CapÃtulo 48 – De volta onde tudo começou
De volta onde tudo começou
Meus pés estão presos ao chão. Reprimindo os meus passos. Impedindo-os que sigam em frente.
-Tudo bem Liz? - A voz amorosa de vovó me desperta.
-Não, mais vai ficar. - Digo sem muito animo.
Vou até o porta mala do carro. Retiro a mala preta colocando-a sobre o chão. Pego a minha mochila xadrez e a coloco sobre o meu ombro direito. Fecho o porta mala. Seguro a mala com firmeza. Minhas mãos estão suadas. Estou nervosa. Faz tanto tempo...
Dou um longo suspiro e com passos firmes subo o primeiro degrau da escadaria até a entrada principal da casa.
“Seja uma garota valente!”
Prendo minha respiração. Minha mão direita vacila sobre a maçaneta de metal. Ela está gelada, e isso me causa desespero. Sei que vovó está atenta a cada um de meus movimentos, eu não a culpo. Tudo o que eu queria era dar meia volta e fugir o mais rápido que posso daqui. Queria correr o mais rápido que posso sem olhar para trás uma única vez, queria me afastar o suficiente.
Meu coração está acelerado, não sou a mesma garotinha que foi reduzida a nada há pouco mais de dez anos atrás, aquela garotinha que foi embora com lágrimas constantes nos olhos, aquela garotinha que estava reduzida há pequenos pedaços cortantes. Tomo folego e com todo o peso que passei para chegar até aqui, adentro aquele ambiente que um dia foi o meu lar. Mas agora não me es mais que um lugar hostil.
Meus passos vacilam receosos. E então, estou paralisada, aperto com força a haste da mala. Meus olhos não se atrevem a olhar em volta. Estão fixos apenas no corredor há direita. Sinto minha respiração se tornar difícil. Dou um passo atrás. É como se a qualquer momento a garotinha de olhos azuis saísse correndo em minha direção, como se a qualquer momento toda aquela dor fosse me atingir. E eu tive medo, medo de me afogar novamente por ela.
-Liz. - A voz cautelosa de vovó soa preocupada. Mas os meus pensamentos estão tão distantes. –Liz. - Ouço-a me chamar novamente. Só que dessa vez sinto o seu toque delicado cair sobre a minha pele, me assustando. –Tudo bem querida. - Ela diz emocionada. –Tudo bem.
-Eu... - Digo desviando os meus olhos dos seus. –Eu estou cansada. - Falo sem muita emoção.
-Oh, sim. - Vovó sussurra envergonhada. –O seu quarto continua no mesmo lugar.
-Sabe que não precisava. - Minha voz soa fria. –Poderia muito bem ficar em um hotel. Seria tão mais fácil para todos.
-Essa é a sua casa. - A senhora diz sentida.
-Não vovó. Essa não é minha casa há muito tempo.
-Até quando seremos punidos? - A senhora de olhos castanhos comenta angustiada. –Será que todo esse tempo não foi o suficiente para...
-Jamais quis punir ninguém. - Dou um suspiro cansado. –Não ver o quanto é difícil apenas está aqui? Não ver o quanto é difícil respirar esse ar danificado? Por que as coisas jamais voltarão a ser como antes. Tudo mudou, eu mudei.
Olho em volta, estou assustada. Tudo aqui está no mesmo lugar. E isso me deixou em náuseas. Meus olhos azuis se prolongam sobre a cama a minha frente. Será que o cheiro de Sam ainda estava sobre ela? Dou um suspiro, e sem muito animo jogo a mochila xadrez sobre o chão. Retiro a camisa de mangas longas de flanela preta. E a deixo cair. Retiro a camiseta. Desabotoo os botões de minha calça jeans e vou deixando cada peça pelo caminho até o banheiro. Preciso desesperadamente de um banho.
-Humm... - Dou um suspiro quando a água gelada cai sobre o meu corpo quente. Isso nunca foi tão bom.
Encosto a minha testa sobre a cerâmica logo a minha frente. E sem a minha permissão, lágrimas desesperadas fogem de meus olhos azuis. Eu choro enquanto a água cai sobre mim. A vida é realmente uma grande filha da puta. Jamais imaginei que voltaria. Mas veja só eu aqui. Se tem uma coisa que aprendi durante todos esses anos é que não vale a pena reclamar. Isso não vai mudar porr* nenhuma. Termino o meu banho e volto para o interior do quarto. Me aproximo da cama e me jogo sobre ela. Nua e molhada.
Fecho os meus olhos, e não demora muito até que o sono me arraste desse mundo. Não sei quanto tempo se passou. Só sei que sou acordada com algo caindo sobre mim. Abro os meus olhos assustada.
-Acooorda gostosa!!! – Olho furiosa para a morena sorridente que estava estirada sobre o meu corpo. Seus olhos verdes brilhavam divertidos.
-Isso são modos de acordar os outros? - Reclamo tentando sair de debaixo de seu corpo.
-Isso são modos de receber a sua melhor amiga? - Pri reclama fazendo bico. Ela dar um sorriso arteiro. -E como você me dorme nua e esquece de trancar a porta?!
-Hum... - Dou um sorriso de lado e lhe abraço. A prendendo junto ao meu corpo nu. Ela arregala os olhos assustada. –Gostou? - Digo debochada.
-Toma vergonha na tua cara, Liz. - Ela tenta se levantar, mas eu não permito.
-Uer, você invade o meu quarto, se joga encima de mim. E agora quer fugir?! - Digo descendo as mãos pela sua cintura.
-Liz... - Priscila me adverte. –O que pensa que está fazendo?! - Ela reclama quando as minhas mãos se insinuam mais para baixo.
-Advinha. - Estreito os meus olhos ameaçadoramente.
-Anda palhaça. Vamos levantar. - Ela diz sorrindo.
-Não acredito que fui dispensada. - Digo em uma falsa revolta. Deixando ela se afastar.
-Vem! - Pri se ergue me estendendo a mão para me ajudar a levantar.
-Ah não, me deixa dormir mais um pouquinho?! - Digo me virando na cama, e agarrando o travesseiro.
-Caralh*! Por acaso você virou um gibi ambulante?! - A mulher me pergunta espantada.
-Gostou? - Pergunto sem olha-la.
-Ficou linda. Mais...
-Sem mais. - Digo sem muita importância. –Você ainda não viu a que fiz...
-Nem quero saber. - Ela diz me cortando. –Vamos, levanta logo dai e veste alguma coisa. Por que eu não pretendo ficar aqui olhando pra sua bunda branca!
-É só não olhar. - Minha voz sai abafada pelo travesseiro.
-Liz... – A morena reclama manhosa.
-Ok. - Digo vencida. Me viro em sua direção me sentando sobre a cama. Passo as mãos em meus cabelos soltos. –Você continua mandona. - Reclamo revirando os olhos em sinal de tedio.
-E você continua me amando por isso. - Ela diz convencida.
-Talvez... - Vejo os olhos verdes se estreitarem furiosos em minha direção.
-Como assim talvez? - Ela diz colocando as mãos na cintura em sinal de aborrecimento.
-Uer. Talvez. - Digo me levantando da cama me espreguiçando. Seus olhos acompanham cada um de meus movimentos com interesse. Pego um roupão que estava esquecido no suporte perto da porta e cubro o meu corpo nu calmamente.
-Desde quando você ficou tão... - A mulher se cala como se buscasse a palavra. Mas ela demora. Olho-a com interesse.
-Tão... - A incentivo a continuar.
-Não sei... - Ela morde o lábio inferior. –Como posso dizer... Você está diferente.
-Diferente? - Pergunto séria. –Isso é ruim? - Pergunto curiosa.
-Ainda não sei. - Ela diz abaixando a cabeça. Seus braços agora estão soltos ao lado do corpo. –Tenho medo de que algum dia eu não seja mais importante em sua vida. Você mudou tanto. E eu...
Meu coração se aperta. Me aproximo da mulher a minha frente. E delicadamente ergo o seu queixo, fazendo os olhos verdes se encontrarem com os meus azuis.
-Você é, e sempre será importante em minha vida. - Digo a abraçando apertado. –Você é a irmã que eu escolhi. Você sabe muito bem disso. - Dou um suspiro cansado. –Você é e sempre será a minha irmã de alma Pri. Nunca duvide disso.
-Então por que demorou tanto para voltar pra casa?! - Ela me acusa ressentida. –Não existia apenas a Sam e o tio Gustavo. Você não deixou apenas os dois pra trás Liz, você... você também me deixou. - Sua voz soa embargada.
