Boa noite a tod@s.
Espero que tenha superado o capítulo anterior e que tenham me perdoado rs...
Segue o próximo que ficou um pouco maior que os anteriores e que possui duas músicas cujos links estão nas Notas Finais.
A foto da capa é para lhes ajudar a se situar no "habitat" de Cosima.
Uma excelente leitura e semana para vocês.
Ps: Continuo agradecendo o carinho dos comentários de vocês. Eles me dão gás para continuar mesmo quando está complicado...
Capítulo 53 Love is a Lie
Um solavanco mais intenso lhe despertou de um sono pesado e há muito necessário. Atordoada com o leve choque de sua têmpora esquerda contra a lateral do encosto de seu assento olhou ao redor tentando se situar de onde estava. Sua mente cansada levou alguns segundos para processar as informações que lhe chegavam, enxergou com dificuldade e foi então que percebeu que havia retirado os óculos. Os colocou e confirmou que ainda estava dentro do segundo avião que pegara para retornar para casa e felizmente, após mais de 20 horas entre voos e espera em aeroportos, pousara no Aeroporto Internacional de São Francisco e assim que olhou pela pequena janela viu o dia lindo que fazia lá fora. Isso a fez se sentir alguns por centos melhor.
Esperou que a imensa maioria dos passageiros desembarcasse. Optou por permanecer um pouco mais sentada, como se com aquilo, adiasse o fim repentino de seu sonho e a continuação de uma dor descomunal que pressionava seu peito e lhe doía na garganta. Pensou que jamais sofrera algo daquela magnitude. Nem mesmo quando sua primeira namorada a deixou para ficar com capitão do time de basquete do colégio sentiu nada parecido com aquilo.
Levantou-se com dificuldade já que sentia dores pelo corpo todo, quase como se tivesse levado uma surra além de um latejar incomodo em sua cabeça, decorrente do sono medicado que teve. Precisou recorrer para o remedinho que Marc lhe deu, não conseguiria passar mais tempo pensando em tudo o que acontecera.
Arrastou-se pelo apertado corredor da aeronave e despediu-se educadamente da equipe de bordo e seguiu por um caminho já conhecido. Esteve naquele aeroporto várias vezes e orgulhava-se dele ser considerado o melhor dos EUA, recebendo dezenas de milhões de pessoas todos os anos. Olhou ao redor e tentou ler as expressões de todos que, assim como ela, estavam parados diante da esteira de bagagens. Muitos eram turistas e vinham a passeio a uma das cidades mais incríveis da América. Gostava daquela pequena brincadeira introspectiva de imaginar qual lugar recomendaria para cada pessoa. Foi nessa observação que percebeu o casal de mulheres que veio com ela desde Paris. Elas pareciam confusas com o guia turístico de bolso que escolheram. Cosima riu e decidiu por em prática aquilo que só imaginava.
- Com licença... – Aproximou-se delas.
- Ah... Olá. A nossa colega de sorte e de viagem! – A mais alta delas lhe sorriu gentilmente.
- Bonjour! – A mais baixa e morena lhe saudou assim que conferiu as horas. Cosima precisou se esforçar para evitar o embrulho no estômago ao ouvir aquele idioma. Intimamente jurou para si mesma que não o usaria por um bom tempo, contudo essa promessa não durou nem cinco segundos, pois precisou lançar mão dele para estabelecer um diálogo mais claro com aquelas mulheres.
- Bom dia... Me chamo Cosima. – Estendeu a mão para elas.
- Prazer Cosima, eu sou Ingrid e essa é a Anne. – Se apresentaram formalmente.
- Desculpe me intrometer, mas vejo que estão um pouco perdidas. – Apontou para o livro que seguravam. As duas riram levemente encabuladas.
- Sim... Um pouco, ganhamos essa viagem dos pais da Anne de lua de mel e não temos certeza do que fazer. – Ingrid, que era a mais comunicativa, disse.
- Bom, foi um presente e tanto e... Parabéns pelo casamento. – Sorriu sinceramente, embora naquele momento, estivesse completamente descrente do amor. Mas isso não significava que ele não poderia existir para outras pessoas, não é mesmo? Pensou consigo. – Mas se permitirem posso dar umas dicas para vocês. Essa é a minha cidade. – Abriu os braços orgulhosa. As mulheres se olharam e sorriram simultaneamente anuindo positivamente. – Onde ficarão hospedadas?
- O hotel se chama Inn on Castro! – Anne respondeu após conferir em seu celular. Cosima arregalou os olhos e essa reação não passou desapercebida. – Você o conhece? É legal? Só vimos fotos,
- Se conheço? Moro a duas quadras dele! – Ela sorriu ainda surpresa com a coincidência. As três sorriram satisfeitas. – Eu nunca estive nele mas conheço pessoas que ficaram e gostaram bastante.
- Nós o escolhemos por ele ficar nesse bairro que é famoso em acolher a população LGBT. – Ingrid disse.
- E é mesmo! Não há lugar melhor para nós! – Disse espontaneamente enquanto a esteira começou a trazer as bagagens. – Posso fazer uma lista de lugares legais para irem e ela começará com um café super aconchegante que fica a duas quadras do hotel de vocês e curiosamente abaixo da minha casa e, que mais curiosamente ainda pertence a essa que vos fala. – Estufou o peito.
- Seria o... Rabbit Hole? – Ingrid disse após checar o seu Guia turístico. Cosima se surpreendeu ao constatar que seu pequeno estabelecimento constava em um guia de turismo da sua cidade.
- Isso mesmo! – Foleou o pequeno livro e leu que aquele era um lugar para tomar um dos melhores cafés da cidade, além de curtir boa música e encontrar bons livros. Ficou ainda mais orgulhosa.
- Lá está nossa bagagem! – Anne correu até a esteira e retirou as grandes malas delas. Pouco depois as bagagens de Cosima também chegaram e as suas mais novas amigas lhe ajudaram a colocar tudo em um único carrinho.
- Caramba! Você passou muito tempo na França? – Ingrid a perguntou devido a quantidade de malas. Cosima ficou cabisbaixa e o pequeno momento de distração que teve com elas chegou ao fim.
- Na verdade fiquei pouco mais de dois meses. – Disse pensando que tanta coisa aconteceu em tão pouco tempo. Sua expressão distante alertou as mulheres que perceberam de imediato que haviam tocado num delicado assunto. Elas sabiam por alto o motivo daquela mulher ter retornado ao seu país e que deveriam vigiá-la de perto. E isso começava por estabelecerem algum tipo de contato com ela, como estavam fazendo. – Mas era para ficar mais, porém... – Balançou a cabeça e agitou as mãos fazendo suas pulseiras chacoalharem um pouco. – Não deu certo e estou de volta. – Lhes ofereceu um sorriso fingido.
- Bom, vamos indo agora! – Anne tratou de se afastar dela para darem prosseguimento a sua missão. Haveria momentos que precisariam estar mais próximas e outros mais afastadas dela. Além do mais sabia que já havia outra agente do Exército de Ártemis por ali e que em breve faria contato com elas. – Mas já sabemos onde iremos jantar! – Piscou um olho para Cosima.
Despediram-se e Cosima ainda as observou seguirem pelo corredor que as levaria para a alfândega, depois as perdeu de vista. Passou sem maiores problemas pela segurança do aeroporto e já caminhava de cabeça baixa, e empurrando seu carrinho já checando a possibilidade de chamar um uber para ir para casa. Quando ouviu um burburinho que vinha do saguão de desembarque.
