CapÃtulo 11 - Algumas peças do quebra-cabeças
- Sente muita dor?
- Muita enfermeira.
Selena olhava com admiração o lado teatral de Camila. Havia um talento ali. Até ela quase acreditara que a morena estava doente. Marcela foi trazida logo em seguida.
A enfermeira se desdobrava.
- Bem hoje, quando a Cláudia não está, isto explode. – Comentou discretamente com Selena que coçou a cabeça e concordou com ela.
Em meia hora estavam na enfermaria Brenda e Alessandra, completando o quarteto de pacientes. A enfermeira dava claras mostras de impaciência.
- O que será que houve?
- Talvez alguma intoxicação alimentar? – Comentou Selena.
- Pode ser. Elas terão que passar a noite em observação. Você ficará também, né?! – Referiu-se à ruiva.
- Certamente.
Três horas havia se passado. A ruiva olhava no celular. As coisas estavam silenciosas. Silenciosas demais para o gosto da ruiva que estranhava aquele sossego. As luzes das alas se apagaram. Aquele seria o momento ideal. Todas elas fingiam ressonar e a enfermeira tinha uma sensação de alÃvio. Conseguira aplacar a dor daquelas mulheres. Seu dever estava cumprido. Todas elas devidamente algemadas em suas macas. Seu semblante era de puro cansaço.
- As coisas estão calmas por aqui. Vou tirar um cochilo breve. Fique de olho nelas, por gentileza. Qualquer alteração me avise. Se precisar trocar a vigilância com alguma outra pessoa para o seu descanso, me avise também. Por favor!
Selena acenou positivamente com a cabeça. Aquele tipo de postura, o ato de descansar enquanto está ainda no plantão não era novidade. Elas, inclusive, já esperavam por essa postura da enfermeira.
A ruiva aguardou alguns minutos após a saÃda da enfermeira. Aproximou-se das macas.
- O momento é esse. Precisamos agir.
Verônica deu um salto ao sentir que nada mais a prendia à maca.
- Você é Alessandra, certo? – Viu a franzina mulher concordar. – Essa aqui é Marcela. Fizeram algum procedimento com ela. Preciso que descubra o que foi feito.
- Certo. Mas, o que eu ganho com isso? – Alessandra mesmo tÃmida, questionou.
- Uma oportunidade de não ser submetida a mesma monstruosidade que essas mulheres estão sendo. Precisamos descobrir o que se passa aqui dentro. Você não ouve os gritos dessas mulheres quando são arrastadas de suas celas?
- Sim. Eu tinha uma parceira de cela. Mas, ela nunca mais voltou. – Alessandra mencionou.
- Então, nos ajude. Estamos aqui para descobrir o que se passa. Mas, precisamos da sua ajuda. Você é da área da saúde.
- Ok. Farei o que puder.
Enquanto Alessandra se dedicava a examinar Marcela, mesmo com os precários instrumentos que tinha a disposição. Selena, Brenda e Verônica começaram a procurar pistas.
Vasculharam prescrições e demais anotações médicas.
- Selena aqui não tem nada.
- Ei, se acalma. Vamos procurar melhor. Temos tempo ainda, ok?
A calma e a confiança de Selena ajudaram a aplacar sua ansiedade. Sabia que era arriscado o que estavam fazendo. Se fossem pegas, suas vidas estariam em sério risco.
Brenda percebeu a troca entre as duas mulheres. Rolou uma confiança mútua entre elas, de forma silenciosa.
- E a� Esse é o momento em que deixo as duas sozinhas ou me junto para formarmos um trio bem caliente?
- Idiota. – Murmurou Verônica ao revirar os olhos.
Selena ficou vermelha. Extremamente constrangida.
- Selena tem outra enfermaria aqui? – Brenda perguntou convencida de que o que quer que rolasse ali dentro não seria naquele local que as coisas aconteciam.
- Tem a sala destinada a contenção de epidemia. É mais isolada.
- Ela é mais discreta. Pode ser o local. – Sentenciou Verônica.
Seguiram os corredores. Desertos. Nem sinal de Gisele aquela noite e de nenhum dos outros guardas que seguiam cegamente o que aquela mulher mandava.
Foram o mais cuidadosas possÃvel. Mas, era difÃcil não chamar a atenção.
Num outro espaço.
- É muito bom recebe-lo. Estamos contente com mais essa remessa.
- Eu também estou, Cláudia. Efetuando essa remessa, o dinheiro estará em sua conta no dia seguinte. Daà você efetua os pagamentos de todos os colaboradores.
- Com certeza.
- Conseguimos extrair tudo sem nenhuma baixa desta vez?
Ele acompanhou o semblante de sua fiel escudeira.
- Infelizmente, a dra foi descuidada. Ela e a arrogante da superior Gisele.
Observou o semblante do homem se transformar e ele bater na mesa com muita força.
- Não podemos nos descuidar. O que essas cretinas querem? Chamar a atenção? Elas não arruinarão a fonte da minha pesquisa. O que estamos fazendo aqui é muito grande para ser colocado a perder por causa da arrogância de gente pequena.
- Acalme-se que eu cuido delas. Esse é o maior carregamento possÃvel de armazenar até agora. Conseguimos tudo isso sem levantarmos suspeitas. Qualquer um que se interpuser em nosso caminho será abatido. Não tenha dúvidas.
- Eu confio em sua competência, Cláudia. Ficarei em Embú até dia 01. Me deixe por dentro dos acontecimentos. Dia 29, estarei aguardando a carga pessoalmente. Estamos a um passo do sucesso.
