CapÃtulo 5
Desconfiança de Pedro
O dia amanheceu e Pedro procurou o corpo da esposa, que nada disse, deixando-se abraçar por ele. O calor do abraço do marido trouxe-lhe desconforto, sentia-se imensamente ingrata a tudo que ele havia feito por ela. O amor que sentia por Adriana fazia o coração de Lana sentir-se volúvel e traidor em relação ao esposo que era um homem que a amava, devotava a ela uma paixão que muitas vezes a tinha deixado sufocada, mas isso nunca tinha sido percebido por ela, que nada escondia, até ali.
O sol de sábado convidava para a alegria de viver, para a liberdade de poder amar e em dia nenhum de sua existência Lana havia sentido tamanho vazio em sua alma, era a falta que sentia de Adriana, seu ser gritava seu nome e ela possuía as respostas para a sua ausência. Tinha que esquecer tudo aquilo, era uma mulher casada, Pedro era um homem bom, sempre a tinha protegido, não merecia ser traído daquela maneira.
Pensando assim ela se aconchegou em seus braços, pedindo no íntimo que a imagem de Adriana fosse apagada de sua mente e que Deus a perdoasse. Seus olhos sentiram-se marejados o que ela cuidou para não ser percebido pelo marido.
Já eram nove horas quando Lana levantou-se, tomou banho e colocou um vestido verde longo, modelando a sua cintura e deixando à mostra um pouco de seios pelo decote que fazia um v. Pedro abraçou a esposa beijando seus lábios com carinho e desceram as escadas, indo para a copa onde a mesa do café estava ricamente disposta. Lana comeu um pouco, sentiu seu estômago revirar quando a comida tocou nele, Pedro percebeu que algo estava diferente e disse:
— O que houve minha querida? Não está se sentindo bem?
— Não foi nada, Pedro, só estou sem apetite. Não se preocupe, estou bem.
Ele não disse mais nada, sentiu na voz da mulher uma irritação que não era normal. Terminou seu café e seguiu para o escritório, precisava ler uns documentos e estava abarrotado de coisas para fazer.
Lana comeu e seguiu para o quarto, vestiu uma roupa mais leve e seguiu para a loja, estava em cima da hora, despedindo-se dele com um beijo no rosto.
A caminho da loja seus olhos deixaram as lágrimas caírem, lagrimas de saudade de Adriana. E sua razão dizia que era imperiosa que ela a esquecesse, mas seu coração gritava em nome daquele amor que ela desejava muito entender de onde ele vinha em tamanha profusão. Sofria com aquela batalha que havia travado dentro de si.
A loja já estava aberta e Consuelo cuidava de tudo, era a gerente que ela havia contratado há um ano, era uma mulher inteligente, educada e muito competente. Lana disse a todas:
— Bom dia meninas.
Eram três vendedoras e Consuelo que era a gerente e que apesar do pouco tempo que estava ali com ela, a amizade era percebida desde primeiro dia que ela começou a trabalhar.
Lana passou para o escritório e sentando-se tirou da gaveta uma foto de Adriana, que ela havia mandado imprimir, colocando num porta retrato e ficou olhando, nesse instante Consuelo bateu a porta e Lana disse:
— Pode entrar.
— O que aconteceu com você? – Perguntou Consuelo fazendo com que Lana caísse em prantos, ela sentou-se mais perto e tomou sua mão entre as dela e com imenso carinho disse:
— O que houve minha querida? Algo não está bem, consigo sentir sua energia de tristeza, caso queira falar, estou aqui.
— Acho que preciso conversar com alguém, vamos sair e tomar um café, as meninas dão conta do movimento.
As duas saíram e sentaram-se em uma cafeteria que tinha no andar superior do shopping, quando Lana sentou-se ela viu Adriana, seu corpo estremeceu e ela veio ao seu encontro, Lana levantou-se abraçando a amiga. Consuelo foi apresentada para ela e sorriu, como se já estivesse entendendo o que ia ao coração de Lana.
— O que faz por aqui? – Perguntou Lana, que se derretia em sorriso para Adriana, que disse:
— Vim ao dentista. Preciso ir, nos falamos depois.
