CapÃtulo 53 – Então é isso?!
Então é isso?!
Camila me encara constrangida. Estou sentada de frente para ela. Mas não me dou o trabalho de lhe dar atenção.
-Liz... – Vovó Catherine me chama amorosa. –Camilinha era louca para conhecê-la. - A senhora sentada ao meu lado na mesa de jantar me diz quando os meus olhos encontram com os dela.
-É mesmo? - Pergunto contendo o sorriso.
-Realmente. - Madalena confirma o que vovó diz. –Camila sempre quis conhece-la. Mas nunca teve uma oportunidade para isso.
-Mamãe, não é pra tanto. - Camila reclama. Olho-a atentamente, ela está vermelha. Seus olhos negros desviam dos meus.
-E então? - Pergunto chamando a sua atenção.
-E então o quer? - Camila me pergunta constrangida.
-O que achou de mim? - Me debruço sobre a mesa me aproximando. Ela estreita os olhos, furiosa.
-Quer mesmo saber?! - Sua voz soa raivosa. Todos na mesa ficam quietos.
-Vá em frente. - Digo me acomodando corretamente na cadeira.
-Você não é grande coisa. – A mulher a minha frente diz fazendo bico.
-Camila! - Madalena a repreende. E eu?! Não resisto e caio na gargalhada. Todos se viram na minha direção. Mas eu não dou à mínima.
O jantar foi divertido. Estava com saudade dessa senhora que me olha com tanto carinho e amor. Vovó me enchia de mimos e atenção. Conversamos por tanto tempo. Madalena era uma mulher inteligente e alegre. Camila por outro lado resolveu ficar quietinha em seu canto. Mas eu podia sentir os seus olhos me observando o tempo todo. Pra falar a verdade, os seus olhos escuros não eram os únicos que estavam sobre mim. Mas os outros. Ah, os outros, eles me irritavam de uma forma tão desesperadora.
-Como foi o seu dia? - Uma voz masculina me pergunta. Mas eu não faço questão de responder, nem mesmo faço questão de olhar na direção em que ela vinha. –Liz...
-Lizandra... – Vovó me repreende. –Seu pai está falando com você. - Ela diz mansamente como se falasse com uma criança pequena.
-Olha só vovó... – Dou um suspiro cansado. –Pelo respeito que tenho pela senhora. - Digo séria. –Não faça isso.
-Eu só quero saber como foi lá no hospital? - A voz de papai soa insegura. –Eu sei que passou o dia com o seu avô. Eu não pude dá uma passadinha lá hoje, o meu dia foi...
-Se me dão licença. - Digo me erguendo. Mas em momento algum olho para o homem sentado ao meu lado esquerdo.
-Liz... – Dr. Gustavo se levanta rapidamente segurando levemente o meu braço, e eu o puxo bruscamente. O olhando com fúria.
-Não se atreva a me tocar. - Digo trincando os meus dentes. –Acho que deixei bastante claro quando nos encontramos ontem que não quero nenhum tipo de contanto com você. Então nos poupe de futuros aborrecimentos. - Meus olhos não desviam dos seus um segundo sequer.
-Será que... – Ele tanta chama a minha atenção.
-Gustavo... - Vovó sussurra com a voz embargada. E isso me parte o coração. Jamais quis decepciona-la. Mas está na presença do grande Dr. Gustavo D’Barriel Fonseca era demais para uma simples mortal como eu. –Deixe-a. - A senhora diz me sorrindo cumplice.
-Boa noite vovó. - Digo com um nó na garganta.
-Boa noite minha querida. - Ela responde desanimada.
-Boa noite Madalena. - Digo me virando para a mulher de expressão triste. Ela apenas me sorri sem jeito e balança a cabeça. –Até mais Camila. - Digo me voltando para a garota de expressão assustada. Ela apenas me encara, mas não diz nada.
-Liz... - Papai tenta inutilmente falar comigo. Mas eu não digo nada e me volto saindo da sala de jantar o mais rápido que posso. Me sinto frustrada por ainda me deixar ser atingida por ele.
