CapÃtulo 36 – Tudo é uma questão de tempo
Tudo é uma questão de tempo
Não sei se está lendo as cartas que lhe envio, ou se apenas as joga fora ou ateia fogo. Não sei se estou sendo clara em minhas palavras. Mas apenas preciso desabafar, preciso que saiba que ainda estou aqui por você.
Samantha passou a me enviar cartas quase semanalmente. Minha vontade era de fazer exatamente isso. Rasgá-las e joga-las no lixo. Queima-las ou qualquer forma de me livrar delas. Mas eu estava sempre ansiosa por recebê-las. Por assimilar as suas palavras.
Minha querida Liz. Hoje não foi um bom dia. Eu sonhei com você e quando acordei você não estava aqui ao meu lado. Foi desesperador. A saudade que sinto de você é tão grande que me sufoca. Sei que não deverei, mas eu imploro meu amor. Volte pra casa. Volte para o lugar que você jamais deveria ter saído.
Eu lia e relia.
Você se lembra do dia em que fomos fazer as tatuagens? Esse símbolo do infinito na lateral do meu pulso esquerdo eu fiz pra você.
E novamente outra.
Te amar Liz, é o que tenho de mais precioso em minha vida. Você veio como um sopro de ar. Por que desde o dia em que descobrir que te amava, eu respiro. Eu respiro por você, meu amor.
Meu coração se enchia de um sentimento que eu desejava exterminar.
Sinto tanto saudade dos seus olhos azuis de encontro as meus amarelados. Sinto saudade da sua boca procurando a minha, do encaixe perfeito que os nossos corpos fazem juntos. Sinto saudade de você meu amor.
E então eu a odiava, e a amava ainda mais.
Hoje estive andando a cavalo. A fazenda de seu avô está cada dia mais linda. Faltou você aqui ao meu lado na cachoeira. Você adoraria saber que finalmente aprendi a ficar em silêncio e escutar a maravilhosa sinfonia da natureza. Você estava certa, ela é maravilhosamente encantadora. Só faltou você aqui para a minha felicidade ser completa. Por que você, Liz. É minha felicidade. Meu motivo de alegria, de meu sorriso distraído. E sem você aqui não existe nenhuma dessas coisas. Não existe motivos para sentir.
O tempo foi passando. E eu continuava lendo...
Hoje seria nosso aniversario de namoro. E eu estraguei tudo. Então eu não tenho mais os seus beijos e seus abraços. Não tenho o calor do seu corpo para me aquecer.
Repetidamente
Estou com saudade meu amor.
Eu estava viciada nessas malditas cartas, até que...
Hoje eu estava lembrando do dia em que tirei sua virgindade. Eu menti meu amor. Eu me lembro de cada detalhe. E eu sinto muito por não ter sido como sempre desejei que fosse. Você merecia algo especial Liz, e eu como sempre estraguei tudo. E me arrependerei eternamente por isso.
Suas palavras foram como um tapa na cara. Por que finalmente me dei conta. Eu ainda estou magoada. Ainda dói a sua traição. Cada uma de suas desconfianças. Dói saber que o meu amor foi menosprezado.
-Lizandra... - A mulher de olhos castanhos tenta me acalmar.
-Eu não quero mais. - Digo em um fio. –Jogue fora, queime ou rasque. Sei lá! Apenas não se atreva a entregá-las a mim.
-Mas...
-Eu não posso Lú, não posso deixar que Sam me machuque mais uma vez. - Minha voz sai em desespero. –Não posso, e não vou permiti que ela despedace meu coração novamente.
Lúcia fez exatamente o que lhe pedi. E todas as cartas que Samantha me enviava era extraviada antes de chegarem em minhas mãos. Eu precisava me libertar desse amor. Precisava arranca-la do meu coração nem que fosse a força. Eu precisava seguir em frente. Eu merecia isso.
Os dias foram passando. Me foquei nos estudos e na fotografia. Não me envolvia emocionalmente, não no quesito romântico. Antes de Samantha não existia ninguém, e nem mesmo depois. Ao menos, não até agora. Parecia que todas as outras pessoas fossem sem graça. Não havia aquele Q que me atraísse. Elas eram simplesmente comuns demais. Confesso, nunca pensei em me envolver. Em minha mente eu estaria traindo Samantha. Mas que tola que eu sou! Não conseguia me desprender desse sentimento...