As duas trocaram um abraço demorado, um beijo quase nos lábios e Adriana seguiu seu caminho com o coração aos saltos, deixando Lana despida ali na frente de Consuelo, com relação aos seus sentimentos.
O capuccino estava na mesa e elas brindaram a amizade. Lana começou a falar, não tinha intenção em negar nada para Consuelo que sabia melhor do que ela sobre o amor por outra mulher, Consuelo vivia há quinze anos com Ana Luísa.
— Bem... Acho que já entendeu né?
— Não senhora, eu não entendi, não sou advinha. – Disse isso e sorriu.
— Está bem, vou fazer de conta que acredito, então vou lhe falar. Pedro é para mim alguém especial, sabe da nossa história, eu já te contei como foi meu casamento, porque qual motivo ele aconteceu. Um dia essa moça adentrou minha loja, foi no natal, quando você estava viajando, então de lá para cá, eu não sei mais o que aconteceu. No primeiro dia que a vi, tive a nítida impressão que já a conhecia e quando a noite chegou, nós, por coincidência do destino nos encontramos na casa do irmão dela que é amigo de Pedro e a mulher dele minha amiga. A verdade é que me sinto atraída demais por ela, minto, não é uma atração banal, estou apaixonada por ela.
Consuelo ouvia tudo com imensa atenção.
— Ficamos juntas outro dia, mas Adriana e eu também nos culpamos muito por isso, sou casada e Pedro não é um homem mau. Não amo e nunca amei meu marido, mas tenho por ele gratidão por tudo o que fez por mim, quando não tinha mais ninguém. Então esse amor tem me enlouquecido e tudo o que sinto agora é vontade de poder viver isso. Viver sem medo, sem preconceito, gostaria de ser livre para isso. Você entende?
— Sim minha querida e como eu entendo.
— Eu não sei o que fazer Consuelo, estou apaixonada por Adriana, acho até que se eu fosse livre, não me prenderia muito ao preconceito, iria viver esse sentimento com discrição, sem afrontar as pessoas que ainda não entendem. Mas sou uma mulher casada e acho que meu marido não merece isso. Sinto-me imensamente culpada com tudo isso que estou sentindo e não sei o que fazer.
— Eu entendo.
— Esses três meses só penso nela, a imagem dela não sai de mim e sei que ela sente o mesmo. Consuelo, o que fazer diante disso tudo?
— Decidir minha querida.
— Eu não entendi muito bem, como assim decidir?
— Decidir. A vida é assim Lana, sempre nos dá condições de escolher, de decidir o que fazer sabe... Como dizia Cora Coralina, mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar, desistir ou lutar, ir ou ficar, porque descobri que no caminho incerto da vida, o que é mais importante é decidir.
— Acha que eu deva decidir entre meu casamento e o amor que sinto por Adriana?
— Acho que deve decidir o que é melhor para você. Se for o seu casamento, esqueça o restante, mas se é o amor que sente por Adriana, então minha querida vá à luta, decida, entre desistir ou lutar.
— Não é fácil assim como você e Cora Coralina coloca, eu tenho uma história com o Pedro, ele me ajudou quando eu mais precisei, quando fui violentada pelo marido da minha tia, quando eu era desprezada na escola porque era uma menina da roça, do interior do nordeste, foi ele quem me acolheu, quem me amou e mesmo contra a vontade do pai dele, se casou comigo e me fez ser tudo o que sou hoje.
— Está bem, concordo com um monte de coisa que me diz, mas quem fez você ser o que é hoje, foi você, com sua garra, com sua determinação, seu desejo de crescer, não tire os seus méritos também, dando tudo a ele.
— É verdade, você tem razão. Eu queria ter coragem de decidir ser feliz com Adriana, mas temo por Pedro.
Nos olhos dela as lágrimas apontaram e ela disse:
— Mas eu não sei o que fazer, vamos trabalhar minha querida, obrigada pela sua atenção.
Consuelo levantou e elas seguiram para a loja conversando sobre assuntos diferentes.
— Sim.
Disse Pedro ao celular.