- Lá está ela! – E quando levantou os olhos quase foi ofuscada pela enxurrada de cores dos balões e cartazes que seus amigos seguravam para lhe receber. – Cos! – Foi inevitável não perceber o chamativo e ultra colorido modelito que Amanita estava vestindo, combinando com os balões que ela segurava. Junto a ela estavam Nomi, Scott, Izzy e sua mãe, que segurava um cartaz dizendo que “mamãe estava com saudades”.
Paralisou por alguns instantes os observandos atordoada, mas não estava envergonhada. Muito longe disso, estava apenas se deixando atingir pelo mais puro amor que seus amigos e familiares estavam lhe mandando. Empurrou seu carrinho mais vigorosamente e assim que os alcançou foi recebida num grande abraço coletivo.
Os risos de alegria deles logo perdeu espaço para o copioso choro dela, que nada tinha a ver com a emoção de estar revendo-os, era a demonstração mais crua e honesta do que estava guardando em seu peito e sabia que se haviam pessoas que poderiam ajudá-la a suportar tudo aquilo, eram eles.
- Oh minha filha! – Saly Niehaus, sua mãe, a abraçou individualmente. Ambas sempre tiveram uma relação de amizade muito bonita e essa só se intensificou após Cos ter se assumido ainda bem nova.
- Tá doendo mãe! – Afastou a cabeça momentaneamente do ombro da mãe para em seguida retornar a esse lugar.
- Eu sei minha filha... Mas se há algo na vida que passa é dor de amor! Confie em mim! – Segurou o rosto dela e enxugou as lágrimas com as mãos.
- Isso mesmo Cos... Estamos aqui para você! – Izzy acariciou as costas da amiga.
- Vamos tratar de te deixar tão ocupada que não terás tempo de pensar na professora louca! – Nomi se prontificou, mas foi duramente repreendida por Amanita. Ela não entendeu bem o motivo e segurou o olhar na namorada. Cosima as olhou sem animação alguma, apenas mordeu o lábio antevendo que aquele assunto acabara de se tornar delicado entre as amigas. Enquanto as encarava lembrou-se que foi para Amanita que ligou imediatamente ainda diante do prédio de Delphine e vomitara toda a sua dor sob uma chuva torrencial que lhe encharcou as roupas e que certamente seria um dos motivos de estar com uma leve dor na garganta, sintoma de um resfriado que se aproximava.
"Obrigada por mais essa Delphine.” Pensou tristemente.
- Mas tome aqui que são todos seus! – Nita lhe entregou os vários balões. – E deixe que o Scott leve suas malas. – O amigo fingiu indignação, mas levou o carrinho sem problemas após dar outro demorado abraço na amiga e antiga colega de estudos.
Caminhou de mãos dadas com a mãe, tendo os amigos ao seu lado e aquele acolhedor carinho era realmente o que ela mais precisava naquele momento. Já dentro do carro, recostou sua cabeça no ombro de Saly e fechou os olhos, enquanto ouvia uma animada conversa entre Scott e Izzy acerca do quão concorrido estava o Rabbit Hole desde que ele saíra no guia dos melhores cafés da cidade. Permitiu-se sentir uma pontada de orgulho, mas nenhum pensamento perdurava tempo suficiente para fazer esquecê-la de sua dor mais profunda. Apertou os olhos e encolheu-se ainda mais dentro do abraço de sua mãe.
- Vai passar meu amor! – Saly lhe disse baixo o suficiente para que só ela ouvisse. Cosima ergueu os olhos e alcançou os de sua mãe, exatamente iguais aos seus, como quase todos os seus traços que compartilhavam, já que era praticamente um clone de sua mãe.
- Promete? – Disse ainda mais baixo, repetindo aquela pergunta que sempre fazia a sua mãe quando passava por alguma situação difícil. A mulher mais velha apenas anuiu positivamente com a cabeça, contudo pela primeira vez, não conseguia acreditar naquela promessa. Tinha a certeza que aquela dor, aquela mágoa jamais deixaria seu coração e isso era o que mais temia. Será que Delphine quebrara o seu coração definitivamente? Estragara algo tão precioso para ela? Desvencilhou-se dos braços da mãe e se posicionou melhor, ajustando os óculos no rosto enquanto observava a familiar paisagem dos sobrados de dois andares que cercavam a praça Harvey Milk e sua imensa bandeira da diversidade, que dava as boas vindas aos visitantes.
Para ela foi inevitável abrir um largo sorriso assim que o carro de Scott acessou a Avenida Castro e passaram pelo cruzamento colorido, como era conhecida a encruzilhada que ligava a Av. Castro à Rua 18 onde ficava o Rabbit Hole, seu coração acelerou. Estava em casa!
“Lar, doce lar!” Suspirou e foi a primeira a descer do carro e se espreguiçar diante da fachada larga de seu café. As bandeirinhas coloridas pendiam de várias janelas e um pequeno letreiro em neon anunciava que estava aberto, uma vez que sempre era momento para um bom café.
- Cosima!! – Um grupo de pessoas saiu da cafeteria e a exaltou, só então, quando já estava sendo carregada para dentro, percebeu que havia uma pequena e improvisada festa de boas vindas para ela, organizada por Izzy e Amanita e muitos amigos estavam por lá. E dessa forma a tarde se seguiu com boas risadas, mas a maioria delas foi forçada.
Ela estava bastante agradecida pelo carinho acolhedor dos amigos, mas no fundo queria mesmo era ficar sozinha e se jogar em sua cama e tentar dormir por vários dias seguidos e se afogar em sorvetes e gordices o quanto pudesse. Evitou ao máximo bebidas alcoólicas, pois sabia que a cura etílica não seria o melhor para aquele momento, também evitou os seus deliciosos cafés, deixando inclusive para provar depois as duas novidades que o curso de barista de Scott criaram.
A noite já dava o ar da graça quando educadamente Cosima começou a se despedir de alguns amigos que ainda permaneciam misturados aos fregueses da noite. Sob a alegação do cansaço da viagem, que não era de todo mentira, agradeceu o carinho e a presença, mas precisou prometer que daria uma de suas festas musicais para comemorar ainda mais o seu retorno. Esse era o mau (ou bom) dos seus amigos boêmios do Castro, tudo era motivo para festa.
Deixou Scott cuidando do café e subiu com Izzy e Amanita para o seu apartamento. Suas amigas deixaram que ela mesma usasse sua chave para abrir a porta e assim que mergulhou no seu pequeno, mas acolhedor apartamento, deixou-se abater definitivamente. E lágrimas voltaram a escorrer em seu rosto.
- Oh minha amiga! – Nita a segurou pelos ombros e a guiou até o sofá. – Sinto muito mesmo por tudo isso! – Era o que ela poderia dizer enquanto se compadecia do estado lastimável da mulher que chorava copiosamente enquanto fitava o teto.
- Tome aqui! – Izzy trouxe um copo com água em uma das mãos e um comprimido pequeno na outra.
- O que é isso? – Ergueu uma sobrancelha e a encarou já sem os óculos que segurava em uma das mãos.
