CapÃtulo 5
Noivado
O dia começava. O galo lá fora cantava despertando Amália para mais um dia. O cheiro dos crisântemos invadia o quarto e ela respirava aquele aroma, sentindo intensa alegria. Em breve estaria casada com Ambrósio, e ali deitada sorria imaginando o quanto seu pai tinha sido sábio em ter consentido com o pedido do noivo, mesmo que ela fosse resistente no dia. E sorrindo de si, levantou-se. Tomou banho demorado com ervas que Jussara trouxera carinhosamente. “Como Jussara me mima, sou grata Deus por tudo isso”, - pensou Amália adentrando a banheira. Depois que encerrou o banho colocou um vestido amarelo. Penteou os cabelos deixando-os soltos ao longo das costas.
— Sente-se aqui ao meu lado, - disse Ambrósio vendo a noiva adentrar a sala, — eu sei minha querida que não gosta de festa e nem de muito entrosamento com a sociedade, mas tem coisas que não tenho como evitar. Sou um homem muito conhecido, tenho bons amigos e não tenho como me furtar em ofertar uma bela festa, que será o nosso noivado. Preciso convidar algumas pessoas, talvez mais do que eu gostaria, mas isso faz parte de uma boa vizinhança, você me entende?
Amália sorriu, entendendo que não havia motivo para furtar-se desse momento que era importante para eles.
— Faremos a festa meu amor. E será como você quiser.
Ambrósio beija a noiva com carinho. E ela seguiu para a escola.
— Endy... – falou Amália quando a criançada brincava no quintal da escola que passava por uma reforma significativa a pedido de Ambrósio junto a outros fazendeiros.
— Diga minha amada, - falou ela sentando-se ao lado da amiga.
— Endy eu vou precisar me ausentar por um ou dois meses, ainda não sei ao certo, Ambrósio quer fazer uma viagem em lua de mel, então pensei que precisaremos arrumar alguém que possa ficar no meu lugar na escola. Você conhece alguém na cidade?
— Sim. Virgínia, ela é uma moça muito especial e formada em magistério na capital. Falo com ela ainda hoje quando chegar em casa.
— Ela é a sobrinha do senhor Macário, não é verdade? Acredito que estará no meu noivado, pois ele é amigo de Ambrósio, então juntas falaremos com ela, pode ser?
— Claro, acho que assim será melhor.
O céu estrelado cobria toda a fazenda. O perfume das rosas exalava por todo o salão de festa finamente decorado. Enquanto Amália circulava ao lado do noivo em cumprimento aos convidados.
Numa mesa mais distante estava Marcela, sentindo imensa tristeza ao ver os noivos. “Como ele pode preferir essa caipira?” – pensava a bela mulher sentindo esvair de seu coração a única esperança de ter o casamento que há muito sonhava.
— Filha, não fique desse jeito. Ele escolheu essa moça por que é como ele, uma bronca. Você é fina, inteligente e merece um homem melhor...
— Mamãe, por favor, não quero mais falar sobre isso. – disse Marcela sentindo-se envergonhada.
Fagundes o pai de Marcela, apesar de sentir compaixão pela filha, disse:
— Vamos aproveitar a festa, que está muito linda e deixemos de lado, coisas menores. Você está certa, filha, não falemos mais sobre isso.
Marcela sorriu para o pai e dirigiu-se para Virgínia buscando mudar o rumo da conversa, quando Amália e Endy se aproximaram.
— Com licença, Virgínia, - chamou Amália, — será que podemos seguir por um momento até o jardim? Endy e eu gostaríamos de lhe falar.
Sorridente Virgínia aceitou o convite e agradeceu.
— Eu fico grata, - disse Amália tomando as mãos da jovem entre as suas, — poderemos começar na segunda-feira? Sei que ainda tenho uns dias, mas gostaria que você conhecesse os alunos, a escola e tudo o que podemos fazer para melhorar cada dia mais o ensino.
— Estarei lá pontualmente.
— Poderá seguir comigo, Virgínia, - Endy falou.
— Não será incômodo?
— Ao contrário, será um prazer ter a sua companhia.
— Então seguirei com você. E muito obrigada Amália, esse emprego veio em muita boa hora, acredite.