— Ela ficou muito tempo em um prédio em Taguatinga. Uma moça desceu até o estacionamento com ela e se abraçaram nada demais.
— Está bem. Não quero que a perca de vista.
— Está bem, sempre a mantive sobre meus olhos, não se preocupe.
— O dinheiro já foi depositado.
— Sim eu vi hoje cedo, olhei o extrato. Qualquer novidade eu aviso, mas, arrisco a falar que o senhor está gastando a toa, sua esposa não faz nada de errado.
— Não importa, essa vigilância é também para sua proteção. Continue com seu trabalho, dia e noite, quando eu estiver fora da cidade.
Pedro desligou o celular, sentia seu corpo trêmulo, com fortes arrepios como se estivesse doente. Ela estava mentindo, porque não disse que iria a casa de Adriana, preferindo falar que tinha reunião com fornecedor? Ligou para a esposa que atendeu:
— Oi Pedro.
— Oi meu amor, estou ligando para saber como você está? Melhorou o mal estar?
— Sim Pedro, eu estou melhor, agora vou desligar a loja está cheia.
Assim o fez, deixando o marido pior do que estava antes de ligar para ela. Ele respirou profundamente e tentou tirar qualquer coisa que o impedisse de trabalhar naquele caso.
A tarde ela estaria de volta e tudo ficaria bem. Com certeza teria tido a reunião e depois ido à casa da amiga, que por mais que ele não gostasse, era uma mulher e nada havia nisso, - pensando assim ele buscou se concentrar no trabalho.
Lana desligou o telefone sentindo-se irritada, mas procurou esquecer aquilo, pedindo a Deus que tivesse piedade dela, com toda aquela confusão que havia virado a sua vida. O dia acabou e ela seguia para casa, mas não conseguia parar de pensar em Adriana e virou o rumo da estrada no primeiro retorno seguindo para Taguatinga, precisava vê-la, não importava o restante.
O carro seguia atrás dela, mas sem ser notado, já era rotina daquele detetive, seguir a mulher de Pedro sem que ela de nada desconfiasse.
— Adriana é a senhora Lana. – Disse o porteiro. O coração de Adriana acelerou, prometendo a ela que sairia pela boca, o que ela queria? - se perguntou Adriana. Não havia telefonado dizendo que iria, mas pediu ao porteiro que a mandasse subir, arrumou os cabelos e quando a campainha tocou ela abriu a porta.
Lana a abraçou, beijando-lhe nos lábios e ela não conseguiu resistir, retribuindo com calor e saudade aquele gesto de amor.
— Não consegui ir para casa sem vim antes ver você, eu sei que é final de semana e Pedro está em casa, então precisava vir aqui.
— Entre, por favor.
— Eu não posso me demorar, Pedro está em casa e não desejo... Enfim.
Ela entrou sentando-se ao lado de Adriana, que não sabia o que dizer diante de tudo aquilo. Lana era casada, seu marido era louco por ela e Adriana também, mas ele era o dono dela, era com ele que ela vivia e ela não estava disposta a viver de migalhas, sendo amante de momentos de fuga ou dos dias em que ele estivesse viajando.
— Lana, ouça-me, eu a amo, como nunca amei nenhuma mulher, eu namorei somente a Martinha, mas com o tempo percebi que não era amor e o vazio ficou na minha alma me fazendo por fim a relação e então fiquei sozinha sempre. Nunca mais sai com alguém, decidi ficar só, porque o amor não me visitava o coração, até conhecer você e a amo com uma força que eu desconhecia o amor ser capaz de ter. Mas não quero continuar com isso, você é casada e eu confesso que não combino com o papel de amante.
— Por favor, não fale sobre isso. Eu a amo e não consigo, por mais que eu queira deixar de pensar em você.
— Lana, por favor, desejo que entenda a minha posição, não posso me contentar com tão pouco, não aceito ser a sua amante, mesmo com todo esse amor que sinto por você. Perdoa-me, mas eu não posso.
Lana sentiu como se o chão estivesse fugido de seus pés, Adriana estava terminando com ela, não sabia bem o que, mas era isso que sentia, o vazio tomou conta de todo seu ser e ela se levantou e saiu. Nada poderia fazer.