- Calma Cos... Não é nada demais, apenas um calmante leve para lhe ajudar a dormir essa noite. – Ela olhou para o remédio estendido para si e ponderou se queria novamente entorpecer quimicamente a sua perturbada mente.
- Tudo bem, pode deixar aqui Iz... Vou tomar um banho, pois estou com essa mesma roupa há quase 20 horas.
- Então era a sua calcinha esse cheiro terrível? – Amanita brincou, arrancando uma careta de repreensão da amiga. Banhou-se demoradamente, deixando que a água morna acariciasse seus ombros pesados.
- Nita?! – Chamou a amiga que adentrou o banheiro logo em seguida.
- Eu! – Chegou próxima ao box e nem ela nem Cosima se incomodaram com aquela situação, pois já tinham intimidade o suficiente para aquilo, já que se conheciam desde crianças.
- Tu podes pegar um pijama para mim na... – Ponderou alguns instantes – Na mala azul. Acho que está lá. – Prontamente fez o que lhe foi solicitado e retornou segurando uma calça de pijamas masculina e uma camiseta. Cos já estava fora do box se enxugando quando contemplou a muda de roupa trazida pela amiga e riu após um longo suspiro, pois reconheceu de imediato o perturbador perfume de sua professora nelas. Ela as usou na ultima noite em que passaram juntas. Pensou seriamente se deveria tocar fogo nelas, mas depois concluiu que se fosse surtar daquela maneira, teria de se desfazer de boa parte das roupas em sua mala e decidiu que não seria aquele tipo de sofredora.
Vestiu as roupas mesmo assim, lançando-se o desafio a não se pegar a coisas bobas como aquela, embora em seu íntimo, sabia que já estava viciada naquele cheiro e ele estava profundamente encrustado em sua alma. Não seria uma muda de roupa que mudaria aquilo. Vestiu o confortável conjunto, retornou para a sala e encontrou as amigas muito bem deitadas nos sofás.
- Iz... Acabei de ver suas malas no quarto. Estás mesmo decidida? – Se enfiou entre elas no sofá deitando a cabeça no colo de Amanita e soltando as pernas sobre o colo de Izzy.
- Decidida sim... Se tenho a certeza do que estou fazendo? Não mesmo! Mas, de alguma forma eu sei que isso é o que devo fazer. – Referia-se a sua mudança para a casa do casal com quem havia se envolvido e estava vivendo uma relação de poliamor. Cos e Nita trocaram olhares receosos, pois compartilhavam a idéia de que aquela pudesse ser uma coisa precipitada, mas sabiam que poderiam se met*r na vida da amiga. – É claro que se você precisar que eu fique um pouco mais por aqui com você, não tem problema viu? – Preocupou-se.
- Não seja boba Iz... Não sou nenhuma criança. Vá viver a sua felicidade. – Cutucou a barriga da amiga com os pés causando-lhe cocegas.
- Ei srta... Está na hora de retocar esses dreads! – Nita acariciava o cabelo dela.
- Pois é... Confesso que estou pensando em retirá-los um pouco. – as duas mulheres se olharam e voltaram sua atenção para a amiga. – Deixar meu cabelo respirar um pouco... Ao natural... O que vocês acham?
- Bom, desde que me lembro você os usa. – Izzy respondeu. – Mas seria interessante vê-la sem eles. – Ponderou.
- Tai! Talvez essa mudança seja boa para sua pessoa! – Nita brincou e ainda conversaram um pouco sobre possíveis cortes de cabelo e sobre a mudança de Izzy, mas a verdade era que as três estavam evitando “a conversa” que estava pairando no ar. O desfecho repentino do relacionamento de Cos e sua professora.
- Mas Cos... – A mulher negra olhou firme para a outra e recebeu um aceno de cabeça como incentivo. – O que você pretende fazer com o seu pós-doc? – Era um início de conversa menos dolorido. Se é que isso poderia ser possível, pois aquele retorno de Cosima representava interrupções de tantas coisas. Eram tantas dores misturadas que a própria Amanita não sabia como a amiga estava conseguindo manter a sanidade.
- Eu ainda não tenho certeza. – Sentou-se e fitou os óculos já gastos em suas mãos. Pensou rapidamente que também estava na hora de muda-los. – Sei que não pretendo desistir dele. Preciso só ver onde eu poderia fazê-lo, mas seria aqui mesmo nos EUA.
- Isso seria possível? – Izzy questionou interessada nos caminhos que a amiga seguiria.
- Sim... Temos excelentes programas de pós por aqui, eu só precisaria me organizar com os prazos. – Esfregou a testa com as mãos e deixando os antebraços cruzados sobre a testa.
- Mas... São programas tão bons quanto o da Sorbonne? – Fez uma careta de dúvida para Izzy, pois estava chegando muito perto daquela ferida que estava em carne viva.
- Eu diria que alguns são até melhores, mas o problema é que nenhum deles tem... – Interrompeu sua fala, pois sabia que as amigas sabiam a quem ela estava se referindo.
- Delphine Cormier! – Nita ousou pronunciar o nome que muito provavelmente seria proibido dali para a frente. Cosima apenas afastou os braços do rosto e olhou com o canto dos olhos para a morena. Comprimiu seus lábios e anuiu sem força com a cabeça. Aquela era a dura realidade. Ela perdeu a oportunidade de ouro da sua carreira. Definitivamente a Toda Poderosa Cormier era o suprassumo da sua área e por mais brilhantes que fossem as professores e professores dos EUA, ninguém se aproximava dela.
Sentiu aquele já familiar nó em sua garganta, pois estava sendo confrontada com tudo o que lhe fora bruscamente roubado. Mas refreou a vontade de chorar novamente e permitiu que o amargo sabor da raiva pairasse em seu coração. Afinal de contas, havia optado por aquele caminho.
- Não existe uma pesquisadora como Delphine Cormier! – Aquele nome saiu fácil de seus lábios, embora o sabor agora fosse outro. – Até isso ela me tirou. – Inclinou-se e apoiou os braços nos joelhos até que alcançou o comprimido deixado por Izzy. O tomou seguido de um longo gole de água. – Foi covarde até nisso! – Amanita fez menção a dizer algo, mas a Izzy a interrompeu. Sabia que a amiga precisava colocar para fora tudo o que estava lhe machucando e que elas deveriam simplesmente estar ali para ela. – Não poderia nem se quer me permitir alcançar o que fui buscar, o meu título. – Bufou jogando-se contra o sofá com o olhar distante.
- Bom, é mesmo complicado ela não ter conseguido separar o lado pessoal do profissional. – Izzy não se conteve e atraiu a atenção dela. Cosima fitou a amiga ponderando o que deveria ou não contar a elas, pois o profissional e o pessoal estavam profundamente imbricados naquela estória toda.
- Realmente! – Mentiu.
- Olha só Cos... Ela deve ter tido um bom motivo... Pelo que você me disse, ela parecia estar realmente apaixonada por você. Deve ter acontecido alguma coisa muito séria... – Amanita parecia, estranhamente, tomar as dores e o partido de Delphine. Cosima a olhou com a testa franzida, mas logo relaxou, pois sabia que apesar do jeito louquinho de sua amiga, ela sempre foi muito justa e não quis julgar a outra mulher sem antes saber de tudo. Porém, ela não poderia contar tudo a amiga.
