Olá meus queridos, tudo bem com vocês?! Nossa, nem estou acreditando que finalmente estou postando a atualização dessa fic. Que saudade danada que eu estava disso aqui. Bem, como nem todo mundo lê a spin-off vou deixar aqui o mesmo recado que postei por lá sobre a minha demora.
Fora o já conhecido por vocês teve um contratempo completamente inesperado. Creio que a maioria sabe que tenho um ateliê pequeno, onde produzo peças artesanais já há algum tempo e essa tem sido minha principal fonte de renda. Pois bem, uma chuva muito forte que teve por aqui acabou fazendo o teto despencar e com isso perdemos praticamente todos os materiais e encomendas que estavam prontas e em andamento. Tem sido dias bem complicados, sério mesmo, mas estou tentando não pensar nisso demais e focar em frente.
Fora isso estive trabalhando paralelamente em um conto original que lancei especialmente na Amazon, ele esteve gratuito por um pequeno período, mas está disponível para os assinantes do kindle unlimited. Essa é uma forma de colocar a cara no mundo antes de postar a original de Fios do Destino e quem sabe conseguir consolidar leitores por lá também. Vou deixar o link disponível para leitura e se não for pedir muito deixem a avaliação de vocês seria muito importante pra mim, de verdade, e me ajuda com o ranking do site.
Link: https://www.amazon.com.br/dp/B09581BN96
Recados dados... Boa leitura a todos!!!
O reencontro em Esparta
Clarisse não sabia o que esperar quando a ordem precisa de sua rainha foi comunicada. Não era algo corriqueiro, mas assentiu prontamente, seja qual fosse à necessidade de sua senhora, faria o possível para não se ausentar de suas obrigações por muito tempo; contudo, tinha de admitir que tal encontro lhe deixava animada... Já se passara pelo menos duas primaveras desde que fora enviada para os domínios do Vale das Sombras, os rostos de amigos, irmão e tutores lhe vinham apenas como lembranças boas, pois todo o período que teve que sobreviver naquele local inóspito fora de total reclusão, aguçando seus instintos mais primitivos.
Não tardou a dirigir-se a residência que vivera parte de sua infância. Tudo lhe parecia exatamente igual e por instantes - se fechasse os olhos - conseguia reviver as disputas infantis e fervorosas entre ela e Mark.
-Clarisse...
A voz já conhecida pela jovem tirou-lhe de seus doces devaneios, os olhos verdes pousaram sobre a figura austera da rainha Gorgo.
-Minha senhora. - pronunciou-se da forma respeitosa de sempre, fazendo uma pequena reverência aquela a quem tanto estimava.
A mais velha aproximou-se em seu caminhar elegante e sorriu de forma poucas vezes vista por terceiros, mas que aquecia o peito da jovem guerreira que tivera a honra de dividir os poucos momentos como aqueles.
-Tenho orgulho de quem você se tornou... - comentou lhe segurando o rosto de traços agora mais firmes. Clarisse além de ser a única mulher no exército, também era a oficial mais nova a conseguir concluir o treinamento, enfim poderia assumir o manto escarlate que tanto almejara desde a infância. - sempre soube que conseguiria, que mostraria a todos o seu valor, como uma verdadeira espartana. - beijou-lhe a fronte com extremo carinho, todavia, a semideusa não era mais a garotinha que um dia protegera com os seus braços.
As duas seguiram de forma silenciosa até o gineceu, um local normalmente dedicado às mulheres da casa, mas que fora pouco frequentado pela filha de Ares. Em condições normais era ali que a princesa de Esparta se dividiria entre a rotina de estudos e exercícios com a própria rainha ou alguma preceptora, contudo a menina fora retirada prematuramente de seus cuidados, assim como seu filho mais velho, para ingressar no treinamento militar.