Ambas sorriram e seguiram de volta ao salão, onde Amália participou a Ambrósio, que acatou alegremente a decisão da noiva.
A festa findava. Os convidados se despediam. Endy ficou na fazenda a convite de Amália e foi para o quarto que Jussara havia carinhosamente arrumado para ela.
— Eu amo você, Ambrósio, - disse Amália beijando suavemente os lábios do homem que sorriu sentindo o céu em si.
— Ouvir isso, meu amor, é presente para o meu coração, - disse o homem apaixonado tomando a jovem noiva nos braços e a beijando com ardor.
A noite era silenciosa. A lua despedia-se morosamente do céu, como uma noiva apaixonada que não desejava apartar-se dos braços de seu amado. E o dia ia raiando com a imponência do sol que coloria todo o universo com seus raios matizados. Amália abriu os olhos. Sorriu diante a tamanha beleza que era a orquestra ministrada pelos passarinhos lá fora. “Deus é maravilhoso! Como é bom acordar feliz e sendo amada dessa maneira.” Pensou a jovem sentindo que Jussara poderia ter razão quando falava-lhe de outras vidas. Não poderia amar Ambrósio com toda aquela intensidade somente de agora. Ele havia constatado isso ao contar-lhe sobre o sonho. Depois de alguns minutos refletindo sobre isso, ela levantou-se e seguiu para a cozinha, onde Jussara cantarolava, fazendo o café.
— Amália, falta poucos dias para o seu casamento. Acredito que de hoje para amanhã o senhor Afonso deve chegar, - falou Jussara referindo-se ao sobrinho de Crystal, a falecida esposa de Ambrósio.
— Verdade Jussara. Eu havia me esquecido desse fato. A verdade é que sinto algo estranho quando ouço falar da chegada desse moço. Por que sinto isso? Nem ao menos lhe conheço!
Jussara ficou calada, elevou seu pensamento a Deus e rezou pedindo a Ele que afastasse de seu coração aquele presságio, que também sentia, sem nada dizer à Amália.
— Não há de ser nada. Às vezes sentimos essas coisas com o que é desconhecido.
— Talvez tenha razão, Jussara. Deixemos de lado esses sentimentos, porque a vida é muito bonita para alimentarmos esses medos...
— É verdade, Amália, - disse Endy que acabava de chegar.
— Bom dia, Endy – falou Amália sorrindo e levantando-se para abraçar a amiga. — Dormiu bem?
— Bom dia. Sim, dormir, - falou Endy escondendo a verdade. Sua noite havia sido carregada de tristeza e de saudades da mulher amada, mas nada disse.
— Sentem-se, - falou Jussara, — vou servir o café aqui mesmo, como você gosta Amália, visto que Ambrósio levantou mais cedo para olhar algumas coisas no pasto.
— Endy, vamos tomar café, depois vamos cavalgar um pouco, o que acha? A fazenda é linda e quero que conheça um pouco.
— Acho uma ideia excelente!
Ambrósio adentrou a sala quando Amália abria a porta para sair em cavalgada com a amiga.
— Meu amor, eu vou cavalgar um pouco com Endy, não me demoro.
— Não se preocupe querida, vá. Eu vou assinar alguns papéis no escritório. Fique a vontade, Endy, - disse ele dirigindo-se a jovem que sorriu, depois do breve cumprimento.
A brisa suave batia no rosto de Endy que sentia imensa alegria estar ali ao lado de Amália. Depois de algum tempo de cavalgada, elas resolveram apear.
— Vamos sentar um pouco aqui, a beira do riacho. Gosto de ouvir o som dos pássaros daqui. A brisa que sopra do norte vem mais mansa e traz o cheiro bom das flores do campo.
Endy sorriu e sentou-se ao lado da jovem amiga.
— Você dormiu bem, Endy? Eu vejo uma nuvem de tristeza nesses olhos tão lindos...
— Sonhei com a Núria essa noite, Amália. No sonho ela me procurava...
— Oh querida... eu estou aqui... fale dessa dor, Jussara diz que quando dividimos a dor com um amigo, ela diminui.
— Eu não quero lhe aborrecer com essa história, minha amada, que é passado...