Talvez ela já tenha outra pessoa. Talvez ela continuasse com seu namoradinho irritante. Sam me traiu com ele. Logo depois ficou desfilando como um lindo casal feliz. Ela não só destruiu o meu coração, ela também pisou nele. Nem quero pensar nisso. Só de imaginar meu estomago embrulha. Talvez eu apenas deva me libertar. Quem sabe eu não faça exatamente isso.
-Relaxe. - Digo contendo o riso. Henri estava para me deixar louca.
-Como vou relaxar? - Ele me questiona com as duas mãos na cintura. Fato que me arranca uma gargalhada. –Do que está rindo, afinal? - Ele me pergunta desconfiado.
-Você está perfeito meu querido. - Digo me aproximando. –Então não fique tão nervoso. - Envolvo os meus braços em volta de seu pescoço. –Vai ficar tudo bem. - Sussurro com cumplicidade. –Eu estou bem aqui.
-Eu vou casar. - Henri diz emocionado. Seus braços vão para a minha cintura. Então ele me puxa com cuidado, me abraçando.
-Sim, você vai. - Digo baixinho ao seu ouvido. -Então pare de arrancar os cabelos. É só entrar lá... Víctor está ficando nervoso com a sua demora. Talvez esteja pensando que você tenha fugido. - Falo em tom de brincadeira.
-Deus me livre! - Henri solta um gritinho afetado se afastando. –Não posso deixar um homem daqueles plantado no altar.
-É assim que se fala. - Digo lhe estendendo o braço.
-Obrigado por isso. - O rapaz de olhos verdes sussurra envergonhado.
-Não por isso. - Tomo postura. E saímos de seu esconderijo.
Estou com um longo vestido da cor vinho, cabelos em um penteado perfeito e um salto assustadoramente alto. Henri está vestido um meio-fraque cinza grafite, calça cinza com riscas pretas, colete branco e gravata preta. Seus cabelos estão amarelados. Sua família não foi muito receptiva quando ficou sabendo de seu casamento. Nunca antes tinha visto Henri tão triste. Sua mãe não quis comparecer. Ela não o acompanharia até o altar. Então veio a supressa, ele me pediu que o fizesse. E lá estava eu, de braços dado com ele. Seguindo até o altar. Nunca me sentir tão honrada. Eu o entregaria ao amor de sua vida. Isso me fez transbordar de emoção.
A cerimonia foi linda. Me segurei o tempo todo para não me desmanchar em lágrimas. Sua família que acabou perdendo. Por que foi exclusivamente maravilhoso. E Henri merecia tudo aquilo. Uma noite especial, para alguém de sentimentos únicos. Ele merecia aquela atmosfera magica, por que no momento em que disseram sim. O mundo pareceu mais bonito. Por que ele transbordava amor.
-Posso? - Uma morena de sorriso gentil me pergunta, se referindo a cadeira a minha frente.
-Ah, sim, claro. - Digo sem jeito. Ela havia passado boa parte da noite me encarando. A mulher sorri em agradecimento se acomodando.
Olho discretamente a mulher a minha frente. Ela era ainda mais bonita de perto. Meu coração acelerou ao perceber que ela havia chamado a minha atenção. Mas como não chamaria?! Ela era uma mulher alta, morena e com intensos olhos verdes. Seu olhar era determinado. O que era um charme. Uma boca perfeita que carregava sempre um sorriso discreto. Seus cabelos eram curtos em estilo long bob. Era um conjunto de arrancar o folego de qualquer ser humano.
-Lizandra, certo?! - Ela pergunta olhando-me com curiosidade.
-Sim. - Minha voz soa baixa.
-Helena. - Ela se apresenta. –Sou prima de Víctor.
-Então você é a famosa Helena. - As palavras me fogem. Tenho certeza que acabo de ficar vermelha. Mas disfarço.
