Capítulo 14
Pietra
Estava fervendo de raiva, quando Clara saiu para atender o celular, fiquei tomando o meu vinho e remoendo a questão da namorada. Foi quando a voz dela se propagou claramente até mim. E não consegui acreditar que aquela putaria estava saindo da boca de Clara. A minha Clara, que ficava vermelha porque eu dizia que queria fazer amor com ela, agora falava que estava com saudade de ... Não consegui repetir nem na minha cabeça. Fiquei tão brava, que joguei o macarrão dela fora, se ela quisesse comida que fosse pedir para Estela, que provavelmente estava falando um monte de obscenidades para ela também, meu prato também foi esvaziado no lixo, não conseguia mais comer.
Tirei o resto das coisas e comecei a lavar a louça, em uma óbvia mensagem que não estava mais afim de confraternização. Assim que ela saiu, não pude evitar as lágrimas, sabia que estava sendo hipócrita, que estava noiva, que não tinha direito nenhum sobre com quem Clara saia ou não. Mas quem disse que o coração enxerga razão, a única coisa que ele sentia era ciúmes.
Peguei no sono tarde e acordei cedo, cheia de energia e sentimentos conflituosos. Para espairecer fui correr, outro hábito que adquirir depois de Clara. Enquanto meus pés batiam no chão e meu corpo cansava, fui arrumando a bagunça da minha cabeça. Me arrependi de tê-la tratado daquela forma no jantar, ela devia achar que eu era bipolar. Dei uma volta pequena e retornei para casa.
Quando cheguei, Clara estava na varanda com uma xícara cheia de café, me olhou sem jeito e disse:
- bom dia, desculpa mas acabei mexendo na suas coisas.
Eu sorri largamente, tinha que tirar a má impressão de ontem, completei:
- fica à vontade Clara, mi casa e su casa.
Ela levantou a xícara e agradeceu com a cabeça.
Enquanto me alongava observei -a detidamente, ela estava com a testa franzida e o semblante pesado. Terminei o exercício fui para o lado dela na varanda, perguntei gentil:
- você está bem?
Ela me encarou, decidindo se respondia a verdade ou soltava a resposta padrão, então soltou um suspiro pesado e falou tensa:
- minha mãe me ligou e fiquei preocupada.
Fiquei confusa, será que ela tinha uma relação com a mãe? Expressei minha dúvida:
- sua mãe ligou da cadeia?
Ela levantou as sobrancelhas aturdida, mas depois balançou a cabeça e disse com pequeno sorriso:
- não, ela já saiu há 3 anos.
Fiquei chocada para logo ficar feliz e num gesto reflexivo toquei seu ombro, Clara se retesou mas não se afastou, o que tomei com um bom incentivo e falei mostrando minha alegria:
- que maravilha Clara, que bom que vocês se aproximaram.
- sim, e ótimo conhecer minha mãe finalmente.
-mas...
- estamos todos vivendo juntos, e meu pai e ela não são dão bem. Hoje ela me ligou estranha e fiquei preocupada de verdade, porque é a primeira vez que os dois estão só, sou como a suíça.
Me deu um sorriso triste, percebi que aquela situação estava fazendo mal a ela, mesmo depois de anos, fiquei feliz por ainda conseguir lê-la. Testei mais meu limites, desci minha mão suavemente pelo seu braço e pude sentir os pelinhos se arrepiando, entrelacei nossos dedos. Meu coração pulava e minha respiração ficou um pouquinho mais rápida, minha intenção era apenas consola-la, mas meu corpo estava me traindo. Me aproximei mais e encostei o queixo no seu ombro, mergulhei naquela imensidão castanha esverdeada, falamos tanto apenas com os olhos, espelhos da alma uma da outra.
Falei em voz alta para tentar deixa-la mais sossegada:
- liga para o seu pai.
- vou - ela respirou fundo e disse com o sorriso na voz - você está cheirosa.
Dei uma risada alta e falei negando:
- só você para achar que depois de correr tanto, ainda esteja cheirosa.
Ela se inclinou e meu coração saltou mais , por um louco momento pensei que iria me beijar, mas apenas cheirou meu cabelo e disse brincando:
- tem toda razão, foram as flores que senti.
Dei uma mordida no seu ombro e fiz uma careta me fazendo de ofendida, ela deu um sorriso, apertou minha mão e nos soltamos.
- obrigada Pietra.
- pelo o que?
- por me hospedar e por me ouvir.
- sempre.
Ela me beijou docemente na testa e começou a entrar:
- tenho que trabalhar.
- Clara.
- oi.
- janta comigo hoje.
Sem hesitação ela respondeu:
- sim.
Clara
Acordei com meu celular tocando, sem nem olhar atendi:
- bom dia filha, te acordei?