- Bom, se ela teve não me disse. – Quis colocar fim naquela conversa, pois temia que o seu emocional abalado lhe traísse e ela poderia deixar escapar algo indevido. Ter seu coração despedaçado por Delphine não significava que ela deveria trair a Ordem. Pelo menos não daquela maneira. – E como eu disse... – Levantou-se de pronto. – Foi uma covarde. – Espreguiçou-se verdadeiramente cansada. – Moças...
- Essa é a nossa deixa! – Amanita se levantou. – Estou de saída, até por que a Nomi está me esperando em casa. – Disse enquanto abraçava a amiga. – Mas sabe que se precisar de qualquer coisa é só me ligar! – Fez um gesto simulando o telefone. Despediu-se de Izzy que a levou até a porta.
Cosima ainda esperou que sua (ainda) colega de apartamento retornasse para lhe desejar boa noite. Olhou para suas malas e decidiu que não tocarias nelas naquele momento. Todo o seu corpo clamava por sua cama. Assim que entrou em seu quarto, percebeu que ele fora recém arrumado e que aquilo muito provavelmente tinha a ver com sua mãe, uma vez que organização e limpeza não eram muito do feitio de Izzy. Percebeu também que havia um bastão de incenso no suporte indiano que fora uma presente de Saly e teve a certeza que o carinho em seu quarto, fora de sua mãe.
“Ah mãe... Eu te amo!” Pensou assim que deitou em sua cama após acender o incenso. O perfume fresco da roupa de cama recém trocada, misturado com a essência cítrica do incenso de folha laranjeira lhe envolveram e contribuíram com o efeito poderoso do calmante que tomara. Aninhou-se sob a sua manta de retalhos favorita e sentiu o pesado sono ir lhe consumido enquanto olhava cada detalhe daquele ambiente tão acolhedor e que lhe representava nas minúcias. A imensa cama de madeira antiga que assim como sua escrivaninha e a cadeira de couro clássica, foram compradas num leilão de móveis usados. As janelas altas que davam acesso para um charmoso jardim aos fundos do sobrado eram adornadas por cortinas cor de vinho transparentes, que tinha blackouts para garantir a privacidade e tranquilidade para um bom sono. O imenso espelho quase não podia ser visto devido à quantidade de colares e lenços pendurados nele, era exatamente assim mesmo que ela gostava, tudo a mostra para que ela pudesse montar seus looks.
Sobre o piso de madeira escura polida havia uma antiguíssimo e adorado tapete em tons de vinho, lilás e vermelho que herdara de sua avó e sobre a escrivaninha dezenas de pequenos quadros e porta-retratos contando um pouco de sua história.
Apesar de tudo o que estava passando, sentia-se verdadeiramente bem por estar em casa e com essa sensação agradável, encontrou a posição ideal e finalmente quando estava prestes a relaxar, teve seus olhos atraídos para um pedaço de papel afixado no seu quadro de avisos. Franziu a testa e forçou seus olhos sem os óculos, mas não precisou se levantar para ver do que se tratava. Era uma cópia impressa do e-mail que recebera da Professora Cormier.
“Merd*!” E o sono, que deveria ser tranquilo, foi tumultuado e permeado por sonhos com aquela que dominava cada recanto da mente dela.
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A manhã já dava o ar da graça com os primeiros raios da primavera que se anunciava e aquecia aquele frio quarto. Ainda sobre a cama, Delphine evitou se mover de forma demasiada, tomando o cuidado de não perturbar quem dormia tranquilamente sobre seu peito.
Se permitiu apreciar a agradável e acolhedora sensação de tê-la ali ao seu lado e não resistiu a vontade de acariciar os perfumados e sedosos cabelos louros que estavam espalhados sobre ela. Após alguns minutos de carinhos mais suaves, fez questão de aumentar um pouco na intensidade, com a evidente intenção de acorda-la.
- Só mais cinco minutinhos... – Aquela pequena pessoa repetiu a frase que disse nas ultimas três manhãs que acordaram juntas.
- Já está na hora de levantar Manu! – Apertou-a com um pouco mais de força e depositou um beijo no topo da cabeça dela que gem*u algo incompreensível em resposta. Ainda sob protestos a menina sentou-se coçando os olhos e bocejando demoradamente. Seu corpinho pendeu um pouco para frente indicando que ainda havia muito sono naquele pequeno corpo e Delphine precisou se controlar para não gargalhar da menina, pois havia feito aquilo antes e foi alvo da poderosa fúria da criança que quebrou um caríssimo jarro chinês que adornava seu apartamento apenas com o poder de sua mente.
Estava sendo uma experiência e tanto ter aquela criança em seu dia a dia, e precisou dar o braço a torcer e reconhecer que Siobhan havia acertado em cheio em manda-la para ficar com ela. Após uma semana da partida de Cosima, ela ainda estava arrasada e não saia de seu castelo por nada, mal se alimentava ou dormia, apenas permanecia deitada, mergulhada em seu sofrimento.
Assim o “Furacão Manu”, como passou a chamar a menina, chegou com tudo, obrigando-a a sair de seu letárgico estado de autocomiseração[1]. E toda a sabedoria de S fazia sentido já que uma precisava desesperadamente da outra, pois ela reconhecia que ninguém na Ordem era páreo para lidar com o poder que parecia infindo da menina. Apenas Delphine parecia ser capaz de controlar a criança e assim, ajudá-la e aprender a controlar seus dons.
- Tá cedo ainda Del! – Afundou a cabeça no travesseiro ao lado dela.
- Tudo bem então... Acho que teria de arrumar outra companhia para ir aos Parque Elancourt e ao Astérix Plailly... – Disse com fingindo desdém enquanto se levantava da cama.
- Aonde a Srta pensa que vai? – Quando Delphine se virou Manu já estava de pé na cama com ambas as mãos na cintura e com o queixo levemente erguido em um claro sinal de desafio. A boca carnuda cerrada e o cabelo bagunçado tornavam aquela cena hilária e fofa ao mesmo tempo.
- Então se apresse mocinha. – Demandou reproduzindo a mesma pose dela e indicando o banheiro com um gesto de cabeça.
Logo as duas estavam diante do espelho escovando seus dentes, sendo que a menina estava sob um banquinho que ela mesma havia levado para o banheiro e o feito seu.
- Bom dia moças! – Helena as cumprimentou assim que ambas entraram na cozinha já devidamente banhadas e vestidas.
- Oi Tia Helena! Vai com a gente visitar o Parque do Atérix? – A menina questionou enquanto fazia força para abrir a geladeira. Após não ter sido bem sucedida, afastou-se após alguns segundos a porta abriu-se sozinha e de forma brusca, sacudindo as embalagens que haviam lá dentro.
- Manu! – Delphine a repreendeu! – Eu já lhe disse que não deves usar seus dons dessa maneira! – A menina ergueu os ombros fazendo uma expressão de que não havia compreendido. Pensou algumas vezes em responder a mulher mais velha, mas a expressão dura que ela tinha no rosto a intimidou.
- Sim Delphine... Desculpe. – Dirigiu-se para a imensa ilha que havia no centro da cozinha, com os bracinhos repletos das coisas que ela recolheu para o seu café da manhã. – Quem quer torradas com geleia de amora? – Sorriu segurando o saco de pão em uma mão e o pote de geleia na outra.