-Quer dizer que sou famosa? - A mulher me lança um sorriso sínico.
-É que... - As palavras me atrapalham. –Víctor sempre fala de você. Ele a adora.
-E eu a ele. Fomos criados juntos. Então é como se fosse meu irmão mais velho. - Helena diz com naturalidade.
-Tenho um primo assim. - Digo com a voz saudosa. –Rodrigo é mais que um primo. Sempre o foi. Mesmo ele estando longe.
Conversamos por mais alguns minutos. Mas os olhos verdes insistiam em me deixar sem graça. Eles estavam fixos em cada gesto que eu fazia. Helena era o tipo de mulher direta em suas ações e palavras. E isso era divertido. Por que às vezes ela se enrolava, e em outras quem ficava sem jeito era eu.
-Você pretende ficar aqui a noite toda? - Ela faz uma cara engraçada. –Quero dizer... - Ela se embaraça. –Aqui fora, sozinha.
-Não estou sozinha. - Me refiro a sua companhia. A mulher abaixa a cabeça sem graça.
-Eu vim convida-la para dançar. - Seus olhos verdes se voltam sobre os meus. –Afinal, hoje é dia de festa. E então, me daria essa honra? - Sua voz vacila.
-Por que não. - Digo me pondo de pé. Ela acompanha o meu gesto com uma animação fora do comum. –Vamos?!
-Você primeiro. - Helena diz com um tom galanteador. E então seguimos para o grande salão.
Víctor e Henri não pouparam. Estava tudo perfeitamente lindo. Esse sem duvida seria um momento lembrado. Helena era uma companhia agradável. Era divertida e atenciosa. Havia muito nela que me lembrava Víctor. Ela tinha aquela áurea de seriedade intocável. Talvez combinasse com sua profissão. Helena era advogada. Conversamos sobre coisas variadas. Ela sempre deixando claro suas intenções, com toques suaves, olhares e palavras. E isso me assustava. Nunca achei justo se envolver com uma pessoa para esquecer outra. Mas Sam está enraizada em mim há anos. Então o que fazer?!
-Como me arrependo profundamente por não ter ido nas vezes que Víctor insistia para saímos. - A mulher ao meu lado lamenta. –Se eu soubesse que me encantaria por uma certa ruiva de olhos azuis. Eu não terei...
-Ai, credo Helena. - Digo fazendo careta.
-O que foi? - Ela diz com um tom brincalhão. –Você é encantadora Lizandra. - Ela diz séria.
Encosto-me na proteção do terraço. Ergo minha cabeça e admiro a noite estrelada. Ela estava de arrancar o folego.
-Você não me conhece o suficiente para saber. - Sussurro com o ar distante.
-Me der essa oportunidade. - Sinto-a próxima. –Eu prometo que não irá se arrepender.
Viro-me em sua direção. Os seus olhos verdes me atingem com profundidade. Fico paralisada. Helena contorna o meu rosto delicadamente com as pontas dos dedos.
-Você é tão linda, Lizandra. - Sua voz sussurra como um segredo.
Helena segura delicadamente o meu pescoço e se aproxima. Fecho os meus olhos. Mas quando sinto o seu hálito quente tocar o meu rosto. Eu me lembro de Sam. E em um ato desesperado, viro meu rosto. Então sinto seus lábios tocarem a minha pele. Sinto uma pontada de dor em meu coração. Até quando Samantha iria me atormentar?!
A mulher se afasta delicadamente. Sua mão direita continua em meu pescoço. Mantendo-me perto. Seus olhos me encaram compreensivos. Um sorriso cúmplice escapa de sua boca.
-Tudo bem. Acho que fui rápida demais. - Ela diz se afastando. –Mas já não estava me aquentando olhar para você sem poder tocá-la. Estava louca para sentir o sabor da sua boca. - Ela diz envergonhada. –Me desculpe, Liz.
-Eu... - Mordo os meus lábios tentando encontrar as palavras.
-E então, quando podemos sair? - Helena pergunta naturalmente. –Ou pensa que pode fugir de mim agora que de encontrei?
-Você é uma figura. - Digo sorrindo aliviada por não tê-la ofendido.