- humm..não.
Me joguei de volta na cama e fechei os olhos, minha mãe riu falando:
- desculpa meu amor.
- não tem problema, porque está ligando tão cedo?
- e que...
O silêncio se prolongou por alguns segundos, voaram pensamentos sobre tragédias com meu pai, levantei de um pulo já perguntando alterada:
- o pai está bem?
Ela percebendo meu desespero, falou me acalmando:
- ta sim Clarinha, não queria te assustar.
- puta merd*!
Com o coração ainda acelerado fui a janela e abri as cortinas, meu quarto dava para a parte da frente da casa, foi assim que vi Pietra saindo, com uma roupa que me fez ter pensamentos impuros. Deliciosa em top preto e uma calça leggin rosa. O coração disparou mais, mas agora por outro motivo. Fiquei dispersa e minha mãe quase gritando me trouxe para realidade:
- oiiiiii.. ainda ta ai?!
- to mãe, desculpa. O que está acontecendo?
- nada grave... Quando você volta?
Estava estranhado aquela conversa da minha mãe, ela parecia nervosa e agitada e sabia quando voltava, mas respondi assim mesmo:
- no máximo sexta que vem, mãe o que diabos está acontecendo?
Perguntei novamente incisiva.
- e sobre mim e seu pai, mas quero falar com você pessoalmente.
Fiquei triste, sabia que algo ruim aconteceria se os deixasse a sós, ser a suíça estava me cansando demais, insisti:
- vou ficar preocupada agora, vocês brigaram?
- não! droga Clarinha, sinceramente nem sei porque estou te perturbando com isso agora. E que aconteceram algumas coisa e não tenho amigos, sei lá só queria desabafar, estou com saudades.
As palavras dela me acertaram em cheio, minha mãe era uma pessoa solitária, com a voz um pouco embragada falei:
- tudo bem mãe, se quiser posso ir no fim de semana, volto na segunda.
- não Clarinha - ela falou afobada e depois mais calma completou - eu espero, desculpa o drama filha, estou bem e seu pai também.
- tem certeza mãe? Vocês são as pessoas mais importantes para mim.
- não precisa Clarinha, conversamos quando você voltar.
- ta bom.
- tenha um bom dia filha.
- você também.
E desligou, o relógio do celular marcava 07:45 da manhã, não voltaria mais a dormir. Então resolvi aproveitar que Pietra saíra e fazer um café para depois começar a trabalhar. Fui para a varanda e alguns minutos depois ela chegou, fiquei sem graça, ainda estava confusa com o que acontecera na noite anterior. Mas ela deu um sorriso tão grande que meu coração ficou mais leve e resolvi deixar para lá a situação estranha que ela nos colocara.
E mesmo com aquele corpo que me acendia se alongando todo na minha frente, meu pensamentos estavam dispersos. Pietra percebeu e resolvi falar a verdade. Sentia falta de conversar sobre meus problemas com ela, Pietra sempre fora uma ótima conselheira. Se ela soubesse que por anos fora a voz da minha consciência!
Aceitei seu carinho, a saudade que tinha dela me tocar fez meus muros ruíram vergonhosamente e quando me perdi nos azuis dos seus olhos senti meus sentimentos transbordarem e quase me afogarem, aceitei que ainda a amava. Quando a agradeci, na verdade queria dizer eu te amo, quando beijei sua testa castamente, queria beija-la era na boca , sentia saudades do seu gosto. Mas ela não me pertencia mais, Pietra era noiva, era herdeira, era impossível. Ainda assim aceitei o jantar, naquele instante queria aproveitar cada momento, pois sabia que seriam os últimos que teria com ela.
Pietra
Estacionei o carro , desci e fui em busca das sacolas que tinha deixado no banco de trás, tinha passado no supermercado e comprado os ingredientes para uma lasanha. Contava ainda que fosse o prato preferido de Clara, mas quando já me encaminhava para entrar, ela saiu. Parei um instante para aprecia-la, usava um short jeans curto, deixando as coxas grossas de fora, uma regata cinza com um decote discreto, mas ainda assim mostrava o começo dos seios fartos, para completar óculos escuros e os cabelos soltos, caindo por cima de um ombro. Respirei fundo tentando me acalmar, Clara provocava demais minha libido, perguntei:
- ta saindo?
- sim, a Lu me ligou.
- que Lu?
E fechei a cara, ela sorriu abertamente, como se tivesse notado meu ciúmes descabido e completou sacana:
- uma menina linda, tem uns olhões e um sorriso matador. - se aproximou de mim e falou sussurrando no meu ouvido -perdeu os dois dentes da frente e me fez prometer que a levaria para tomar sorvete.