- Eu adoraria Manu. – Helena a ajudou a subir num dos bancos. – Por sua expressão vejo que conseguiu dormir melhor. – Sentou-se ao lado de Delphine e lhe entregou uma pasta contendo alguns relatórios que foram solicitados por ela.
- Felizmente sim. – Sorriu levemente e depois fechou sua expressão ao começar a ler o que lhe fora entregue. Tratava-se dos mais novos dados enviados pela equipe de Stella acerca da movimentação internacional do Martelo, especialmente o fornecimento de armamentos para grupos extremistas no Oriente Médio.
As duas discutiam sobre aqueles dados e mal prestavam atenção na menina que lambuzava fatias de pão integral com manteiga.
Delphine havia optado por preencher seu tempo e sua mente com os treinamentos e a cia de Manu, e com as suas obrigações com a Ordem, afim de afastar o pensamento daquela que permeava cada respiração sua. E por mais que se esforçasse, era impossível não pensar nela, pois fazia questão de falar diariamente com as agentes que estavam fazendo a segurança de Cosima, a fim de certificar-se de que tudo estava bem e sob controle.
Todo o poderoso esquema de segurança que fora montado para proteger Cosima, mostrava que nada estava sendo feito contra ela, o que indicava que de fato o afastamento entre elas aconteceu antes de que Lamartine e o Martelo descobrissem quem ela era e esse era o pensamento ao qual Delphine se agarrava toda vez antes de dormir, quando o silêncio lhe torturava e cobrava o seu preço. Era a resposta que dava a si mesma quando se pegava questionando se havia tomado a decisão correta e lutava bravamente com a vontade de ligar para Cosima, apenas para ouvir a voz dela. Perdeu as contas de quantas vezes se pegou com o telefone na mão, aos prantos e em pleno desespero querendo, necessitando falar com ela.
- A Síria é o nosso principal alvo, mas já temos agentes por lá. – Helena prosseguia em seu papel de relatar os últimos passos da Ordem e do Exercito de Ártemis.
- Eles são doentes mesmo... Como podem alimentar conflitos como esse... MANU?! – Helena assustou-se com o grito de Delphine e quando se virou para ver do que se tratava, ainda conseguiu ver a torradeira flutuando a um metro e meio do chão em direção a ilha onde a menina estava. O grito assustou Manu que piscou duas vezes, fazendo com que o aparelho se esborrachasse no chão. Helena segurou o riso ao ver o revirar de olhos de sua amiga seguido de um suspiro mais profundo. – Essa criança ainda vai me enlouquecer. – Disse já seguindo para recolher a torradeira que aparentemente havia sobrevivido ao “acidente”.
- É que você parecia estar tão ocupada... Eu não queria atrapalhar vocês pra pedir a torradeira. – Disse com os lábios tremendo, anunciando um possível choro. Assim que viu aquele rostinho começar a se contorcer em choro, mudou completamente a sua postura e diminui seu tom de voz.
- Eu sei Manu... Mas eu já lhe disse que seus dons não são para serem usados dessa maneira. Você pode se machucar... – Interrompeu a frase ali, não sabia ainda como dizer a uma criança de sete anos que os poderes dela poderiam ferir outras pessoas. - Além do mais...
- Eu preciso aprender a controla-los antes! – A menina repetiu a frase que mais ouviu nos últimos dias dela e de Siobhan. Em toda a sua tenra idade sabia que era diferente das outras crianças com quem convivia na Fundação e sabia também que nenhuma das mulheres de lá poderiam fazer algo contra ela. A questão que Delphine e S já haviam percebido é que era uma característica marcante daquela pequena pessoa o desafio. Ela apreciava se sentir desafiada, colocada a prova. Somada a isso havia a personalidade forte e altiva que eram características muito marcantes daquela de quem ela carregava o nome e muito mais.
Por várias vezes nos últimos dias Delphine se pegou olhando para a menina buscando e encontrando os traços mais queridos e marcantes de sua mãe. Só esse fato poderia explicar a poderosíssima ligação que ambas tinham, além da impressionante gama de poderes que estavam se manifestando tão precocemente. Outro fator marcante que reforçava essa ideia de que tratava-se do retorno da poderosa alma de Emanuelle Chermont era o terrível dom de prever o futuro, traço raríssimo, mas que estava na linhagem das mulheres Chermont, pois a sua avó Aurora também fora uma pitonisa. E esse era o principal dos dons que precisariam ser bem trabalhados naquela criança.
Tomaram o café da manhã com as deliciosas torradas feitas por Manu e saíram as três para mais um dia de passeios por Paris. O deslumbramento e a felicidade infantil estava realmente fazendo bem a Delphine, levando a até mesmo a conseguir se permitir provar esses pequenos momentos de felicidade. Era o que estava acontecendo naquele instante enquanto ela e Helena observavam-na correr com um bastão e uma borracha fina, fazendo bolhas de sabão. Estavam sentadas na grama sob uma frondosa macieira em um parque apinhado de outras pessoas que assim como elas, estavam começando a aproveitar os primeiros raios de sol mais quentes da primavera.
- Olha o tamanho dessa, Tia Helena! – A menina vinha saltitante em direção a elas, mas não viu uma pedra e tropeçou quase caindo, deixando Delphine brevemente assustada, mas a pequena começou a rir de si mesma e logo a loira também ria com ela, contudo essa risada cessou, como se ela houvesse lembrado-se de algo ruim.
- Você pode ser feliz sabia? – Helena a observa sob os óculos escuros e lhe tocou o ombro, acariciando-a.
- Eu sinto como se não merecesse... – Inclinou-se e abraçou os joelhos com os próprios braços e apoiando o queixo sobre eles.
- Deixe de bobagens. Até a Mestra da Ordem do Labrys pode e deve ser feliz. – A loira apenas a olhou pelo canto dos olhos que estavam escondidos sob grandes óculos negros.
- Eu até poderia... Mas me diga, como posso ser feliz enquanto ela está tão triste? Quando magoei demais a pessoa que eu mais amo? – Não nomeou, mas ambas sabiam a quem ela se referia.
- Delphine... Vou lhe repetir o que você mesma me disse: Foi para o bem dela! Hoje temos a certeza disso. A cada dia que passa, Lamartine e o Martelo estão mais distantes dela. – Tentou buscar algum consolo para amiga.
- É... – Suspirou derrotada. – E eu também. – Ergue-se e espreguiçou-se vagarosamente. – Ei Manu... Não vá para tão longe. – Chamou pela menina que corria em direção a algumas árvores e pareceu não ouvir o alerta da mulher mais velha.
- Será por pouco tempo minha amiga! – A morena também já estava de pé ao seu lado.
- Eu sinceramente não se conseguirei aguentar mais tempo Helena. Mal se passou duas semanas e eu estou à beira de uma loucura e mandar para o inferno toda a razão e sair correndo ao encontro dela. – Virou-se para encarar a amiga e retirou os óculos revelando os marejados olhos verdes. – Mas sei que não posso fazer nada disso. Tenho minhas obrigações com a Ordem e com... MANU! – O alerta em sua voz despertou a atenção de Helena que também não via mais a menina.
- Para onde ela foi? – A morena ergueu e baixou os braços bruscamente.
- Essa criança ainda vai me enlouquecer!
“Manu, onde você está?” Estabeleceu aquela peculiar conexão que também possuía com ela.
