Capítulo 8 - Diga que já não me quer, negue que me pertenceu
Quando ela sentou eu recuei um pouco instintivamente. Ela então perguntou:
- Você quer que eu sente no chão?
- Não precisa - disse fungando.
Então, ela começou:
- Luísa, queria conversar sobre o que aconteceu lá em Londres...
- Eu sei exatamente o que aconteceu e não adianta você querer me enganar.
- Meu bem, veja só, me deixe falar, ai depois você diz o que quiser, tá certo? - pediu.
Não respondi e limitei-me a enxugar, com a mão, o nariz que insistia em escorrer, mas não mais a interrompi.
- Eu sei que o que aconteceu não tem explicação, nem pretendo arrumar uma. Quero apenas que saiba que foi uma mistura de carência, bebedeiras e fraqueza - disse com as lágrimas escorrendo. - A ideia de viver sem você me mata por dentro e por fora. Você é a minha história perfeita, meu plano bem sucedido. É a mulher que eu sempre quis pra construir uma família, para envelhecer comigo. Peço que reconsidere sua decisão em relação a mim, em relação a nós, que deixe eu te mostrar que eu errei, mas que quero consertar, por favor - concluiu.
Eu tinha permanecido de cabeça baixa enquanto ela falava e as lágrimas já tinham formado uma grande mancha no sofá, logo à frente das minhas pernas que estavam cruzadas em posição de yoga.
Ela, ao contrário, olhava fixamente pra mim, em busca dos meus olhos. Mesmo sem vê-la, podia ouvir sua voz embargada e já fanhosa pelo choro contido.
Quando ela parou de falar, ficamos algum tempo em silêncio até que ergui a cabeça. Meus olhos encharcados cruzaram com os dela, que me olhavam como no dia em que acordei gritando no meio da noite na casa dela.
- Ainda está doendo demais - eu disse aos soluços.
- Lu, você não precisa responder agora. A gente pode ir conversando, retomando aos poucos o contato - sugeriu.
- Mas eu não sei se eu quero. Não sei se consigo fazer isso - duvidei.
- Meu bem, você está confusa, normal. Estamos vivendo uma situação de estresse, não se cobre - disse ela, segurando minhas mãos.
Eu puxei as mãos e ela me olhou como se tivéssemos voltado à estaca zero.
- Lu, veja só, vamos combinar uma coisa então. Você me promete que vai atender minhas ligações, aí nós vamos nos falando e quando você estiver mais segura a gente se encontra, o que você acha? - propôs.
Balancei a cabeça concordando, mas ainda soluçava sem conseguir conter o choro.
Ela se aproximou para me abraçar, mas eu consegui escapar. Ela então levantou, foi até a cozinha e voltou com um copo d'água, o qual me entregou. Ela afagou meus cabelos e subiu em direção ao meu quarto. Pude ver ela e Solange conversando como se fossem amigas. Ver aquilo me lembrou o quanto eu ainda precisava amadurecer. Elas desceram as escadas juntas e se aproximaram de mim. Carol então beijou minha cabeça e disse:
- Fica bem!
Solange sentou ao meu lado e eu me atirei nos braços dela, enquanto Carol se dirigia à porta. Ela já estava quase com a mão na maçaneta quando voltou pra perto de nós, dirigiu-se à Solange e perguntou:
- Você vai ficar por aqui? Digo, vai dormir aqui?
- Tenho feio isso há uma semana - respondeu ela sem me soltar do abraço.
- OK. Não deixe ela só, por favor - pediu.
- Não vou deixar - disse.
- Obrigada - agradeceu Carol.
Escutei ela fechando a porta, mas continuei abraçada com Solange, que sugeriu:
- Lu, por que a gente não come alguma coisa, vai pra praia, fica um pouco lá sentada, toma uma água de coco, depois a gente almoça e volta pra casa? O que você acha?
- Pode ser - respondi, me soltando dela.
Fim do capítulo
Será que a confiança de Luisa será reconquisyada?
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