POLÍGONO
São José dos Campos, estado de São Paulo
Elza chegava em casa com o pai após mais um dia de serviço.
--Empoderada tenente, eis que peguei-me ouvindo a voz que clamava nas entranhas do meu ser: preparai-vos o lar bendito para comemorai-vos a data santa que aproximar-se-á! – Machado afirmou ao descer do carro
--Que data santa? – saiu do carro também e caminhou para abrir a porta da sala
--Ora, como não sabeis? – chocou-se – A data na qual celebrar-se-á o dia em que um Ventre Santo deu a luz àquele Homem Iluminado que veio para purificar o opróbrio dos homens e das mulheres da boa vontade de Deus! – marchava em direção à sala
--O senhor tá falando... do natal? – estranhava a antecedência – Pai, estamos em novembro! – tirou os sapatos antes de entrar em casa – A gente sempre enfeita a casa em dezembro mesmo! – entrou na sala
--Modificai-vos os costumes, pois nunca é cedo demais para louvarmos ao Senhor! – Machado tirou os sapatos também – A família em breve reunir-se-á! – entrou marchando na sala – Louvemos ao Senhor pela graça de termos a Liga da Justiça em completude em terras joseenses!
Achou graça. – Então agora somos a Liga da Justiça? – balançou a cabeça divertida – Ai, pai, vai tomar seu banho que eu vou cuidar do que a gente vai lanchar. – pediu – Depois do senhor, eu tomo meu banho.
--É pra já! – prestou continência para a filha e seguiu cantando -- Tenente-coronel Goulart, é prestimoso, sargento Machado, é homem valoroso, falta a cabo Fernandão, é garbosa, como não? – marchava – Tenente Elza, empoderada, quer respeito na jogada, vai marchando e não atiçaaa... – foi para o quarto -- Liga, Ligaaaa, Liga da Justiça!
--Ai, ai... – suspirou – Só meu pai mesmo... – sentou-se no sofá – Mas já que somos a Liga da Justiça, – tirou o celular da bolsa – deixa ver se uso dos meus super poderes pra ter notícias de uma pessoa que não sai da minha cabeça. – conferiu o número do hospital de Brasília e ligou do fixo para saber de Kedima
Brasília, Distrito Federal
Kedima seguia caminhando por um lugar que desconhecia. Passava ao lado de pessoas em estado de agonia e sentia medo. Desejava ajudar mas não sabia como. A cabeça doía, os quadris e a perna esquerda latej*v*m.
--Meu Deus, onde estou, meu Senhor? Eu imploro, por favor me ajude! – suplicava em voz alta – Me sinto tão confusa...
Depois de um tempo caminhando, viu que mulheres e homens chegavam usando roupas de socorristas e se prestavam a ajudar algumas daquelas pessoas agonizantes do local.
--Por favor! Me ajudem, por favor! – tentava gritar
--Kedima, ya habibi. – uma voz de homem se fez ouvir – Agora finalmente você pode ser ajudada! – afirmou com alegria
--Yasser?? – olhou surpreendida para ele – Meu Deus! – o coração acelerou de emoção – Meu Deus! – os olhos marejaram – Queria tanto te abraçar mas não tenho forças... – derramou uma lágrima
--Venha comigo, querida. – abraçou-a com carinho – Cuido de você! – sorriu
***
--Nós já fizemos tudo que poderíamos, posso lhes garantir. – o médico explicava para Yara e outros moradores do abrigo – Dona Kedima está há quase um mês sem evolução alguma no quadro dela. – fez um gesto breve – Ela não reage e... temos que esperar, não há o que fazer. – pausou brevemente – Mas, infelizmente, sendo bem realistas... – falava com jeito – Não acreditamos que ela consiga sobreviver. E se conseguir, provavelmente terá muitas sequelas, além de não mais conseguir andar.
Suspirou. – Eu já ouvi isso mais de uma vez. – a indígena respondeu decepcionada
--Sinto muito, mas é o que o podemos dizer por ora. – fez um gesto de cabeça – Com licença. – afastou-se e seguiu pelo corredor
Yara permaneceu parada e pensando no que fazer. Era sexta-feira e ela passaria o final de semana acampada no hospital mais uma vez.
--Eu acho que esses médicos abandonaram dona Kedima porque ela é idosa! – Ítala acusou entristecida – Queria ver se seria assim se fosse moça!
--E se fosse rica! – Marcio afirmou chateado – Mas não é, né? Aí fica só esse papinho de não ter mais o que fazer! – reclamou
--Tô passada, arrasada e destruída! – Ronaldo desabafou afetado – Não pode isso, gente!
--Vamos fazer o que podemos fazer! – Yara olhava para o grupo – Vamos rezar lá fora. – convocou – Venham comigo! – caminhou para a área externa do prédio sendo seguida pelos demais
***
--E daí o padre Juvenal trocou de lugar comigo porque meu assento ficou meio úmido por causa de uma água que pingou do ar condicionado do ônibus. – Kedima contava sobre o que lembrava – Seguindo viagem o motorista vinha dirigindo normalmente, a gente vinha cantando músicas que ouvimos no show e quando é fé apareceu um caminhão desgovernado, meio que do nada... – tentava controlar as emoções – Foi tudo muito rápido, sabe? – olhava para o marido desencarnado – Sentimos um estrondo forte, ouvi gritos, muito barulho, o vidro do ônibus se espatifou todo... – controlava a respiração – Acho que fui cuspida pra fora, não sei... Senti uma dor horrível pelo corpo e... tudo ficou escuro... – tentava entender o que houve – Eu me sentia como quem dorme, mas o tempo todo ouvia barulho, gente falando, uns trem piando... Quando acordei me vi naquele canto estranho em que você me achou e... só aí percebi que morri!
--Mas você não morreu, querida. – Yasser afirmou com mansidão – Você está de coma há quase um mês e vivendo no ambiente astral da cidade de Brasília.
--Eita! – arregalou os olhos – Então me derrenguei de vez!
Achou graça. – Derrengou não... – segurou uma das mãos dela – Você estava em uma espécie de limbo, -- tentava explicar – onde ficam pessoas que morreram em agonia e algumas pessoas que ainda vivem mas estão, digamos, fora do ar. – olhava para ela – E esse local aqui pra onde te trouxemos é como se fosse um pronto socorro.
--Então hoje em dia você trabalha nisso, socorrendo as pessoas? – sorriu orgulhosa – Fico feliz por você, meu marido! – apertou a mão dele – E nossa filha? – queria saber – Onde ela está?
--Infelizmente Elissa ainda não pode ser socorrida... – respondeu com jeito – Ela ainda iria viver muitos anos encarnada na Terra, então o corpo espiritual dela carrega muito fluído vital, além do campo mental continuar totalmente desajustado. – pausou brevemente – Não conseguimos chegar até ela nestas condições.
Não conseguia entender aquilo. – Mas.... – deu um suspiro profundo – Ela não pode ser ajudada, eu não morri, como fica tudo isso então?
--Nossa filha precisa de muitas orações. É tudo que podemos fazer! – explicava – E você... – pensava em como dizer – Somente Deus sabe o tempo de cada pessoa, mas o fato é que você está se entregando, querida! – olhava para ela com carinho – Você passou por uma experiência traumática, mas... no fundo parece que seu desejo é morrer. E ao que tudo indica, sua hora não seria agora.
Abaixou a cabeça entristecida ao soltar a mão do homem. – Eu... acho que desejo morrer desde que nossa filha se foi... – suspirou – E já tô velha, não sirvo pra grande coisa... quem precisa de mim?
***
Os jovens oravam de mãos dadas pela recuperação de Kedima. Yara conduzia a oração.
--Senhor Deus, mestre Jesus, Maria Mãe Santíssima, humildemente vos imploramos pela cura de nossa amada dona Kedima, que padece há quase um mês nesse hospital sem sinal de evolução. – mantinha-se de olhos fechados – Sabemos que sob Vossas bênçãos ela pode deixar as sombras do Vale da Morte e voltar pra Vida, voltar pra nós que tanto precisamos daquele bondoso coração a iluminar nossas almas com seus conselhos, carinhos e cuidados! – orava com muito sentimento – Imploramos Senhor, que se apiede destas criaturas carentes que somos nós e permita que nossa dona Kedima receba o dom da cura, pois ela é um ser de luz e não merece sofrer como tem sofrido!
--Senhor, ouvi a nossa prece! – os demais diziam
--Estão orando por mim? – Kedima sentia
--Talvez não tenha percebido, querida, mas todo dia oraram por você. – Yasser afirmou carinhoso – E foram essas tantas orações que lhe ajudaram a ter condições de receber nossa ajuda.