“Estou aqui Del... Veja só o que eu encontrei!” Respondeu sem maiores esforços de Delphine, que seguiu para onde presumia que a menina estava. Helena a seguia e assim que as duas mulheres contornaram algumas árvores mais afastadas das demais pessoas se surpreenderam ao ver a menina no topo de uma árvore, há mais de quatro metros do chão.
- Como...? – Desistiu de continuar com a pergunta. – Dessa já daí! – Delphine demandou e assistiu com evidente apreensão ela tentar obedecer a ordem recebida.
- O que é aquilo que ela tem nas mãos? – Helena questionou após depositar os óculos no topo de sua cabeça.
- Não faço ideia, mas... – Virou-se para sua protetora – Você poderia, por favor, retirá-la de lá. – Pediu. A morena sorriu e retirou sua jaqueta preta e a entregou a Delphine, revelando uma blusa branca extremamente grudada em seu corpo. Com a destreza de quem fazia coisas como aquela com uma naturalidade inata, a mulher escalou a árvore e sem maiores esforços, alcançou a criança.
- O que você tem ai? – Perguntou tranquilamente enquanto suspendia a menina com cuidado e a envolvia em um dos braços.
- Ela não é linda? – Manu revelou uma pequenina bolinha de pelos de cor negra que assim que revelada, miou com toda a força de seus diminutos pulmões. A menina entregou o animal para Helena e a gatinha agarrou-se na blusa e nos braços da mulher, arranhando-a.
- Caramba Manu! – Em num salto mais seguro, atingiu o chão tendo a menina num dos braços e a gatinha no outro.
- Me dá ela! – Exigiu a menina que virou-se lentamente para Delphine, sabendo que seria duramente repreendida. Não se enganou! A mulher estava de braços cruzados e de queixo erguido e maxilar rígido.
“Me desculpe Del!” “Sei que não deveria ter me afastado nem ter usado meus poderes, mas...” Estendeu o animal para ela. “Ela precisava de mim!”
“Eu realmente não sei mais como fazê-la entender que corres risco demais!”
“Ah... Mas também não é assim!” Emburrou e ousou caminhar de volta para o parque.
“Onde a srta. pensa que vai?” Ela pisou firme indo atrás da menina. Helena assistia aquela cena completamente confusa, pois via as duas exibindo suas expressões, como se estivessem conversando, mas não diziam nada. Apenas pode erguer os braços e seguir atrás delas.
- Você não poderia me deixar impune não é mamãe? – Delphine lançou sua pergunta ao vento, certa de que aquele era algum tipo de carma, estava provando do próprio “veneno”, pois fora uma criança extremamente difícil e deu muito trabalho à sua mãe. Agora o ciclo iria se fechar. Riu daquele pensamento e se sentiu verdadeiramente feliz pela primeira vez desde que seu grande amor fora embora.
- Teremos muito trabalho minha amiga! – Helena a alcançou. A loira a olhou com ar de desespero no rosto e ambas riram.
- Ei Manu, para onde você pensa que vai com esse gato? - Andromeda! Esse será o nome dela!
- Apossou-se do pequeno animal sem nem se quer pedir permissão a Delphine que pode apenas revirar os olhos e seguir aquele furacão em forma de menina.
______
Os dias passavam cada vez mais rápidos e sem que conseguisse de fato perceber, já fazia quase dois meses que tinha retornado de Paris. Procurou se ocupar com o máximo de atribuições possíveis para preencher seu tempo e sua mente. Decidiu que não permitiria que Delphine lhe privasse de seu sonho de ter o seu PhD e então passou os últimos dias adaptando o seu projeto para que pudesse pleitear uma vaga no programa de pós da Universidade da Califórnia em Berkeley, a mesma onde havia obtido o seu doutoramento e que contava, entre outras, com a renomada filósofa Judith Butler [2] em seu corpo docente.
Com o seu currículo e seu trabalho muito bem conhecido e conceituado naquela Universidade, certamente iria obter a vaga almejada. Estava ansiosa pela resposta, mas essa ansiedade em nada se aproximava daquela expectativa que sentiu antes de ter o seu projeto aceito por Delphine. Tentava se enganar achando que era aquilo que realmente desejava e evitava pensar nas decisões que precisaria tomar acerca das informações que possuía acerca da Ordem.
Diferente de antes, ela agora sabia da existência daquela sociedade ainda nos dias de hoje e que ela estava mais forte do que nunca. No curto espaço de tempo que esteve com as mulheres da Ordem pode perceber e descobrir o quão poderosa aquele grupo de mulheres era, abrangendo as mais variadas áreas e esferas de poder. Cosima sentia que algo tão grandioso e que atribuía tanto poder às mulheres precisava ser conhecido pelo mundo, mas em contra partida havia o segredo que deveria ser mantido.
Estaria ela pronta para tomar essa decisão?
Achou melhor afastar essa ideia da cabeça e se concentrar no pedido que Amanita acabara de lhe fazer.
- Por favor Cos, faz isso para mim! – Só faltava se ajoelhar aos pés da amiga fingindo suplicar pela ajuda que sabia que receberia.
- Tudo bem Nita! Mas como você está pensando em fazer isso? – Debruçou-se sobre o balcão do Rabbit Hole e assistiu sua amiga dar saltinhos e palmas de alegria.
Ouviu atentamente todos os planos que a amiga tinha para pedir sua namorada em casamento e de como esperava contar com a ajuda dela para que tudo fosse perfeito.
Planejava fazer o tão ansiado pedido ainda naquela noite, durante o Hard French que iria acontecer no bar El Rio, onde todos estariam presentes para celebrar o aniversário da futura esposa de Amanita.
Observar a empolgação e a felicidade da amiga lhe causava sensações antagônicas. Compartilhava da alegria dela em poder selar a sua união com quem tanto amava, mas ao mesmo tempo se recriminava por sentir algo parecido com inveja dela. Sabia que aquilo era uma tolice, mas não conseguia afastar aquele amargor no fundo de sua garganta. A tremenda desilusão da qual ainda estava tentando se recuperar parecia que havia maculado de vez a sua fé num sentimento tão puro como o amor e esse era o dos motivos dela tentar nutrir aquela perigosa erva daninha chamada ódio.
Sim! Desejava odiar Delphine com todas as suas forças, e sabia que tinha todas as razões para isso, mas a verdade era que não conseguia e essa frustração parecia catalisar a sua dor, que agora parecia estar mais escondida, porém continuava machucando na mesma intensidade.
- Boa tarde! – Uma voz já conhecida se fez ouvir após o tilintar do sininho que ficava sobre a porta de entrada do café.
- Sejam bem-vindas de volta! – Cosima sorriu de forma acolhedora para as suas mais novas amigas, Ingrid e Anne. – Temos boas notícias? – Contornou o balcão e foi ao encontro delas.
- Nossa, é verdade! Já saiu o resultado? – Amanita compartilhou a empolgação de Cosima.
- Sim! Consegui a vaga! – Ingrid disse após uma pausa dramática, causando uma pequena comoção entre as quatro e atraindo a atenção dos fregueses que quase lotavam o café no meio daquela tarde de sábado.
- Que notícia maravilhosa! – Cosima as abraçou. – Eu tinha certeza que você conseguiria o emprego com um currículo como o seu.