Fora conduzida até os aposentos pessoais da rainha e lá a mesma lhe indicou um dos clines, Clarisse obedeceu prontamente, sentou-se sem questionamentos enquanto a mulher se deslocava com toda a graciosidade que tão bem conhecida... Gorgo era uma mulher linda. Em sua túnica havia uma fenda até a coxa, algo inconcebível a outras tribos helenas, porém diferentemente das mulheres de outras regiões, as espartanas não se muniam de artifícios para realçar suas características, eram dotadas de um magnetismo natural, imponente, e eram totalmente cientes do que provocavam em terceiros, mesmo que sem qualquer intensão. Afinal não fora Helena o pivô da guerra de Tróia?
-Não desejo tomar-lhe o tempo... Mas te recordas do que disse quando partiu para iniciar o agogê?! - a mais velha quebrou o silêncio, oferecendo-lhe uma taça de vinho, para que ambas apreciassem o momento juntas.
Clarisse tomou um gole considerável antes de fazer um singelo movimento com a cabeça, não precisou vagar muito por suas memórias para recordar-se das palavras.
-"Seja forte, honre o sangue que corre em suas veias... Cumpra com o seu treinamento, quando estiver pronta tenho algo a lhe ofertar" - viu um singelo sorriso de satisfação surgir no rosto de sua senhora, indicava que estava certa em suas palavras, contudo dificilmente Clarisse esqueceria o que lhe foi transmitido.
Gorgo também apreciou um pouco da bebida que havia servido para as duas antes de dirigir-se até uma pequena urna, dos itens presentes no recinto, àquele em específico era o que mais chamava atenção. Mesmo que fosse de uma linhagem distinta, assim como o seu esposo, o luxo não era algo comumente visto entre os lacedemônios e isso se encaixava a todas as classes; logo uma urna como aquela era de atrair olhares mais curiosos.
-Agora você é um oficial de Esparta e como tal é merecedora de carregar este item em especial. - comentou Gorgo ao voltar-se para a semideusa e lhe designando o item em suas mãos.
Era uma adaga, com toda a beleza e peculiaridades de um item que passara por distintas mãos humanas, daquelas escolhidas pelos deuses. O olhar firme da jovem estreitou-se, como se de alguma forma não fosse a primeira vez que colocava os olhos sobre ela. Era uma adaga parazônio... A bainha retilínea trazia consigo detalhes dos olimpianos; ao retirá-la cuidadosamente, a lâmina possuía um brilho bonito e diferenciado, nem mesmo se fosse polida com todo esmero conseguiria aquele efeito espelhado e na empunhadura deixava clara a devoção espartana ao senhor do Olimpo; o prótomo de uma águia.
-Tem passado de geração em geração pelas mulheres de minha família... Não vejo momento mais oportuno para enfim designá-la a você. - o sorriso orgulhoso estampava novamente o semblante austero da rainha.
-Mas, minha senhora... - Clarisse não queria fazer qualquer desfeita, mas não se sentia honrada o suficiente para poder aceitar. - isso pertenceu a...
-A Rainha Helena... Filha de Zeus. - completou Gorgo. - uma semideusa assim como você.
~***~
Não podia negar o quanto era satisfatório ter os três semideuses ao seu lado novamente, mesmo que em condições nada amistosas e que não mais fossem apenas três crianças. Annabeth havia partido para o seu treinamento em Brauro com a deusa da caça e vida selvagem; já Perseu, desbravara o território de seu pai, algo que almejara desde muito cedo, e por mais que Silena fosse a mais próxima dos três, a filha de Afrodite também se encontrava imersa em mais atividades do que alguém como ele poderia gerir... Seja com os fiéis ou reforçando alianças próximas, principalmente com Corinto.
Mal puderam compartilhar de suas aventuras ao se reencontrarem quando Temístocles anunciara sua ida até o Peloponeso. Não tardaram a se colocarem à disposição, afinal o ateniense só possuía um motivo para aproximar-se da sua rival e isso envolvia o rei Leônidas e a inevitável invasão Persa. Cada um possuía uma vivência, ou informações relevantes a serem compartilhadas, porém o mais velho bem sabia que outro motivo tinha peso considerável na comoção gerada nos três semideuses e o motivo era Clarisse.
