objeto nas mãos e os olhos marejados. A morena fez menção de abrir o pequeno embrulho.
- Não abre ainda! - Júlia pediu dando pulinhos ansiosa também fungando e contendo as lágrimas, mas antes que Micaela pudesse processar o pedido uma Lis apavorada gritou por ela do portão da casa da avó.
- Tia Miii, tia Miii… - A menina estava aflita, balançava as mãozinhas ao lado do corpo.
Micaela correu apreensiva em sua direção, o coração na boca, a caixinha quase sendo amassada pelos dedos.
- Lis? Você se machucou??? - A morena abaixou-se pegando em seus ombros frágeis, conferindo seus braços e depois seu rosto.
- A minha mãe tá passando mal… - A garota soltou depressa e correu para dentro, quase fechando o portão na cara de uma Micaela em choque e confusa.
A morena abriu de uma vez gritando pelo nome que tanto amava, o desespero a cegando de tal forma que não percebeu nada ao redor, somente uma Isabella ajoelhada no chão, próxima à piscina. Correu até ela ajoelhando-se e pegando em seu rosto, seus ombros…
- O quê foi, peloamordedeus??? - Gritou procurando qualquer ferimento em sua pele, buscando respostas nos olhos azuis que a fitavam.
- Tia Mica! A mamãe quer falar uma coisa, fica quieta! - Lis gritou saltitante, tão ansiosa quanto a mãe que sorriu sem se conter.
A pequena multidão ao redor riu da frase da garotinha e só então Micaela percebeu todos ao redor. Fernando, Verônica e Ulisses, os pais e os avós mais afastados, mas ainda assim presentes, tia Elisa com um sorriso e lágrimas no rosto. A morena franziu o cenho desconfiada, vendo Júlia se aproximar com Talita… e Gabriel? Olhou para o outro lado e boquiaberta viu Diana filmando tudo com um celular ao lado de uma Camila que incrivelmente sorria para ela. Micaela paralisada sem saber de onde saiu toda aquela gente.
- O que tá acontecendo aqui? - Micaela se levantou olhando ao redor, rindo de nervoso e tímida acreditando que Isabella lhe preparara uma surpresa de aniversário.
- Eu precisava que fosse assim… - A fisioterapeuta começou a dizer chamando sua atenção. - … E eu já peço desculpas por que sei que você não gosta de aglomerações e tem vergonha de surpresas, mas quero que fique bem claro, para todos!
Isabella continuou ajoelhada, o coração aos pulos e os olhos marejados. Ela pigarreou sentindo a voz embargar.
- Micaela… Eu te amo. - Duas lágrimas se desprenderam e correram ligeiras pelo rosto que a morena tanto amava, ela a assistia sem mover um músculo sequer, o coração em pausa.
- Eu também te amo… - A morena ainda sussurrou sem perceber, com os olhos também já transbordados.
- Perder você foi a coisa mais difícil e dolorida que eu já senti na vida… E olha que Lis foi de parto normal. - Ela sorriu entre as lágrimas e todos ao redor também riram, menos Lis que não entendera a referência. - E eu sinceramente achei que poderia ter uma vida sem “Micaela”… - Ela fungou continuando. - Eu estava empenhada e crente nisso… Tanto que praticamente todos os meus amigos quase me esganaram, pois eu literalmente me joguei em seus braços quando te vi de novo. Mas eu entendo e não julgo eles, aliás foi graças a cada um deles que pude me encontrar e entender depois… o quanto você significava pra mim. Mas eu tinha absoluta certeza que estava no controle da situação… Que não cometeria os mesmos erros, afinal eu sou uma adulta agora, então achei que quando me diziam para “tomar cuidado”, era por me subestimarem e eles tentarem de tudo para me fazer enxergar.
- Nem um telescópio adiantou… - A voz de Ulisses soou ao fundo arrancando mais risadas do grupo.
- Mas a verdade é que eu estava mesmo cega! E eles estavam certos… - Ela pigarreou mais uma vez, enxugando as lágrimas que corriam livremente. Micaela fungava também enxugando os olhos por baixo das lentes. - Eu não tinha ideia da grande “merd*” que isso poderia dar.
- Mamãe! - Lis soltou espantada e boquiaberta. A avó Elisa a pegou no colo contendo a ansiedade da pequena.
- E eu fui com afinco em sua direção, você não tinha escapatória… - Ela sorriu e Micaela balançou a cabeça concordando com um brilho nos olhos. - Apesar de que na minha cabeça eu estava me envolvendo apenas fisicamente, sem aceitar que meu coração já tinha te escolhido há muito tempo. Mas a vida é assim, feita de apostas e escolhas… Eu te escolhi desde o dia em que praticamente se cortou para chamar minha atenção e… Conseguiu. - A morena riu emocionada. - Eu apostei todas as minhas fichas em você… E estou apostando novamente, e apostaria quantas vezes mais você surgisse na minha vida… Por que VOCÊ é minha melhor e única escolha. - Ela olhou em seus olhos, os azuis límpidos e totalmente focados nela. - Seu pai e minha mãe vivem dizendo isso… Que “escolhemos” ser assim, não nascemos lésbicas. - Ela riu ironicamente e Micaela acompanhou deixando o casal que assistia tudo calado e sem graça diante de todos. - Pois bem, eu Isabella escolho de olhos fechados, estar com você pelo tempo que o tempo permitir, contanto que você também queira. E eu espero com toda minha alma que queira tanto quanto eu… - Ela pegou uma pequena caixinha que estava atrás do seu corpo. Abriu e um solitário anel brilhou sob a luz da lua Ribeirão Pretana. - Casa comigo?