— Uma amiga não aborrece a outra, - disse Amália colocando sua mão perfumada sobre os lábios de Endy que sorriu, limpando uma lágrima que caía solitária.
— E como foi a morte dela? Estou aqui para lhe ouvir.
— Alexandre, eu não sei como parecia desconfiar do nosso amor. Um dia intentou uma viagem, alegou desejar conhecer Portugal. Eu relutei, adoeci de tristeza e ele protelou por mais um tempo. Núria e eu nos colocávamos cada dia, mais cuidadosas, evitávamos os encontros íntimos na cachoeira, porque algo me dizia que ele nos tinha sob vigilância. Ele já não viajava mais como antes e cada vez mais ficava difícil de encontrar com ela para termos a intimidade que era tão desejada por nós.
Endy parou um pouco, tomou um gole de água. Olhou para o céu, buscando esconder a lágrima que bailava em seus olhos, sem muito sucesso e chorou ali acolhida pelo abraço de Amália, que a aconchegou em seus braços e esperou respeitosamente que a emoção da amiga amenizasse.
— Vamos querida, deixe que as lágrimas lavem essa dor que ainda lhe macera o coração.
— Às vezes tenho a impressão que tudo isso é um pesadelo e que um dia eu vou acordar, então elas estarão vivas, mas sei que não é. – e limpou uma lágrima buscando recompor a emoção. E continuou:
— Mesmo contra a minha vontade segui com ele para a maldita viagem, nem ao menos pude levar Mirna comigo, ele parecia me castigar. Seu desejo era me isolar do carinho delas, para que ele fosse meu único arrimo na hora da solidão. Chegamos a Portugal e os primeiros dias eu sofri muito, foi assolada de uma gripe intensa, de febre... e confesso de uma vontade imensa de morrer. A saudade que macerava meu coração, aii Amália, parecia punhais afiados rasgando meu corpo, talvez, esses doessem menos. A proximidade dele era cada mais vil e nojenta, seu toque em meu corpo, seu sex* me causavam sofrimentos inenarráveis para a nossa pobre língua portuguesa. Um mês passou. Eu estava refeita da saúde e Alexandre me entretinha com todo tipo de passeio, mas nada me alegrava. Eu queria voltar para a fazenda, queria ver Mirna, queria me lançar em seus braços e chorar a minha desdita. Eu queria ver Núria, queria seus beijos, seu cheiro, eu queria seu amor, porque esse era o que eu tinha de mais valioso na vida. Pedia servilmente para ele que voltássemos para o Brasil, a saudade da minha Terra me dilacerava, mas o maldito parecia que adivinhava de quem eu sentia saudades e mais prolongava aquele passeio nefando. Cinco meses depois que estávamos fora do Brasil, ele anunciou a nossa volta. Chorei de emoção quando adentramos a porteira da fazenda. Meu coração estava acelerado, mas eu sentia um medo estranho, como se um mau presságio estivesse sobre mim. Adentrei a casa grande. Matilda veio ao meu encontro, seus olhos entristecidos... meu coração sentiu o agouro do momento e eu lhe abracei sentindo as forças de mim, se esvair. Depois que ela cumprimentou Alexandre que abraçou Matilda dizendo ter sentido saudade, ela soou a minha sentença de morte.
— Mirna e Núria estão mortas.
Endy parou novamente. Seu corpo era sacudido pela emoção e Amália pegou o cantil e lhe entregou:
— Beba querida, beba devagar...
Ela sorveu a água e depois respirou profundamente e continuou.
