Boa noite,
Segue mais uma capítulo para vocês. Desculpem a demora nas respostas mas a semana foi complicada. Espero continuar contando com as opiniões de vocês.
Xeros e boa leitura!
Capítulo 40 A Lista dos Malditos
Parecia que eu estava saindo de mim... Ouvia uma música distante que duelava com um som abafado de um tambor que parecia assumir um ritmo desenfreado à medida que eu dava cada passo. Eram as batidas de meu coração! Que se tornaram perfeitamente audíveis para mim tamanha a emoção que eu sentia.
Olhei para meus pés para certificar-me que eles tocavam o chão, pois eu tinha a certeza de estar levitando e então ergui os olhos e foquei em sua mão puxando a minha, seus longos dedos acariciando gentilmente o meu pulso e me passando uma firmeza que me transmitia uma força descomunal.
Continuei erguendo meus olhos e a tez branca de seu antebraço era repleta de sinais sob e fina penugem dourada que estava ouriçada. E aquilo me dizia que, de alguma maneira, também não estavas passando ilesa por aquela experiência. E então não me senti sozinha.
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- Jamais estivesse só meu amor! Em momento algum, pois assim como você, eu me perdi de amores assim que a vi naquele salão de festas em seu Baile. – Delphine confessou, focando a lareira que já estava quase em apenas brasa. Ergueu-se e foi até uma caixa grande de madeira que ficava ao lado da imensa lareira retirou de lá mais alguns pedaços de madeira perfeitamente cortada e os depositou sobre as brasas, atiçando o fogo para que esse retornasse a queimar forte e com isso, a luz necessária para a sua leitura e o calor retornassem. Limpou suas mãos e voltou a sentar-se para a leitura.
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Lembro-me perfeitamente dos rostos das pessoas presentes naquele dia. Todos abriam caminho para a nossa passagem e praticamente nos reverenciavam. Só então percebi que faziam aquilo por você. Era o efeito que, de alguma maneira, causavas nas pessoas. Algo igual à noite do meu Baile. Como se eles reconhecessem que estavam na presença de alguém muito especial. Não da nobreza ou coisa assim. Algo para além do sublime e então foquei em seus cabelos e nos cachos perfeitos e longos que pendiam em suas costas. Eram de um dourado impressionante. Muito parecidos com os de Manu, contudo, o seu cabelo parecia brilhar sob a luz dos candelabros que ornavam aquele ambiente.
Passamos bem no meio de uma cascata de lírios que pendiam de jarros suspensos e então você se virou para mim e sorriu. Foi a primeira vez que você me lançou aquele sorriso que viria a ser só meu. Não aquele repleto de malícia ou sarcasmo, mas o mais sincero, devotado e terno dos sorrisos.
E como se comandasses tudo ao nosso redor, alcançamos o centro do salão quando a música mais alegre havia sido encerrada e as pessoas que ocupavam aquele grande circulo se afastaram para nós e então uma suave melodia teve início. Esforcei-me como nunca para conseguir me lembrar de todos os passos de dança que eu conhecia, embora fosse uma ótima dançarina, temia esquecer-me de tudo, tamanho o meu nervosismo. Só então algo me ocorreu.
“Quem irá conduzir?”
“Não se preocupes com isso.” Você me respondeu causando um breve sobressalto. Naquele momento eu ainda não estava acostumada a tê-la em minha mente. Embora fosse a coisa mais extraordinária que eu já havia vivenciado, pois aquilo nos unia de uma forma profundamente intima.
Então você se virou e parou diante de mim. Seus grandes olhos verdes cintilavam e sua respiração ofegante me encorajava. Desses um suspiro mais profundo e então ergueu sua mão direita para receber a minha. A ergui com certo temor e percebi o tamanho de meu nervosismo quando vi o quanto tremia. Foi minha vez de respirar fundo e buscar algum resquício de segurança, mas essa foi efêmera, pois assim que repousei minha mão sobre a sua meu coração voltou a se acelerar e o ar me foi completamente roubado quando senti sua outra mão alcança minha cintura.
O segundo acorde da música ecoou!
Ensaiei mover-me para começarmos aquela dança de um jeito mais formal, mas eu estava redondamente enganada e nada do que eu vivi ou imaginei se equiparou ao que senti quando você me puxou contra você. Colando nossos corpos de uma maneira impensável para mim, pois jamais estive tão próxima de uma pessoa assim. Quase como se fôssemos uma só e isso ficou evidente quando você me impulsionou e dêmos início a dança.
Era a mais exata definição de perfeição!
- Confie em mim! – Você sussurrou ao meu ouvido, fazendo questão de tocar seus lábios na lateral de meu rosto.
Entrei em ebulição! O calor me consumiu de uma forma impensada e meu corpo reagiu instantaneamente e como sempre foi dali em diante, ele me traiu, pois eu gemi mais alto do que deveria e a sua expressão me encarando após o gemid* me fez ruborizar. Você riu baixinho e continuou a me guiar pelo salão e movimentos leves, mas seguros e logo só havíamos eu e você. Pensei que aquilo era apenas coisa de minha cabeça, mas de fato todas as pessoas haviam nos deixado no salão para admirar a nossa dança. Sei disso porque a Alba me contou quando fomos embora.
Mas enquanto eu estava em seus braços nada mais importava e fiz questão de demonstrar o quanto eu estava capturada por você naquele momento lhe apertando ainda mais e não cortei o nosso elo mais precioso, o nosso olhar. Dançamos toda aquela melodia perdidas uma nos olhos da outra e quis mergulhar naquele misterioso lago verde e âmbar que escurecia à medida que os movimentos da dança se acentuavam promovendo um contato cada vez mais próximo (se aquilo era possível) entre nossos corpos.
Estávamos nos fundindo!
E eu senti algo que até então só havia tido uma ideia que seria possível. Um pulsar latejante bem no meio de minhas pernas, aliado a um frio que remexia meu interior contrastando com o calor que atingiu minha face. Hoje eu sei meu amor, que eu estava à beira do êxtase ali, prestes a explodir diante de você e todas as pessoas que estavam hipnotizadas conosco.