Adriana chorou, sentiu seu ser vazio, era o fim de seu amor, um amor que ela sabia que não acabaria com a saída de Lana de sua vida. Ela fechou a porta.
Lana entrou no carro e seguiu para casa, as lágrimas desciam de seus olhos e ela não sabia o que fazer com aquele fim. Não sabia o que seria dali em diante sem o carinho de Adriana, sem a sua amizade. Secou os olhos com a palma da mão e pensou, — talvez seja melhor assim.
Pedro a esperava com irritação, já sabia como ela estava, sabia que ela novamente havia ido ao apartamento de Adriana e que tinha saído de lá chorando, só não sabia o motivo. Mas não iria deixar transparecer sua insatisfação.
Ela entrou em casa e subiu as escadas indo para seu quarto, precisava de um banho e ela ficou minutos seguidos embaixo do chuveiro, queria se recompor um pouco. Pedro não foi até onde ela estava, continuou no escritório. Lana vestiu um short e uma blusa, calçou sandálias havaianas e desceu, indo até o escritório onde ele ainda estava.
— Oi querido, com licença.
Pedro levantou-se indo até ela e a beijou com intensidade nos lábios, Lana correspondeu e o chamou para jantar.
A noite caiu e ela subiu as escadas indo para o quarto, dizendo a Pedro que não se sentia bem e não era mentira, sentia dor de cabeça e parecia com a temperatura do corpo alterada, deitou-se cobrindo com edredon e dormiu. Estava cansada e sofrida, se havia sonhado alguma coisa durante a noite, não se lembrou de nada quando acordou, talvez fosse o remédio que havia tomado para dormir, queria esquecer a dor que invadia seu ser, com o fim que Adriana havia colocado entre as duas.
Pedro ficou ali ao lado, sem conseguir conciliar o sono.
O dia amanheceu e Lana fazia esforço sobre humano para ficar bem, mas a saudade que sentia de Adriana era maior do que ela e do que a gratidão que ela precisava sentir pelo marido.
Os dias passaram e Pedro sabendo que ela não havia ido mais ao apartamento de Adriana, viajou tranquilo para São Paulo, iria se ausentar por quinze dias, precisava resolver negócios e seguiu deixando o detetive atento e que ele ligasse a qualquer visita dela a moça, que fazia Pedro sentir imenso desconforto.
Lana sentia-se angustiada e foi até a cozinha onde estava Josélia, tomou sua mão e a fez sentar um pouco ao seu lado e disse:
— Josélia, eu preciso ir ao terreiro com você. Eu disse isso outro dia e acabei não indo, mas preciso ir hoje.
— Está bem, hoje tem atendimento, então à noite seguiremos.
Era quarta-feira e Lana chegou à loja, chamou Consuelo.
— Preciso conversar um pouco.
— Fale querida, estou aqui.
— Estou muito angustiada, ontem fui à casa de Adriana e ela disse que não podemos mais continuar, entende? Que ela não combina com o papel de amante, essas coisas, que eu entendo. Consuelo eu não sei o que fazer.
Consuelo tomou a mão de Lana e disse com carinho:
— Querida não te resta outra coisa que não seja decidir, entende? Se decidir que seu casamento é o melhor para ti, esqueça o restante, mas se em teu coração a decisão é que siga teu amor com Adriana, esqueça o restante. Lana minha querida, nenhuma pessoa pode seguir uma vida dúbia, não se pode servir a Deus e ao diabo ao mesmo tempo, entenda isso.
— Sim eu entendo e acho que você tem razão. Pedro está viajando e ficará, quinze dias em São Paulo, vou aproveitar esses dias para pensar melhor e tomar a decisão mais acertada. Amo Adriana e por mais que pareça loucura.
— Por que loucura?
— Sou uma mulher e estou apaixonada por uma mulher e isso ainda é muito confuso dentro de mim, fico pensando se é pecado ou se não é. Como foi para você Consuelo, se descobrir sendo lésbica?
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Sem comentários
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook: