VI
Nunca em toda sua vida Aline se viu numa situação daquelas, mas o alívio era grande por ter sido tratada com respeito por Verena, e os carinhos foram fazendo com que ficasse mais calma e a culpa que sentia foi se esvaindo.
Foram em silêncio para a casa da menina, Aline precisaria ir, pois ja estava quase na hora do seu pai chegar, o estômago roncava, só naquele momento percebeu que não havia almoçado.
A professora estacionou em frente a casa da menina e logo Aline tentou agradecer a carona.
- Obrigada...- ficou confusa pois não sabia de que forma a tratar.
- Pode me chamar de Verena.
- Obrigada Verena.
- Até amanhã.
A menina desceu da picape e correu para casa, teria que se esforçar muito, caso o pai descobrisse sobre o seu comportamento, Aline não saberia o que seria de sua vida, muito menos da vida de sua professora.
***
A menina não fora para a escola, estava febril e sentia uma sede intensa. Sentou-se na cama e olhou para o celular no criado mudo, lembrou que não pegou o número da professora, mas achou melhor assim.
Tivera uma noite bem intensa e difícil, dormiu pouco e sonhou muito pelo pouco que dormiu. Primeiro que uma mulher branca de cabelos cacheados lhe perturbava o juízo, sentia uma umidade diferente entre as pernas e pensava que seria vontade de fazer xixi, mas não era bem isso que ela realmente sentia.
- Bom dia princesa - Tulio entrou no quarto e deixou o café da manhã em cima da cama, sobre a coxa da menina.
- Bom dia papai, como sabe que não me sinto bem?
- Eu vim aqui mais cedo e vi você suando muito, e tem febre baixa. Melhor não ir para escola.
- Sim papai, eu não vou. Hmm que delícia, tem manteiga de amendoim. Obrigada.
- Vai ficar bem mesmo, princesa?
- Vou sim, vou dormir de novo daqui a pouco e logo melhoro. E tem o celular, qualquer coisa eu ligo para o senhor
- Tudo bem menina, eu vou indo - beijou a bochecha da menina e saiu, mas logo retornou - Ah eu avisarei na escola que você não está bem hoje.
- Uhum.
***
Verena entrou na sala de aula e a primeira coisa que reparou foi a ausência de Aline, a carteira da menina estava vazia, nem ao menos o material tinha. Estranhou e não parou de pensar mais nisso no restante da manhã.
Ja fazia a chamada e reparou que falavam de alguém, Guilherme e Giovana conversavam sobre Aline.
- Ela tá doente.
- Séro? Mas de quê?
- Não sei, o pai dela avisou a secretaria a Julinha me disse, ela estava lá.
- Poxa nem sabemos onde ela mora, poderíamos levar alguma coisa pra animar.
Verena olhou para um ponto distante e pensou...e ja sabia o que iria fazer.
Assim que saiu da escola, passou em um restaurante de massas e comprou uma enorme pizza portuguesa e quatro queijos. Arrumou no banco de trás e partiu, iria fazer o que seu coração pedia.
***
Aline tinha acabado de sair do banho, pôs um baby doll do pica pau e sentou na cama, escovava os cabelos quando ouviu a companhia. Estranhou, quem seria?
Desceu as escadas devagar, sua boca estava seca de novo. A porta era de vidro grosso e pôde ver perfeitamente desfocado uma silhueta feminina.
Mas quem é essa mulher?
Um medo percorreu seu corpo, ja passara por situaçõs desagradáveis e tinha medo de ser alguém que estivesse caçando o seu pai.
Parou atrás das escadas o coração acelerava e um nó na garganta se formava, o medo da morte fazia parte da vida da menina.
Apanhou o celular e ja discava os números do pai, mas uma voz a fez paralisar.
- Allne, está em casa?
É minha professora? Não acredito, meu Deus!!
Aline sorriu de alívio, de alegria. Correu para a porta e destrancou.
- Oi?
Verena estava linda, a menina ficou encantada e ficou feliz por notar que havia uma ruga de preocupação nela referente a sua saúde, ficou feliz por simplesmente ela ter se importado. A professora vestia um vestido longo e preto de manga até o cotovelo. Os pés não apareciam, o vestido os cobria.
- Oi, entra por favor.
- O que você tem? Está pálida demais.
Aline lembrou-se do medo que sentira a segundo antes e abraçou a mulher, ainda tremia.
- Não foi nada.
- Aline, tem certeza de que está bem?
- Sim, só foi uma sensação ruim, já passou.
A professora olhou a menina e achou fofo as vestes da mesma, sorriu de lado e mostrou a caixa fina que carregava.
- Pensei em trazer e trouxe pra você, gosta de pizza?
- Uhum, eu gosto! Eu vou pegar uns pratinhos e talheres, um momento.
Aline deixou a sala e logo voltou com muitas coisas na mão.
