Último CapÃtulo
Dia de alegria
A noite era fria e Maria Luísa dormia serenamente. Marcela sorriu. Após acabar de contar a história preferida da menina, ela lhe cobriu, beijando-lhe carinhosamente o rosto, fechou a porta e saiu do quarto.
Na sala grande e sobriamente decorada, Luís Miguel tomava uma taça de vinho, esperando pela mulher amada, que o beijou nos lábios.
— Venha, meu amor sente-se aqui, vou servir-lhe uma taça de vinho.
O homem pegou a taça que repousava na pequena mesa ao lado do sofá e serviu. Entregando para Marcela, que agradeceu.
— Façamos um brinde, meu amor. Um brinde ao amor que nos une e peçamos a Deus que seja até o fim de nossas vidas.
— Seremos felizes, meu amor. – afirmou Marcela com um largo sorriso. E depois de alguns brindes, Luís Miguel acompanhou Marcela até seu quarto.
— Hoje meu amor é o último dia que lhe deixo dormir sozinha. – beijou os lábios da mulher e seguiu para o seu quarto.
O dia amanhecia. Lá fora na copa das árvores os passarinhos desenvolvia uma suave sinfonia. Marcela abriu os olhos quando Maria Luísa adentrou seu quarto, deitando-se ao lado dela que perguntou:
— O que houve meu bem? Teve algum sonho ruim?
— Não. Marcela... – chamou a menina, — eu posso chamar você de mãe?
Os olhos de Marcela marejaram naquele instante. O céu parecia abrigar em seu coração, tamanha a emoção que sentiu com a pergunta da garotinha.
— Oh minha amada, claro que pode. Se o seu pai não ver nenhum impedimento.
Luís Miguel chegava naquele instante, ouvindo a fala da filha e da mulher amada.
— Posso entrar? – interrogou o homem.
— Entre papai, - falou a menina agasalhando-se mais perto de Marcela para o pai sentar-se também na cama.
— Papai eu perguntei a Marcela se posso-lhe chamar de mãe, o senhor deixa?
— Claro minha filha, se esse é o seu desejo e Marcela acolhe...
— Sim meu amor, eu acolho e me sinto muito honrada em ser sua mãe, Maria Luísa.
— Papai... Marcela... - começou a menina, — essa noite eu sonhei com a mamãe. No sonho ela caminhava comigo num jardim muito lindo. Disse que eu podia pedir a Marcela para ser a minha mãe. Ela me contou que você, Marcela já foi a minha mãe em outra vida e que ela, apaixonou-se pelo papai e fez ele separar de você, carregando eu com ele. Disse que você sofreu muito e que ela, agora estava em paz, por ver você e eu juntas de novo.
Marcela e Luís Miguel choravam com o relato da menina, que sorriu em direção a algum ponto do quarto, como se visse ali, a sua mãe.
— Ela disse também, que em breve voltaria para ser a minha irmã, porque deseja também, Marcela, um pouco do seu amor e pediu que eu falasse para você, que ela pede o seu perdão.
— Oh minha querida! Que ela venha sim, pois será muito amada por todos nós. Eu não tenho nada que perdoar, está tudo bem. Cada um de nós age como sabe. Naquele tempo, era o que sabíamos. Deus esteja com ela, e com todos nós! Que Ele nos dê essa nova chance de amar.
— Maria Luísa, filha, venha cá, - e a menina lançou-se nos braços do pai que a beijava entre lágrimas. Depois disse com alegria:
— Agora vamos tomar café. O dia será cheio de muita alegria. Hoje é o nosso casamento meu amor, - o homem sorriu e saiu do quarto.
Marcela vestiu-se e seguiu para a sala onde o cheiro do café já tomava conta de todo o ambiente.
Endy mexeu-se na cama. O calor do corpo de Núria fez a mulher sorrir, constatando que não era mais um sonho. Abriu os olhos e ficou olhando para Núria que sorriu sentindo o olhar da mulher amada sobre si.
— O que houve?
— Estou olhando para você, constatando que não é mais um sonho. Porque sonhei tantas vezes com você ao meu lado e quando acordava, percebia que a solidão persistia. Hoje não mais, você está aqui comigo.
— Para sempre, minha amada, para sempre.
No quarto ao lado, Arnoldo abria os olhos. O semblante suave de Virgínia ao seu lado fez o coração do homem apaixonado, bater de maneira mais acelerada.
— Nunca mais irei me separar de você, Virgínia.
A mulher sorriu. Tocou suavemente o rosto do homem e sussurrou em seu ouvido:
— Prova...
— Como? – ele sorriu entendendo a insinuação dela. Com as mãos quentes, Arnoldo tira a camisola que a mulher vestia e a amou com desespero e paixão.
— Vamos tomar café, amar da fome, - o homem gargalhou alto seguido de Virgínia.
— Vamos sim. Hoje o dia será cheio de muitos afazeres... e de muitas alegrias, - ela beijou os lábios de Arnoldo e levantou-se.
Endy e Núria também já chegavam para o café com a alegria estampada no rosto.
— Endy... – chamou Virgínia, — desejo a ajuda sua e de Núria para a minha arrumação. Ai meu Deus! Estou tão nervosa.