Esse foi o momento em que cometi o meu “erro” fatal. Abandonei seus olhos e contornei seu rosto com meus olhos até que eles alcançaram sua boca que estava entreaberta e eis que fui arrebatada por uma vontade descomunal de prova-la. Nunca o havia feito. Nunca havia tocado os lábios de outra pessoa, pois ninguém nunca despertara tal desejo em mim, mas naquele instante, todas as minhas vontades, todo o meu ser me impelia para aquilo. Involuntariamente minha cabeça começou a mover-se lentamente em sua direção me levando a inclina-la levemente para o lado. Tenho a certeza que você percebeu a minha intenção, pois a vi engolindo em seco pouco antes de vir ao meu encontro e então senti seu hálito quente cair em meu rosto como ondas que me incendiavam ainda mais.
Eis então que senti o primeiro espasmo comprimir bem o centro de minhas pernas e aquilo me apavorou. Perdoe-me a imaturidade ou a inocência, mas aquilo me assustou demais. Precisei parar o que eu estava sentindo, pois era algo incompreendido para mim. Desculpe-me por ter saído correndo daquele jeito.
Hoje eu me arrependo tremendamente de ter feito aquilo. De ter fugido de você daquela maneira, mas me apavorei com o que estava sentido. Meu intimo doía. Era uma dor que eu não conseguia explicar embora soubesse a causa. Mas eu precisava respirar, pois o nó que se formou em minha garganta estava dificultando que o ar entrasse em meus pulmões.
Sai esbarrando nas pessoas que me olhavam curiosas e algumas com ar divertido e alcancei a saída daquele lugar. O frio da noite me envolveu e tornou geladas as lágrimas que escorriam em meu rosto.
- Minha senhora? – Alba me segurou pelos braços e assim que ela viu meu estado, me abraçou forte.
- Me tire daqui Alba. Me leve para casa! – Ela acenou para o cocheiro que estava por ali. Ergui meus olhos por sobre o ombro de minha ama e lhe vi. Você vinha em minha direção a despeito de duas mulheres que tentavam lhe segurar, sendo que uma delas era a mulher de turbante que estava com Alba.
"Melanie... espere. Não vá!” Mas eu não respondi. Estava confusa demais e antes que você nos alcançasse o cocheiro chegou com nossa carruagem e entrei as pressas. Ele partiu imediatamente, contudo eu ousei olhar para trás e lhe vi parada no meio da estrada com uma expressão perturbada. Voltei a cair no choro no colo de Alba. Essa apenas acariciou minha cabeça e esperou que eu chorasse o que fosse preciso.
Chegamos a casa em silêncio. A carruagem parou um pouco antes da entrada por precaução, mas entramos sem maiores dificuldades. Meu pai ainda não havia retornado. Contudo eu sabia que iria sofrer consequências por aquela escapadela, pois as amas espiãs de meu pai estavam acordadas e viram quando sai e quando cheguei, porém eu estava pouco me importando com elas naquele momento. Corri para meu quarto sendo seguida por Alba. Pensei em pedir para ficar sozinha, mas eu precisava de alguém e ela era a pessoa em quem eu mais confiava.
Entrei em meu quarto já tirando meu vestido e o espartilho na vã tentativa de aliviar a pressão que eu sentia. Andava de um lado para o outro pelo quarto numa exasperação tamanha.
- Já está mais calma? – Alba me questionou. Eu a encarei já quando estava só com minha roupa de baixo e ela me estendia a minha camisola.
- Alba... Por favor... Me explica o que é essa... Essa... Dor, agonia... Esse...
- Êxtase? – Alba completou e me pegou de surpresa. Eu bem sabia o que ela queria dizer, pois em minhas leituras eu havia lido alguns contos Saphicos, algo de Boccaccio e até mesmo trechos do Kama Sutra, mas nada se quer conseguia se aproximar do que eu estava provando, pois era real demais.
- Mas como é possível? – Perguntei desnecessariamente, pois em meu intimo eu já sabia que aquele tipo de relacionamento era muito mais do que possível. – Desculpe... – acenei com a mão.
- Menina Mel... – Ela se aproximou de mim e me guiou até a cama onde sentamos. – Deixando de lado (momentaneamente) todas as implicações envolvidas, eu ousaria dizer que a Srta está sendo tocada pelo espectro da paixão! – Ela sorriu para mim e eu arregalei os olhos. – Diga-me sinceramente, em algum outro momento da sua vida você sentiu o que experimentou hoje? Com qualquer outra pessoa? Seja homem ou... Mulher. – Ela me analisava com cautela. Eu a encarava pensativa e sabia que ela tinha a resposta para aquela pergunta.
- Claro que não! – Olhei para meus pés.
- Diga-me mais uma coisa... Você gostou de ter dançado com Srta Chermont? – Ela sempre era direta. Saltei da cama no susto.
- Eu... Eu... Eh... Eu... Simplesmente adorei! – Deixei meus braços arriarem e finalmente o nó que me comprimia à garganta começou a se desfazer. – Eu AMEI estar nos braços dela Alba. – Foi-se o nó!
- Então tens as respostas para todas as suas perguntas!
- Mas... Como eu posso viver isso? Toda a educação que tive me diz que tal coisa é completamente errada.
- E desde quando a Srta deixou que a sua educação ou criação lhe impedisse de algo? – Alba era certeira. – Contudo... – Lá estava a ressalva prometida antes – Deves saber das implicações e riscos que vivem as pessoas como...
- Nós? – Sorrimos como duas cumplices.
- Isso mesmo! Temos de viver escondidas, mantendo quem somos nas sombras. Viver nossos amores em segredo. – Alba se lamentava e me preparava para o que ela achava que estava por vir para mim. – Mas no seu caso ainda existe um agravante... Aliás, dois. – Arregalei os olhos.
- Mais?
- Seu pai como deves presumir. Além dele ser como é, ainda é um dos grandes apoiadores da Igreja e essa nos condena mais do que tudo.
- E qual o segundo agravante? – Temi.
- Ele atende pelo nome de Evelyne Chermont! – Tremi da cabeça aos pés quando ouvi seu nome.
- Mas por quê?
- Ela não é uma boa pessoa Mel. Quer dizer, no que diz respeito a relacionamentos. – Ela tentou se justificar, mas certo estrago já havia sido feito, pois Alba não sabia, mas eu conhecia mais a sua fama do que talvez ela mesma. – Ela não se liga a ninguém. Só brinca, se diverte, usa e descarta as pessoas. – Disse com ar sério e preocupado. – Conheço algumas que caíram na lábia dela e se machucaram bastante.
Minha querida sei que não guardas mágoa da Alba, mas ela só queria me proteger e, naquele momento ela tinha razão em suas ressalvas. Eu era uma menina inocente e você era uma verdadeira predadora que só se divertia com as pessoas. Mas eu havia conseguido ver, através dos relatos de Manu, uma Evelyne diferente. Alguém que amou, sofreu e que decidiu de resguardar. Contudo, eu não admiti naquele momento, mas eu já havia partido para um caminho sem volta.
- Eu ouvi algo sobre isso Alba. – Disse cabisbaixa.
- Se tiveres de viver sua condição, irás encontrar uma pessoa bem melhor e que vai amá-la como mereces. Porém, não podes esquecer que estais prometida ao Duque. – Aquela lembrança foi um choque de realidade e me fez suspirar quase derrotada. – Acho melhor descansares agora. Já é muito tarde. – Ela desfez a minha cama. Entrei sob as cobertas certa de que não dormiria aquela noite, mas não a contrariei. – Tente colocar sua cabecinha no lugar menina. E saiba que sempre estarei ao seu lado. – Me beijou a testa e saiu me deixando mergulhada no silêncio de meu quarto apenas com a companhia de meus pensamentos que eram dominados por você.
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Delphine ficou de pé, esticando-se um pouco e com um sorriso bobo nos lábios. Lembrar aquele final de semana específico estava sendo maravilhoso, até mesmo a angustia que sentiu quando viu Melanie fugir de seus braços, deixando-a completamente sem ação. Perdida.
Naquela ocasião tentou correr atrás dela, mas foi contida por uma amiga e que era membro da Ordem.
- Deixe a menina ir! – Moira disse. – Ela está confusa e precisa de um tempo para compreender o que está acontecendo. Evelyne a olhou duramente, mas sabia que continha verdade nas palavras dela. – Além do mais ela não é o tipo de garota com quem deves se aproximar.
- Até parece a minha mãe falando! – Evelyne retrucou. – O que eu faria demais?
- Você a machucaria! – Moira foi dura! – Evelyne desvencilhou-se dela e da outra mulher que a segurava e seguiu para fora, mas assim que chegou lá a carruagem acabara de sair. Ainda ficou parada no meio da estrada se sentindo impotente e frustrada, dois sentimentos com os quais não estava acostumada e logo ambos converteram-se num principio de ira.
- Quem essa fedelha pensa que é? – Disse entre dentes.
Ela retornou para dentro a passos firmes, fazendo com que várias velas dos castiçais e candelabros fossem apagadas. Dirigiu-se até o bar e pediu três doses de uísque e os virou em sequência, assustando a atendente. Queria desesperadamente aplacar o que estava sentindo. Ficar entorpecida. Contudo não estava tendo o êxito desejado e seu corpo continuava a desejar a jovem ruiva que esteve sem seus braços e cujo perfume não lhe saia da mente.
Algo lhe ocorreu.
Foi até a sua mesa usual e viu que uma bela mulher morena estava sentada e essa, assim que a viu se aproximar abriu um estonteante sorriso. Evelyne respirou fundo e literalmente partiu para cima dela e antes mesmo que a morena levantasse, ela se debruçou sobre e a tomou em seus braços a beijando com intensidade. Estava buscando uma fuga, um alento.
A moça adorou a situação e retribuiu a altura, se insinuando e se oferecendo cada vez mais para ela, a convidando para o meio de suas pernas.
- Vem comigo! – Evelyne demandou e a saiu puxando, indo em direção ao terceiro piso daquele estabelecimento, onde possuía um quarto que só era usado por ela. E assim que entraram naquele espaço, a loura jogou a outra mulher na cama e por muito pouco não lhe arrancou as roupas, tamanho era o seu desespero. Embora que a causadora dele não fosse aquela mulher sob ela.
Sacudiu a cabeça para afastar aquela ideia e procurou focar sua atenção na mulher diante de si que era realmente muito bonita e possuía um corpo escultural e que não era desconhecido seu, pois já havia trans*do com ela em outras ocasiões.
- Hoje você está tão gulosa... Com tanta pressa! – Sussurrou a mulher.
Evelyne novamente sacudiu a cabeça e cerrou os olhos, pois aquela não era a voz que queria ouvir e retesou todo o seu corpo se amaldiçoando. Não queria aceitar aquilo. Jamais fora recusada nem tão pouco jamais teve todos os sentidos tão facilmente capturados. Buscou novamente o foco e tomou a boca carnuda da mulher entre seus lábios enquanto apalpava os seios fartos ainda por sobre o espartilho que ela usava, mas estranhamente a excitação que sentiu há alguns instantes atrás no salão de dança não se repetia naquele momento e aquilo a estava deixando ainda mais nervosa. Mas não quis se dar por vencida e então enfiou a mão por sob a roupa intima da mulher que já gemia alto. Eve constatou que ela estava completamente excitada e achou que aquilo a despertaria como sempre era o caso. Já que sempre sentia prazer ao ver o quanto mexia com as mulheres, contudo, daquela vez isso não aconteceu.
Começou a movimentar os dedos no sex* pulsante da mulher, mas nada acontecia consigo, pois sua mente não estava mais ali. Realizava os movimentos friamente e quase de forma mecânica e quando os gemid*s da mulher sob ela anunciavam que se aproximava o gozo, Eve lembrou-se do gemid* quase involuntário de Melanie e aquilo lhe doeu fundo, levando-a a parar o que estava fazendo e retirar a mão bruscamente, deixando a mulher atordoada.
- Mas o que pensa que você está fazendo? Porque você parou? – Ela retrucou para uma Evelyne que estava deitada ao seu lado de bruços, com a cabeça virada para o outro lado, contemplando a janela.
- Saia daqui e me deixe sozinha! – Disse baixinho.
- É o que? – A mulher perguntou indignada.
- Eu disse SAIA DAQUI! – sentou-se e gesticulou para a porta assustando a mulher que se ergueu recolhendo suas roupas e enquanto a vestia resmungava algo.
- O que você disse? – Eve voltou-se para olhá-la.
- Nada! – Respondeu desafiadoramente.
- Diga-me o que foi que você disse! – inclinou levemente a cabeça para o lado e para aquela pobre mulher, não restava mais alternativas, sua vontade fora capturada por ela.
- Eu disse que... Até a Deusa da Perdição brocha! – Arregalou os olhos. Evelyne cerrou os punhos em ira, mas relaxou. Jamais machucaria uma mulher mesmo que essa o merecesse, apenas contentou-se em novamente ordenar que essa saísse, só que dessa vez foi mentalmente.
Jogou-se na cama, sentindo derrotada.
Delphine riu de si mesma e do quanto era tola.
Mas constatou que a partir daquela noite, até o ultimo dia de sua vida mortal, não foi mais de mulher alguma, se não de Melanie. Suspirou e voltou-se para a leitura.
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Para a minha surpresa eu consegui dormir mais rápido do que poderia imaginar e passei a manhã do domingo calada e pelos cantos, apática. Como se estivesse doente, ao ponto que a reclamação de meu pai nem foi tão severa como eu presumia. Embora a marca deixada pelo aperto que ele deu em meu braço mostre que ele quis demonstrar quem mandava.
Perto da hora do almoço um entregador veio a nossa porta e trouxe um recado para mim. Na verdade era um convide de Manu, para um chá de despedida, pois na manhã seguinte ela retornaria para Paris. Meu pai me questionou o que era e mesmo não acreditando na mentira contada ele quis ver do que se tratava. Manu sempre foi mais esperta que ele. Claro que ela não assinou o convite, ao invés de seu nome e endereço estava o do Grupo de Costura de Nice. Coisa que eu desconhecia completamente a existência e que certamente ela o inventara. Ele autorizou a minha ida, embora eu iria de qualquer maneira e, milagrosamente, meu ânimo mudou radicalmente.
Um par de horas após o almoço eu já estava pronta e em cóleras a espera de Alba.
- Sei que estais ansiosa para rever a Manu, mas algo me diz que ela não a causa de toda essa sua empolgação. – Lamentou. Eu apenas sorri em retribuição e entrei na carruagem de nossa família. – Por favor, minha senhora. Não se envolva com ela. – Mas eu não respondi. Apenas desviei o olhar e ficamos em silêncio até chegarmos ao hotel onde Manu e você estavam hospedadas. Ele era um estabelecimento lindíssimo e com uma decoração de muito bom gosto.
Assim que entramos, nos apresentamos na recepção e um rapaz solicito nos disse que erámos esperadas na suíte principal, que ficava no segundo andar. Um outro nos guiou até lá e a medida que andávamos eu observava os detalhes daquele lugar. Tratava-se de um palacete de alguma família tradicional que perdera seus bens para algum banco que o leiloou a preço de banana e o novo dono o transformou em um estabelecimento de aluguel de quartos e hotel. A suíte principal ocupava quase todo o segundo andar daquele edifício e mesmo antes de batermos a porta Manu a abriu.
Ela sempre sabia quando eu estava por perto.
- Minha querida Melanie! – Me recebeu em um caloroso abraço. – Saudades. Olá Alba, espero que estejas bem. Venham, entrem. – Ela nos deu passagem e agradeceu ao jovem que nos trouxe dando algo para ele. – Como é bom tê-las aqui. – Disse após fechar a porta.
- É maravilhoso mesmo estar aqui Manu. Sinto muita falta de nossas conversas e nossos estudos. – Admiti e tentei disfarçar minha ansiedade e conter meus olhos que varriam o ambiente como se procurassem por alguém.
- O que foi Mel? – Manu me questionou, pois fui pega no flagra.
- Estou admirando a beleza desse lugar. – Menti descaradamente e sua mãe sabia disso, mas fingiu acreditar.
- É mesmo formidável não? Mas que tal um pouco de chá? – Ela se levantou e fez questão de nos servir. Manu era assim, não gostava nem tão pouco precisava de pessoas que fizessem o serviço por ela. – Essa não é a primeira vez que fico nele e creio eu que foi um bom investimento.
- Ele é seu? – Alba se adiantou a mim na surpresa.
- Na verdade ele é da Eevelyne. Ela que tem essas ideias de investimentos em imóveis e bens. Diz ela que isso é o futuro. – Estremeci ao ouvir seu nome e me cocei para perguntar onde estavas. Mas minha dúvida foi logo sanada antes mesmo de eu lança-la.
- Porque você me deixou dormir até tão tarde? – Aquela voz melodiosa, provinha de um corredor lateral e estava um pouco rouca, denotando que acabara de acordar. Enrijeci minha postura e parei a xicara de chá no ar quando eu tive a mais bela das visões.
Lá estava você, vestida apenas com uma fina camisola e com os cabelos levemente bagunçados. Incialmente você não percebeu a minha presença só quando se aproximou da mesa de chá me viu.
- O que você está fazendo aqui?- Você se sobressaltou ao me olhar e eu a achei ainda mais encantadora. Eu sabia que não estavas com vergonha ou coisa do tipo, pois algo assim nunca combinou com você, mas a sua surpresa foi legítima.
- Eu convidei a Melanie para um chá. – Manu respondeu por mim já que eu não conseguia nem se quer fechar a minha boca. Sua mãe nos olhou com expressão curiosa. – Como estamos retornando para Paris amanhã, eu quis me despedir dela. – Completou.
- Sabe mamãe... – Você se sentou numa confortável espreguiçadeira que havia próxima a janela e sob o olhar reprovador de Manu. – Estou pensando em “esticar” a minha permanência aqui na cidade. – E me lançou aquele olhar desafiador, capturando o meu, me fazendo praticamente ignorar as demais pessoas que haviam ali.
- E eu posso saber qual o motivo da sua mudança de planos? Afinal de contas, salve engano, você está com viagem marcada não? – Manu lhe perguntou na vã esperança de que você fosse lhe responder algo, porém para a surpresa dela você o fez.
- Sim! Eu iria para a Toscana, mas... – Me olhaste por sobre a xicara de chá – Nice tem se mostrado muito mais... Digamos... Interessante! – Eu sabia, e tinha a certeza que as demais mulheres daquela sala também sabiam que aquela fora uma indireta para mim. E mesmo que não soubessem, o rubor de minha face me denunciou.
Sempre me incomodou esse aspecto de minha personalidade e de como você me desconcertava tão facilmente. Eis então que aconteceu algo inusitado para mim.
- Tenho muita vontade de conhecer a Toscana... Mas especificamente...
- Florença! – Dissemos simultaneamente. Alba e Manu trocaram olhares preocupados e então Manu leu tudo o que estava acontecendo ali, pois interpretou todos os sinais que lançávamos. Você, descarada, me olhava com uma intensidade perturbadora enquanto eu, em todo o meu desconforto, mantinha meu olhar em você.
- Algo me diz que gostarias muito de Botticelli! – Me disseste.
E aquele pequeno “jogo” entre nós teve início. Recordo-me de Manu me perguntando algo sobre o Baile, mas confesso que respondi, embora não sei exatamente o que foi, uma vez que estava novamente encantada com a sua presença e o efeito que causavas sobre mim. Porém, não era da minha natureza ser guiada tão facilmente e mesmo que eu estivesse sendo consumida pela ansiedade e pelo nervosismo, tentei transparecer uma irrisória segurança.
- Manu estou realmente pensando em retornar a Paris. – Lhe olhei intensamente e mal consegui conter meu riso quando lhe vi cerrar os olhos. – Sinto muito a falta de nossas conversas e de meus estudos. – Lancei essa estratégia (que não era mentira de fato) para ver até onde iria o seu interesse.
- Fico muito feliz em ouvir isso Mel! – Ela me disse sinceramente e você permaneceu calada, apenas me analisando enquanto bebericava seu chá. – Podemos pensar em uma estratégia para continuares com seus estudos, embora o seu iminente casamento possa representar um empecilho... – Manu nem teve tempo de concluir seu raciocínio, pois fora surpreendida pelo som de sua tosse. Quase havias se engasgado e presumi, naquele instante que aquela sua reação foi em relação a notícia de minhas infelizes e próximas bodas.
- Nem me lembres disso! – Eu disse sinceramente, completamente tomada pela tristeza que me arrebatara e me fizera quebrar o olhar que eu mantinha em você. Aquele assunto mexia negativamente comigo.
- Está de casamento marcado Srta. Verger? – Você perguntou muito mais séria do que gostaria e aquilo era evidente. Tanto que até Manu se surpreendeu com o seu tom de voz.
- Infelizmente sim. – Lhe olhei cabisbaixa e recebi em troca um alento solidário.
- E quem será o felizardo? – Havia acidez em sua voz.
- O Duque de Lorraine! – Eu disse entre dentes. Na hora a vi mudar de postura imediatamente e me sentir ser tomada por um sentimento que começou a me assustar. O que vi em seu olhar fez meu sangue gelar e eu não era a única a ser afetada por aquela sensação.
- Evelyne... – Manu adiantou-se em tom de alerta, como se quisesse evitar algo ruim que poderia acontecer.
Confesso que não compreendi bem o que aquilo poderia representar naquele momento, mas eu tinha a noção que as mulheres da Ordem sabiam quem era o Duque e quais eram as suas “práticas” sádicas. Contudo, o que eu desconhecia naquela ocasião era o fato de Lorraine estar na “Lista dos Malditos”, como as mulheres da Ordem se referiam a lista de vítimas de que irias dar fim e na qual o Duque vinha logo após o meu pai.
Inevitavelmente, falar no Duque me fez relembrar alguns dos momentos desagradáveis que passei em sua presença, contudo havia mais alguém em minha mente. Era você! E o que vistes em minhas lembranças desencadearam sua ira e foi a primeira vez que eu tive um pouco da dimensão do poder que tinhas e do qual eu só havia ouvido relatos.
“MONSTRO!” Eu ouvia sua voz repetindo tal palavra em minha mente e aquilo me assustou ainda mais.
Você fechou os olhos e os punhos e inclinou a cabeça levemente para o lado e então as portas e janelas daquele quarto começaram a bater descontroladas causando um pavor cada vez mais crescente em mim e em Alba que já estava de pé ao meu lado.
- Evelyne! Por favor, ouça minha voz! – Sua mãe lhe chamou. Tentando de alguma forma impedir o acesso de ira que estavas tendo, mas não estava tendo sucesso.
“Minha filha, você é mais forte do que isso!” “És mais forte do que eles...” Eu ouvia Manu que estava também em minha mente.
“O que está acontecendo?” Ainda consegui questionar.
“Melanie, por favor, vá agora!” Manu me encarou suplicante. Então eu decidi obedecê-la, pois a angustia que eu estava experimentando era algo realmente aterrador.
- Não vá! – Ouvimos sua voz! E como se uma tempestade fosse sessada do nada, o silêncio imperou naquele ambiente. Lembro-me do olhar de incredulidade de Manu que me encarava e depois se voltava para você. Contudo, eu novamente fugi de você a deixando com o olhar perdido.
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Delphine sentiu uma lágrima voltar a escorrer por seu rosto, pois havia esquecido daquele fato. O poder que Melanie tinha de trazê-la de volta quando ela estava perdida em sua escuridão. Algo que Cosima já demonstrou fazer embora essa conseguisse ir muito mais além. Ela esteve na escuridãi lá com ela.
Sentiu a emoção lhe consumir juntamente com o cansaço e ambos atribuíam um peso tremendo a seus olhos. Embora desejasse prosseguir em sua leitura, sentia que seu corpo precisava de descanso, pois as sensações que a leitura lhe proporcionavam estavam mexendo cada vez mais com ela.
Mas, o sentimento que oprimia seu coração com mais intensidade era a saudade. Contudo, percebeu que a falta que estava sentindo não era a da autora daquele texto. Não exatamente. Sentia falta daquela que ocupava cada vez mais espaço em sua vida. Aquela com quem queria estar a todo instante. Buscou seu celular que havia deixado sobre sua mesa e assim que o visor acendeu ela viu que a madrugada já ia longe e o rompante que teve de ligar para ela, perdeu força.
Contudo, o alvo de sua saudade também estava tendo uma noite insone e antes mesmo que Delphine colocasse o telefone no bolso, ele vibrou. Ela soube na hora quem era e com um sorriso bobo nos lábios atendou.
- Sem sono mon amour?
- Morpheus não quis me visitar essa noite. – Cosima brincou.
- Pois ele também me preteriu! – Delphine devolveu a brincadeira.
Um breve momento de silêncio quase constrangedor se fez, mas logo foi quebrado pela morena.
- A verdade é que eu estava sentindo muito a sua falta... E não adiantas mentir que sei que também estavas sentindo o mesmo. – A gargalhada gostosa de Delphine fez Cosima suspirar do outro lado da ligação.
- A Srta está ficando um tanto quanto convencida.
- E a culpa é inteiramente sua. – Sorriu. – Mas Del, falando sério... Eu estava aqui, estudando e imersa em minhas leituras quando senti uma súbita vontade de falar, de estar com você. – Delphine apenas riu com os olhos marejados. – Está tudo bem? – Cosima percebeu que o silêncio da outra queria dizer algo.
- Eu estou muito bem meu amor! Aliás, bem melhor agora. – Assumiu. – Mas o que fazes acordada tão tarde?
- Preciso me lembrar de que estou em um processo de pós-doutoramento e minha orientadora me passou um trabalho exaustivo. – Brincou com ela.
- Isso é fato! – Reconheceu. – Então a deixarei terminar o que tens de fazer, até porque em poucas horas eu estarei com você. – Suspirou e percebeu o quão piegas estava sendo, mas pouco se importou.
- Só a deixarei ir justamente por causa disso. Então tente descansar meu amor. Vemo-nos mais tarde. – Cosima se despediu e após mais algumas palavras de carinho, a ligação foi encerrada.
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- Cosima, sai logo dai para que possamos vê-la. – Amélia insistia sentada na cama ao lado de Sophie.
- Só um minuto queridas! – Marc respondeu de dentro do banheiro onde terminava de preparar o visual de Cosima para aquela noite de ópera.
Os seus amigos receberam a notícia do relacionamento dela com a sua orientadora de uma forma muito mais tranquila do que a própria Cosima esperaria, pois em seu intimo temeu que poderia haver algum tipo de ciúmes devido a temerem qualquer coisa parecida com favorecimentos. Mas isso seria impossível e ela acreditava nisso. Pois sabia o quão inteligentes e sensatos eles eram e também tinha a convicção de que era tão inteligente e competente quanto eles. Só ainda lamentava a reação de Louis, mas sabia que no caso dele, a mágoa certamente devia-se ao fato dele ter sofrido uma traição recente e ter se doído por causa da Shay. Sabia que mais cedo ou mais tarde ela iria ter de conversar com ele. Mas naquele momento estava mais preocupada com o excesso de maquiagem que Marc queria colocar em seu rosto.
- Muito bem! Aqui está a nossa musa! – Marc saiu do banheiro puxando Cosima pela mão.
- Como estas maravilhosa Cos! – Sophie suspirou.
- Não tem como ser diferente quando se tem uma modelo tão linda. – Amélia sendo sempre galanteadora.
Cosima ruborizou diante dos elogios das amigas, mas tinha a certeza de que havia acertado em cheio na escolha de um vestido bege com a cintura um pouco alta e com pregas perfeitamente alinhadas e que seguia a extensão daquela peça até pouco acima do joelho. O topo do vestido prendia apenas em um dos ombros, deixando seus braços a mostra. No pescoço usava uma série de colares que lhe atribuíam um ar de hippie chique. O visual que melhor lhe definia. Como de praxe usava seu cabelo no coque perfeito e calçava uma sandália de salto alto fechada.
- Realmente a Profa. Cormier tem muita sorte. – Amélia disse.
- E aparentemente bastante pontual! – Sophie verbalizou logo após algumas leves batidas na porta.
- E eu sempre atrasada! – Cosima apressou-se em pegar seu casaco e a chave de seu apartamento. Novas batidas indicaram que havia impaciência e ansiedade. Os quatro se olharam e Sophie bufou, seguindo até a porta para abri-la.
De fato era a Professora Cormier que não conseguiu disfarçar a sua surpresa ao ver quem abrira a porta.
- Srta. Lacroix!?
- Boa noite professora! – Ela respondeu e abriu a porta um pouco mais, permitindo que ela visse os seus demais orientandos e para que eles também a vissem e admirassem ainda mais a sua beleza.
Ela vestia um vestido cinza escuro, com um escandaloso decote em “v”. Bem marcado na cintura e que ia até a metade de sua suas coxas. Calçava ainda uma meia-calça preta e um sapato de salto finíssimo. Fechava o visual com seus louros cabelos lisos, presos com perfeição em um rapo de cavalo. Usava argolas prateadas em tamanho avantajado, realçando seu pescoço esguio e um batom vermelho sangue.
- Maravilhosa! – Marc disse após um assobio, deixando toda a formalidade de lado.