Me arrepiei todinha, ainda que a olhasse confusa, ela deu um risada alta e falou:
- e minha sobrinha, ela e os meninos me fizeram prometer que os levaria para tomar sorvete.
Bem idiotamente meu coração ficou aliviado, me dei conta o quanto estávamos próximas, o sorriso de Clara se apagou e levantou os óculos. Observei seus olhos vagarem para meus lábios, acabei mordendo de expectativa, com sua voz rouca falou:
- pareceu com ciúmes.
- engano seu.
Ela se aproximou mais, minha respiração falhou quando seus dedos percorreram carinhosamente meu maxilar até o queixo, ao qual levantou um pouquinho. Nossos olhos se encontraram novamente, Clara delineou meu lábio inferior com o polegar, foi automático abrir minha boca em busca de ar, em busca dela. Deu mais um passo, ficamos a centímetros, o ar estalava ao nosso redor, tudo o que eu queria era a boca de Clara na minha.
De repente ela soltou meu rosto e se afastou, os óculos voltaram a cobrir seus olhos, me deixando em completa confusão, seu desejo em me beijar era quase palpável. Ela pigarreou, virou a cabeça em direção ao portão e falou parecendo um pouco sem fôlego:
- ahnn.. preciso ir.
Apenas balancei a cabeça, ainda atônita com o que acontecera, passou por mim, me virei e pude apreciar sua bunda empinada no short, ainda enfartaria até esse projeto acabar. Clara parou e virou apenas a cabeça sobre os ombros:
- quer vir? metade da cidade ainda me odeia, mas pelo menos a soverteria e de gente que nunca ouviu falar de mim.
Fiquei triste com a constatação dela, não acreditava que aquela gente imbecil ainda a tratava mal:
- deixa só guardar isso.
- ok.
Corri para dentro, guardei tudo o mais rápido possível e voltei, Clara me esperava no portão. Começamos a caminhar , e realmente as pessoas que sabíamos que moravam a vida toda aqui, ainda olhavam enviesadas para Clara, e agora para mim também.
Ela se virou para mim e parecia constrangida:
- merd*, desculpa Pietra. Sinceramente me esqueci desse povo mesquinho e maluco, não quero te colocar em um situação ruim. Afinal vou embora, mas você vai ficar.
As palavras dela me magoaram mesmo que fossem a mais pura verdade, mas escondi tudo, dei um sorriso brilhante e peguei em seu braço, ela tentou se soltar, mas segurei firme:
- não me importo com eles Clara, nunca deveria ter me importado.
Ela me encarou por um longo momento, depois assentiu e continuamos o caminho até a casa de Ana.
- falou com seu pai?
- sim, ele me garantiu que está tudo bem, até tinha me oferecido para ir no fim de semana, mas mamãe não quis.
- fica calma Clara, se eles estão dizendo que está tudo bem, e porque é verdade.
Além de querer tranquiliza-la, não queria perde-la tão cedo. Ela apenas balançou a cabeça e mudou de assunto:
- e sua mãe, como está?
- ótima, agora ela é a editora de uma revista, está morando na capital.
- que ótima notícia, você vai visita-la?
Encarei Clara, averiguando se tinha mais na pergunta, mas ela parecia apenas curiosa:
- as vezes, não tanto quanto gostaria.
Ela assente e depois paramos em frente a uma casa humilde, um menino de uns 2 anos que estava brincando no quintal começa a gritar e correr para Clara, logo as outras crianças aparecem e também correm. Ela entra para o quintal, e as crianças pulam nela, Clara se ajoelha e abraça todos, e tenho certeza que estou com um expressão apaixonada, porque Clara cercada de crianças e a coisa mais fofa que já vida na vida.
Ana aparece na porta e observa a amiga com um sorriso, eu ainda estava do lado de fora esperando. Ela percebe minha presença e vejo seu espanto, ainda que ela disfarce com um sorriso. Se aproxima e me cumprimenta, enquanto Clara ainda continuam brincando com as crianças:
- boa tarde Pietra.
- boa tarde, seus filhos são lindos Ana.
- quer um ou dois?
Ela brinca, dou risada.
- vai tomar sorvete também?
- sim, a Clara me convidou, tem problema?
Ana me encara agora bem séria, com a voz no mesmo tom:
- espero que não Pietra - ela se aproxima mais e fala baixinho - não ouse magoa-la novamente.
Dou um passo para trás, me sinto ofendida e com certa raiva retruco:
- não foi só ela que sofreu.
Vejo a expressão de Ana suavizar, balança a cabeça em concordância e mais amena disse:
- posso imaginar, na verdade não quero mal a nenhuma das duas. Mas você percebe que isso pode acontecer, não é?