-Sinto muito. - Digo com um nó na garganta. –Já conversamos tanto sobre isso. Eu apenas...
-Você não esteve aqui para o meu casamento! - Ela sai do meu abraço raivosa. –Não estava aqui quando meus filhos nasceram. - Ela balança a cabeça em negativas. –Você deixou tanto a desejar. Tanto como amiga, quanto como irmã.
Viro o meu rosto para o lado. Suas palavras foram como um tapa em minha face. Sei que mereço. Mas não doeu menos por isso.
-Jamais desejei magoar ninguém. - Meus olhos se voltam novamente para a mulher a minha frente.
-Mas magoou. - Ela cruza os braços na frente do corpo como se tentasse se proteger. –Você não sabe o que sentir quando você me disse que não vinha para o dia mais importante de minha vida. Rodrigo então...
-Eu...
-Lizandra, eu não deveria nunca mais olhar na sua cara. - Ela diz raivosa. –Mas eu sentir a sua falta todos os dias. Nunca mais se atreva a sumir por tanto tempo!
-Não posso prometer algo do tipo. - Minha voz soa baixa.
-Você nos deve isso. - Seus olhos são insistentes. - Ligações ou mensagens uma vez por semana não são considerados meios saudáveis de relação. Não pra mim.
-Sabe qual foi a minha vontade assim que os meus pés tocaram o chão?! - Digo angustiada. -Foi entrar correndo para dentro do avião e pedi ao piloto que me tirasse daqui o mais rápido possível.
-Não acha que chegou a hora de encarrar os seus fantasmas de frente?! Chega de ficar vagando sem destino definido. - Ela diz se aproximando. –É hora de seguir em frente.
-Mas eu estou fazendo exatamente isso. - Digo emburrada.
-Não, você não estar. - Ela diz confiante. –A única coisa que você tem feito foi fugir durante dez longos anos.
-Pri... – Minha voz soa embargada. –Eu tive tanto medo. Pensei realmente que quando pisasse os meus pés aqui o meu mundo fosse ruí em milhares de pedaços cortantes. - Meus olhos encontram os seus desesperados. –Eu juro que não queria sentir isso. Mas é uma dor tão profunda que não me deixa respira. - Digo levando a minha mão esquerda ao peito. –Por que por mais que eu tenha mudado. Eu ainda tenho medo de ser destruída por essa dor. Tenho medo de não ser forte o suficiente para suporta.
-Oh minha linda. - A mulher me ampara entre os seus braços protetores.
-Eu... eu sinto muito Pri. - Digo me agarrando ao seu abraço. –Eu juro que tentei vim antes. Mas eu não conseguir... eu... eu só não conseguir.
-Shiii... Tudo bem.
-Você não me odeia não é?! - Pergunto angustiada. –Eu não suportaria perder você. Eu apenas sinto muito. Eu realmente sinto...
-Você me deve 10 anos. Então é bom você me atualizar sobre tudo o que tem aprontado depois que você resolveu mochilar por ai.
-Ok. - Digo dando um sorriso de lado. –Eu conto tudo o que você quiser. – Dou um suspiro mais calma.
-Sentir a sua falta. - Ela sussurra ao meu ouvido.
-Eu também sentir.
-Só não vai embora de novo. - Ela pede em um fio.
-Eu posso tentar. - Digo com o coração acelerado. –Mas não garanto nada.
-Isso já é alguma coisa. - Ela sorrir, me fazendo sorrir também. “Como sentir saudade desse abraço.” Penso me agarrando mais a ela. Essa é a primeira vez que me sentir em casa desde quando cheguei.
Fim do capítulo
Boa noite meninas!
Desculpe a demora em postar. Mas é que estou meio que sem inspiração para escrever ultimamente. Meio que bloqueei. Mas estou tentando resolver isso. rsrsrs...
Talvez eu precise de uma pouco mais de emoção na minha vida. Rsrsrs
PS: Realmente sinto muito pela demora.
bjuss....