- Vamos comer no meu quarto?
Verena assentiu e seguiu a menina.
Tentava entender o porquê de ter tido a necessidade de ir vê a menina, sentiu-se preocupada e que ela se lembrasse, nunca havia sentido um incômodo tão grande ao ponto de ir atrás de uma pessoa, mas naquele momento Verena deixou esses pensamentos de lado e estava apenas sendo cortez, era isso que ela queria acreditar.
- Seu quarto é bem organizado. - a professora olhava a sua volta.
O quarto era azul clarinho, algumas bonecas de pano enfeitavam a parede dentro de caixinhas decorativas, a cama era de solteiro embutida num guarda roupa, tudo branco com azul. O chão era todo coberto por um tapete felpudo marrom, tinha um computador e uns CDs de jogos espalhados por ele, devia ter passado a noite jogando..
- �”h sim, eu sou filha única e acho que por isso não gosto de bagunça, deve ser porque não tem quem me incentive a desarrumar.
- Eu também era filha única.
- Era?
- Quer dizer...eu sou, era quando meus pais eram vivos, mas ainda sou. É confuso.
- Acho que entendo. Minha mãe também não é mais viva.
- Ah...!! - devia ser por isso que algo chamou atenção naquela menina, tinham coisas em comum.
- Tá tudo bem...não se preocupe.
Verena perdeu alguns segundos olhando para a menina e a mesma corou por pensar que a professora queria algo a mais.
A professora meneou a cabeça e ofereceu um pedaço da pizza para a menina.
- Eu achei que você não comesse essas coisas.
- Eu pareço ser tão antiquada assim? - fingiu estar magoada.
- Não profe... É.. Verena, é que você parece ser séria demais, aí pizza... sei la, é bobagem - sorrio e os olhinhos ficavam mais apertados.
- Eu sou viciada em chocolate.
- Oh! Eu não gosto.
Verena sorriu e passaram a metade da tarde ali, apenas conversando, se conhecendo. Aline se sentia feliz, era divertido conversar com aquela mulher, descobriu uma mulher divertida, ela pouco ria, mas tinha um senso de humor incrível, Aline falava mais do que ouvia e passou a admirar ainda mais e ficava encantada a cada momento que estendia.
Ja se passava das duas da tarde quando Verena decidiu em ir embora, estava sentada a beira da cama e Aline deitada olhando para o teto, falava sobre a profissão do pai e o quanto já conheceu lugares por conta de mudar de vida a cada ameaça.
Ouviram um barulho na porta e Verena ficou assutada e pôs-se de pé e a menina ficou ajoelhada na cama olhado para a porta.
Tulio, entrou no quatro e ficou surpreso.
- Oi papai, que susto - Aline em alívio, sentou.
- Oi filha.. Oi?
Verena estava confusa e queria sumir dali.
- Oi, perdoe eu sou professora da sua filha e ela não foi a aula hoje, decidi vim aqui vê-la como estava.
Tulio a olhava com admiração, ficou meio bobo diante daquela mulher que de repente os olhos dela mudaram a tonalidade.
- Senhorita Bolder, certo?
A professora arqueou uma sobrancelha, então ele a conhecia.
- Sim, Verena. - estendeu-lhe a mão em cumprimento.
- Prazer em conhecê-la, não sabia que era professora, meu pai trabalhou com o seu, advogou em alguns serviços.
- Ah! Que surpresa.
- Ja ouvi falar de você, quase não é muito vista, é o que dizem...
Aline permaneceu calada e sentiu-se mal pelo seu pai estar visivelmente babando por sua professora, aquilo mexeu com a menina, afinal, conhecia o sabor da boca daquela mulher e a provou bem ali, naquele decote que no momento era discreto. Não suportou em pensar que seu pai poderia fazer o mesmo, uma chateação tomou conta da sua razão, mas nada falaria.
- ... bom eu vou indo - Verena olhou pra menina que demonstrava uma expressão diferente.
- Eu te acompanho até a porta senhorita Bolder.
Novamente a professora olhou para a menina, ela parecia chateada. A sua vontade era de falar a sós com ela, mas o homem não dava espaço.
- Até amanhã, Aline.
- Tchau, professora.
O homem a tocou nos braços e a conduziu pelo corredor, Aline não perdeu aquela cena e isso sim era certo, pensou... O pai tinha muito mais perfil pra ocupar aquele espaço, afinal, era um homem, e ela apenas uma garotinha... bufou e não entendia da onde vinha aquela chateação toda.
- Que droga.
Mas logo arrependeu-se pois o seu pai nada tinha a ver com a história, e era melhor, só assim pararia com essas coisas de sentimento estranho com sua professora.
Mas a chateação não cessou, tinha vontade de ir atrás dela e simplesmente pertencer àquela mulher.
Sentiu-se mal, o que estaria acontecendo de fato? Ela queria as respostas.
Fim do capítulo
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