Soubera que a filha de Ares concluira seu treinamento em um período de tempo espantoso, impossível para qualquer homem que pisara sobre solo Lacedemônio e que também se passara poucos dias desde que Esparta retornara de uma campanha com honrarias, vinham fazendo um bom trabalho em manter os povos adjacentes em união, mesmo que a base da força.
-Chegamos... - informou o general enquanto os três conversavam em um trote mais lento um pouco mais atrás.
Annabeth, Perseu e Silena se olharam intrigados com o comunicado, afinal nada ali indicava a imponência de uma grande potência grega. Havia apenas grupos de hilotas trabalhando em suas atividades diárias, sequer aparentavam se importar com presenças tão distintas.
-Esparta sempre acreditou na força de seus homens, jamais ergueram muralhas ao seu redor. - comentou como se soubesse exatamente o que se passava na cabeça de seus pupilos. - paredes são consideradas nada mais que artifícios inúteis... Vamos.
Era algo louvável e corajoso, pensava a filha de Athena enquanto adentravam o território até então desconhecido para os três, no entanto, a jovem semideusa não poderia simplesmente se abster de olhares mais analíticos. Esparta era bonita e geograficamente isolada dos demais, o que fazia da pólis um local estrategicamente protegido pela natureza... O Peloponeso era conhecido pelos grandes guerreiros ali gerados, no mais, pouco se diferenciava de cidades-estados em ascensão. Os canteiros eram bonitos e bem cuidados, havia poucas crianças brincando e circulando como normalmente acontecia em localidades mais populosas, as construções eram singelas, nada de espetacular aos olhos como seria em sua tão amada Atenas.
Temístocles tomou à dianteira, guiando-os até uma residência mais bem estruturada que as expostas até então, havia alguns homens a postos e mulheres em seus serviços rotineiros, mas nenhum pareceu incomodar-se quando a pequena comitiva ateniense por fim deixaram suas montarias.
-Me pergunto quais seriam os motivos para receber visitantes tão ilustres.
Os olhares se voltaram para a figura feminina enquanto alguns servos se prontificaram em cuidar dos animais levemente fadigados da viagem. Era a primeira vez que Annabeth ia ao sul, mas sequer precisaria ter visitado a Lacedemônia para certificar-se que aquela era a rainha Gorgo.
-As notícias se espalham rápido. - ele aproximou-se e direcionou-se a mulher de forma respeitosa, o cumprimento foi replicado pelos três jovens que o acompanhavam. - soube do ocorrido com os emissários Persas.
-Terra e água... - uma leve curva surgiu nos lábios delicados ao lembrar-se com desdém da singela oferta exigida. - Clarisse e Leônidas deram a eles o suficiente.
Temístocles comprimiu os lábios em concordância, era óbvio que os Espartanos dariam uma resposta à altura, mesmo que os persas quisessem se valer do manto da lei da hospitalidade, absolutamente nenhum ser que vivesse sobre a terra deveria ter coragem para ofender a rainha e ainda acharem que saíram ilesos.
-Leônidas retornará em breve. - comunicou enquanto eram guiados para a área mais fresca do pátio, onde os servos ocuparam-se em colocar clines e almofadas coloridas para que os viajantes descansassem. - as atuais circunstâncias o levaram até o oráculo.
**
Gorgo aproveitou-se da companhia dos estrangeiros para escutar suas histórias. Beberam, comeram e conversaram como se fossem bons amigos de distantes primaveras. Era estranho pensar que em condições adversas, provavelmente eles jamais estreitaram laços daquela forma.
Perseu era um jovem visivelmente inquieto, os cabelos escuros que caiam até quase os ombros, um belo contraste com os olhos vívidos como um mar turbulento. Mas sua atenção voltara-se de forma velada para as duas semideuses, conhecia Annabeth e Silena sem nunca tê-las visto antes, tudo graças a Clarisse.