-Não me enrole. - Ela sorri. Se afastando um pouco. -Ainda não respondeu a minha pergunta. - A mulher insiste. –Quando podemos ter um encontro de verdade com direito a beijo no final?!
-Helena!
-Vamos lá Lizandra. - A mulher me encara profundamente. –Não sou tão má companhia assim.
-Ok. - Dou um suspiro vencida. -Me surpreenda.
-Mas... - A deixo ali, e em passos lentos me aproximo das escandas. –Liz...
-Boa noite Helena. - Digo sem olhar pra trás.
-Não acredito que você não me dará nem mesmo o seu número?! - Ela reclama em um tom bem humorado.
-Estou lhe dando a sua oportunidade de me surpreender. - Falo me virando em sua direção. –Não a despedisse. - Lhe pisco um olho, e vou embora.
Encontro com vovó Rúbia que conversava animada com um grupo de pessoas. Ao me ver, ela abre um imenso sorriso. Sei que estava me observando com Helena. Nos despedimos de Henri e Víctor e fomos embora. Ela não disse nada, talvez esteja esperando o meu momento. E eu?!
Eu estou verdadeiramente assustada. Por que Helena me atrai. Ela é gentil, linda, atenciosa e tinha aquele Q diferente. Sabe, aquele algo que desperta a atenção. Ela era direta. E isso me agradava. Talvez, somente talvez, essa seja a minha chance de liberdade. Mas pretendo ser sincera tanto com Helena, quanto com os meus próprios sentimentos. Quem sabe eu apenas não me deixe levar por essa nova emoção. Talvez tudo seja apenas uma questão de tempo.
Fim do capítulo
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SPINDOLA
Em: 31/05/2018
Sinceramente não consigo aceitar as atitudes da Liz, estou começando a tomar uma certa raivinha dela.
Não estou defendendo a traição da Sam, mas se a Liz não consegue perdoar, ela deveria ter dito para a Sam e não deixar-la pensando que um dia voltaria pra ela. Deveria ter sido clara quanto aos seus sentimentos.
Se o avô dela não tivesse passado mau, ela nunca teria voltado. Muita sacanagem da parte dela ficar iludindo a Sam com a possibilidade que um dia ela voltaria. Não consegue perdoar, mas também não corta o mal peça raiz.
Dez anos vão se passar e na minha opinião, a Liz emocionalmente não terá evoluido nada. E a Sam disse que ia lutar por ela e ficou dez anos esperando sem fazer nada.
Por favor autora, dá uma apressadinha nesta volta que a Liz na minha opinião tá muito chata e cansativa.
Apesar de tudo, ainda espero que as duas fiquem juntas e felizes.
Bjs
Resposta do autor:
Bom dia!
Olha que raiva faz mal pro coração.
Quando Liz foi embora, ela só queria respirar. Deixar pra trás tudo o que a machucou. Quem não o faria?! Sim, dez anos é muito tempo. Mas ainda estamos vivenciando ele junto com a nossa ruiva. Então há algumas coisas importantes para acontecer. Então, que continuemos com a nossa história. Por que eu estou amando escrever. Rsrsrs...
Bjus linda!
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SPINDOLA
Em: 30/05/2018
Boa tarde,Luah.
Fiquei feliz pela Liz ler as novas cartas que chegaram, mas triste por ela ter ficado com raiva e parar de ler ao lembrar de momentos tão dolorosos. Estava adorando ler as cartas que a Sam mandava. Agora é esperar a volta. Aguardo ansiosamente que elas fiquem juntas, ficarei tremendamente triste se isso não acontecer. Uma pena que ela tenha tanta raiva e mágoa da Sam. Será que ela ama a Sam mesmo? Começo a duvidar deste amor,que ela diz sentir dentro do coração.
So o futuro dirá......
Bjs
Resposta do autor:
Bom dia!
Sentimentos são mesmo complicados. E o amor não poderia ser diferente. Liz só não está pronta ainda para perdoar. E sim, ela ainda ama a Sam. Mas nem sempre só o amor é suficiente. Ainda mais quando ele está maculado.
Bjuss...
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