Micaela se jogou aos seus pés já em prantos, como nunca havia estado antes. De felicidade. A abraçou dizendo entre lágrimas quantos “sins” fossem necessários. O grupo ao redor composto por pessoas que se realizavam com a felicidade das duas e outras pessoas que simplesmente engoliam a própria ignorância e fechavam-se cientes de que nada poderiam dizer ou fazer. O poder do amor que possuíam era maior do que qualquer preconceito que tentassem cultivar em seus corações inférteis.
Isabella beijou os lábios da morena e puxou sua mão colocando o anel em seu dedo em um gesto de carinho que gerou uma emoção singular. Tremeram e sorriram ao se olharem.
- Ei… Não esquece do meu presente! - Uma Júlia sorridente gritou fazendo a morena franzir o cenho e abrir o pequeno embrulho que ainda segurava, onde o outro anel, de Isabella esperava paciente e também brilhante, para ser colocado em seu devido lugar.
- Eu vou ter um anel também, vó? - Lis “sussurrou” quase sendo ouvida por toda casa.
E Micaela se levantou ainda de mãos dadas com agora sua futura esposa e pegou a garota no colo, beijou seus cabelos negros antes de dizer emocionada.
- Eu te amo, pequena… - Ela confessou e Lis passou os braços ao redor do seu pescoço em um abraço que as marcariam para toda vida.
- Eu também te amo muitão, tia Mi!
- Você me enganou direitinho, ein?
A garota riu com as cócegas e disse que o pai havia ensinado como ela deveria atuar e dizer. Micaela olhou para o primo, os olhos cheios de lágrimas e foi impossível conter o sorriso de agradecimento, Fernando sorriu de volta enxugando o rosto, dizendo que a amava com os lábios. Verônica o abraçou dando forças para o homem da sua vida. Micaela também o amava, jamais deixara de sentir que a ligação que tinham ia além do plano material, eram mais do que primos ou irmãos, o elo entre todos eles graças ao presente do tempo.
Isabella viu toda a cena e emocionada chamou os dois para perto, a morena desabou em mais lágrimas, os braços de Fernando ao redor das três. Verônica fungou tentando sem sucesso não arruinar a maquiagem, Ulisses a puxou em direção à eles fazendo com que todos se abraçassem. Gabriel e Camila se juntaram ao monte, depois Júlia e Talita. Diana largou o celular e se juntou ao grupo também, tia Elisa com uma mão no peito se banhava em lágrimas , feliz como há muito tempo não ficava. Olhou para o irmão que disfarçadamente enxugava o rosto, Silvia ao seu lado também sorrindo emocionada.
Lis tagarelava alguma coisa que fazia todos do abraço gigante rirem e a mãe da pequena soltou um suspiro de satisfação e alegria, sentindo a mão de Micaela a abraçando fortemente, a temperatura do seu corpo confirmando o sonho concretizado, fazendo Isabella se sentir finalmente realizada. Finalmente com ela.
Fim.
Fim do capítulo
Enfim consegui finalizar "Meu Passado Com Você", quase dez anos depois que comecei a escrever. Eu praticamente reescrevi toda estória e com certeza haverá quem prefira a primeira, prefira a atual ou nenhuma das duas rs
Mesmo assim quero deixar aqui em forma de palavras o meu agradecimento genuíno, tanto pelos que acompanharam no AbcLes, quanto os que acompanharam aqui a reconstrução e finalização dessa história que possui todo meu carinho. Obrigada também aos que comentaram, incentivaram e deram uma chance de reler, mesmo eu estando há tanto tempo sem postar. s2
Mas o meu mais precioso obrigada vai para a pessoa que faz todo o romance se renovar a cada dia em mim, é como acreditar no amor desde sua forma mais primitiva até sua similitude com o universo… Infinito. Há quinze anos que me apaixono todos os dias por você, Bruna e sinto como se fossem apenas quinze dias, ainda há muito para vivermos juntas. Minha inspiração vem toda do sentimento que você me causa quando olha pra mim e sorri todo começo e fim do dia. Eu amo seu sorriso. Eu amo sua existência. Obrigada por compartilhar sua vida comigo, obrigada. Sorte a minha que o tempo possibilitou nossa existência simultaneamente rs Te amo, petit.
Um beijo.
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Cris_chaos
Em: 23/12/2023
Parabéns @Bibiset, que sensibilidade, que estória linda, envolvente e emocionante, muitas vezes tive vontade de bater nas duas pela falta de comunicação. Mas o tempo nos faz amadurecer.
Simplesmente amei e espero pelas próximas. S2
Rita Santos
Em: 30/11/2023
Linda e emocionante história.
Parabéns!!!
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HelOliveira
Em: 24/05/2023
Linda história.... parabéns e obrigada por compartilhar
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Bruna Oliveira
Em: 22/05/2023
História perfeita, muito linda. Parabéns!
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kasvattaja Forty-Nine
Em: 18/05/2023
Olá, tudo bem?
Que bom que, depois de tanto tempo, no final tudo acertou-se. Boa história, apesar dos perrengues.
Aguardando a próxima e que não demore a chegar.
Parabéns!
É isso!
Post Scriptum:
'Quanto maior a dificuldade, tanto maior o mérito em superá-la. '
Henry Ward Beecher,
Orador
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Socorro de Souza
Em: 17/05/2023
Amei amei
familia feliz ????
vou sentir saudades
bjs
volta logo
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