A filha de Afrodite tinha uma beleza notável, como era de se esperar. Portava-se de forma elegante, o sorriso amigável passava a sensação de confiança e sua voz atraía a atenção com facilidade. Já a filha de Athena, bem, Gorgo conseguia entender o porquê de sua protegida ter tentado raptá-la quando ainda eram crianças. Annabeth tinha uma postura rígida, o olhar inflexível, falava com convicção, possuía aquela força peculiar presente apenas em líderes natos.
Contudo a rainha não os prendeu por muito tempo, bem sabia que a presença dos semideuses significava que além de seus afazeres eles também queriam ver Clarisse. Logo designou um de seus servos para que acompanhasse o quarteto até onde certamente encontrariam a filha de Ares.
Passaram por mais um conjunto de casas e construções, até mesmo a movimentação na ágora era moderada naquele dia, eram tempos difíceis, não tinham como negar, e até mesmo a destemida população da pólis parecia se valer do pouco tempo de calmaria que ainda lhes restavam. As maiores construções que encontraram no trajeto foram o templo de Zeus e uma gloriosa estátua de Ares acorrentado, que se fazia presente no centro político de Esparta; fora isso, o esplendor arquitetônico parecia se concentrar em um único lugar, nos ginásios destinados ao agogê e treino dos oficiais quando não estavam em campanha.
A estrutura possuía uma elevação natural devido o terreno. Circundado por um jardim impecável, com cores chamativas e árvores frondosas diversificadas. Um braseiro central com o desenho da letra "lambda" dividia a escadaria que levava em direção ao propileu e em cada lado possuía uma estátua, do lado direito havia um monumento dedicado a Héracles, de quem os espartanos acreditavam ser descendentes e do lado esquerdo o legislador Licurgo, a respeitada figura que implementara o rígido regime seguido até os tempos atuais com total disciplina.
O frontão era decorado com cenas de guerra que Annabeth não se recordou no momento, talvez algum período longínquo o suficiente para que apenas os grandes guerreiros recordassem. Seus olhos estavam presos aos mínimos detalhes do grande conjunto de colunetas, ao vermelho escarlate predominante nos tecidos das tendas que projetavam uma sombra apaziguadora e a imponente vista do taigeto ao fundo.
Os quatro seguiram o som distante, mesmo que ninguém os tivesse contido, sabiam que estavam sendo observados. Logo chegaram aos grupos que treinavam de forma firme e sincronizada com lanças, espadas e escudos, mais a frente outro par de espectadores assistiam a uma luta particularmente desigual em um ringue.
-Ora, ora... Se não são os nossos amigos atenienses.
O tom de voz chamou-lhes a atenção, mesmo que não fosse imediatamente reconhecível. De uma das colunas surgiu um rapaz de grande porte, como a maioria ali presente, trajavam apenas o subligar - que lhe cobria as partes íntimas - e parecia pouco se importar com isso, afinal estava em seu território. Os cabelos loiros eram curtos, porém cheios e ostentavam duas tranças nas laterais, e apesar da presença de barba singela proeminente, o sorriso fácil foi o que denunciou sua identidade.
-Príncipe... - porém antes mesmo de concluir seu discurso polido, o mais jovem lhe trouxe para perto com um meio abraço.
-E vejam só... Trouxe com ele belas companhias e um filhote de peixe. - brincou com uma leve piscadela para as meninas e bagunçando os cabelos do filho de Poseidon. - acho que alguém em especial ficará muito feliz com a companhia de vocês. - um sorriso charmoso e malicioso surgiu em seus lábios, ofertado aos semideuses antes que o mesmo voltasse para a luta no ringue. - Clarisse! - chamou em alto e bom som.
