CapÃtulo 24 – Eu não vou chorar
Eu não vou chorar
Sam me encheu de carinho. Tomamos banho juntas. E ela me amou mais uma vez embaixo da água quente do chuveiro. E eu também a amei. A amei como jamais a amei antes. Matei um pouco da minha saudade. Fomos dormir com o dia quase amanhecendo. E antes de adormecer, Sam disse que amava. E eu juro que acreditei. Então fui vencida pelo sono. E adormeci novamente entre os seus braços.
Acordo momentos depois com uma luz incomoda entrando pela janela e batendo em meu rosto. Esqueci de fechar as cortinas na noite passada. Pra falar a verdade, eu esqueci que existia um mundo além dessas quatro paredes. Além dos braços reconfortantes de minha Sam. Retiro-me de seus braços com cuidado para não acorda-la. E em passos lentos, vou até a entrada da sacada, puxando as cortinas, deixando o meu quarto novamente na penumbra.
Vou de encontro o meu banheiro. E embaixo do chuveiro solto um suspiro de satisfação. Meu corpo estava dolorido e marcado. Talvez vovô Bernardo esteja certo. Talvez quando amamos intensamente alguém, simplesmente não suportamos viver sem ele. E perdoamos. Perdoamos quantas vezes foram necessárias. Acabo a minha higiene e em passos lentos vou até a garota adormecida profundamente na minha cama. A única luz que iluminava o ambiente era a do banheiro que deixei entre aberta.
Sento-me sem fazer barulho e delicadamente retiro alguns fios negros que caiam sobre o seu rosto calmo. Abaixo-me e lhe beijo delicadamente a boca. Os olhos amarelados são abertos lentamente. Afasto a minha boca da sua e lhe sorriu carinhosamente.
-Bom dia Sam! - Os olhos da garota me encaram espantados. E sem que eu espere, ela se levanta em um rompante. Antes que ela caia, meus braços a seguram. –O que foi? - Pergunto preocupada.
-Eu estou tonta. - A voz rouca sai em um sussurro.
Levo-a novamente até a cama, a sentando na beirada. Abaixo-me a sua frente. Samantha estava com as mãos sobre a cabeça baixa. Em seu rosto uma expressão de dor.
-Ei. - Chamo-a. –Você está bem?
-Aii! Minha cabeça está doendo. - Então me lembro do quanto ela me pareceu bêbada na noite passada. –Parece que ela vai explodi.
-Bem feito. - Digo séria. –Quem mandou beber tanto.
-Fale baixo. - Reclama. Então seus olhos finalmente me encaram. E o que vejo me deixa apavorada. Um misto de dor, medo e revolta. –O que estou fazendo aqui? - Ela pergunta se levantado novamente. Então eu faço o mesmo. Tentando segura-la para não cair. –Me solta! - Sua voz soa raivosa.
-Sam...
-Sai da minha frente agora mesmo Lizandra! - A garota passa por mim com fúria. Mas de repente para. –Onde estão as minhas roupas?! - Ela pergunta abismada olhando para o próprio corpo nu.
-No mesmo lugar onde você as deixou. - Digo contrariada. Rapidamente Samantha recolhe o que consegue ver com a pouca luz. –Será que você pode abrir essas porcarias de cortinas, não estou conseguindo encontrar o meu vestido.
Faço o que a garota pede, e fico ali, vendo-a se vestir. Samantha em nenhum momento olhou em minha direção. E eu não estava conseguindo entender nada. E aquilo estava me matando.
-Ok. - Digo dando um suspiro frustrado. –Agora você pode me dizer o que está acontecendo afinal? - Pergunto quando a garota acaba de se vestir.
-O que quer saber Lizandra? - Os olhos amarelados se voltam furiosos sobre mim.
-O que você tem Sam? - Pergunto angustiada.
-Foi um maldito erro! - Meu coração se apertou na hora quando ela disse isso. –Me apaixonar por você é isso. Um maldito erro. - Sua voz sai duvidosa. –Eu só estava bêbada demais.
-Me poupe de suas des...
-Você se aproveitou de mim! - Ela me acusa.
-Como é que é?! - Digo duvidosa. –Você invade o meu quarto me agarra. E eu que me aproveito de você?
-Já disse que estava bêbada. - Ela diz na defensiva. –E você sabia disso!
-Você tem noção do que fez ontem? - Pergunto com medo.
-Nada que vale a pena lembrar. - Fecho os meus olhos por um momento. –Você me enganou de novo. - Sua voz sai acusatória. -Só pode ser mentira.
-É, talvez eu tenha enganado. - Digo voltando a olha-la. –Mas não foi a você.
-Nunca mais se aproxime de mim. - Samantha diz se aproximando revoltada. -Nunca mais se atreva a me olhar. - Suas mãos vão de encontro ao meu pescoço. Segurando o delicado cordão de ouro. E logo depois o puxando fortemente. Sinto uma pequena dor em volta do meu pescoço. Mas existia uma dor maior. -Eu não preciso do seu amor.