- Minha esposa é realmente espetacular! – Anne envolveu sua companheira pela cintura. Todas estavam comemorando a contratação de Ingrid, a francesa que veio apenas para uma semana de lua de mel e acabou ficando mais tempo, pois surgiu uma vaga na filial americana da empresa que ela trabalhava. E desde o primeiro momento, elas se tornaram amigas de Cosima e de Amanita.
O que Cosima não desconfiava era de que não havia emprego algum, a permanência das duas mulheres ali era tão somente porque Delphine estava satisfeitíssima com o trabalho delas vigiando Cosima e lhe mantendo informada sobre praticamente todos os passos dela.
- E as boas notícias não param por aqui! – Anne anunciou causando certa expectativa nas outras mulheres. – Também conseguimos o “apartamento amarelo!” – Anunciou empolgadíssima.
- Realmente hoje é um dia de comemorações! – Amanita festejou junto às “novas” amigas. – E as duas estão mais do que convidadas para o Hard Frech de hoje. Parabéns meninas, mas agora preciso ir. – Distribuiu beijos às três e saiu gesticulando para Cosima, indicando que contava com tudo o que havia pedido. Essa ainda explicou à Anne e Ingrid o que seria aquela festa e ofereceu uma rodada de chás gelados por conta da casa para celebrar todas as boas notícias.
Outra coisa que ela desconhecia era que o tal “apartamento amarelo”, o primeiro andar de um sobrado aconchegante que ficava no mesmo quarteirão do Rabbit Hole, e que só foi possível que elas o alugassem porque Delphine comprou todo o edifício que ficava num concorrido bairro de São Francisco. Com a clara intenção de estreitar ainda mais a relação delas com Cosima e assegurar ainda mais a segurança de sua amada.
Após beberem os chás e beliscarem o quiche de espinafre delicioso que era servido como acompanhamento, se despediram a fim de se prepararem para a noitada de sábado que prometia ser bastante divertida.
Cosima passou as ultimas instruções para Kelly e Lou, os dois funcionários que precisou contratar para ajudá-la no café. Os dois ficaram incumbidos de cuidar do café naquela noite. Quando teve certeza de que tudo fora compreendido subiu para se preparar. Adentrou no apartamento que agora era só seu, pois Izzy mudou-se há mais de um mês para morar com o casal que estava namorando.
Percebeu que sentia falta da amiga, até mesmo da bagunça que ela deixava por onde passava. Além do mais, o silêncio deixado lhe incomodava ao extremo, pois abria caminhos para que seu pensamento voasse longe e atravessasse o Atlântico, chegando até em Delphine.
Nesses quase dois meses, não obteve nenhuma notícia dela, e tudo o que sabia sobre ela era o que os seus amigos franceses deixavam escapar durante as longas conversas de vídeo que tinham. Mas tudo girava em torno de como ela retomou o seu perfil de intangibilidade e frieza. Em todas as conversas ela se roía de vontade de perguntar se eles sabiam se ela estava saindo com alguém, mas seu orgulho era ainda mais poderoso.
Procurou afastar esses pensamentos de sua mente e já de banho tomado, escolhia suas roupas para aquela noite e decidiu que iria para arrasar. E isso nada tinha a ver com as tentativas infelizes de seus amigos de arrumarem encontros para ela e sim porque iria ter um papel fundamental no pedido de casamento de suas amigas.
Optou por um vestido cor de vinho de comprimento extremamente curto e de alças finíssimas que deixavam muito de seus ombros e braços a mostra. Optou pela bota de cano longo e de saltos finos e penteou os seus volumosos cachos castanhos, agora livres dos dreads e iam até um pouco abaixo de seu queixo. Manteve a sua maquiagem de sempre e optou por uns óculos mais alternativo e que ressaltava seus olhos. Ainda resistia a ideia de trocá-los por lentes de contato e de fato os óculos permitiam que ela pudesse mudar um pouco o seu visual, pois mandou fazer três modelos novos e diferentes daquele que usou pelos últimos dois anos.
Olhou-se diante do grande espelho em seu quarto, aprovando o conjunto da obra. Finalizou o visual com longo colar cor de cobre e pulseiras combinando. Desceu os degraus com todo o cuidado devido aos saltos de sua bota e carregou em uma das mãos uma pequena bolsa e na outra o estojo contendo o seu violão favorito. Iria tocar e cantar naquela noite e preferia fazê-lo com o seu instrumento.
Pouco mais de quinze minutos depois estava descendo diante do El Rio que já possuía uma pequena multidão em sua calçada, e ela chamou a atenção de todos que pousaram seus olhos nela. Vários conhecidos e amigos já estavam por lá e os cumprimentou alegremente.
- Cos! – Nomi acenou para ela assim que adentrou o salão. A amiga indicava a mesa que havia reservado para a sua comemoração e que já estava quase toda completa. Scott, Izzy que levou Emma consigo também já estava lá, e Ingrid e Anne acabaram de se juntar a eles.
- Feliz aniversário Nomi! – Cumprimentou a amiga com um selinho nos lábios e retirou de dentro do estojo de seu violão um pequeno pacote elegante. O entregou para a aniversariante que ficou bastante agradecida com a lindíssima echarpe indiana que ganhara. A enrolou no pescoço e ficou satisfeitíssima, ela combinava perfeitamente com o seu look da noite. Partiu para abraçar mais pessoas.
- Tudo pronto? – Cosima sussurrou para uma nervosa Amanita.
- Acho que sim! – Disse logo após virar um shot de tequila de uma vez só.
- Vá com calma moça! Tens medo de quê? Achas mesmo que a Nomi não aceitaria seu pedido? – Tentou tranquilizar a mulher que falhava em esconder sua ansiedade.
- Eu acho que não né? – Olhou com receio para a amiga.
- Vem cá! Me dá uma aqui... – Serviu-se de uma generosa dose de tequila e virou junto com a amiga.
- Ei! Esperem por nós! – Izzy protestou e tratou de servir a todos. – No três! 1,2 e 3... – Todos ao redor da mesa viraram suas doses e riram felizes.
A noite transcorreu animada daquela maneira e foi regada a várias doses de tequila e vodka, onde Cosima, para a surpresa dos amigos, estava exagerando um pouco mais do que estava acostumada. Porém, antes mesmo dela ser alertada por Scott, chegou o momento do tão esperado pedido de casamento.
- Boa noite todas e todos! – Uma nervosíssima Amanita saldou a todos. O que já chamou a atenção, pois ela costumava ser mestre de cerimônias em festas como aquela e era conhecida por sua alegria e tranquilidade com que lidava com situações como aquela. – Eu gostaria de convidar uma grande amiga minha e alguém que muitos aqui conhecem. Ela vais nos prestigiar com sua deliciosa voz e vai me ajudar num em algo muito importante. – Um burburinho teve início. – Com vocês, minha amiga Cosima Niehaus! – Ela bebeu o resto de sua dose de Absolut e retirou seu violão Fender preto do estojo e subiu no palco sob vários aplausos e assovios, alguns mais entusiasmados do que deveriam devido ao seu visual super sexy.
- Olá pessoal... Obrigada Nita! – Pendurou o violão no pescoço e cochichou algo com os dois músicos que já estavam avisados do que aconteceria ali. Sentiu sua cabeça um pouco leve demais e percebeu que todo o álcool que ingeriu já começava a fazer efeito. – Mas essa noite é muito especial para uma querida amiga minha. Hoje é o aniversário da querida Nomi. – Todos aplaudiram e alguém entoou um parabéns a você que foi seguido por todos os presentes inclusive por Cosima. – Mas não foi isso que vim fazer aqui em cima. – Arrancou risos dos presentes. – Peço que vocês me permitam chamar uma outra pessoa aqui no palco. Nita? – Esticou a mão e puxou a amiga para seu lado.