Voltaram-se novamente para o ringue, desta vez Annabeth pode identificar a filha de Ares no centro contra outros três. Trajava as mesmas vestimentas simples dos outros, a diferença era que também usava o estrófio para cobrir os seios. Sequer lembrava a garotinha com quem havia brincado na infância, Clarisse estava visivelmente mais alta e mais forte, as linhas do corpo eram bem marcadas pela camada de suor e a luz do sol. A movimentação precisa e o sorriso presunçoso demonstrava que não se importava com a quantidade de adversários... Possuía uma beleza feroz.
A espartana acabara de explodir um pontapé contra o peitoral maciço de um dos oficiais antes de acertar um soco preciso no que tentara se aproveitar de sua distração. A terra fora manchada de carmim e os resmungos sobre algum dente quebrado chegou aos seus ouvidos.
-Lembrem-se... Não existe honra maior para um espartano do que morrer ao lado dos seus. - os homens ao redor confirmaram, agitando-se pela primeira vez após o início da luta. - estão dispensados.
Ela deixou o ringue assim como os demais que logo se dispersaram para as atividades seguintes. Usou a água reservada em uma ânfora simples de terracota para se refrescar, lavando o rosto e em seguida o sangue seco que havia em suas mãos. Voltou seu olhar para os arredores, tinha quase certeza que escutara a voz do seu irmão mais velho e logo constatou que não estava errada, contudo, para sua surpresa, ele não se encontrava sozinho.
Sorriu com certa incredulidade, rapidamente jogou o manto sobre o corpo e o prendeu com um broche simples. Queria estar um pouco mais apresentável que o seu desinibido irmão para receber os recatados visitantes da Ática.
-Nem em meus melhores presságios imaginaria tamanha honraria para este dia. - ela fez uma breve reverência aos recém-chegados antes de estender a mão ao general, em um cumprimento firme e formal. - deu tempo de se masturbar enquanto via homens de verdade lutando, Perseu?!
-Tinha esquecido o quanto você é desprezível... - fingiu-se ofendido antes de se aproximar, o cumprimento foi um pouco mais amistoso, seguraram na altura do antebraço, como costumava fazer em tempos remotos.
A espartana foi surpreendida por braços delgados envoltos em seu pescoço, não necessitava abrir seus olhos para saber quem era; o perfume tão bem conhecido lhe invadiu os sentidos como uma boa lembrança. Sorriu contra os cabelos negros, antes de se deparar com os hipnotizantes orbes azuis.
-Não se anime tanto Clarisse, não vai querer mexer com uma sacerdotisa da deusa do amor. - brincou o irmão em tom sugestivo.
-Não creio... - falou em tom descrente, semicerrando os olhos verdes para a semideusa. - ser filha de Afrodite já não é tentação suficiente aos pobres mortais?!
Seus olhos se voltaram para a loira de olhos cor de chumbo, Annabeth quase não mudara com o tempo, o conjunto de características que tão bem conhecia ainda se faziam presentes na filha da deusa da sabedoria, mesmo que em traços mais maduros.
-Annabeth... - ofereceu-lhe a mão sem saber qual a melhor forma de se reportar à loira. Parecia que nem mesmo o tempo fora capaz de mudar o efeito que a semideusa causava sobre ela.
Mesmo com aquela pequena curva no lábio que indicava que estava irritada com algo, a ateniense não a rejeitou. Clarisse foi gentil ao depositar brevemente os lábios sobre a pele delicada, nenhuma palavra a mais se fez presente entre elas.
-Acho melhor irmos agora, o comerciante de cavalos não tem todo o tempo do mundo. - informou Mark fazendo notas mentais sobre toda aquela cena. Certamente lhe renderia alguns risos deixar sua irmã desconfortável.
Clarisse fez um breve sinal como se tal evento não tivesse lhe passado despercebido. Convidou os presentes para que lhe acompanhassem, trataria de forma breve com o negociante e assim poderia desfrutar um pouco da companhia dos velhos amigos com assuntos menos desgastantes até o retorno de seu rei.
