CapÃtulo 32 - Ljubim te
Carolina
- Eu vou sentir tanta falta da minha menina - reclamei com a Fernanda.
Desde que minha namorada chegou na minha casa, esperou que eu tivesse vontade de falar sobre o que sinto com a partida de parte da minha família para o Brasil. A ruiva apenas se aconchegou perto de mim para sentir um carinho. Sorrindo de forma delicada, Fernanda olhou para mim como se entendesse a minha dor. Ela levantou a cabeça do meu colo e seu cabelo de fogo foi ajeitado apenas com uma das mãos.
- Desculpa não poder estar na despedida no aeroporto, não pude te dar a força que precisava. Você sabe, sou funcionária nova e ainda estou acostumando com as coisas aqui.
- Tudo bem, Nanda. Você já mudou sua vida demais para estar aqui comigo - sorri lembrando que há duas semanas ela está morando na Eslovênia comigo.
- Você fala como se fosse um sacrifício. Eu te amo e não quero ficar longe de você mais. Agora me conta como foi no aeroporto, o que você está sentindo?
Sua mão parou na minha bochecha e com o polegar acariciou a minha pele.
- Uma parte de mim parece que foi embora, mas ao mesmo tempo eu sei que é melhor para a minha menina. Foi tudo muito bem planejado, Annie demonstrou que me ama tanto nos últimos meses, jamais deixarei de ser sua mãe. Por mais incrível que pareça, minha separação com a Montserrat fortaleceu mais ainda os nossos laços. Me dei conta na minha cabeça o vínculo que tinha com a Annie era por causa do casamento. Ainda bem que nunca foi eu e a Mon, mas sim nossa reação de mãe e filha. Desde que a Montserrat conversou comigo sobre morar no Brasil, pedi para que Annie ficasse mais tempo comigo. Essa decisão foi muito sábia, nos despedirmos aos poucos e nada foi traumático. É claro que vai demorar para a rotina voltar ao normal, é claro que a tecnologia não será a mesma coisa. Mas, é como disse também, o melhor da Annie é ficar com a Mon e a Sara no Brasil e eu seguir a minha carreira política como sempre desejei - tentei passar uma imagem tranquila.
- Daqui seis meses Annie estará aqui para as férias. Te garanto que passa rapidinho, meu amor.
Olhei para a minha namorada sorridente. Não pude deixar de agradecer aos céus por ter me dado a chance de ter colocado o amor na minha vida novamente. Um amor tranquilo na convivência, cheio de tesão na cama e o bom humor da Fernanda alegra qualquer um por mais que o dia esteja sendo ruim.
- Com você aqui vai passar rapidinho mesmo, tenho certeza. Eu não canso de te agradecer por aceitar a minha proposta para mudar de vida - brinquei.
- Ah, ainda bem que você tomou coragem de me chamar logo, eu já não aguentava ficar longe de você. Por que demorou tanto? - se fez de nervosa.
- Ora, minha ruiva, uma mudança de vida não pode ser feita sem um planejamento. Eu só estava esperando o momento certo e a hora certa.
- Engraçado que você só me chamou para vir quando contei que um certo doutor estava dando em cima de mim. Confessa que foi ciúme, vai - ela provocou.
- Mas é claro que fiquei com ciúme... da mesma forma que você ainda sente ciúmes da Mon comigo sendo que não tem nenhuma lógica - dei o troco.
- Quem diria que vocês iam se separar e voltar depois de um tempo? Eu até esquecia que existia minha amiga Sara quando o ciúme batia. Mas vou te confessar uma coisa: eu usei um pouco um certo doutor para te provocar - sorriu sapeca.
- Você acha que eu não sei? Eu perguntei para a Sônia e ela disse logo que era pura provocação. Além disso, se você quisesse convencer de que aquele doutor estava dando em cima de você, deveria ter escolhido um heterossexu*l*, eu reconheço de longe uma pessoa que é homossexu*l* e aquele doutor é muito gay.
- Eu vou matar a Sônia. Então essa coisa de ciúmes foi tudo fingimento? - fez-se de ofendida.
- Minha ruiva, você não precisava me provocar, eu sei o quanto você é interessante, inteligente e linda, logo tenho que cuidar mesmo. Eu realmente tive que esperar para que você pudesse vir com alguma segurança.
- Detesto quando você tem razão. Eu não ligo de mudar de vida, sabe? Desde muito nova procuro o meu lugar no mundo. Na época de namorar, eu sofria por qualquer amor, me envolvia sem escolher ou esperar alguém que me fizesse feliz de verdade. Depois casei-me achando que tinha encontrado o amor da minha, mas foi uma grande furada. Como não tenho medo de mudar, já me separei na primeira oportunidade. Depois fiquei tempos tentando achar alguém por aplicativo. Só passei raiva. Por último, você me aparece casada. Eu tinha certeza que o amor não era para mim porque você foi embora e eu fiquei no Brasil tentando entender os sentimentos que se apoderaram de mim. Eu pensava: se eu não tiver essa mulher para mim, definitivamente não nasci para ser feliz no amor. Ainda bem que nos encontramos e que eu encontrei meu lugar ao seu lado. Eu já disse que te amo hoje? - sorriu.