Só então Cosima saiu do quarto e ambas se olharam levemente constrangidas, pois havia uma pequena plateia ali que as assistiam e viam o quão apaixonadas elas estavam. Era impossível para eles duvidar que o que estava acontecendo entre elas não era algo extremamente forte.
- Bom... Acho melhor irmos agora. – Amélia acordou os dois amigos que estavam capturados pela energia emanada daquelas duas mulheres.
- Sim, sim... – Marc piscou os olhos e juntou seus materiais, os colocando em sua bolsa.
- É... Vamos! – Sophie repetiu o mesmo movimento. – Estávamos estudando e nos preparando um pouco para o congresso professora. – Ela explicou desnecessariamente.
- Muito bom saber! – Delphine lhes sorriu enquanto abria passagem para eles.
- Cos... Divirta-se na Ópera! – Marc disse assim que passou por sua professora. – A Sra também. – Ousou lhe piscar um dos olhos e para o choque dele, recebeu o mesmo gesto dela.
- Eu pretendo! – Sussurrou. Os três saíram e Delphine fechou a porta atrás deles. – Vocês são inseparáveis hein? – Virou-se para Cosima.
- Eles são maravilhosos. Foram presentes que ganhei aqui em Paris e espero levar para o resto da vida. – Deu alguns passos em direção a loura.
- Mas... Srta. Niehaus... Se me permites o elogio, estás sensacional! – A alcançou e a envolveu pela cintura.
- Não mais do que você meu amor! – Colou seu corpo no dela e a puxou pra si e exigiu um demorado beijo. Imediatamente os seus corpos começaram a reagir aquele toque e aquela proximidade mais intima. Um gemid* abafado soltado pela morena em meio ao beijo fez com que a loura a puxasse ainda mais para si e logo suas mãos já se exploravam, acompanhando a urgência da saudade que sentiam. – De que horas começa a apresentação? – Cosima abandonou brevemente a boca de Delphine para questioná-la. A loura gargalhou alto e fora seguida pela outra.
- Bom... Deve estar começando em pouco mais do que cinquenta minutos.
- Hum... Droga! – Praguejou enquanto soltou sua professora.
- O que foi? – Perguntou divertida.
- Muito pouco tempo para o que quero fazer com você! – Protestou, causando um arrepiar de pelos em Delphine que cerrou os olhos e cogitou seriamente a possibilidade de desistir de saírem e ficarem ali mesmo.
- Ah é? Curiosíssima para saber sobre tais planos! – Provocou. – Mas eu não posso privar as demais pessoas de admirarem essa maravilha que estas. – Indicou toda a figura dela. – Além do mais, eu serei sua pelo resto do final de semana. Que tal? – Sorriu sugestivamente.
- Você ganhou! Pois também quero me exibir ao seu lado! – Devolveu o galanteio. - Vamos?
Delphine riu e a puxou gentilmente pela mão. E assim que saíram do prédio, Cosima avistou Felix parado diante da porta da limusine a lhe sorrir discretamente.
- Oi Felix. O Marc acabou de sair.
- Eu sei. Ele passou por mim. – Lhe piscou o olho.
- Não se preocupe Sr. Dawkins, muito em breve estarás livre para curtir a companhia do Sr. Pinot. – Delphine sorriu. O rapaz ruborizou e abriu a porta para elas.
- Eu andei pesquisando sobre o hotel que você reservou para nós. – Cosima a abordou dentro do carro.
- Gostou?
- Bastante... Mas não é demais Delphine? – Insistiu.
- Não se preocupe meu amor. – Tomou a mão dela na sua e a beijou. – Para você sempre o melhor. E se olharam perdidamente como já era habito entre elas. Poucos minutos depois estavam parando em frente ao Opéra Garnier que estava divinamente iluminado com canhões de luz e um largo tapete vermelho descia desde a entrada principal, passando pelos degraus da escadaria até o fim da calçada.
Trata-se de um prédio que reunia vários estilos, um pouco de barroco e um pouco de estilos do renascimento italiano. A construção demonstrava boa parte da história da cidade e assim que desceram do carro, arrebataram as atenções de todos que já estava por ali. Tratava-se de duas mulheres lindíssimas, que andavam de mãos dadas sem vergonha alguma, mas o que mais atraia a atenção de todos era magnetismo impressionante que emanava delas.
- Sabias que essas esculturas, na época da construção da Ópera, escandalizaram os puritanos de então? – Delphine lhe informou.
- Já adorei! – Riu.
Já no interior daquele monumental edifício a grande escada central chamava a atenção devido a sua imponência e era famosa pelo seu traçado, pelos mármores, pelas pinturas e mosaicos. Cosima olhava tudo com um deslumbramento escancarado.
- Que lugar maravilhoso! Muitíssimo obrigada por me trazer aqui. – Agradeceu.
- Que bom que estás gostando meu amor. – Apertou a mão dela com mais força. Pouco antes de acessar a escada, Delphine avistou um dos motivos da sua ida até ali. – Venha comigo. – Guiou Cosima por entre as pessoas, algumas delas cumprimentando-a. – Siobhan? – Chamou discretamente a mulher que estava de costas e conversava alegremente com dois homens.
Antes mesmo de se virar, Siobhan retesou seu corpo e se preparou para o embate que estava prestes a ter, mas que já o esperava, pois fora avisada por Stella. Despediu-se gentilmente dos homens e se virou para ela.
- Delphine! – A cumprimentou com um aceno de cabeça e parou por ai. Não prosseguiu com a saudação característica da Ordem. – Vejo que estás muito bem acompanhada! Srta. Niehaus! – S se inclinou para dar um beijo no rosto de Cosima que não recuou apenas ficou surpresa em ver aquela mulher, embora soubesse que a reencontraria mais cedo ou mais tarde.
- Cosima, essa é a Siobhan Sadler, antiga Protetora da Ordem e membro da alta Cúpula. – Delphine as apresentou formalmente. – Embora eu saiba que vocês já se conhecem.
- Olá... – Fui tudo o que a morena conseguiu dizer.
- Srta Niehaus...
- Cosima, por favor.