Encontraram-se com o homem velho e franzino pelas proximidades do centro de treinamento, alguns outros oficiais já estavam pelas imediações, incluindo Jason, que agora era capitão dos cavaleiros e aquele que escolheria os próximos oficiais a compor a guarda real de Leônidas.
-É um animal muito arisco, não serve para a batalha... - resmungou fazendo seus apontamentos negativos enquanto outros dois homens tentavam conter o animal selvagem.
O comerciante tentava usar de toda sua habilidade de persuasão para convencer o oficial, mas ele estava irredutível.
-Eu o quero! - afirmou Clarisse ao se aproximarem um pouco mais, não lhe interessava qualquer outro animal que estivesse sob a posse do velho conhecido.
-Princesa! - a voz cansada e rouca de fez presente em tom mais animado.
Era o cavalo mais perfeito que a filha de Ares já tinha visto. Robusto, de personalidade forte, era tomado por uma pelagem negra que praticamente reluzia sobre o manto de Apolo. Mas o mais incomum eram os seus olhos, vermelhos como sangue.
-Não diga asneiras! - soltou Jason com descrença, sequer ele conseguira domar a besta selvagem. - quebraria o pescoço antes mesmo de conseguir montá-lo.
Clarisse pouco lhe deu atenção, ela queria aquele cavalo, podia sentir que pertenciam um ao outro e não seria Jason a lhe dizer o contrário. Ela adentrou a área de proteção com alguma cautela, os homens que estavam fazendo a contenção se afastaram para tomar algum fôlego após tanto esforço.
-Se quiser eu posso ajudar. - prontificou-se Perseu com um sorriso convencido.
Ser filho de Poseidon tinha suas vantagens, afinal, aprendera a domar cavalos antes mesmo de sair correndo pelas ruelas de Atenas. Entretanto o animal se pôs sobre as pesadas patas traseiras, indicando que não estava favorável a qualquer aproximação.
-Estranho... Não consigo me comunicar com ele. - apontou de forma curiosa, normalmente ele conseguia sem qualquer dificuldade.
Jason cruzou os braços, a gargalhada sonora e provocativa frente à tentativa pífia do jovem semideus... Era sempre bom ver um ateniense colocar a arrogância no rab* e recuar. Não poderia queixar-se de que o aviso não fora repassado.
Clarisse não recuou, balançou entre uma perna e outra tranquilamente. Como Dienekes lhe ensinara outrora, havia momentos para a força bruta e momentos em que tinha de se valer de sua persuasão... Até mesmo Héracles aprendera que força pela força não seria o suficiente para concluir os seus tão conhecidos "trabalhos".
-Não há o que temer garoto... Não lhe farei mal algum. - usou um tom mais ameno enquanto dava passadas diminutas na direção do cavalo, ele balançou a cabeça, o barulho havia deixado os demais sob alerta, mas a espartana não se incomodou. - eles não vão te machucar... Eles que temem você. - conseguiu alcançar uma das correias que anteriormente estavam sendo usada para conter o animal. - isso, muito bem... Muito bem. - estavam agora lado a lado, seus dedos afagaram próxima a crina e desceram pela extensão do pescoço. Apesar de arredio o animal não repeliu o toque. - tem belos olhos meu amigo, seríamos uma boa dupla contra os persas, o que me diz... Phobos?!
Obviamente não obteve resposta. Suas mãos ainda seguravam firmes nos arreios improvisados, mas já havia domado animais o suficiente para saber que aquele não lhe apresentaria qualquer risco. Sem perder mais tempo subiu mesmo sem qualquer proteção e manteve-se firme, o animal empinou mais uma vez, os cascos pesados batendo contra a terra e levantando poeira, mas Clarisse apenas curvou-se um pouco para lhe dirigir algumas palavras que apenas o cavalo e a amazona compartilharam.