- Quando acordamos. Mas é sempre bom ouvir - me aproximei dela e passei os olhos reparando em suas delicadas sardas.
- Eu te amo - beijou meus lábios - te amo - beijou outra vez - te amo muito - aprofundou o beijo. - Pena que tenho aula de esloveno agora - disse Fernanda separando-se de mim.
- Uma semana fazendo aula e você já está sabendo o quê? - Brinquei.
- Ljubim te (Eu te amo) - respondeu-me com o olhar mais apaixonado que já vi.
- Tudi jaz te ljubim (Eu também te amo) - respondi com a mesma intensidade.
E foi nos declarando como amamos uma a outra que nos despedimos para a Nanda seguir para a aula de esloveno.
5 meses depois...
Ergui minha filha para o meu colo e a abracei bem forte. Abraço que mata a saudade é tão indescritível. O momento mais emocionante foi vê-la correr para os meus braços. Quando saiu da Eslovênia, ela já andava muito bem, mas devagar. Agora ela já está correndo como a menina que eu vi crescer.
- Como você está grande, minha filha - disse beijando seu rosto.
- Eu cresci pouco, mommy - desceu do meu colo.
Vi quando ela se dirigiu a Fernanda que sorria ao ver a cena.
- Oi, tia Nanda! Como vai? Estava com saudade do seu país? Do calor?
- Eu estou muito bem, Annie. Eslovênia é um sonho, mas não vejo a hora de mergulhar no mar de Copacabana.
- Eu faço isso quase todos os dias no final da tarde. Sinto falta de Slovenj Gradec, e claro, mais da minha mommy. Mas estou muito feliz aqui.
- Quem deve estar feliz mesmo é a Mon e a Sara - comentei com as duas.
- Mami está mais tranquila, já passou por um casamento mesmo. Sara que está uma pilha de nervos.
Olhei em volta para reparar melhor na casa da Sônia. Fernanda pediu para que ficarmos na casa da amiga médica, mesmo eu insistindo em um hotel para não dar trabalho. Sônia fez questão de ter a nossa companhia e Annie vai passar uns dias com a gente. Amanhã será o casamento da Mon com a Sara e é por isso que chegamos no Brasil uma hora atrás.
- Sônia chegará que horas? - Fernanda perguntou se deitando no sofá à vontade.
- Tia Sônia só vai chegar à noite - respondeu a Nanda e dirigiu-se a mim - Vovó fez um escândalo semana passada, foi horrível mãe.
- Como assim, meu anjo? Por que sua vó fez escândalo? Ela está aqui no Rio de Janeiro? - perguntei confusa.
- Ela foi lá em casa "aconselhar" a mami. Ela soltou o verbo para cima da tia Sara, falando que ela não estava à altura de uma mulher como a minha mami. Por fim, mami expulsou a vovó de casa e a desconvidou do casamento.
- Céus, dona Gertrude não tem limite. Montserrat deve estar arrasada, porque querendo ou não, é a mãe dela - comentei.
...
No final da tarde, acabei não resistindo e mesmo cansada fui ao hospital. Sei que a Montserrat está aqui pela informação através da ligação que fiz à recepção, quero conversar com ela longe da Sara e da Fernanda.
Bati na porta de seu escritório, entrei ao ouvi-la autorizando minha presença. Seu sorriso foi lindo e nos abraçamos mantando a saudade.
- Que surpresa boa, Carol. Eu estava falando agora para a Sara que iria jantar na casa da Sônia para vê-las. Fernanda também está aqui?
- Não, Fernanda está descansando da viagem. Como você está?
- Estou bem, apesar de que vou me amarrar de novo amanhã. Tecnicamente é o meu terceiro casamento - deu risada.
- Isso porque você sempre faz questão de casar no papel. Eu disse na segunda vez que não precisava assinar nada.
- Ah, mas eu adoro casar, faço questão mesmo de assinar o papel e usar aliança. Mas será a última vez, tenho certeza que com a Sara será para sempre.
- E como está sua futura esposa? Ansiosa?
- Você não imagina o quanto. É o primeiro casamento dela e por isso faz questão de festa. Quem diria, não? Gritou na minha cara que se casaria com um homem e amanhã vai se casar comigo - mostrou o dedo anelar esquerdo para indicar o casamento.
- Sara superou seus próprios preconceito, é por isso que eu acho a história de amor de vocês tão linda. Lembra-se quando você queria que os refugiados voltassem para onde vieram? Como você os detestavam, Mon.
- Sara não era a única preconceituosa, eu também tinha a minha ignorância. Acho que só o amor para curar o mundo - sorriu.
- Por falar em amor, Annie me contou o que a dona Gertrude fez - iniciei a conversa que queria.