--Humildemente, Senhor, cantamos para que dona Kedima saiba o quanto sentimos sua falta. – pausou brevemente – Cantamos como acreditamos que lhe chegue aos ouvidos da alma. – preparava-se para cantar -- Tenho às vezes vontade de ser novamente menina, -- visualizava o rosto da idosa em sua mente – e na hora do meu desespero gritar por você, -- cantava com muito sentimento -- e pedir que me abrace e me leve de volta pra casa e me conte uma história bonita e me faça dormir...
--Own... – Kedima chorava emocionada – Meus bebês...
--Apesar de distância e do tempo eu não posso esconder. – Yara continuava cantando -- Tudo isso eu às vezes preciso escutar de você!
--Ya Kedima, me leve pra casa, ya Kedima, me conta uma história ya Kedima, me faça dormir, ya Kedima!!! – todos cantavam emocionados – Ya Kedima, me leve pra casa, ya Kedima, me abrace forte, ya Kedima, me faça dormir, ya Kedima!!!
Roberto Carlos – adaptação de Lady Laura [1]
Chorava embevecida. – Tão lindinhos cantando pra mim...
--Não importa que seja idosa, Kedima! Você é importante! – Yasser dizia – Veja quantos jovens unidos, orando e cantando por você!
--Eu quero voltar, querido! – decidiu – Eu vou lutar, vou me esforçar! – falava com convicção -- Eu quero voltar!
São José dos Campos, estado de São Paulo / Goiânia, estado de Goiás
--Eita, que deu trabalho, mas... – jogou-se no sofá – Acabou-se! – sorria – De volta ao lar e casa arrumada em tempo recorde! – Fernandão sentia-se aliviada
--Depois do mutirão que fizemos pra você, tinha que acabar rápido mesmo! – Elza sentou-se no sofá ao lado da amiga – Dois finais de semana de trabalho árduo que renderam bem! – sorria
--E eu só tenho a agradecer! – sentou-se de lado para encarar a jovem – Mas, confesso que achei estranho você não ter ido na exposição de carros antigos hoje. Tudo isso foi solidariedade comigo ou o desejo de desabafar alguma coisa? – queria saber
--Embora eu goste de ver carros antigos não tava a fim de ir. – fez um gesto despreocupado -- Meu pai e tio Goulart fazem companhia um ao outro, não precisavam de mim. Já você ainda tinha que arrumar as coisas e achei que eu seria mais útil aqui. – sentou-se de lado também – Mas, tenho que confessar que... queria desabafar um pouco... – apoiou a cabeça em uma das mãos
--E aposto que tem algo a ver com o coração. – deduziu
--É... – suspirou – Pode-se dizer que sim...
--Percebi. Ainda mais que eu ando muito reflexiva depois do término de um relacionamento que vivi em Santa Maria por quase todos esses anos em que estive longe... – mirou um ponto no infinito
--É mesmo? – surpreendeu-se – Nunca soube de você namorando ninguém. – sorria – Vai, me conta primeiro? Seu caso deve ser menos complicado que o meu.
--Vou te resumir a história como foi. – gesticulou – Troquei o pneu do carro de uma viúva maravilhosa que tava precisando de ajuda perto da rotatória da BR-392. – lembrava da situação – Aí rolou aquela conversa, aquela simpatia, aquela amizade... depois encontrei com ela sem querer no supermercado, na farmácia e decidi puxar um papo e convidar pra sair, assim no susto! – gesticulou novamente -- Chamei pra ir comigo num barzinho que tava pra inaugurar!
Achou graça. – E aí ela aceitou e rolou um clima? – acompanhava a narrativa
--O clima rolou mesmo quando deixei ela em casa. – contava – E que noite, viu? Vou te contar! Saí de lá com os dedos moles, as coisas dormentes e câimbra na língua! – falou mais baixo
--Gente! – arregalou os olhos e riu brevemente – E daí, depois dessa noite bombástica vocês começaram a namorar? – estava interessada em saber
--É, a gente começou uma relação... – passou a mão nos cabelos – Mas foi uma coisa assim... meio bandida, sabe? – gesticulou – Especialmente porque eu tinha que viver fugindo pra não ser pega pelo marido dela, que era um gauchão ciumento que só!
--Marido?! – não entendeu – Mas você não disse que ela era viúva?
--Então... viúva do primeiro marido, o que contava. Esse aí que eu tô falando era café com leite. – explicava – Porque o falecido era marido de cama, mesa e banho. O atual era só de mesa e banho! – esclareceu
Riu mais uma vez. – Fernandão, essa sua namorada arrumava homem ou jogo de toalha? – perguntou divertida
--Não tente entender essa treta! – gesticulou – Fomos vivendo na corda bamba até que decidi dar um basta! – finalizou a história – Até porque descobri que ela era aquele tipinho, né? Hetero que gosta de experimentar mulher às escondidas por curiosidade.
--Ah, você descobriu? – achou graça – “Claro, né, Elza? Ela é a melhor amiga do seu pai! Tudo doido!” – pensou divertida – E eu que pensei que seu caso era menos complicado que o meu...
--Mas agora vamos a você! – Fernandão pediu interessada – Conta tudo!
--A senhora vai indo muito bem! – Yara seguia de braços dados com Kedima para o quarto da idosa – Já tá andando com bengalinha, cheia de disposição... – sorria satisfeita – A fisioterapeuta me disse que nunca viu uma recuperação tão espantosa quanto essa!
--Graças a Deus! – sorria também – Depois de tudo que passei, terminar usando bengala é lucro! – entraram no quarto – Agora é só alegria!
Achou graça. – Ah, é. – ajudou a idosa a se sentar na cama – A senhora não sabe como me sinto feliz em tê-la de volta! – olhava para a mulher com carinho – Eu e todo mundo, né?
--Vocês têm sido ótimos! – ajeitou-se na cama – É pagando fisioterapia pra mim, remédio, os trem tudo... – sentia-se acolhida – Não mereço tanto.
--Que é isso? – sentou-se na cama também – A senhora merece isso e muito mais!
--Se você diz, né? – fez um gesto brincalhão – Mas quero que saiba que não me arrependo de nada! – garantiu – Foi um showzão, viu? – balançou a cabeça rememorando – E ainda ganhei uma rosa do Rei! Pena que a bicha se danou no acidente. – lembrava – Aliás, a única tristeza é pensar nos que morreram no acidente... – suspirou – O motorista, padre Juvenal, aquelas senhoras... – lamentou – Que Deus os tenha! – benzeu-se
A indígena benzeu-se também. – Que Deus os tenha! – beijou o crucifixo do cordão – Sejamos gratas a Deus pelo livramento que a senhora recebeu através da gentil atitude de padre Juvenal! – pensava no homem – E que todos os que se foram tenham encontrado refúgio no Senhor!
--Amém! – concordava – Mas não vamos falar de coisas tristes! – decidiu – Agora quero saber do que a senhora andou aprontando na minha ausência! – cobrou – Já sei dessas peitica de Partido, sei que você conseguiu se ajeitar no seu trabalho, agora vamos falar de vida! – olhava para a indígena – Desembucha aí!
Achou graça novamente. – Tá certa... – abaixou a cabeça – Tem algumas coisas que de fato ainda não lhe contei...
--Então trate de me contar porque sinto que tem alguma coisa aí no ar... – espremeu os olhinhos observando a indígena
--Eu vou tentar resumir uma história que é longa. – Elza olhava para a outra – Tudo começou em 95 quando conheci uma MC comunista que cantou rap numa chopada. Ela me incomodou logo de cara, fui super rude, a gente discutiu, foi um horror! – revirou os olhos – Cinco anos se passaram, tive um reencontro inesperado em São Paulo com aquela loura, a Renata. Lembra dela? – Fernandão balançou a cabeça confirmando – Isso me deixou frágil, puxou um monte de lembranças, chorei, fiquei fora de mim e quase fui atropelada na Paulista.
--Nossa! – arregalou os olhos – Mais alguém da família soube disso?
--Não! – respondeu de pronto – E que continuem sem saber, por favor! – pediu – Mas enfim, por essas coincidências da vida, quem me salvou da morte se não a própria MC comunista! – Fernandão novamente se surpreendeu – E ela foi super fofa, me deu um colo, passou tempo comigo e... – desviou o olhar – Fizemos amor.
--Hein?? – a cabo levou um susto – Você foi pra cama com a MC comunista assim sem mais?? – estava pasma – Logo você que pegou ódio de comunistas??
--Pois é... – respondeu reticente -- E foi simplesmente a noite mais especial da minha vida! – confessou – Eu nunca vivi algo igual com ninguém! Yara foi diferente de tudo...
--Uai? – levou um susto – Mas, perdoe perguntar... Elza, você já esteve com quantas? – queria saber
--Cinco, incluindo Yara. – passou a mão na cabeça
“Poxa! Quinze anos mais velha que ela e não passei de três...” – pensou surpreendida
--Depois dessa noite não nos vimos mais até o ano passado, quando tive uma viagem de serviço pra Brasília e a encontrei super deprimida e largada num ponto de ônibus. – continuava contando a história – Eu vinha com umas colegas num carro que aluguei mas fiquei tão penalizada de vê-la daquele jeito que larguei tudo, desci do carro e fui ajudá-la. – gesticulou – Yara tava arrasada porque uma senhorinha que ela adora tava muito mal no hospital e mais alguns outros problemas. – resumiu – Então levei ela pro meu hotel, dei um colo, conversamos muito e dormimos abraçadinhas. – sorriu – Não rolou sex*, nada disso... Foram só alguns beijos e muito carinho. – pausou brevemente – Yara e eu não mantivemos contato, mas continuei ligando pro hospital onde a senhorinha tava internada e no final de novembro soube que ela levou uma alta surpreendente e voltou pra casa. – finalizava a história – E depois não soube de mais nada.
--Fale mais dessa Yara. – Fernandão pediu – Conte pra mim como é essa pessoa. Eu quero entender isso!
--Entender o que nem eu entendo? – Elza sorriu pensativa
--E ela me deu um suporte emocional incrível! Foi tão gentil, tão acolhedora, tão humana... – Yara falava com emoção -- A senhora sabe do que aconteceu entre Elza e eu em São Paulo. – gesticulou brevemente – Ali eu fui o refúgio que ela precisava mas em Brasília, no auge da minha dor, ela foi o meu! – abaixou a cabeça envergonhada – Eu não teria conseguido encarar a barra que foi ter a senhora por tanto tempo naquele CTI e mais tudo que aconteceu no Comuna se não fosse pelo suporte que ela me deu! – admitiu – Passar a noite conversando com ela – sorriu -- e depois dormindo com ela em meus braços foi como renascer das cinzas! Mais uma vez renascer na minha vida... – levantou a cabeça e olhou para Kedima
--Hum... – a idosa prestava atenção ao que ouvia – Lembro de você rememorando seu namoro com a pernambucana dos vestido colado, me contando sobre o relacionamento com Gil, com a camarada e nunca te vi desse jeito! Mesmo com Gil, que te deixou com os quatro pneu arriado, não te notei assim. – ajeitou-se na cama – Não vou nem levar em consideração aquela paraguaia de curnicha em brasa que te fisgou no Comuna porque aquilo ali foi curnicha aleatória, não era trem sério! Resfulengo de curta duração!
--Curnicha aleatória... – achou graça – Mas, tenho que admitir que... eu nunca vivi com ninguém o que experimentei com Elza... com ninguém mesmo! – confessou – Eu já sabia disso desde o que aconteceu em São Paulo, contei pra senhora depois... mas essa vez em Brasília... – não sabia como expressar – Foi lindo demais da conta!
--E como a antipatia se transformou nessa coisa toda? – Kedima queria entender – Desde o começo fiquei besta de você ter ido tão longe com uma moça militar, de direita... logo você que é tão radical com esses trem!
--Também não sei explicar! – Yara respondeu de pronto – Mas quando eu a vi tão fragilizada em São Paulo, meu coração me pediu pra tirá-la daquela solidão e fiz de tudo pra protegê-la da dor! – respondeu com a verdade – Acho que o coração dela falou da mesma forma quando me viu perdida em mim mesma naquele ponto de ônibus em Brasília!
Balançou a cabeça. – É bonito ouvir isso, mas tem que saber até que ponto é verdadeiro, até que ponto é ilusão... Talvez vocês se vejam uma a outra de fato. – considerava – Talvez vocês projetem uma na outra o que no fundo gostariam de encontrar em alguém...
--Eu não sei responder qual é o nosso caso... Se é verdade ou se é ilusão. – a indígena pensava no que ouvia
--Fale mais dessa Elza. – Kedima pediu – Tenho que matutar pra ver se ela presta! – espremeu os olhinhos – Vai falando aí! -- insistiu
Achou graça. “Ela e essa história de matutação!” – pensou divertida
--Yara é uma mulher da minha idade, cinco meses mais nova que eu, indígena, nascida no Amazonas mas rodou por várias cidades até parar em Goiânia, onde vive num abrigo pra pessoas LGBT em condição de vulnerabilidade. – Elza visualizava o rosto da outra em sua mente – Ela é formada em Ciências Sociais, já fez até mestrado, e trabalha na prefeitura da cidade na elaboração de políticas públicas e atendimento à população de rua. – sorria – Ela é uma mulher cujas ambições recaem todas praticamente no coletivo! É uma sonhadora, daquele tipo que deseja fazer do mundo um lugar melhor pra todos, um lugar mais justo, mais humano... – gesticulava – O Comunismo pra ela é o caminho pra se alcançar esse objetivo e ela vive esse ideal de corpo e alma! – falava com empolgação – Sobrevivente de um genocídio e órfão por duas vezes, é uma tremenda guerreira, militante conhecida e alguém muito admirada! Especialmente no meio dos indígenas!
--Poxa! – Fernandão exclamou impressionada – Do jeito que você fala parece a Mulher Maravilha! – brincou – E fisicamente, como ela é? – queria saber
Ajeitou-se na poltrona mais uma vez – Indígena típica com aqueles olhinhos puxados, cabelão preto lindo, alta, um tipo assim forte que a vida esculpiu, sabe? Não é shape de academia! – pausou brevemente – A voz dela é tão melodiosa... Canta bem e tem muita criatividade porque faz uns raps na hora!
--Hum... – a cabo prestava atenção ao que ouvia – E o que você vai fazer agora? Esperar pelo próximo encontro fortuito ou ir à luta?
--Elza é uma mulher da minha idade, cinco meses mais velha que eu, negra, nascida em São Paulo mas mora em São José dos Campos há muitos anos com o pai. Ela também considera como família dois grandes amigos do pai; o homem funciona como tio dela e a mulher como uma irmã mais velha. – Yara visualizava o rosto da outra em sua mente – Ela é formada em Engenharia Aeronáutica, tá fazendo mestrado, e trabalha em projetos de ponta no Instituto super gabaritado da Aeronáutica. – sorria – Ela é uma mulher muito racional, focada, daquele tipo que tem os planos de vida traçados com anos antecedência! Mas ela também tem um lado sonhador e deseja fazer do mundo um lugar melhor pra todos, um lugar mais justo, sem irregularidades... – gesticulava – O Militarismo pra ela é o caminho pra se alcançar esse objetivo e ela vive esse ideal de corpo e alma! – falava com empolgação – Órfão por duas vezes, é uma tremenda guerreira, militar conhecida e alguém muito admirada no meio!
--Ave Maria! – Kedima exclamou admirada – Do jeito que você fala dá pra se impressionar! – considerou – E como ela é? – queria saber
Esfregou as mãos uma na outra. – Negra típica com aquela pele maravilhosa, cabelo afro cheio de trancinhas, pouca coisa mais baixa que eu, atlética e um sorriso maravilhoso! – pausou brevemente – Ela é super elegante, tá sempre impecável, linda, cheirosa... – pausou brevemente – É muita aleluia pruma mulher só, ô, glória, benza-te Deus!
--Hum... – reparava na indígena – E com tanta aleluia pra dar e vender na tua frente, o que é que você vai fazer? – perguntou interessada – Que você tá de quatro por ela já notei, mas tem que saber se vai dar em namoro sério ou se vai ficar só nisso de se encontrar sem querer pelo Brasil afora! – cruzou os braços – E essa segunda opção é bem demorada, né? Primeiro encontro em 95, segundo no ano 2000 e terceiro em 2002! Pior que Copa do Mundo isso aí!
Achou graça. – Eu não sei, dona Kedima! – levantou-se da cama e andou um pouco pelo quarto – Além de morarmos longe, nossas vidas são tão diferentes! – passou a mão nos cabelos – Nós estamos em extremos opostos do espectro político e ideológico!
--Ai, Fernandão, eu não sei! – levantou-se da poltrona e andou um pouco pela sala – Como eu posso encaixar uma pessoa dessas na minha vida? – perguntou mais para si do que para a outra – Ela é assumidona mas só você aqui sabe que eu sou lésbica! – considerou – Além disso, vivemos em mundos tão opostos, tão distantes em tudo...
--O Amor não conhece esse tipo de barreira, menina! – Kedima respondeu com carinho – Esses empecilhos são bobagens que nós criamos! – olhava para a indígena – Não espere ser tarde demais pra se decidir! – aconselhou – Faça uma reflexão sincera, veja se o que sente é real ou ilusão e se for real, não deixe que a omissão te faça se arrepender depois! – pausou brevemente – A gente passa a maior parte da vida perdendo tempo com coisas que no final das contas, não nos valem de nada!
--A gente inventa problemas demais, divisões demais entre as pessoas, mas o fato é que somos todos iguais, embora diferentes! – Fernandão respondeu convicta – Se você realmente gosta dessa mulher, não importa que ela vista a camisa do Che Guevara e você ostente uma medalha da Escola Superior de Guerra! – sorria – O Amor ignora todas essas coisas, porque são todas passageiras!
Elza e Yara, cada uma em uma cidade, pensavam no que ouviam.
Brasília, Distrito Federal
--Depois de uma audiência histórica que durou cerca de 5 horas, termina hoje, aqui em Brasília, o caso Yara Saraíba e Comissão Nacional dos Religiosos Católicos do Brasil versus Governo Brasileiro! – a repórter anunciava diante das câmeras – O caso se relaciona ao genocídio que dizimou a tribo dos Kenko Wiwa, além de ter ceifado a vida de muitos indígenas de tribos vizinhas à região do Alto Alalaê Canã, na divisa do estado do Amazonas com o estado de Roraima, nos idos de 1979! – informava -- Estamos aguardando pela indígena Yara Saraíba e pelo padre Camilo Roldó para obter mais informações.
--Eu tô tão emocionada, padre! – Yara exclamou enquanto caminhavam – Em todo tempo parecia que minha mãe e toda tribo estiveram junto de nós! – passou a mão sobre os olhos úmidos – Houve momentos em que parecia que mamãe me acariciava os cabelos... – sorriu para o homem – Acredita que até a imagem de padre Ignácio me veio à mente?
--Deus guarda todos os mortos até o dia do Juízo, mas Ele faz as regras sempre! Que impede que num momento tão relevante, a Providência Divina tenha deixado alguns de seus filhos virem como anjos nos visitar e inspirar? – Camilo respondeu igualmente emocionado – Confesso que me arrepiei em vários momentos, especialmente quando a juíza leu a sentença!
--O que você quer fazer aqui, hein? – Romero perguntou sem entender – Esse caso é uma treta da Yara e ela é capaz de dar um chega pra lá na gente quando nos encontrar aqui do lado de fora.
--Lembre-se que o Comuna bancou parte dessa história! – Renata olhava para o homem – E a presidente do Partido sou eu! – afirmou com ênfase – Lembre-se também que você e eu trabalhamos na Secretaria de Estado dos Direitos do Povo! – gesticulou -- Uma vitória nesse processo também é uma vitória do Partido, da Secretaria e eu tenho que aproveitar pra surfar nessa onda! – passou a mão nos cabelos
--Sei não... – respondeu contrariado – Você conseguiu aproveitar o espaço ridículo que ganhou na equipe de transição pra cavar uma vaguinha na Secretaria, me puxou como assessor e tá de bom tamanho! – cruzou os braços – Não tem porque se met*r nessa história da Yara!
Fez um bico. – Faz o seguinte, mano? – deu um tapa no braço dele – Fica na tua, tá ligado? Deixa o resto comigo! – Renata orientou de cara feia
--Olha lá, gente, saíram! – a repórter viu que Yara e Camilo deixavam o prédio – Vamos lá entrevistar os dois! – buscava se aproximar
Em São José dos Campos, Elza ligava a TV de sua casa para ver o jornal. Naquele dia não havia ido trabalhar por se tratar de sua licença de pagamento.
--Nosso pleito foi bem claro desde o início, -- Yara falava diante das câmeras – não queríamos dinheiro, indenização individual ou nada do tipo! – olhava para os repórteres – Nós exigimos as terras que foram dos Kenko Wiwa, minha tribo, para assentamento dos indígenas dispersos pela região do Alalaê, os quais vivem em condições muito precárias! – afirmava com ênfase – E também não desejamos um assentamento não planejado, no qual os indígenas apenas recebam as terras mas continuem sem meios de subsistir! Queremos que seja feita de uma vez por todas, a reparação histórica que o governo brasileiro finalmente admitiu ser um dever que lhe cabe! – gesticulou – E nós vamos permanecer vigilantes e cobrando que a decisão judicial seja cumprida sem muita demora!
Elza cruzou os braços e sorriu com simpatia. – Muito bem, Yara Saraíba! – falava de pé, diante da TV – Amei ouvir isso!
--Representando a Comissão Nacional dos Religiosos Católicos do Brasil, -- Camilo dizia – afirmo igualmente que a Santa Igreja Católica também permanecerá vigilante e cobrando deste governo que cumpra com a decisão com a qual concordou neste julgamento de hoje!
--Bravo! – Elza bateu palminhas
--A Ministra de Meio Ambiente, Karina Piva, assim como a Secretária de Direitos da Mulher, Priscila Padoa, participaram da audiência e se manifestaram satisfeitas com o resultado. – a repórter se aproximava das mulheres para entrevistar
--É agora que eu vou! – Renata cochichou empolgada para Romero – Deixa eu cavar o meu! – caminhou para perto da repórter
--Mas o que essa praga faz aqui?? – Yara perguntou-se revoltada ao reconhecer a loura
--Você sabe, Yara! – Camilo respondeu em voz baixa – Assim é a política! Tem um monte de gente aqui que veio pra se aproveitar de uma vitória que foi nossa, abaixo de Deus!
--Humpf! – a indígena fez um bico – Vamos sair logo daqui! – propôs
--Se a imprensa deixar... – o padre respondeu enquanto buscavam se livrar do assédio
--Yara deve tá puta! – Elza comentava consigo mesma – Olha que bando de oportunista! – sentou-se no sofá
--A Presidente do Partido Comuna, do qual a indígena Yara Saraíba faz parte, e integrante da Secretaria de Estado dos Direitos do Povo, Renata Vilani, comenta a vitória obtida no dia de hoje! – a repórter dava a palavra para a loura
--Não acredito! – Elza levantou-se de um pulo – O que essa sem vergonha faz aí? – revoltou-se
--O dia de hoje representa não somente uma vitória da companheira Yara Saraíba e dos Religiosos do Brasil mas também de toda população brasileira que clama por Justiça! – Renata fazia uma média – O Partido Comuna e a Secretaria de Estado dos Direitos do Povo estão em festa diante da vitória conquistada, mas também reconhecendo o caráter sem igual do governo Luiz Horácio, que aceitou a sentença e desde o começo mostrou-se receptivo a este caso que se arrastava já há alguns anos! – sorria como assistente de mágico
--Puxa saco! – a militar reclamava sozinha – Sai daí, ch*pa cabra!
Após ser entrevistada, Renata buscou se aproximar de Yara e padre Camilo. “Agora preciso aparecer numa foto ao lado deles!” – pensou – “Tudo isso vai me dar muita visibilidade e de repente me abrir portas com a Igreja, o Movimento dos Sem Posses e a Comunidade Indígena!”
--Yara, por favor, nós somos da LGBT News! – um homem trans abordava a indígena – Tamos começando, por enquanto a gente só tem um periódico, mas queria muito te entrevistar rapidinho, pode ser? – perguntou gentilmente
--Tá certo. – concordou – Vamos lá, então! – sorriu para o repórter
Padre Camilo decidiu seguir em frente e encontrar-se com Yara mais adiante.
Mais imagens eram exibidas pela reportagem até que uma cena deixa Elza estarrecida.
--E a ex presidente do Comuna comemora a vitória com a atual presidente do Partido! – a repórter sorria animada – Um beijo apaixonado pra terminar de vez com uma história de horror! – a matéria se encerrava
--O que?? – Elza ficou pasma diante da TV – Eu não acredito!!! – desligou o aparelho – Então... – circulava pela sala – Depois de tudo que me falou, de tudo que eu desabafei com ela, aquela cachorra teve a coragem de fazer isso?? – começou a chorar – Bastou tão pouco pra se deixar seduzir pelo poder, Yara Saraíba? – passou a mão na cabeça nervosamente – E foi se pegar justo com quem? – não aceitava – Eu sou uma idiota mesmo! – chorava – Merd*! – deu um chute no sofá – MERDA!! -- berrou
--Quem você pensa que é? – Yara desvencilhou-se de Renata com raiva – Eu não admito que você venha me beijar! – limpou os lábios com nojo – Não admito!
--Calma, mulher! – a loura afastou-se rapidamente – Foi só um beijo de comemoração! – sorria sem graça
--Vocês... não são um casal? – o repórter perguntou surpreendido
--Nunca fomos e nunca vamos ser! – Yara respondeu enfurecida – Com licença! – afastou-se andando rapidamente
Renata sorriu vitoriosa observando a indígena caminhar na direção de padre Camilo. “Consegui importantes minutos de fama!” – pensava – “É isso aí, loura!” – passou a mão nos cabelos – “Se a onda vier, você surfa nela!” – sentia-se satisfeita
“Nossa Senhora!” – Romero pensava surpreendido – “Escapou de levar um tapa nas fuça por um triz mas ainda assim parece que gostou...” – olhava para a loura – “Mas também, ela é que tá certa! O importante não é o que é, mas o que parece ser...” -- considerou
Taubaté, estado de São Paulo
Elza preparava-se para palestrar em uma escola pública. A diretora da instituição a orientava antes de iniciar.
--Tenente, sei que é do seu costume visitar escolas, palestrar e tal, mas aqui os jovens não são muito... como dizer? Receptivos. – falava com apreensão – Então, por favor, esteja preparada pro... – pensava em como dizer – Pior! – sorriu encabulada
--Pode deixar. – balançou a cabeça – Estou preparada e assim que a senhora decidir que começamos, eu inicio. – respondeu com segurança
A mulher concordou e afastou-se para conversar com colegas de trabalho.
--A senhora tem certeza mesmo, tenente? – sargento Ramos perguntou receoso – Daqui dá pra se ouvir a gritaria que os estudantes tão fazendo!
--Vai ser difícil dialogar com essa turma... – Luiza considerou
–Acho que a abordagem que decidi usar vai ser realmente a mais certa. – respondeu aos colegas – É sempre útil fazer uma pesquisa sobre o público alvo antes de iniciar uma abordagem! – endireitou a gola da farda – A maioria deles e eu temos algo que nos une e isso fala muito alto.
--O que?? – Ramos e Luiza perguntaram ao mesmo tempo
--A cor da pele! – respondeu de imediato – A diretora nos chama. – observou que a mulher acenava – Senhores, vamos indo. -- ordenou
Em poucos instantes dirigiram-se para um salão amplo, o qual estava ocupado por inúmeros jovens que se divertiam em algazarra. O arquivo da apresentação fora colocado em um computador, cuja tela era projetada em uma grande parede branca. Após uma breve introdução realizada pela diretora, a qual a maioria ignorou, Elza recebeu o microfone e permaneceu calada.
--Ó os milico aí! – um rapaz comentou zombando
--Saco, mano! – um jovem reclamou – Ó o título: a Força Armada e você! – fez pouco caso
--Tem uma preta no meio! – uma jovem observou curiosa
Elza desceu do púlpito e caminhou no meio dos jovens que a olhavam com desconfiança.
--Macacos! – a militar falou ao microfone para surpresa de muitos – Vocês parecem macacos! – seu tom era firme
--O que?! – Ramos arregalou os olhos e cochichou com Luiza – A tenente enlouqueceu?
--Não... – prestava atenção na colega – Ela sabe exatamente o que e porque tá dizendo o que diz! – sussurrou também
–Pretos xexelentos! – Elza continuava circulando entre os jovens – Neguinha! Neguinho! – usava um tom de desprezo – Cabelo duro, cabelo de pixaim! – provocava – Urubus! – os jovens aos poucos silenciavam – Lábio grosso de salsichão! – falava alto -- Quantos aqui já ouviram isso? – observava as reações – Levantem a mão quantos aqui ouviram alguma ofensa por serem negros? – a maioria levantou a mão em silêncio
--A primeira coisa ela já conseguiu. – Luiza cochichou com Ramos – A atenção deles! -- sorriu
–Quantos aqui viram que pessoas atravessaram a rua por sua causa, por medo de vocês? Levantem a mão! – novamente muitos levantaram a mão – Alguém aqui já foi levado pra delegacia? – alguns indicaram que sim – Alguém aqui é rico? – os jovens riram – Pois é... – caminhou em direção ao púlpito mas não subiu até ele – Todos aqui são pobres. – olhava para os presentes – Só isso já é suficiente pra que muitas portas se fechem diante de vocês! – seu tom era firme – A maioria aqui é negra, como eu! – apontou para si mesma – E isso já basta pra que muita coisa ruim lhes aconteça! – gastou uns segundos calada – Vocês querem ser pobres e humilhados a vida inteira? Digam pra mim! – pediu
--As humilhação acaba quando os homi chega, tá ligada? – um rapaz respondeu – Aí quem humilha é o Comando!
--Com arma não mão ninguém folga com nóis! – outro jovem afirmou – Já é! É nóis! – vários adolescentes aplaudiram essa fala
--Tá certo... – Elza aparentemente concordou – Vocês falam do tráfico, da violência, certo? – sorriu para aqueles que se manifestaram – Não sei se vocês sabem, mas o Vale do Paraíba é a região mais violenta do estado de São Paulo. – informou – E “os homi” – fez aspas com os dedos – têm papel central nisso. – pausou brevemente – E vocês sabem qual a expectativa de vida “dos homi”? – sorriu – Vinte e três anos! – percebeu que os jovens ficaram pasmos – Vocês acham que vale a pena uma vida tão curta? E uma vida curta que se encerra da pior forma! – falava com ênfase – Uma saraivada de tiros na cara, um corpo incendiado junto a pneus, uma cabeça cortada depois de uma sessão de tortura... – balançou a cabeça negativamente – Vale a pena isso, pessoal? – voltou a circular no meio do público – “Os homi” podem ter moral pra esculachar a polícia, que geralmente vocês detestam, podem ter dinheiro pra andar com carrão, com roupas caras, adereços da moda, mas eu lhes digo: eles NÃO têm paz! Eles NÃO podem confiar em ninguém! – sorria – Vocês realmente acham que isso vale a pena? – provocou – E as garotas? Vocês também podem ser “as mulé” do tráfico, andar por aí todas no salto mais alto, cheias de homens, mas... – gesticulou brevemente – Sinto muito, mas também não vão durar grande coisa! E se decidirem por serem simples amantes “dos homi” ainda vão ter que aturar a obrigação de passar de mão em mão quando seu protetor morrer! – suspirou – Sinceramente? Isso não é vida!
--Mas o que sobra pra gente? – uma jovem respondeu desaforada – Estudar aqui, arrumar um empreguinho e passar a vida recebendo salário mínimo? – provocou – Eu não quero viver no perrengue igual minha mãe viveu a vida toda não!
--Nem eu! – vários responderam
--Mas também não querem morrer cedo da forma que eu falei, não é verdade? – Elza provocou mais uma vez – Ninguém precisa ficar penando e recebendo salário mínimo a vida inteira, pessoal! – circulava junto aos jovens – Ninguém precisa portar arma na mão pra ter respeito! E é exatamente por tudo isso que eu e meus colegas militares estamos aqui, pra explicar isso pra vocês! – estimulava – Meu pai foi menino de rua mas saiu da esparrela em que vivia pra ser militar! E hoje ele é um primeiro sargento, especializado em mecânica fina pela Aeronáutica, servindo num dos locais mais nobres que alguém poderia, que é o nosso Instituto Tecnológico, onde também sirvo! – sorriu – Eu sou primeiro tenente, já fiz um monte de coisa da hora, moro numa boa casa, com segurança, tenho meu carro, tô terminando meu mestrado e já tá tudo certo: vou fazer um doutorado no exterior em 2004, ou seja, no ano que vem! – afirmou com satisfação – Meu pai e eu somos negros, nada nos veio fácil, mas a gente conseguiu! Por que não vocês? Hein? – pausou brevemente – Será que vocês teriam interesse em ver a apresentação que preparamos pra mostrar pra vocês? Porque a gente não preparou à toa! A gente fez isso por saber que vocês têm condições de entender e de mudar de vida a partir do entendimento!
Os jovens mostravam-se mais receptivos.
--Tenente Luiza, por favor. – Elza fez sinal para a colega que estava diante do computador – Vamos começar! – sorriu com satisfação
São José dos Campos, estado de São Paulo
--Eu fico puta, vou te contar! – tenente Daniela reclamava no banheiro – Eles ontem me deixaram meia hora esperando e aí tive que sair mais tarde e peguei o maior engarrafamento porque a Dutra tava uma merd*!
--E eu que tava de serviço anteontem e cabo Nunes me arrumou de ficar fazendo gracinha com os colegas na hora do almoço? – tenente Bianca reclamava – Aí torceu o pé e me deu o maior trabalho!
Elza terminava de escovar os dentes e pegou papel para secar a escova e o rosto. – Pois então, colegas... – guardou a escova de dentes na bolsinha -- Quando eu conduzo os subordinados sob a minha voga rosca fina, dentro do mais legítimo lema da hierarquia e disciplina, o que vocês dizem? – olhava para as mulheres através do espelho – Elza é dura, Elza é má, Elza é isso, é aquilo... – achou graça -- E vocês, que são boazinhas demais, recebem o que? – jogou o papel na lixeira – Eu não fico no banheiro reclamando porque não tenho do que reclamar. – deu tchauzinho para as outras – Até mais! – abriu a porta e saiu
--Sabe que eu começo a achar que ela tem razão? – tenente Flávia comentou com as outras – Infelizmente, parece que muitas pessoas precisam ser levadas na rédea curta pra se comportar como devem! – ajeitou o cabelo – Quando a gente é boazinha demais, eles não respeitam!
As demais ouviram e ficaram pensando.
***
Elza acompanhava um grupo de soldados que pintavam o muro da Organização Militar debaixo de sol forte. Marcando atentamente cada um deles, não dava tréguas para que descansassem.
--Os senhores estão cientes de que esse muro tem que estar todo pintado até às 15h de hoje e nem um minuto a mais! – caminhava com as mãos para trás – Espero que prezem por suas carreiras e não desejem ser punidos novamente por mais uma contravenção disciplinar!
Os homens nada respondiam mas resmungavam baixinho reclamando.
Yara seguia de ônibus em direção ao Instituto. Na rodoviária da cidade havia recebido instruções sobre qual condução pegar para chegar aonde desejava.
“E como será que se encontra alguém chegando lá?” – pensava – “Será que se eu abordar os soldados que devem ficar de guarda na porta eles me ajudam?” – questionava-se – “Ou será que é melhor eu ficar esperando na porta até ver ela sair?” – pensava nas opções – “Mas quantas saídas será que têm e qual será o carro dela?” – coçou a cabeça – “Ô, minhas sete chagas, que trem complicado!”
Para surpresa da indígena, reconheceu a negra do lado de fora junto aos soldados que trabalhavam na pintura. – Ih, olha ela lá! – levantou-se – Motorista, onde eu posso descer por aqui, hein? – perguntou ao homem
Após descer do ônibus, Yara correu para alcançar a mulher e novamente se surpreendeu com o que percebeu.
--Tenente, tá muito calor! Será que a gente pode parar um pouco? – um dos rapazes perguntou
--Só uns quinze minutinhos já bastavam! – outro comentou – Nunca se viu um mês de maio tão quente assim!
--Sinto muito mas a resposta é não! – respondeu com firmeza – A menos que os senhores prefiram receber outra punição ao final do dia. – considerou – O que vai ser?
Os homens nada responderam e continuaram trabalhando.
“Meu Deus, como trata os subordinados desse jeito?” – Yara pensou decepcionada – “É isso que ela chama de hierarquia e disciplina?” – aproximou-se desconfiada – Elza? – chamou
Sentiu o coração acelerar mas controlou as emoções. – Você? – olhou para a outra forjando uma expressão fria – O que faz aqui? – perguntou sem muita simpatia
“Ave Maria, que recepção calorosa!” – pensou novamente decepcionada – Eu vim pra... conversar com você. – aproximou-se reticente
--Acho que não temos assunto pra conversar. – voltou a olhar na direção dos homens – E se não percebeu, estou trabalhando.
--Oprimir é sinônimo de trabalhar pra você? – parou ao lado da militar
Ficou indignada. – Estes homens faltaram ao trabalho ontem porque passaram a noite na farra! – justificou-se – O que faço aqui é garantir que isso não mais se repita, além de deixar claro pros outros que o exemplo deles não deve ser seguido! – falava com firmeza – Numa Organização Militar se tem ordem e as pessoas trabalham! Não é como em certos empregos que se pode faltar ao bel prazer sem que nada aconteça! – jogou a indireta
A indígena magoou-se com o que ouviu. – Fui descontada por minhas faltas e atualmente estou de férias! – respondeu chateada – E também sou uma idiota de ter me abalado de tão longe só pra te ver!
--Eu nunca te pedi isso. – mantinha-se atenta aos homens – E tampouco fazia questão de uma visita! – falava com mágoa – “Fica aos beijos com Renata e depois vem me procurar?” – pensava desaforada – “Vá pro inferno!”
--É verdade... Você nunca me pediu nada... – pegou uma das mãos da negra e entregou-lhe uma caixinha – Mas isso aqui é seu! – os olhos se encontraram – Agora você joga fora! – controlava-se para não chorar – Da mesma forma como nos jogou fora nesse momento! – despediu-se com os olhos e partiu em silêncio
Elza virou-se para trás e acompanhou a indígena com o olhar até perdê-la de vista. Desconcertada abriu a caixinha e encontrou um papel dobrado, debaixo do qual um cordão de prata com um crucifixo se encontrava. Olhou para todos os lados e abriu o papel para ler o que estava escrito.
“Minha mãe me disse que ganhou um terço de uma missionária que escapou da morte na região do Araguaia. Segundo a mulher, o terço deveria ser dado a alguém que houvesse renascido e por isso mamãe o recebeu. Como também renasci, ela me deixou como herança. O tempo passou, o terço se desfez mas sobrou o crucifixo, que transformei em pingente e entrego a você, que renasceu igualmente. Vida longa à Elza Machado e muitas felicidades abaixo de Deus!
Com Amor,
Yara Saraíba”
Elza dobrou o papel rapidamente, colocando-o no bolso da farda. Fechou a caixinha e continuou atenta observando os soldados. Mantendo-se aparentemente firme, chorou por dentro a sensação de mais uma dolorosa perda.
Yara caminhava com os olhos úmidos mas não se permitiu chorar. Aceitava o fato de que amou, sonhou e, mais uma vez, perdeu.
Fim do capítulo
Música do Capítulo:
Adaptação de [1] Lady Laura. Intérprete: Roberto Carlos. Compositores: Roberto Carlos / Erasmo Carlos. In: Roberto Carlos. Intérprete: Roberto Carlos. Discos CBS, 1978. 1 disco vinil, lado A, faixa 4 (4min05)
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Femines666
Em: 01/04/2023
Adorei a Liga da Justiça! Emocionada com o caso da Kedima... Então Renata tinha que fazer o que fez e Elza tinha que se trancar na concha! De novo!!!
Autora, que final foi esse?? Doeu lá dentro! Chorei por dentro e por fora!!!!
Solitudine
Em: 08/04/2023
Autora da história
Olá querida,
Esse veio repetido.
Beijos em dobro!
Sol
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Femines666
Em: 01/04/2023
Adorei a Liga da Justiça! Emocionada com o caso da Kedima... Então Renata tinha que fazer o que fez e Elza tinha que se trancar na concha! De novo!!!
Autora, que final foi esse?? Doeu lá dentro! Chorei por dentro e por fora!!!!
Solitudine
Em: 08/04/2023
Autora da história
Olá querida!
Não se decepcione com a caipira. A história, assim como a vida, tem dessas coisas.
Espero que você tenha gostado daquilo que veio depois.
Beijos,
Sol
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Joabreu
Em: 20/12/2022
Boa tarde,
Nah!!!!! Um capítulo MARAVILHOSO que faz a gente chorar ao final autora? Cancela Renata porque a gente tá super shippando ElzYara!!
BBL I'll be backup, relax! ;)
Jo Abreu {}
Resposta do autor:
kkkkk
Calma, mulher! rs
Sabe que eu ouço muito falar desse fenômeno do cancelamento nas redes sociais mas não entendo bem como isso se processa. Eu vivo bem longe de tudo isso! rs
Obrigada por estar comentando com fé! E confia na caipira! Espero não decepcioná-la! rs
Beijos,
Sol
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Zaha
Em: 14/12/2022
Boa noite, Solvisky!!!
Então, eu tentei ler, não sei como estou hj, mas li, apenas que li e não fui escrevendo para não esquecer...tentarei colocar o que lembro. De não for do seu agrado, eu faço depois , pois esse capítulo tem muito o que dizer, muito sentimentos envolvidos de todos os lados, muitas realidades que divergem, o que um quer ver, o que um pode ver o que um decidi que essa é a verdade e nada mais, pois não de permite cair de novo. Deixa as mágoas passadas e medos presentes arruinar novas etapas.
Vamos falar de Machado e sua forma de falar..lembrou minha ex que adorava falar assim! Mas ela era seria e fechada....adorei as rimas que ele fez.. já começamos rindo...
Adorei que vc jogou um pouco de tema espírita, sempre gosto quando coloca algo desse tipo, sabe, quando alguém sofre um acidente e morre e vc mostra o outro lado essa rloutra realidade que só imaginamos e lemos, pois está esquecido.... Kedima viu onquebera importante, que ela era importante prós demais!! Teve a chance de falar com o marido e saber sobre a filha e saber que tudo tem seu tempo, o dela não chegou e o da filha, ainda não chegou pra ser ajudada....cheia de fluido vital, è certo que está num meio perigoso para outros utilizarem, mas isso é outra estória!!
Areia é muito importante, ela conforta, aquece, dá esperança aos espíritos que acham que foram esquecidos ou que não tem motivos pra voltar ou para serem resgatados do limbo, umbral....é importante!!! Pedir assistência por essas almas faz um bem enorme...
Yara foi a força pro grupo, não desistiu e no capítulo anterior vimos que Elza a ajudou a renascer, ela sempre recomeçará!! Alguém que sofreu e foi abandonada sempre encontrará a forma. A cura n é deixar de sofrer e sim aprender a lidar melhor com as vicissitudes da vida, ter novas ferramentas. Yara tem conseguido aos poucos essa cura. Kedima com seu amor lhe ofereceu isso...agora com o que Yara conquistou no tribunal, ficou muito melhor!!!
Então, sobre Elza e Yara... Algo que Kedima disse sobre projetar...sempre fazemos, olhando no outro o que gostaríamos, mas é certo que a dor TB nos acerca e de algo que poderia ser apenas companheirismo e parecer amor, realmente com o tempo pode ser muito mais!!! Eu acho que elas podem ter mais ou só menos derem boas uma para outra no processo de curs que essa Renata deixou, que o racismo deixou que o abandono deixou... Em meio a tantas perdas das duas, elas serão a união! Nada é coincidência, não existe ... A sincronicidade sim! Tudo que existe no universo é sincronicidade para mim! Estamos todos ligados por fios invisíveis e de uma forma ou de outra nós reencontraremos ou a pessoa correta pra mudança.
Que mais posso falar de Yara . Sim ela falando de Elza, muito bonito e vc intercalando as palavras sobre a outra, uma falando o mesmo. A mesma admiração, caminhos opostos, ideias opostos, mas lutas iguais. Uma com o poder militar e a outra ganhando poder através do povo!!
Sobre ser tão diferentes....tive uma ex, essa mesma que falei acima, nad assumida e eu era super assumida, nossa relação nesse sentido nunca teve problema. Não acho que isso seja um impedimento. Tudo se pode moldar, ser trabalhado e com paciência ser resolvido ou se adaptar uma a outra. O importante não é sair mostrando ,é o que elas tem juntas!!!
Sobre Elza. Vamos falar primeiro sobre a forma como trata deus subordinados. Ela pensa que as outras são molengas por isso faz o que querem, é certo que se vc deixa alguém fazer o que quer sem consequências n se aprende, n muda o comportamento, tampouco usando do poder, ela n tem ordem, ela gera medo, n respeito! Tem que encontar um meio termo e ser assertivo
Sobre o que Renata fez, bem, ela vive do outro não? Tem benefícios pelo o que o outro fé,... Como se chama o bicho esse que fica em outro vivendo dele? Esqueci....pois ela é isso! E aproveitou pra dar um beijo e irritar Yara. Bem, as coisas ficaram feias ali e pra Elza que só pode ver uma parte do iceberg....
Nesse capítulo vimos muitas realidades, n?! Kedima, Yara, Elza....Elza já é esquentada, acostumada a ficar na defensiva por ter sofrido muito. Medo de amar e n sabe o que fazer com o que sente, buscou o caminho fácil. Viu, n conversou bem sequer quando Yara foi vê-la. Costumamos ferir quem amamos usando de algo que sabe que vai ferir, Elza fez isso com Yara...usou o que já n gostava dela, mas quando viu outras qualidades, deixou de lado. Mas acho que Yara foi mais leve, foi, deixou o que tinha levado, poderia bem ter dado, mas algo pra Elza refletir....ainda não pode porque ela só viu uma realidade e com Renata ainda .. pensou, dps de tudo, que Yara poderia ter sido absorvida pelo poder,? Desde quando? Ela teve muitas oportunidades e nunca o fez, mas Elza continua MT ferida por Renata e juntou tudo, rancor, medo....mas é assim! Temos muitas realidades na vida, nós mesmo vemos tantas em nós mesmos , sobre quem somos, quem o outro é, todo o tempo, mesmo vivendo juntos sempre passa. Afinal o que são as brigas senão realidades que vemos diferentes e uma parte? As brigas n começam por aí? Eu penso que sim...as guerras TB!
Eu não sei como foi essa análise, eu tentei lembrar do que li... Mas gostei muito, não, adorei, mais que isso, amei o capítulo e essa realidade. Olha aí, tudo é sincronicidade, n foi o que acabei de fazer outro dia?? Nada é por acaso, minha leitura foi no momento que devia ser....eu demorei TB dps do que passou pq achei que nbooderei falar de Elza sendo que muitas vezes só vejo o iceberg. Mas sempre vemos....nossa vida toda a gente vê uma, morremos e vemos outra ...
Bem, querida escritora, sabe que passe o que passe.. posso tá com a pá virada, mas sempre volto pq vc me faz querer voltar com sua calma...posso sair falando com alguém pra desabafar com o intuito de tranquilizar -me, mas estou.
Sobre minhas meninas... tudo passa por uma causa, o momento delas ainda vai chegar. Poderão conversar, aprender!!!
Vamos ver o que o futuro nos diz....
Beijos carinhosos
Resposta do autor:
Olá Lailikii Dahab Doré Superb!
Eu nunca fica insatisfeita com seus comentários. Só fico triste quando briga comigo, mas fora isso, adoro o que escreve para mim! rs
Você gosta do sargento, não? Ele é uma boa figurinha!
História de caipira não pode faltar com certos temas e um deles é essa parte espírita, que eu puxo mais ou menos a depender do que o conto que me pede. Tem outros ingredientes que sempre entram nos contos e creio que você já deva ter percebido todos eles quais são.
Gostei do que falou sobre Elza e Yara. Sempre gosto dessas análises. Sobre Elza e o exercício da autoridade, ela entende que uma liderança deve trabalhar pelo exemplo em seu comportamento e pelo rigor, com irrestrita obediência às regras. E daí vem a dureza com a qual ela trata as pessoas quando entende que as regras foram descumpridas. Além de ter sido criada sob este entendimento, embora Machado não seja um homem durão, ela também concorda com essa forma de pensar.
Elza e Yara têm suas dores e suas defesas. Elas se protegem de formas diferentes, mas nesse processo acabam vendo o que não existe ou não vendo o que está posto diante de si. Elas também têm seus preconceitos que se somam nessa confusão toda. Ou seja, nada que todas nós também não façamos de uma forma ou de outra.
Isso! Vamos ver o que o futuro nos diz!
Beijos caipirescos,
Sol
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Zaha
Em: 14/12/2022
Hola, Samirão!!
Don't sorry, be happy!
Já atualizei nos devidos lugares, já dei uma nota de porque favoritar a autora e favoritar a estória! Do meu jeito delicado.... No condicional, não imperativo!! :) Tem melhores resultados!!!;D.
Lerei mais adiante os dois capítulos!! Antes que me diga algo .Hahahaha
Vi que tiveram 16 comentários...isso aí, multiplicando!!
Parabéns pra caipira que escreve tão bem e você por apoiar sempre sua escrita!
Cuide - se!
Beijos
Resposta do autor:
Olha que as duas estão até trocando mensagens!
Muito bonitinhas, é isso aí. Quero ver todo mundo amiga e cheia de força!
Beijos,
Sol
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Alexape
Em: 13/12/2022
Acredita que eu não tinha visto essa história rolando ao vivo e a cores? Lesadona eu! Maratonei e cheguei aqui. Vou ficar acompanhando.
Vou ler em paralelo a COVIDE que me pareceu com carinha de série curta da Netflix. Depois passo pra Autora. Em busca do tao fica por último porque me disseram que tem que ter lenços. Até mais!
Resposta do autor:
Olá, tudo bem?
Obrigada por ler este conto e ainda se dispor a ler outros. Não sei se você realmente vai achar que CONVIDE-0 tem cara de série da Netflix mas espero não decepcionar muito. rs
Espero que continue disposta a acompanhar e voltar aqui para me dizer o que achou.
Beijos,
Sol
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Samirao
Em: 11/12/2022
Fiz o que me pediu habibem e apaguei o coment. A solucionática da problemática não sei dar porque não consegui ver essa problemática. Tô super resting in peace sem ter morrido! Huahuahua
Vi que a maluca desaforada acabou de postar mas como se despediu vou considerar que não veremos essa figura por aqui ever again. Bjuss
Resposta do autor:
kkkkkk
Fique tranquila e continue resting in peace sem ter morrido! kkkk
Obrigada por ter feito o que pedi! E obrigada por postar os capítulos, mas não precisa dos adendos pedindo favoritações e comentários! rs
Beijos,
Sol
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Ugly
Em: 11/12/2022
Eu já gosto de uma intriga e ver a porrada comer! Tá melhorando. Me despeço e te desejo sorte na vida porque aqui já era.
Resposta do autor:
kkkkkkkk Já era mas você não deixou de vir!
Vai lá. Boa sorte também e cuidado com tanta intriga!
Beijos,
Sol
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Marta Andrade dos Santos
Em: 11/12/2022
Eita Renata que peste.
Resposta do autor:
Olá querida!
Como diria aquela canção, Renata tem sido uma verdadeira loura Belzebu! rs
Beijos,
Sol
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Vanderly
Em: 10/12/2022
Sol, olha eu aqui de novo!
E para não correr o risco de esquecer já vou logo ao quê interessa.
Quê maravilha! Dona Kedima voltou! A curnicha da Yara estão salvas. Risos.
Quê coisa linda! As duas confidenciando com os amigos!
Peraí! Autora quê sacanagem foi essa da Renata? Atrapalhou a Yara com a Elza! Poxa!