— Eu naquele momento pareci ter ficado surda, uma dor aguda tomou conta de mim e eu saí da sala gritando. Matilda me seguiu, enquanto Alexandre, eu não sei, acho que foi para o quarto ou para o escritório. Matilda me alcançou quando eu sentei embaixo de uma grande árvore que já tinha sido testemunha tantas vezes do meu amor por Núria e chorei. Amália, eu nunca senti dor tão maldita. Eu perdi minha mãe ainda era uma menina, não entendi a dor da morte. Matilda sentou-se ao meu lado e eu indaguei:
— Como foi isso Matilda? Como elas morreram? E ela me disse que foram vítimas de um bando de malfeitores que circulavam pelas estradas, quando vinham da cidade. Eu segui para o local onde era o cemitério da fazenda. Li o nome de Núria na lápide fria de mármore e chorei. Eu desejei que a morte também fosse condescendente comigo e que me levasse também. E de lá para cá minha vida perdeu o sentido de existir, mas não tenho coragem de por um fim nisso tudo. Depois de dois anos Matilda morreu e aí fiquei entregue somente a ele. Alexandre passou a ser a minha única companhia por longos seis anos, até que um dia morreu numa emboscada, que eu nunca quis saber o motivo. Vendi o que eu podia e segui para cá, no desejo de esquecer todo esse passado. Mas, quando sonho com ela, parece que tudo isso é um pesadelo e que um dia vai acabar...
Endy calou-se. Fechou os olhos e se entregou novamente ao abraço de Amália que acariciou suavemente os seus cabelos.
Depois de mais algum tempo de passeio elas retornaram para casa onde o cheiro da comida já recendia. O dia terminou e Endy seguiu para casa.
— Endy posso lhe falar? – indagou Virgínia ao ver a jovem chegando.
— Oh Virgínia, por favor, venha. – e abraçou a amiga que morava ali perto, — entre.
— Hoje pela manhã teve um jovem aqui a sua procura.
— A minha procura? Quem era, disse o nome?
— Sim. Disse que lhe conhecia de algum tempo e que voltava assim que pudesse. Deixou o nome de Arnoldo.
Endy buscou na memória um rosto que lhe fizesse lembrar o nome, mas desistiu.
— Você quer um refresco Virgínia? Acabei de chegar da fazenda e o calor está matando, - ela riu. A jovem aceitou, Endy preparou o suco e voltou para a sala, onde entretiveram por longo período falando da escola e das atividades. Depois Virgínia seguiu para casa que ficava do outro lado da rua.
— Onde estava? – indagou Marcela a Virgínia. — Queria-lhe falar um pouco....
— Estive na casa de Endy, fomos acertar os detalhes sobre o meu trabalho na escola. Mas, o que houve, me parece tristonha?
— Estive pensando sobre a minha vida... preciso fazer alguma coisa de útil, talvez arrumar um emprego, assim como você está fazendo. Sei que meu sonho de ser desposada por Ambrósio, não tem mais sentido...
— Não fique assim Marcela. Acredito que ainda irá encontrar alguém que lhe ame e que você também amará. Mas, até isso chegar, acho que possa mesmo buscar um novo rumo para a vida.
— Eu quero acreditar nas suas intuições, minha prima, - disse Marcela sorrindo, — mas não posso ficar parada esperando esse amor chegar, quero mudar um pouco a minha vida, mas a verdade é que não sei por onde começar.
— Não se aflija assim... confie, peça a Deus para lhe mostrar os caminhos que deve percorrer e Ele com certeza fará isso.
Marcela sorriu novamente, beijou suavemente o rosto da prima e saiu em direção a rua, desejava caminhar um pouco para espairecer os pensamentos que lhe angustiavam.
— E então conseguiu falar com ela? – indagou a mulher ao ver Arnoldo chegar ao hotel com ar derrotado.
— Ainda não tia. Ela é a madrinha do casamento de uma amiga. Talvez a senhora conheça o noivo, o senhor Ambrósio, então estava para a fazenda desse senhor, me disse uma moça vizinha.
— Sim, eu conheço, mas apenas de vista.
Nesse instante chega um empregado da confeitaria, trazia na mão uma correspondência que Marta abriu e ficou pálida.
— O que foi tia? Porque perdeu a cor?
Ela entregou a carta ao jovem, que ficou apreensivo.
— Meu Deus isso tinha que acontecer agora tia? Preciso ir até lá, tem muitas coisas para serem resolvidas. Meu Deus o que farei? Preciso encontrar Endy, mas tenho que ir tia, é meu dever.
— Sim filho! Segue com serenidade. Deus está no comando de tudo, cada coisa tem o seu tempo certo.
As horas corriam lentas no trem. Arnoldo pensava em como estaria seu benfeitor, sentia que não devia estar nada bem, pois se estivesse não teria mandado aquela correspondência pedindo tamanha urgência de seu retorno. Mas o que restava era esperar. Encontraria Endy.