Estava cedo. Muito cedo. E como todos foram dormir praticamente de madrugada, deveriam está dormindo aquela hora. Olho em volta na grande sala. Deixei Samantha em meu quarto. Antes que ela dissesse ou fizesse mais alguma coisa para me ferir. Em minhas mãos apenas a caixinha de música de mamãe. Fiquei em duvida se ia até a cachoeira ou até a sala onde está o piano. Fecho os meus olhos quando chego no último degrau da escada e respiro fundo.
-Preciso respirar. - Em passos calmos me aproximo da grande estante que ficava na sala de estar. Ali ficavam os bebes de vovó Catherine. Ela amava colecionar bibelôs de cristais. Pego o pequeno carrossel e o coloco escondido atrás de uma coruja. –Não saia daí. - Digo me virando e indo até a entrada principal da casa.
Ando todo o percurso até onde se encontravam as baias contendo o choro. “Eu não vou chorar. Eu me recuso a chorar.” penso revoltada. Em passos precisos sigo até a baia de meu melhor amigo. Júpiter me entendia como ninguém. Ele respeitava o meu silêncio. Às vezes eu acreditava que ele realmente me respondia. Está com ele era como poder se libertar.
-Não faça barulho. - Digo lhe acariciando. O grande garanhão preto me cheira. –Desculpe amigão. - Digo lhe acariciando. -Esqueci suas maçãs. Mas depois prometo lhe recompensar. - Falo o puxando para fora pela rédea. –Agora eu preciso de você. - Digo baixinho lhe dando um beijo entre os olhos. O cavalo apenas relincha em concordância.
Estou ali sentada olhando novamente para a água que caia da cachoeira. Não que eu estivesse prestando atenção na imagem a minha frente. Eu só precisava de um ponto fixo para me perder em pensamentos. Brinco com um pequeno graveto entre as minhas mãos. Dou um suspiro cansado. Tudo isso é tão desgastante. Sam não deveria ter feito isso. Quando será que ela vai parar de me magoar? Quando ela vai entender que eu nunca a trair? Que eu jamais seria capaz de machuca-la. Quando será que esse sentimento vai finalmente morrer dentro de mim? Só espero que ele não seja eterno.
-Eu que queria não precisar do seu amor. - Minha voz sai baixa e angustiada. –Eu que queria pegar esse sentimento aqui dentro. - Levo uma de minhas mãos ao meu peito. –E arranca-lo até que não exista mais nada. Eu queria tirar você de mim.
Digo com dor. E volto a ficar em silêncio. Sabe quando você nem consegue mais chorar? Acho que finalmente estou anestesiada. Talvez eu esteja aqui há alguns minutos. Ou até mesmo por algumas horas. Eu já não sei. Júpiter começa a se agitar, chamando a minha atenção. Deixo o graveto cair de minhas mãos e me levanto. Indo até a árvore em que o cavalo está preso.
-O que foi? - Pergunto baixinho para o animal inquieto. –Quer ir pra casa? - Júpiter apenas relincha.
Desamarro sua rédea da árvore tomo impulso e o monto. E em galopes, voltamos para casa. Quando chegamos perto da grande construção, decido deixa-lo ali mesmo próxima a entrada principal. Depois o levo até a baia e lhe faço companhia. Desço de Júpiter, o puxo até uma árvore próxima. E o amaro ali.
-Fique aqui um pouquinho. Depois eu venho para lhe levar. - Acaricio o seu pescoço e o abraço forte. –Não demoro. - Digo me afastando.
Quando atravessei a entrada principal me lembrei da caixinha de música. Não havia ninguém ainda na sala. Talvez estivessem aproveitando a piscina ou em qualquer outro lugar. Em passos precisos vou até a estante pegando o meu tesouro. E quando já estava me afastando olho para o corredor. E algo me chamava. Estou com tanta saudade de tocar. Pego a pequena chave que escondi em uma pequena gaveta do carrossel e abro as portas de correr.
E lá estava ele me chamando. Dou um sorriso e lentamente me aproximo. Coloco a caixinha de música em cima do piano. Me acomodo no banco. Dou um suspiro e abro a tampa. E sem que eu precisasse olhar as partituras, eu toco pra ela. Aquela era a melodia de mamãe. Fecho os meus olhos e deixo a música me invadir. Quando eu já estou nos últimos acordes sinto a tampa cair com força sobre as minhas mãos. As ferindo.
E mesmo antes de abrir os meus olhos, eu já sabia.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Miserável este pai!
Muito triste esta cena. A senti antes de acontecer ????????
Resposta do autor:
Bom dia!
Realmente, Dr. Gustavo nem mesmo é digno de ser chamado de pai.
A melhor parte de se escrever é isso, sentir! Mergulhar na estória. Fazer parte dela. Ao ler, ser um conjunto complexo de tudo isso. É absurdamente maravilhoso.
Bjus...
Espero que continue sentindo-a!
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Socorro de Souza
Em: 31/03/2018
Qto sofrimento pra Liz.... eu nem sei o que dizer a Sam... raiva total...(sam ta gravida)
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preguicella
Em: 31/03/2018
Gzuisss! Coitada de Liz, sofre com Sam, o pai! Quanta provação! Tô começando a ficar com raivinha de Sam, do pai nem preciso dizer!
Que esses tempos duros passem logo!
Bjao
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