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Renata ferraz
Em: 31/03/2019
No Review
Dy Costa
Em: 26/08/2018
Olá autora,adoro as suas histórias,siu uma pessoa muito dramática quando procuro algo pra ler, então essa história cativou completamente a minha atenção, não querendo ser evasiva demais,ou dar palpite...desde ja peço desculpas kkkk
Acho que a Sam poderia sofrer um acidente e perser á memória,e já se á Liz sempre evitou saber notícias dela,entao nao tinha como saber...e elas poderiam ter uma segunda chance de se conhecer, onde a Liz surpresa tentaria manter a distância e a Sam sem saber se apaixonaria de novo
Mais uma vez amo a sua história...e desculpa pelo palpite,desejo de uma fã ????????????
Resposta do autor:
Bom dia! Desculpe a demora em responder. Rsrsrs...
Fico feliz por saber que está gostando. É como sempre digo, eu adoro um bom drama. Rsrsrs...
Eu não me importo. rsrsrs... Pode dar quantos palpites quiser. E eu o adorei, mas essa estória já está com o destino traçado. Mas confesso que me deu uma boa ideia para uma próxima. Quem sabe... Rsrsrs
Bjus...
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patty-321
Em: 20/08/2018
Vc é esse dom de me emocionar profundamente com as dores da liz.
Resposta do autor:
Bom dia!
Uau! Nos emocionamos juntas te garanto. Acho que sem emoção seria impossível se aprofundar na escrita. Não há como mergulhar nesse pequeno universo de propriedades tão intimas. Se não for para sentir junto, então por que escrever?! rsrsrs...
Esse é o grande problema de minhas ausências, quando o meu sentimento é bloqueado, não há escrita. Tudo está bem ali... enclausurado em minha mente. Mas não há sentimento para descrevê-los no papel. Quando tento, fico mórbido e sem vida. Por isso me ausento. Mas estou trabalhando nisso. rsrsrs...
Bjuss...
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LeticiaFed
Em: 20/08/2018
Ebaaaa, voltou!! Sem inspiração, mas sai um capítulo muito bom, imagina quando a inspiração voltar 100%...rsrs
Não suma de novo, por favor, ou vai levar uma carraspana igual à Liz ;) Falando sério, espero que tudo se acerte.
Boa semana, beijo!
Resposta do autor:
Bom dia!
uhuuu rsrsrs.... voltei! Realmente sem muita inspiração, mas estamos ai tentando melhorar sempre. Enquanto o "não suma de novo" tentarei ao máximo, mas não garanto nada. rsrsrs...
De qualquer forma obrigado.
Bjusss...
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Pryscylla
Em: 20/08/2018
Se isso é estar sem inspiração imagina quando ela voltar kkkkkkkk
Amei o capítulo e já estou ansiosa por mais :)
Beijos!
Resposta do autor:
Bom dia!
Fico honrada. rsrsrs... Como disse antes, sim estou meio bloqueada na escrita. Mas estou trabalhando nisso, tipo a história está todo formada na minha mente. Mas quando é para joga-la no papel, ela trava e não quer sair. Mas vai fluindo aos poucos. Só peço um pouquinho de paciência com essa humilde escritora. srsrsr...
Tentarei fazer o meu melhor sempre.
Bjus....
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lehh
Em: 20/08/2018
Nossa quando vi que foi atualizada quase tive um treco..... Sabe eu tenho um grande amor por essa historia...
Poderia liberar um extra em autora????
Nunca te pedi nada kk
Resposta do autor:
Bom dia!
Espero que esteja bem! srsrs... Fico honrado em sabe que esteja gostando dessa minha pequena aventura no mundo da escrita.
Sobre o extra... fico devendo. Como disse antes estou meio que sem inspiração. Estou escrevendo na marra. rsrsrs... Mas com todo o carinho. Acho injusto deixa-las esperando por tanto tempo. Então estou voltando aos poucos. Quem sabe assim eu não me encontro no caminho.
Bjus...
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deni
Em: 20/08/2018
Eu te perdoo haha.
Que bom que vc voltou. Não aguentava mais.
Tomara que Liz siga em frente dessa vez.
Resposta do autor:
Bom dia!
Fico grata pelo perdão. rsrsrs...
Tentarei ser mais assídua.
Segui em frente. Em algum momento de nossos vidas teremos que fazer isso, seja de um jeito ou de outro. Seja por livre vontade ou na marra mesmo. rsrsrs... Também espero sinceramente que Liz finalmente se liberte de suas magoas e viva a vida da melhor forma possível.
Afinal, qual é a maior dadiva da vida se não ela mesma?! Então que seja vivida com plenitude.
Bjus...
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