Sorriram.
***
- O que faz sozinha nesse lindo jardim. Cansada do barulho, criança? Ou está fugindo de algo?
Lana teve um sobressalto. Não havia percebido a aproximação da outra.
- Eu... Estou descansando um pouco.
Madalena a olhou com profundidade.
- Parabéns pela realização deste projeto. Tem muito potencial. Você oferecerá uma nova perspectiva para a educação paulistana. Importante combatermos esse sexismo institucionalizado. Sua proposta de intervenção é inspiradora. Nós precisamos fazer algo pela sociedade. E, é formidável quando fazemos aquilo que acreditamos. Você é minha mais nova heroÃna.
Lana sorriu. Não podia negar que ouvir essas palavras daquela mulher que exalava poder era magnÃfico. Madalena, por sua vez, ficara encantada com o sorriso que recebera. Havia marcado um ponto.
- Obrigada, sra. Pimentel. Embora, eu tenha dúvidas de que uma mulher como você necessite de heroÃnas.
Madalena se aproximou. Era possÃvel sentir aquele delicioso perfume. A proximidade despertava alguns sentidos... de ambas.
- Você não tem ideia do quanto necessito de uma heroÃna, srta Almeida.
Aquilo arrepiou a publicitária.
De repente um fotógrafo se aproximou.
- Boa noite. Posso registrar as anfitriãs?
Madalena sorriu e assentiu. Enlaçou a cintura de Lana com possessividade. Os corpos de uniram e os sorrisos foram registrados.
- Muito obrigado. – O fotógrafo se retirou.
Mas, o braço da empresária continua enlaçando a publicitária que sentia-se sufocar com aquele perfume, a proximidade, o charme e a beleza daquela marcante mulher.
Se olharam. Quando a mais nova foi tentar se afastar, a experiente mulher a deteve.
- Por que resiste? Seus olhos transbordam desejo desde o momento em que cheguei neste salão.
- Você deve ser maluca – Sussurrou, Lana.
Madalena rapidamente trouxe a publicitária para si e a beijou. Novamente não houve resistência. Pelo contrário, sentiu a mais nova segurar seus ombros e apertar. O beijo as levou a outro patamar. Perderam momentaneamente a dimensão de onde estavam e a motivação do evento. Só havia as duas naquele lugar.
Um celular vibrou.
O beijo fora interrompido. Mas, a troca de olhares era intensa. Presa no olhar da empresária, Lana atendeu o telefone.
- Alô. Oi, amor. – A publicitária tremeu. Seu noivo em um congresso a trabalho e ela o traindo com aquela mulher à sua frente.
Madalena deu um sorriso debochado ao perceber de quem se tratava.
- Estamos no meio do evento. Falo contigo quando chegar em casa. Pode ser? – Aguardou a fala do noivo do outro lado da linha. – Eu também. Beijo.
- Hum!!! Desse jeito você me deixa enciumada.
- Madalena, você é uma mulher linda. IncrÃvel. Mas, esses beijos precisam parar de acontecer. Eu tenho um companheiro parceiro.
- Realmente, esses beijos precisam ser aprofundados. – A empresária gargalhou do semblante da mais nova. – E eu quero muito mais que isso...
Lana sentiu uma pressão no ventre ao ouvir aquela frase num tom de voz enrouquecido. Madalena voltou a se aproximar e beijou o pescoço da publicitária.
- Vem comigo. Vamos sair daqui. Já fizemos a nossa parte por hoje.
- Enlouqueceu?
- Você tem um fetiche por me chamar de louca, né?! Você ainda não viu o que sou capaz de fazer para ter você para mim, Lana.
- Lana, Lana – Era Antonia que se aproximava gritando. – Venha comigo, o prefeito a aguarda. Com licença, Madalena.
Madalena observou Lana se afastar. Estava feliz porque sentia a outra ceder a cada uma de suas investidas. Parecia querer resistir, mas não conseguia. Isso significava que penet*ava em sua couraça.
Pegou o telefone.
- O plano está de pé.
***
- Olha isso aqui.
Selena e Brenda avançaram para a escrivaninha na qual estava Verônica.
- O que você achou, Camila?
- Pesquisa com células-tronco embrionárias.
- Que porr* é essa? – Perguntou Brenda.
- São células troncos retiradas de embriões... Como fazem isso? Talvez a Alessandra nos dê um parecer mais especÃfico. Nosso olhar é leigo sobre o assunto. – Selena tentou ser prática.
Observaram tudo ao redor. A sala não era pequena. Havia aparelhos mais precisos ali. Um pequeno sistema sofisticado de refrigeração no canto da sala. Todo um aparato para exames ginecológicos.
- Que merd*. O que estão fazendo aqui nesse lugar? – Camila se irritou.
- Vamos. Já passamos tempo demais xeretando. Daqui a pouco a enfermeira reaparece.
- Ok. Precisamos entender esse quebra-cabeças.
Correram para a enfermaria. Marcela e Alessandra estavam deitadas na maca. Mais um passo e entendeu o porquê. A enfermeira havia retornado. Logo, freou as outras duas. As algemou.
- Que susto, Selena. Aonde vocês foram?
- Ao banheiro. Aonde mais irÃamos? – Disse tentando transparecer segurança.
- Deite-as aÃ. Estão melhores. - As duas balançaram positivamente a cabeça.7
- Que bom. Daqui a pouco as libero para retornarem à cela.
- Ok.
Fim do capítulo
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