- Meu amor... Eu gostaria de lhe desejar um feliz aniversário... – Enquanto ela falava, Cosima já iniciara os acordes inicias de uma música especial. Amanita gesticulou chamando Nomi para mais perto. Essa foi com uma expressão surpresa e um sorriso bobo nos lábios. - Cos? – Permitiu e cedeu o microfone para que a amiga começasse a sua parte.
Let the bough break, let it come down crashing
Let the sun fade out to a dark sky
I can't say I'd even notice it was absent
'Cause I could live by the light in your eyes
I'll unfold before you
Would have strung together
The very first words of a lifelong love letter
Tell the world that we finally got it all right
I choose you
I will become yours and you will become mine
I choose you
I choose
You, yeah
There was a time when I would have believed them
If they told me that you could not come true
Just love's illusion
But then you found me
And everything changed
And I believe in something again
Nesse momento, Amanita retirou do bolso uma pequena caixinha preta do bolso de seu comprido e chamativo blazer e ajoelhou-se diante de Nomi, estendendo o que tinha em mãos para a outra.
My whole heart
Will be yours forever
This is a beautiful start
To a lifelong love letter
Abriu a caixinha e dentro dela havia um delicado anel de noivado. Todos os presentes foram tomados pela emoção daquele momento e puderam ler os lábios da mulher morena que dizia:
“Quer se casar comigo?” Mal terminou e a loira já concordou com um incisivo aceno de cabeça quase gritando um sonoro “sim!” Se abraçaram e se beijaram ao som da continuação daquela belíssima canção.
Tell the world that we finally got it all right
I choose You
I will become yours and you will become mine
I choose You
I choose You
We are not perfect we'll learn from our mistakes
And as long as it takes I will prove my love to you
I am not scared of the elements I am underprepared,
But I am willing
And even better
I get to be the other half of you
Tell the world that we finally got it all right
I choose You, yeah
I will become yours and you will become mine
I choose You
I choose You
Os motivos da celebração agora não eram apenas de aniversário, e sim pelo noivado de Nomi e Amanita que recebiam os parabéns de várias pessoas presentes. Ainda precisaram mostrar o anel a muitos e brindarem com outros tantos.
- Cos... Não acha que já bebeu demais? – Scott se aproximou da amiga e cochichou em seu ouvido.
- Qual é Scott? Vocês não queriam que eu me divertisse? – Falou um pouco mais alto do que deveria, atraindo a atenção de Ingrid e Anne que olharam para ela apreensivas. O rapaz pareceu ficar acuado e surpreso com o tom ácido usado pela amiga.
Quem sabia da sua situação conseguia perceber que ela estava literalmente afogando suas mágoas em numerosas doses de tequila e álcool e que mal havia se alimentando, inclusive já começara a embolar algumas palavras.
Aquela inveja escondida nas profundezas de seu coração queria vir a tona, mas ela ainda possuía um resquício de juízo e freou a vontade de dizer que o amor não existia e que suas amigas estavam se enganando. Ao invés disso, teve uma outra ideia.
Levantou-se da mesa e caminhou com alguma dificuldade, pois o mundo parecia girar ao seu redor, mas firmou-se e antes que pudesse ser impedida, pegou mais uma dose de vodka e seguiu de volta ao palco. Assim que assumiu novamente o lugar diante do microfone, falou debilmente com os músicos, indicando a canção que desejava que tocassem. Os rapazes se entreolharam devido ao estado dela, mas seguiram a ríspida ordem dela.
Olhou para a platéia, seus amigos pareciam estar apreensivos do que ela poderia fazer e sem nenhum avisou, gesticulou para que os músicos começassem aquela pesada canção. E antes de iniciar o primeiro verso virou a dose que tinha em mãos.
Love is a lie
Sucking you dry
Love's not a friend
Until the end
You can call it a game
You can choose your own name
When it's stuck in the vein
There's no greater pain
I've got a bell but no sound
I've got a horse but no hound
And I know I'm, know I'm
Love is a lie
Love is a lie
Love is a lie
And I know I'm going down
Now there was a time
Love was blowing my mind
Not a tear, not a doubt
'Til I figured it out
Now I'm madder than hell
Love is wagging its tail
I holler, I cry
Love is a lie
I've got a bell with no ring
I've got a whip but no sting
And I know I'm, know I'm
Love is a lie
Love is a lie
Love is a lie
And I know I'm going
You can call it a game
But there's no greater pain
When it's stuck in the vein
I know I'm going down
I've got a bell but no sound
I've got a horse but no hound
And I know I'm, know I'm going down
Cantou cada frase exalando a dor que lhe consumia o peito e de olhos fechados, deixou-se transbordar por toda a mágoa que lhe torturava e assim que encerrou a última frase, abriu os olhos e ouviu gritos entusiasmados e aplausos fervorosos, mas aqueles sons pareceram estar tão distantes e a intensa luz do holofote que incidia sobre ela, lhe causou um dor intensa e como se alguém lhe roubasse os sentidos, mergulhou na escuridão e do palco, caindo desacordada diante dos atordoados amigos.
Sua consciência retornou aos poucos, fazendo-a imaginar que apenas havia piscado os olhos. Contudo, quando forçou a visão percebeu que não estava mais no El Rio. Muito distante desse. A brancura do lugar, o silêncio quase perturbador e o cheiro de limpeza lhe diziam que estavam num lugar bem diferente.
Um quarto de hospital!
“Que beleza Cosima!” Pensou consigo mesma.
Forçou para tentar se levantar e sentiu uma dor picante em um dos braços e quando olhou para ele percebeu que estava conectada a uma bolsa de soro. Esforçou-se para ler o que estava escrito nele, mas sem seus óculos era quase impossível.
- Glicose! – Uma familiar voz chegou aos seus ouvidos e assim que se virou encontrou o rosto tão conhecido. – Eis que nos encontramos aqui novamente não é?
- Oi... Shay!
[1] Ato ou efeito de sentir pena de si próprio.
[2] Uma das principais teóricas da questão contemporânea do feminismo, teoria queer, filosofia política e ética. Ela é professora do departamento de retórica e literatura comparada da Universidade da Califórnia em Berkeley (Maxine Elliot Professor).[1] Desde 2006 Judith Butler atua como Hannah Arendt Professor de Filosofia no European Graduate School (EGS), Suíça.
Fim do capítulo
I Choose You - Sara Bareilles https://www.youtube.com/watch?v=Q8e5VTlzXgU
Love is a Lie - Beth Hart https://www.youtube.com/watch?v=YtXsK0AGCf8
Comentar este capítulo:
Nina
Em: 09/07/2018
Confesso que fico meio tímida para comentar, mas sua estória é extraordinária, fascinante, e o número de comentários não faz jus a riqueza com a qual nos brinda, desde já obrigada por partilhar conosco.
Resposta do autor:
Fico feliz que tenhas comentado. O que importa é que pessoas como você estão lendo e curtindo..
Obrigada mesmo pelos elogios.
Xeros
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