-O que você disse sobre não conseguir?! - o sorriso convencido surgiu nos lábios da filha de Ares quando o animal atendeu ao seu primeiro comando. Jason fez apenas um gesto singelo com os ombros enquanto era obrigado a engolir o olhar de desafio.
O animal trotou até o pequeno grupo de forma ansiosa, como se esperasse um pouco mais do que simplesmente circular como um cavalo qualquer. Clarisse afagou-lhe o pescoço mais uma vez, também estava animada para ver do que ele era capaz.
-Que tal um passeio, filha de Athena?! - perguntou de forma sugestiva, quase como uma provocação. - mas entenderei se estiver com medo.
Ela viu a expressão de Annabeth mudar da habitual seriedade inalcançável para aquele tão conhecido olhar que tanto sentira falta e mantivera registrado dia após dia em sua memória... Aqueles mesmos olhos que traziam a força contida de uma tempestade. Sabia que estava ponderando não por medo, mas analisando meticulosamente cada pequena reação em cadeia de sua escolha; a temperança sempre balanceava sua personalidade forte. Todavia quando Clarisse lhe ofereceu a mão a ateniense não tardou em aceitar a ajuda para subir no animal, mesmo que ele não estivesse devidamente selado.
-Retornaremos em breve, ela estará em segurança general, tem minha palavra. - garantiu a espartana assim que sentiu as mãos de Annabeth contra a sua cintura. - nos vemos em casa, o que precisarem Mark estará à disposição.
-Assim espero, ou eu mesmo irei atrás do seu traseiro espartano. - brincou Perseu segurando na bainha da espada, ameaçando de sacá-la.
-Eu sei me defender muito bem, filho de Poseidon. Não sou nenhuma donzela indefesa. - pronunciou-se Annabeth, a sobrancelha levemente arqueada indicando que mais uma brincadeirinha do tipo e ele seria a donzela em perigo.
-Aconselho segurar com mais força, acho que nosso amigo aqui está bem animado para mostrar o que sabe. - comunicou a morena segurando com firmeza nas correias e dando o comando.
Annabeth não teve escolha quando as pesadas patas puseram-se a subjugar o solo, teria que segurar firmemente, ou a queda certamente viria. Rodeou a cintura da espartana com estabilidade quando Phobos se pôs a ganhar uma velocidade assombrosa.
Seu coração batia de forma descontrolada e a adrenalina corria em suas veias enquanto o vento assobiava e em seu rosto, fazendo seus cabelos dançarem no ar. Encostou o rosto contra a túnica da semideusa que conduzia o cavalo e a emoção misturou-se a um sentimento diferenciado até então, algo no cheiro de Clarisse lhe tranquilizava e fazia sentir-se segura, mas ao mesmo tempo não deixara de sentir o êxtase... Ela não havia experimentado nada parecido, nem mesmo quando estava nas caçadas com Ártemis e suas fiéis guerreiras.
Clarisse colocou uma de suas mãos sobre a de Annabeth, quase como uma forma muda de assegurar-se que a filha da deusa da sabedoria estava bem. Sentiu um formigamento que percorreu o seu corpo, só assim abriu os olhos e percebeu que a espartana havia reduzido aos poucos a velocidade.
-Esse é o Eurotas? - indagou em evidente tom maravilhado. Era uma bela paisagem contornada de uma vegetação fértil, a nascente corria pelo vale do Taigeto e era a principal fonte de água de Esparta... Era o rio mais puro entre a Lacônia e a Ática.
-Sim, há algum tempo eu queria compartilhar desta paisagem com você. - comentou sentindo que Annabeth havia novamente tomando alguma distância, mesmo que mínima, entre elas. - você veio em uma boa época, ele não se encontra muito seco e em períodos chuvosos torna-se difícil apreciá-lo desta forma.