- Ah não, Carolina. Esse assunto não. Eu só quero esquecer o dia de ontem que quase estragou a festa do meu casamento. Sara ficou assustada com as coisas que ouviu.
- Antes de vir, eu liguei para a sua mãe e conversei com ela.
Montserrat saiu de perto de mim e sentou-se na sua poltrona. Com gestos duros, tentou passar o recado de que eu não deveria continuar com a conversa. Ignorando-me, Montserrat olhou para a tela do laptop, passou a fingir que está trabalhando.
- Dona Gertrude vive em uma bolha, Mon. Foi horrível conversar com ela e ouvi-la falar mal da Sônia, da Sara que ela nem conhece e falar mal até de você. Eu tentei conversar com ela de forma civilizada, mas até eu perdi a paciência. O que me preocupa é você, minha querida - sentei-me de frente para ela.
- Eu? Por quê? Eu estou bem. Conheço a mãe que tenho. Sei o quanto ela pode ser desagradável quando quer. Eu ser lésbica já é um problema para ela, mas casada com você ela até aceitava. Mas casar com uma árabe, refugiada e de origem pobre, nem pensar. Ela age como se eu ainda fosse uma criança, isso é ridículo.
- É bom te ouvir falando assim, Mon. Quando te conheci você dava tanto ouvindo para a sua mãe.
- Era a minha mãe, sabe? Achava que ela estava certa e que queria me proteger do mundo. Foi graças a você que comecei a ver o mundo de outra maneira. Mas eu jamais daria ouvido ao preconceito que ela tem com a Sara. Você achou que eu iria titubear diante do meu amor pela Sara?
- Confesso que sim, não vou mentir. Mas a sua mudança e amadurecimento são incríveis, Mon. Hoje você comanda um hospital com o auxílio da Sônia, tem o Instituto João e tornou-se uma mãe incrível.
- Não esqueça do meu ateliê. Mês que vem Charlotte vai lançar a primeira colocação após toda confusão e minha saída da Europa. Ainda tenho algumas restrições de segurança, bem poucas é verdade, mas acho que consegui provar minha inocência e tenho feito um bom trabalho como posso. Se não podemos salvar o mundo, que façamos a nossa parte.
- Vou usar essa frase no meu próximo discurso - levantei da cadeira.
- Quando é que você vai se candidatar à presidência da Eslovênia? - Montserrat também levantou.
- Você sabe que meu objetivo não é fazer decreto e sim estar na voz da democracia - andamos para fora da sala juntas.
- Belas palavras, minha querida amiga. Vamos para a casa da Sônia ou você vai passar em algum lugar antes?
- Nanda acabou de mandar uma mensagem dizendo que ela e Annie estão na praia. Então pego essa carona com você e depois vou para lá.
- Certo. Te deixo na casa da Sônia, depois passo em casa, pego meu biquíni e encontro com vocês na praia.
- E Sara? - indaguei.
- Em um hotel que eu nem sei qual é. Estamos nos evitando há três dias para criar aquela expectativa de casamento e lua de mel. Pelo jeito está funcionando, estou morrendo de saudade dela.
- Que românticas - deu uma cotovelada no braço da Mon de brincadeira e ela ficou mais sem graça ainda.
- E quando será o seu casamento com a Fernanda?
- Você e a Sara vão querer nos matar, mas já nos casamos. Foi um pouco corrido, ela precisava se tornar cidadã para continuar trabalhando, não deu tempo de avisar. Foi há um mês e meio que nos casamos. Preferimos deixar para contar pessoalmente.
Montserrat olhou para a minha mãe, finalmente notou a aliança discreta no meu dedo.
- Só te perdoo porque sei que quando a burocracia é grande o desespero nos faz correr. Fico feliz por vocês. Porém, podemos planejar uma festa quando eu for levar a Annie para passar as férias com vocês. Aliás, essa é a grande novidade que vocês queriam contar?
- Quando tiver o chá de bebê vamos fazer festa - soltei a bomba.
Montserrat arregalou os olhos e parou na porta do carro.
- Você está grávida?
- Eu não! A Fernanda está! - dei risada. - Ela fez inseminação e está de quatro meses. Essa é a grande novidade. Mas, por favor, faz uma cara de surpresa quando ela contar, eu não consegui segurar a minha língua.
Montserrat apontou com a cabeça concordando. Por fim nos encaramos felizes ao perceber o quão felizes somos. Entramos no carro e seguimos conversando sobre os planos para o futuro.
Fim do capítulo
Esses casais <3.
Comentar este capítulo:
dannivaladares
Em: 14/04/2018
Que lindo, Bastiat.
Como é lindo ver o crescimento de uma estória que cativou espontaneamente meu coração.
Uma pena que vai chegando ao final e vai deixando a sensação de saudade. Espero ler um novo romance seu logo. Rsrsrs...
Abraço,
Dani.
Resposta do autor:
Oi, Dani.
Sim, uma pena que a história tenha chegado ao fim rsrsrsrs.
Não digo logo, mas daqui uns meses sim haha.
Abs.
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