Antes que pudesse responder qualquer coisa, Clara se aproxima de nós, dá um beijo em Ana e começamos a andar com as crianças até a soverteria. Mas alegria que sentia foi embora, Ana havia me lembrado de tudo e agora estamos aqui novamente, eu mais uma vez em uma situação impossível.
Clara
Pietra estava estranha desde que conversara com Ana, depois iria ter um particular com aquela metida, com certeza ela deve ter falado alguma merd*. Ainda assim nossa tarde com as crianças foi ótima, ela ficou vermelhíssima quando Lucia perguntou se ela era uma princesa e eu confirmei. A verdade que não conseguia tirar meus olhos dela e meu corpo ainda estava revoltado porque não a beijei. Mas simplesmente não pude, tinha que ter força de vontade, tudo o que não queria, era me entregar novamente para Pietra.
Chegamos na casa dela, Pietra foi tomar banho e fui para a biblioteca, precisava trabalhar para tira-la da cabeça. Algum tempo depois, ela me chamou para o jantar.
Salivei na hora quando vi que era lasanha e depois quando a vi.
Ela estava com os cabelos soltos ainda úmidos do banho, uma camiseta branca que usava sem sutiã e uma saia até o meio das coxas. Sentei com tudo na cadeira, as pernas deram uma bambeada. Começamos a jantar, eu tentava com todas as minhas forças não olhar os peitos dela, mas meus olhos filhos da mãe, parecia ter vida própria. E quando conseguia visualizar seu rosto, ela tinha um sorriso misterioso:
- lasanha ainda é seu prato preferido?
- sim.
Estava com minhas sinapses pifadas, o desejo por Pietra estava fazendo um estrago na minha calcinha. Dei uma pigarreada e tentei entrar em qualquer assunto:
- então, o que a Ana te falou?
Me arrependi na hora, o sorriso dela se apagou e ela desviou os olhos :
- nada, apenas me cumprimentou.
Ela cerrou o maxilar e percebi que não iria falar mais sobre o assunto. Comemos em silêncio, Pietra parecia com os pensamentos longe, incomodada com isso a convidei depois que acabamos de comer:
- quer ver como anda o projeto?
Ela assentiu sorrindo com a sua expressão desanuviada, peguei minha taça de vinho e ela a dela. O espaço estava um pouco bagunçado, a planta era enorme ocupava toda a mesa de escritório, já tinha feito mais da metade, ela observou atenta e comecei a explicar.
O prédio teria 5 andares e o funcionamento dele seria interligado com a natureza. Como placas solares, materiais recicláveis, o esgoto passaria longe das cachoeiras. Haveria um jardim estilo os dos "jardins da babilônia".
Pietra ficou enlouquecida nessa parte, apertou minha mão emocionada e disse no mesmo tom:
- você é muito talentosa, suas ideias são geniais.
- não é para tanto.
Fiquei vermelha, ela pegou em meu queixo com gentileza, depois escorregou a mão até segurar meu rosto :
- você é incrível, mas isso eu sempre soube, estou muito orgulhosa da arquiteta maravilhosa que se tornou.
Senti a garganta apertada do choro contido, levantei minha mão e pousei no seu pescoço, me inclinei ligeiramente e Pietra subiu um pouco a cabeça. Meus lábios encostaram nos delas, um roçar como asas de borboletas, nossos olhos ainda abertos, nos encarávamos. Então fechou os dela e eu comecei a fechar os meus, quando o celular dela tocou , me afastei assustada, pega no momento, iria cometer uma burrada.
Engoli o resto do vinho, enquanto Pietra tirava o celular de dentro do bolso que havia na saia, seu semblante mudou e ela ficou tensa. Não precisou ela dizer para saber quem era. Sai da sala a deixando só, fui na cozinha buscar o restante do vinho, depois sai em disparada para a área da piscina, precisava de ar, precisava de juízo. Enchi minha taça e me sentei em uma das espreguiçadeiras que havia em volta da piscina. A noite estava clara, com a lua cheia iluminando a água transparente.
Meu corpo ainda sentia a reações de quase a ter beijado, estava quente, cheio de tesão. Mas minha cabeça estava gritando para ficar longe, o noivo dela que estava ligando porr*! Ao mesmo tempo ela me dizia que Pietra me desejava também.
Precisava apagar meu fogo, arranquei as roupas, mergulhei na água apenas de calcinha e sutiã. Submergi e fiquei até meu pulmões pedirem ar, quando voltei a superfície, todo meu raciocínio foi eclipsado.
Pietra tirava a saia do outro lado da piscina, depois caiu como uma sereia, mergulhou e apareceu na minha frente. Ficamos paradas a pouco centímetros uma da outra, segurou meu rosto com as mãos, fechei os olhos, sabia que quando ela me beijasse, não poderia parar. Estava perdida!
Fim do capítulo
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