- Cosima... – S pigarreou – Eu gostaria de me desculpar por não ter sido totalmente honesta com você. Mas eu tinha motivos para fazê-lo.
- Eu poderia saber quais são esses motivos? – Cosima a questionou, mas não obteve resposta imediata. Pelo contrário, viu Shiobhan olhar fixo para Delphine que lhe olhava duramente, como se estivesse lhe dando alguma determinação.
- Cos... Tudo tem a ver com o nosso encontro. – Delphine virou-se para ela lhe olhando com expressão séria e preocupada.
- Como assim? Não compreendo. – A confusão se avultava em seu rosto.
- Cos, vou lhe pedir uma coisa... Que tenha um pouco mais de paciência. Tudo lhe será contado no devido momento. – Delphine disse em tom suplicante. – E isso tem a ver com o diário que estou lendo e que... – Virou-se para S – Não sei por que não me foi entregue antes.
- Não entendo exatamente o que está acontecendo aqui, mas... Se me pedes para esperar, o farei. – Concordou demostrando o quanto confiava em sua amada.
- Delphine... Fazia parte do meu papel. Da minha missão enquanto Protetora da Ordem... – A conversa foi sutilmente interrompida pelo leve baixar das luzes, indicando que estava próximo o início da apresentação.
- Aquela não é a Reitora Duncan? – As outras duas mulheres olharam em direção para onde Cosima apontava.
- É ela mesma. – S confirmou.
- Sabias que ela estaria aqui? – Delphine a questionou.
- Sim, de acordo com a agenda da Cúpula, eu sabia que ela estaria aqui essa noite. Não se preocupe, minhas meninas estão de olho nela. – S sorriu orgulhosa.
- A Reitora Duncan também faz parte da Ordem? – Cosima arregalou os olhos. Delphine e Siobhan sorriram discretamente.
- Minha criança, tens muito que aprender antes de fazer parte da Ordem! – S disse enquanto tomava a frente delas, subindo os primeiros degraus, sendo seguida por Delphine.
- Eu farei parte da Ordem? – A loura a olhou ternamente e abriu o sorriso mais luminoso que possuía e acenou positivamente com a cabeça.
******
- Pontual como sempre Susan! – A mulher procurou quem lhe falava e avistou a figura imponente de um jovem homem que lhe sorria cordialmente.
- Paul? Não esperava encontra-lo por aqui. – Recebeu o gracejo do homem. – Desconhecia o seu gosto por Ópera. – Ambos seguiram lado a lado descendo em busca dos seus lugares na plateia daquele belíssimo prédio.
A sala de espetáculos era ainda mais impressionante que a entrada. Toda ornada em dourado e vermelho, com um teto que contrastava furiosamente com o resto da decoração décor. Na cúpula sobre a plateia havia pinturas de anjos e de personagens de autoria de Chagall.
- Para estar em sua cia, eu suporto até um bando de malucos gritando. – Ele disse enquanto lhe beijava pouco abaixo da orelha.
- Controle-se rapaz! Aqui não o lugar para isso. – Ela o repreendeu enquanto ambos se sentaram na terceira fileira de cadeiras.
- Susan... Sinto muita falta de nossos encontros. Parece até que eu só lhe era interessante enquanto eras minha madrasta! – Ele a provocou.
- Meu caro... Você nunca foi interessante! Apenas o usei quando senti vontade – Disse secamente e em tom provocativo enquanto apertava o queixo dele, lhe deixando com olhar perdido. – Não se faça de ofendido meu caro. - Foi então que as luzes se apagaram e reascenderam mais uma vez e ela viu, numa das cabines mais próximas do palco, Delphine e Cosima ao seu lado e Siobhan mais atrás delas. E aquela visão a deixou apreensiva, pois se alguns dos homens do Martelo começassem a perceber a proximidade delas, aquilo poderia significar um risco imenso para os planos da Ordem. Precisou pensar rápido.
- Contudo... - Virou-se para ele – Vê-lo aqui me despertou uma vontade adormecida... – As luzes se apagaram definitivamente enquanto ela se inclinou para lhe beijar a face, e assim que um tenor iniciou sua apresentação, Susan levou sua mão até a virilha do homem, acariciando o seu membro que logo começou a responder os estímulos iniciais. – Os banheiros daqui são bastante reservados... – Num acorde mais alto e num explosão de luzes no palco, ambos levantaram discretamente e saíram por uma das portas laterais.
A mulher procurou o banheiro mais próximo enquanto pensava em como iria avisar S que as tirasse dali. Avistou a placa indicando o lugar desejado e assim que entraram ela partiu para cima dele, o beijando intensamente enquanto abria o zíper da calça dele, enfi*ndo sua mão ali dentro.
- Hum... Exatamente como eu gosto! – Disse o olhando com expressão sacana. – Mas antes de seguirmos... – O afastou com a mão. – Permita que uma dama use o banheiro... – Lhe piscou um dos olhos. Ele concordou enquanto olhava para seu p*nis rijo em sua própria mão, acariciando-o.
- Estou a sua espera!
Susan entrou na cabine, mas estava demasiadamente nervosa, pois desde o encontro marcado com o Lamartine, que ficara apreensiva sobre os motivos dela e aquele nervosismo a fez derrubar o celular no chão.
- Está tudo bem Susan? – A proximidade da voz dele indicava que ele estava bem próximo à porta.
- Sim, sim. Tudo bem! – Com dedos trêmulos, buscou abrir o aplicativo de mensagens e assim que iniciou a digitação da mensagem, sentiu uma fina picada em seu tornozelo. Procurou a origem da picada, mas não viu nada. Voltou-se para o celular e então as letras começaram a dançar diante de seus olhos e a voz do homem ao lado de fora estava cada vez mais longe.
- Susan... Oh Susan...
E então a porta foi violentamente aberta e ela caiu para trás, nos braços de dois outros homens que lhe olhavam com malícia.
- Minha querida Susan... Vejamos agora quem irá usar quem! – E ela caiu numa escuridão profunda.
Fim do capítulo
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