Chegando à fazenda ele encontra o homem acamado.
— Arnoldo, eu queria me despedir de vosmecê, - falou o velho de cabelos brancos e voz cansada — Segue em paz filho e não descanse enquanto não cumprir o pedido de seu pai...
— Não se aporrinhe meu benfeitor, não fale mais nada, descanse um pouco.
José, o homem de olhar sereno, calou-se. Fechou os olhos no desejo de atender o filho amado de seu coração.
Os dias passavam e fazia dois meses que Arnoldo cuidava de seu benfeitor quando o homem faleceu, agradecendo ao jovem o carinho e cuidado dedicados a ele. Arnoldo chorou a morte do velho que havia criado-lhe com tanta dedicação. Depois do ato fúnebre ele seguiu logo para a cidade onde desejava encontrar Endy.
A segunda-feira trazia a imensa algazarra das crianças quando Virgínia atingiu o grande terreno rodeado por árvores onde ficava a escola. Virgínia sorria vendo as brincadeiras quando Endy a chamou.
— Vamos lanchar, - e seguiram para a pequena cozinha que havia ali na escola, onde o cheiro de um bolo de mandioca enchia o ar.
— Ela só retorna da escola às dezessete horas, - disse Marcela que atravessava a rua enquanto Arnoldo apertava a campainha da casa de Endy, aproximando-se mais um pouco do rapaz. — Não quer deixar recado?
— Não precisa senhorita, eu agradeço, volto no fim da tarde.
E ele seguiu. Marcela caminhava pela cidade no desejo de encontrar algum anúncio de trabalho, quando parou na banca de jornal que havia ali e comprou um. Leu várias vezes o anúncio, não era bem o que ela imaginava, mas acenou para uma charrete de aluguel e seguiu para a fazenda. “PRECISA-SE DE BABÁ.” Era esse o anúncio que ela tinha visto.
Na entrada da fazenda se via sobre a porteira uma placa grande e bem pintada com ao nome: Fazenda São Miguel Arcanjo. Ela respirou fundo, sentindo seu coração estranhamente acelerado, sem conseguir explicar. Apeou da charrete com a ajuda do condutor e tocou o sino que havia ali na porta.
Marcela entrou e ficou parada na porta, quando um homem ainda jovem, surgiu na grande sala onde ela era ao mesmo tempo introduzida pela negra que ali servia. O homem de olhos verdes e cabelos grisalhos convidou Marcela a entrar. Ela sentou-se e disse:
— Eu estou aqui, senhor, interessada no anúncio que li no jornal.
— Sim senhorita. Tem alguma experiência com crianças? Maria Luísa é um encanto de menina, mas muito retraída...
— Na verdade não senhor. Nunca trabalhei fora, mas gostaria muito de tentar.
Luís Miguel ficou olhando para ela. Não tinha experiência com crianças, nunca tinha trabalhado fora e o que estava fazendo ali? Era uma moça fina, podia notar-se isso no primeiro instante. Analisava o homem quando sua filha adentra a sala e para diante de Marcela, por alguns instantes, quando ao pai disse:
— Essa é a senhorita Marcela, filha, ela veio...
— Você demorou a chegar. Eu estava a sua espera faz tempo e senti medo, porque pensei que tivesse desistido, - falou a menina causando espanto no pai e uma emoção forte em Marcela que lutou para não deixar a comoção irromper em lágrima. “De onde eu conheço essa menina? Meu Deus que sensação estranha é essa? Parece que eu também esperava por esse encontro, estou ficando louca?!”- pensava a jovem olhando enternecida para a Maria Luísa que sorria.
— Maria Luísa minha filha essa é a senhorita Marcela que veio em razão do anúncio do jornal.
— Sim papai, eu sei que ela veio por causa do anúncio. Eu esperava por ela e quero que fique aqui.
Luís Miguel ficou mais atônito. Maria Luísa aceitou aquela moça, sem nada perguntar, era como se a conhecesse. E porque ela disse que a estava esperando?
Maria Luísa tomou a mão de Marcela, que sentiu seu corpo estremecer de maneira agradável.