Clarisse desceu primeiro para ajudar à loira, Phobos permaneceu quieto no processo. Segurou na cintura da ateniense que se apoiou nos seus ombros e logo estava em terra firme novamente, contudo não se apartaram, não de imediato... Levou os dedos até alguns fios que haviam se soltado do penteado perfeito, colocando-os atrás da orelha, parecia um sonho tê-la ali na sua frente mais uma vez, após tantos anos de provações. Deslizou o polegar contra o maxilar delicado, sentiu seu batimento descompassado ao tocar a pele macia e morna. Lembrou-se da estúpida ideia que teve na infância, de raptar Annabeth e torná-la sua noiva... Seu rosto corou ao mesmo tempo em que a vontade de tomar aqueles lábios se apoderava de seu corpo.
Trouxe Annabeth para mais próximo de si de forma automática, os dedos roçando com um pouco mais de firmeza contra o quadril da loira, se ela não apresentasse qualquer resistência Clarisse teria dificuldade de controlar seus impulsos.
-Não tão rápido! Filha de Ares... - sussurrou Annabeth apontando sua adaga contra a lateral do corpo da espartana. - mantenha suas mãos onde eu possa ver.
Clarisse sorriu se afastando e sacando a lâmina parazônio de sua cintura... Definitivamente àquela era a Annabeth que conhecia e com quem disputara várias vezes na infância. Ambas adotaram uma postura defensiva, se estudando brevemente antes de qualquer ataque. Annabeth investiu de forma rápida, dando a espartana apenas tempo o suficiente para bloquear um ataque alto, a ateniense não esperou por uma reação ou recuou, encaixou um golpe cruzado e um por baixo, ambos interceptados. Qualquer um deles poderia ser fatal, mas ela estava lutando contra Clarisse e bem sabia que ela jamais baixaria a guarda a esse ponto.
-Parece que Ártemis lhe deixou ainda mais rápida... - constatou a morena, gostando do desafio proporcionado pela outra. - muito bom!
A espartana aproveitou-se da brecha para avançar, contudo a filha da deusa da estratégia estava atenta, a movimentação do ombro foi o suficiente para calcular de onde vinha o ataque e assim ela conseguiu adentrar o espaço pessoal de Clarisse. Primeiro bloqueou a mão onde estava a lâmina e entrou com o cotovelo direito exatamente contra o rosto da guerreira que apenas recebeu o golpe e desviou-se a tempo da lâmina que passou muito perto da sua garganta.
-Você sempre foi distraída... - rebateu a loira em tom presunçoso, lhe derrubando com um pontapé no estômago.
Clarisse sorriu de lado ao sentir a loira sentada contra o seu quadril. Suas mãos deslizaram de forma atrevida contra as coxas da ateniense que apenas colocou a sua lâmina contra sua garganta.
-Você sabe como fazer isso, filha de Athena?! - forçou o pescoço contra a lâmina, mas não ao ponto de machucar-se. Aproveitou-se da hesitação de Annabeth para lhe derrubar de lado, invertendo as posições entre elas. - talvez eu goste de me distrair propositalmente quando se trata de você. - confessou em tom malicioso e provocativo, movendo seu quadril contra o da semideusa.
Fim do capítulo
E Então meus amados, o que acharam? Estou perdoada por ter demorado?! Coloquei até um cap. maior aqui pra compensar nem que seja um pouquinho.
Um detalhe aqui é que por muito pouco eu não coloquei a galera treinando pelado kkkk... Mas se eu fizesse isso também teria que seguir a risca o fato de que a Silena e a Annabeth não poderiam jamais entrar no ginásio.
Em breve trarei mais notícias sobre a original para vocês... Estou ainda trabalhando no roteiro e em alguns detalhes importantes, mas já posso adiantar que recebi uma proposta de pequenas tiragens por demanda, então já deixo aqui que tá na mão de vocês sair uma versão física de Fios do Destino kkkk... É algo que tenho que estudar bem se vai valer a pena de verdade pq com a versão e-book eu já vou ter certos gastos.
É isso pessoal, muito obrigada a todos, espero que não tenham desistido e nos vemos nos comentários!
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