Yara sua lerda, porquê não enfiou a mão na cara dessa pilantra?
Elza do céu, entendeu tudo errado. Podia ter esperado mais um pouquinho né.
Coitada da Yara. Autora volta aqui e faz a Elza se arrepender e correr atrás da Yara. Fernandão bem podia ajudar né?
Bom, eu acredito que um amor assim não vai terminar por causa de um beijo sem significado.
Essa Renata tem quê caí logo. Não pode deixar as coisas assim.
Volta logo pra resolver isso dona Sol. Kkkkkkk
Gosto de beijos, mas abraço é algo que me fascina.
Ótimo domingo pro cês aí!
Abraços!
Vanderly
Resposta do autor:
Olá querida!
Eu não disse para confiar na caipira? Nossa velhinha voltou cheia de força e mais danadinha que nunca!
As confidências síncronas... sincronicidade é algo que presto muita atenção e que não costuma acontecer ao acaso. Lailinha e eu conversamos muito sobre isso aqui.
Renata de uma de papagaio de pirata e o problema foi que Elza julgou muito precipitadamente. Um coração ferido tem dessas coisas.
Yara não é dada a violência, ela apenas empurrou a loura. Mas, lembremos que a Imprensa, em muitas ocasiões, manobra os fatos para contar a versão que quer. Mesmo se um tapa tivesse sido dado, talvez o momento tivesse sido cortado da filmagem para não desmanchar a finalização que entenderam melhor para a matéria.
Vamos ver como as coisas seguirão. Ainda temos um longo caminho. rs
Confia que a caipira sempre vem. Mesmo com a vida de cabeça para baixo.
Assim sendo, vamos atender às duas:
Beijos e abraços,
Sol
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kasvattaja Forty-Nine
Em: 10/12/2022
Olá, tudo bem?
Triângulo, trilátero... No polígono, ''dois de seus lados não podem cruzar-se e a figura não pode ter abertura''. Solitudine, querida Autora, você ''ferrou'' com as vidas de nossas meninas... Kasvattaja ficou com um dó que só vendo, mas acha que será melhor para as duas...
Agora, Autora, ''paredón'' para essa louca da Renata...
Kasvattaja só acha!
Esperemos os próximos passos — teremos um quadrilátero? — de Solitudine que parece estar preparando mais ''tombos'' para a história...
É isso!
Post Scriptum:
''Apenas seguir em frente.
Primeiro, porque nenhum amor deve ser mendigado.
Segundo, porque todo amor deve ser recíproco. ''
Martha Mattos Medeiros,
Escritora
Resposta do autor:
Olá queridíssima!
Você anda muito enigmática em seus comentários. A caipira fica sem entender se a Kasvattaja gostou, não gostou, detestou ou odiou. Pode falar, é porque a caipira é burrinha! rs
Ora, não diga isso. Eu não ferrei com a vida delas. As duas já viveram fases muito pesadas e estão até bem, mas como a vida sempre carrega suas vicissitudes, ambas sofrem com um amor que lhes remete à dores antigas e mal resolvidas dentro da alma. Ninguém está ferrada, apenas desiludidas de amar quando este Amor se refere a um relacionamento a duas.
Paredón! kkk Renata, assim como todos nós, cava a própria cova com suas atitudes mesquinhas. Mas, do que você já conhece da caipira, sabe que ela não abandona ninguém.
Um quadrilátero também é um polígono, então já foi representado. rs Teremos muitas coisas, mas não preparo tombos. A história, assim como qualquer uma que já escrevi, segue o fluxo do Tao. Eu posso até ter algum ponto final em mente, mas nem isso é imutável. A narrativa tem vida, também muito influenciada por vocês, que dialogam comigo. Eu posso te dizer que sei o que quero mostrar, mas o como, para variar, não está definido.
Meu lado Zinara: planejamento só no trabalho, porque sou obrigada, nas contingências e grandes viagens (estas últimas, de forma limitada também). Em tudo mais, deixo fluir.
Agora seja boazinha com a caipira e me dê uma luz sobre o que você está achando, porque ainda não captei. rs
Beijos,
Sol
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Dandara091
Em: 10/12/2022
Alô autora!
Deu tristeza! Crying...
#elza&yaradenovo
#renatavaipraporra
#ligadajusticamedefenda
Resposta do autor:
Olá querida!
Sim, esse capítulo terminou com uma dor nos corações.
Eu adoro essas suas ideias! Liga da Justiça me defenda, kkkkk Renata vai pra porra!kkkk
Beijos,
Sol
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Mille
Em: 10/12/2022
Oi Sol
Essa Renata merece uma porrada, agora mais alguns anos para a Elza e Yara ter uma nova oportunidade de ficarem juntas.
E como não chorar por esse desencontro delas.
Mais acho que tem um motivo e logo sabemos.
Bjus e até o próximo capítulo um ótimo final de semana
Resposta do autor:
Olá querida!
Tudo bem?
Ri muito quando li que "essa Renata merece uma porrada"! kkkk
Vamos ver o que virá. Continue aí! rs
Beijos e ótimo final de semana!
Sol
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Seyyed
Em: 10/12/2022
Cararra caipi tu é foda! Primeiro deixa a gente doida de felicidade agora mata nós com esse break up graças à porra da Renata puta merda! Pior que na vida tem disso! Pelo menos ri com Machado certas coisas que dons Kedima falou e o caso da Fernandão com a viúva casada hahaha Elza vai pro doutorado no ano seguinte e estamos em 2003. Teremos um salto no tempo? Volta logo e responde senão é greve!! Hahaha
Resposta do autor:
Olá querida!
Não sou eu é a vida! Esses altos e baixos acontecem por coisas que não controlamos e também por nossa índole geramente precipitada. A gente sempre acha que está vendo tudo, que percebe tudo e comete muitas falhas de julgamento.
Fico feliz que meus amiguinhos a divirtam. Eles também me divertem.
Teremos um salto no tempo? Não sei. Estou pensando, estou vendo.
Beijos e obrigada pela presença constante!
Greve? kkkk
Sol
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Irina
Em: 10/12/2022
Kotinha!!
Meu Deus, o que foi isto dentro do meu peito? Este conto tem o dom de deixar-me impactada sob aspectos diversos.
No final, estive a chorar... Penso que o assessor da Renata desvendou o capítulo inteiro em uma fala: "O importante não é o que é, mas o que parece ser..." Eis o mal das nossas amadas. Estiveram e estão a perder-se no que lhes pareceu ser.
Aguardo o próximo ansiosa!
Com estima,
Irina
Resposta do autor:
Olá querida!
Esse conto prendeu você, não? Espero continuar neste ritmo para mantê-la interessada e participativa! Estou gostando muito desssa interação!
Perfeito!!!! Você captou perfeitamente!
Nossas amadas são como a maioria de nós: ante uma pequena parte de um mapa creem conhecer o território.
Beijos e tudo de bom!
Sol
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Young
Em: 10/12/2022
Oi Solzinha,
Terminei sem palavras! Essa história é como todas as suas, muito linda, divertida e emocionante!
O que esperar de Elza e Yara agora? Volte logo por favor! Fiquei com peninha delas!
Detesto Renata!
Beijim,
Young Cy
Resposta do autor:
Olá querida!
Fico feliz que continue lendo e gostando. Obrigada pela gentileza!
O que esperar? Tenha calma, há muito por vir!
Renata não tem sido muito simpática de fato! rs
Beijos,
Sol
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Samirao
Em: 10/12/2022
Amoreeee esse capítulo bateu fundo! Elza viu a realidade torta que a TV mostrou e acreditou nela. Aí endureceu ainda mais e quando encontrou Yara, ficou parecendo que ela era só isso aquele rigor frio uma pessoa vazia de sentimentos. E nessa hora foi Yara que se machucou e decidiu dizer um adeus sem palavras. Você acaba comigo quando faz essas coisas... mas eu gostho! Huahuahua Também achei lindo a parte da Kedima e me diverti com Fernandão e viúva casada de mesa e banho. Já sei até quem te inspirou nisso huahuahua bjuss
Resposta do autor:
Olá querida!
É verdade, elas viram parte dos fatos, de acordo com o ângulo de visão de cada uma. E foi o suficiente. A gente funciona igual, não é isso?
Eu acabo com você? Se a consola, também me emociono com certas coisas! rs
Já sabe quem me inspirou na história do cama, mesa e banho? Acredito. Eu nunca esqueci daquele trem! kkk
Beijos,
Sol
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Dessinha
Em: 09/12/2022
Impressionante... e não foram só elas que derramaram lágrimas, por dentro ou por fora.
Impressionante é a palavra para essa estória sensacional.
Resposta do autor:
Olá querida!
A caipira do lado de cá também se emocionou. rs
Obrigada por seu carinho e gentileza.
Beijos,
Sol
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Solitudine Em: 11/11/2023 Autora da história
Esse é o início do labirinto!