— Que bom que você chegou, eu estava muito sozinha com a morte da minha mãezinha, mas agora que você chegou tudo vai ficar bem de novo.
Luís Miguel levantou-se e seguiu as duas, enquanto Maria Luísa mostrava toda a casa para Marcela.
— Marcela esse é o meu quarto. Você poderá ficar aqui comigo ou em outro, caso ache melhor. – falou a menina.
Depois de toda a apresentação de Maria Luísa, Marcela e Luís Miguel acertaram os detalhes. Marcela seguiu para sua casa, com os protestos da menina, que cedeu, depois da promessa de que Marcela voltaria no dia seguinte, mesmo sentindo que não seria fácil convencer seus pais.
— Minha mãe eu preciso falar com a senhora. Meu pai já está em casa?
— Sim. Está no escritório. O que aconteceu que se demorou tanto?
— Eu desejo falar com os dois, por favor, venha comigo minha mãe.
Ao adentrar no escritório, Marcela, pediu a atenção do pai que parou o que estava fazendo e ficou ouvindo o que ela dizia. Abria e fechada a boca incrédulo, mas admirando a mudança da jovem antes tão apática.
A mãe de Marcela parecia ter uma síncope diante ao que ouvia e gritou.
— De jeito nenhum, filha minha não trabalha fora, feito...
Fagundes ouvia o que a esposa falava e não esperou que ela encerrasse a frase:
— Marília observe a sua filha, ela não é mais aquela mulher fútil e vazia. Eu acho que deve ir sim minha filha e faço questão de ir com você amanhã, para então poder conversar com o nobre senhor, deixando claro, a ele, que você é uma moça de família.
— Papai, obrigada por permitir. Preciso dar um rumo na minha vida. E trabalhar me ajudará muito em tudo isso. Vejo Virgínia que está cada dia mais feliz com o seu trabalho, desejo sentir isso.
— Você está certa filha, o trabalho nos dignifica. Desejo deixar você amparada, mas não será o suficiente para luxo...
— Oh não papai, não falemos disso! Vou trabalhar e sei que isso me ajudará muito. A menina Maria Luísa é um encanto, o senhor verá. – falava Marcela ao pai ignorando a opinião da mãe.
— Fagundes o que está acontecendo com o senhor?! – berrou Marília exasperada com o incentivo do marido a filha.
— Nossa filha está amadurecendo e isso me alegra, e eu acho que deveria sentir o mesmo, minha senhora. Tem o meu consentimento filha, o trabalho é nobre e em qualquer lugar, amanhã seguirei com você para conhecer o local.
Marcela abraçou seu pai e saiu deixando os dois sozinhos.
O dia amanheceu. O sol lá fora ia despertando morosamente como se fosse uma velha gorda e alquebrada, enquanto Marcela espreguiçou sentindo-se ansiosa. Levantou-se, arrumou-se e seguiu com o pai até a fazenda São Miguel Arcanjo.
Fagundes conversou com Luís Miguel que o tinha deixado muito tranquilo de sua idoneidade e voltou para casa, sentindo que Marcela estava segura e seria respeitada pelo seu patrão. “ E quem sabe a nova dona daquela fazenda,” - sorriu o pai, sentindo em seu coração algo divino naquele encontro.
Marcela tinha sido apresentada para Carmem, que cuidava da cozinha e Fátima que cuidava da limpeza da casa. Tudo ali parecia-lhe muito familiar, sentindo-se bem na casa e ao lado da menina que enchia seu coração de um amor, jamais sentido até aquele momento.
Fim do capítulo
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olivia
Em: 17/10/2018
Bom dia Edy , olha eu aqui de volta. Estou encantada com , essa estória, Amelia teve seu encontro com sua alma gemea , agora a coitada da Endy, teve por breves momentos de felicidade ,aquele peste de marido ninguem merece!! Cada vez mais fortalece minha credibilidade , que voltamos para encontrar nosso carma ! Você é fantastica em descrever as cenas !!! Bjs
Resposta do autor:
Olá Olivia que alegria. Obrigada pelo seu comentário e espero que goste do desfecho da história. Bjs. Depois me fale o que você achou.
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