— Fique calma meu amor, eu não fugirei, - zombou Arnoldo fazendo todas rirem.
A tarde caía quando Virgínia, Arnoldo, Endy e Núria chegavam a fazenda de Luís Miguel, onde seriam realizadas as cerimônias.
Os abraços foram multiplicados, porque no mesmo instante também chegavam Ambrósio e Amália, que estava eufórica com o casamento duplo dos amigos.
— Vamos, entremos todos, - falou Luís Miguel.
O quarto que havia sido reservado para as noivas, estava lotado com as mulheres que ajudavam na arrumação das duas noivas que sorriam felizes e nervosas. Marcela olhava-se no espelho, admirando a beleza que nunca havia notado em si. Virgínia estava silenciosa, recebendo o toque final da maquiagem, que a profissional contratada, fazia. O burburinho no quarto era imenso.
O pai de Marcela a conduzia até o altar e Eustáquio, conduzia Virgínia, que sorria ao avistar Arnoldo, sentindo seu coração aliviado, como se temesse a fuga do homem amado.
A capela estava decorada com flores do campo, de variadas cores. O altar trazia uma imagem do Cristo esculpida numa madeira. Na mesa o evangelho sagrado, ao lado uma jarra com água, coberta com um lenço bordado, onde liam-se os nomes dos consortes. O padre abriu o evangelho e leu o capítulo da festa de núpcias. Depois da leitura, fez uma linda explanação:
— Estamos aqui, meus irmãos, convidando a cada um, nesse dia, que vista a sua roupa nupcial. Que faça do seu laço matrimonial, um laço de amor e respeito...
Terminada a bela preleção, todos seguiram para o salão de festa. A orquestra encheu o ar com a valsa dos noivos. Luís Miguel tomou a mão de Marcela. Arnoldo a mão de Virgínia. Todos aplaudiram e jogaram sobre eles, pétalas de rosas de variadas cores. A dança iniciou. E o sorriso que iluminava o rosto de todos era a certeza de que o amor era o sentimento mais sagrado em seus corações.
Núria sorriu e perguntou:
— Será que um dia, em outros tempos, também nos encontraremos, Endy? E nos casaremos, assim, mesmo que seja em corpos iguais? Será que um dia a raça humana entenderá um amor assim como o nosso?
— Talvez um dia, minha amada. Talvez um dia. Mas o que importa não é o casamento consumado pelo padre ou outro membro de uma seita, o que importa é o casamento realizado no coração, e esse, Deus abençoa. Seja ele entre os de sex* diferente ou igual...
— Endy... – chamou Núria, baixando o tom de voz, — você acredita que vivemos em pecado, por nos amarmos assim?
— Não. O amor não é pecado. O amor é algo sagrado. O sex* é sagrado.
— Mesmo quando realizado entre dois iguais?
— Sim. O sex* é sagrado quando realizado com amor. Então entre nós duas, ele é sagrado. Ouça Núria, a vida vai muito além do nosso parco entendimento. Não manchemos o nosso amor com o peso da culpa e do erro. Sigamos com ele, nós duas, sacralizando cada dia mais esse sentimento que nos faz tão felizes.
Núria sorriu. Nesse instante a voz de Marcela soou:
— Mulheres, agora é a hora mais esperada por vocês, - ela riu alto. — E hoje teremos duas escolhidas... então venham para cá... preparem-se.
E um buquê subiu ao alto indo parar nas mãos de Núria, que sorriu olhando em direção a Endy. O outro foi lançado por Virgínia. A expectativa das moças aumentou e todas ergueram as mãos para o alto, menos Endy que olhava para Núria, ainda sorrindo quando o outro caiu aos seus pés.
A voz de Virgínia soou naquele instante:
— Em breve teremos mais casamento. – todos aplaudiram. A dança foi anunciada para todos.
Os convidados dançavam elogiando a beleza da festa, quando Arnoldo anunciou o jantar.
Era madrugada quando todos seguiram para suas casas.
Virgínia e o esposo seguiram para a fazenda que ficava próxima, junto com Endy, Núria e Mirna.
Ambrósio tomou a mão de Amália e seguiram para o quarto assim que chegaram na fazenda.
— Hoje seguiremos nós dois meu amor, para o nosso quarto, - falou Luís Miguel sorrindo e tomando Marcela em seus braços fortes, subindo a pequena escada que levava ao quarto. Ele a deitou na cama e beijou seus lábios com sofreguidão. O céu desceu aos corações daqueles dois seres que reencontravam-se mais uma vez no amor.
— Nunca mais deixarei você, eu te amo, Marcela sempre amei, aqui... – e ele levou a mão da mulher ao seu coração.
— Eu também te amo, meu amor. Para sempre, te amarei.
A noite findava. O corpo de Marcela estremecia com o toque das mãos do homem apaixonado, que a amou mais uma vez e depois adormeceu feliz, com a mulher deitada em seu peito.
Endy cobriu os lábios de Núria quando adentraram a intimidade do quarto e disse baixinho:
— Não importa em que corpos nós estejamos, se iguais ou diferentes, nós sempre nos encontraremos. Eu te amo.
E acariciou o corpo nu de Núria arrancando suspiros da mulher amada.
FIM.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]