O meu dia foi maravilhoso, eu passei com uma das pessoas que mais amo no mundo. Vovô estava emburrado querendo voltar pra casa. Mas só teria alta amanhã à tarde. Sei que tem dedo da vovó nisso. Ele precisava de repouso e sei que se estivesse na fazenda não faria isso. Então vovó o deixou de castigo no hospital o quanto pode.
Deito-me sobre a cama desanimada. “Que final de noite mais desastroso.” Penso soltando um suspiro cansado. “Talvez amanhã seja melhor que hoje.” Viro-me na cama e abraço o travesseiro. Matei um pouco da saudade que eu estava de algumas das pessoas que eu deixei pra trás quando partir. A minha Bibi me encheu de mimos. Nunca comi tanto em toda a minha vida, ela cismou assim como vovó Catherine que eu estou magra demais. Marcos ficou emocionado quando me viu. Afinal, ele me viu praticamente nascer. Pedro, Arthur e Jonas me contaram animados algumas coisas que aconteceram na fazenda enquanto eu estive fora. Foi prazeroso revê-los. E passar esse pequeno momento com eles. Fecho os meus olhos, e nem mesmo percebo o momento em que sou atingido pelo sono.
Acordo cedo totalmente disposta. Tomo banho e me visto para correr. Pego meu celular e coloco uma musica qualquer e me retiro silenciosamente de meu quarto. Desço as escadas, e sem fazer barulho saiu pela porta da frente da mansão. Era cedo, muito cedo. E eu não queria incomodar ninguém.
Olho para o lado e vejo Pedro ao longe. Ele me acena. E eu aceno de volta sorrindo. Logo depois volto minha concentração para frente. Dou um suspiro e começo a correr. Sigo em frente. Corro como se não houvesse um amanhã. Durante esses dois anos esse tem sido um dos meus refúgios. Eu adoro a adrenalina percorrendo o meu corpo. O coração acelerado, a respiração descompassada. O meu sangue correndo desesperado. E principalmente aquela sensação de liberdade. Corro por tanto tempo que nem mesmo me dou conta que estou tão perto de chegar à cachoeira.
O som da queda d’água supera o som da música que agraciava a minha audição. Um sorriso involuntário foge de minha boca. Uma sensação de nostalgia me rouba um suspiro saudoso. Diminuo a corrida, e em passos precisos me volto para a trilha que me levará ao meu destino. Retiro os fones de meus ouvidos, o som da cacheira fica ainda mais forte. Desligo o aparelho eletrônico. E quando os meus olhos finalmente apreciam a queda d’água o meu coração erra uma batida. E minha alma se entristece por um segundo, um segundo tão mínimo que me torna um pouco menos de quem eu já fui um dia.
-Há quanto tempo. - Digo me sentado sobre uma pedra, e meus olhos são atraídos para a água a minha frente. Um sorriso involuntário me foge.
Então eu me lembro de todos os momentos que passei aqui. Esse era o meu lugar preferido em toda a fazenda. Sempre passei horas e horas aqui, apenas olhando para a queda d’água a minha frente. Adorava mergulhar nessas águas frias. De sentir a força d’água cair sobre o meu corpo anestesiando os meus sentidos.
Tinha me esquecido de como esse lugar me fazia bem. Alguns anos atrás não trocaria a fazenda por nada no mundo. Sentia imensa saudade quando ia passar as férias com vovó Rúbia. Era como se esse lugar fizesse parte de minha alma. Como se ele fosse um pedaço importante. Talvez, somente talvez ele tenha realmente sido algum dia.
Não, não posso diminuir os momentos maravilhosos que passei aqui, não por apenas alguns ruins. Mesmo que esses momentos ruins tenham me afetado de forma tão... um nó se instala em minha garganta.
Lembro-me de quando Priscila, Paco, Pedro, Arthur, Mariana, Jonas e eu víamos aqui quando crianças. Até mesmo em vários momentos de nossa adolescência. Era a maior festa. Passeávamos a cavalo. Comíamos frutas diretamente do pé. Foram momentos felizes. Então crescemos. E as coisas deixaram de ser tão simples.
Dou um sorriso de lado. “Por que não?!” Penso divertida me levantado de onde estou. Retiro a minha roupa durante o caminho até a margem. Dou um gemid* satisfeito quando a água fria toca o meu corpo quente. Ela acaricia a minha pele nua. E isso nunca foi tão bom.
Me acabo dentro d’água. Mergulho. Nado de um lado ao outro. Deito-me sobre uma pedra e fecho os meus olhos aproveitando o calor que começava a surgir. E me anestesiando com o barulho da água caindo, sempre caindo. Dou um suspiro satisfeita. Não sei quanto tempo fico ali. Mas isso não importa. Minha barriga reclama, arrancando uma careta engraçada de meu rosto. Sento-me calmante, olho novamente para a queda d’água.
-Então é isso?! - Pergunto, mas não recebo resposta alguma de volta. Encolho as minhas pernas as abraçando. Encostando o meu queixo sobre os meus joelhos. E o deixo descansar sobre eles. –Eu estou de volta.
Minha barriga volta a chamar a minha atenção. Levanto-me calmamente e me jogo dentro d’água. Nado até a outra margem. Emerjo. Retiro aos risos os cabelos que insistiam em grudar em meu rosto. Ele estava tão grande. “Talvez eu o corte”, Penso. Então faço uma careta.
-Só que não. - Digo firme saindo da água. Recolho as minhas roupas pelo caminho e as visto.
Nunca em toda a minha vida me imaginei nadar nua nessas águas. Mas as coisas mudaram. Assim como eu também mudei. Pego o aparelho eletrônico esquecido no chão. Coloco os fones em meu ouvido. Coloco uma música qualquer. Tomo folego, e começo a correr.
Fim do capítulo
Boa noite!!!
Comentar este capítulo:
LuBraga
Em: 13/11/2018
Então, tem mais???rsrs
Me cativou autora, me cativou mesmo!
Resposta do autor:
Bom dia!
Espero que sim. Rsrsr...
Que responsabilidade! Rsrsr... Fico imensamente honrada e espero ser merecedora de tamanho privilégio.
Afinal, somos eternamente responsáveis por aquilo que cativamos!
Bjus...
[Faça o login para poder comentar]
Pryscylla
Em: 05/11/2018
Eu entendo ela ser tão rude com o pai, ele mesmo conquistou o posto de carrasco. Ansiosa por um certo encontro é acho que vai ser intenso.
Bjus
Resposta do autor:
Bom dia!
Toda ação recebe uma reação de iqual valor. Liz apenas está se defendendo, reagindo pela forma que sempre fora tratada pelo pai. Sabe quando algo ou alguém nos machuca tanto, que finalmente chega um momento em estamos tão calejados pela dor que apenas criamos uma barreira para nos proteger de futuras magoas, dores e decepções. Então reagimos, batemos para não sermos machucados novamente. Damos o primeiro golpe, para não sermos destruídos repetidamente. Afinal, um dia cansa ser tão minimizada pelas pessoas que amamos.
Também estou ansiosa por esse encontro. Rsrsrs...
Bjus...
[Faça o login para poder comentar]
lis
Em: 04/11/2018
Boa noite autora, tudo bem? Interessante o capitulo, doutor Gustavo está tentando se aproximar da Liz mas é complicado pois foram anos sendo mal tratada e levando a culpa pela morte da mãe, eu espero que eles consigam superar isso e poder viver como pai e filha, pois a Liz merece isso e ele deve isso a ela, gostei de ver a Liz dizer que está de volta que ela consiga seguir em frente e ser feliz, mais uma vez parabéns pela estória, ela é maravilhosa
Resposta do autor:
Bom dia!
Tudo bem sim minha linda, e vc? Verdade, como pai ele deixou muito a desejar. Foram anos tratando a filha como uma inimiga. Fazendo-a se sentir tão pouco. Fazendo-a se sentir culpada de algo que de forma alguma é sua culpa.
Realmente, o Dr. Gustavo deve isso a ela. Deve um amor integro e sincero.
Afinal, essas são as variações do amor. Ele se manifesta de várias formas e maneiras. Mas sempre em uma magnitude avassaladora. Então que ela tenha discernimento para viver cada uma dessas variações da melhor forma possível. E tenha sempre profundidade e encantamento.
Obrigado!
Bjus...
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]