CapÃtulo 1 - A ligação
A ligação
Um som irritante soa incessantemente, despertando o meu sono. Meus olhos estão pesados demais para se abrirem por conta própria. Minha vontade é de fazer explodir o que causava aquele barulho incomodo. Cubro revoltada a minha cabeça com o cobertor. O som finalmente para. Dou um longo suspiro agradecida. Quando volto a relaxar...
-Liz... - Uma voz manhosa reclama. –Se você não dá um jeito nesse maldito celular. Eu juro que o jogo pela janela. - A mulher agarrada a minha cintura se aninha ainda mais em minhas costas.
-Volte a dormir, Manu. – Digo me desvinculando com cuidado de seus braços possessivos. Ouço-a reclamar pela minha fuga.
Meus pés nus tocam o piso frio arrancando um gemid* de minha garganta. Procuro o aparelho eletrônico entre o emaranhado de roupas espalhadas pelo chão do meu quarto de hotel. Dou um sorriso sínico ao me lembrar da noite agradável com a bela mulher nua em minha cama. Estou em Toulouse há pouco mais de um mês, essa é a primeira cidade Francesa que fico tanto tempo.
Tudo por causa dessa loira deslumbrante que conheci em uma cafeteria. Talvez eu fique um pouco mais, ou talvez simplesmente continue o meu tour pela Europa. Olho de relance para a mulher agarrada ao meu travesseiro. Bem que poderíamos recomeçar o que o cansaço nos limitou a prosseguir madrugada a dentro. Mas antes que a minha mente fértil volte a delirar com varias maneiras agradáveis e deliciosas de despertar a loira, o celular volta a grita desesperado. Olho-o sem muito interesse entre as minhas mãos. No visor aparecia a imagem de uma senhora sorridente de aproximadamente sessenta anos. Era uma senhora bela e de expressões gentis.
Um sorriso involuntário foge de meus lábios.
-Isso são horas de ligar?! – Digo calmamente para a pessoa do outro lado da linha. Abaixo-me para recolher um roupão jogado próximo a uma cadeira. Ela não estava ali na noite passado. Não antes que Manuelly a colocasse. Penso com um sorriso de lado ao me lembrar de como a usamos. Pego o roupão e cubro o meu corpo nu.
-Olhe como fala. - A voz calma e amorosa volta a chamar a minha atenção. –Esqueceu que tem família?! - Questiona-me a senhora em tom de repreensão.
-Jamais me esqueceria da senhora, Dona Catherine. - Digo abrindo com cuidado a porta que da passagem para a sacada. Não quero incomoda a mulher adormecida. Fico admirada com os primeiros raios de sol. É uma beleza tímida e excitante. –Também estou com saudade. - Minha voz sair em deboche. -Eu estou bem. E a senhora? - Pergunto me encostando no parapeito da sacada. Ouço um suspiro incomodo do outro lado da linha, isso me deixa em alertar. -O que estar acontecendo vovó?
-Liz...
-Fale, a senhora sabe que odeio enrolação. - Me viro de costa para o rio Garonne. Estou hospedada em um hotel próximo as margem do Canal du Midi em Toulouse. Uma das principais cidades francesas.
-Você precisa voltar pra casa. - Ela diz receosa.
Aquela pequena frase fez meu coração disparar loucamente. Por um minuto eterno retenho o ar em meus pulmões. Não piso no Brasil há mais de dez anos. Desde o dia em que...
Um suspiro cansado foge irritado. Não tenho a menor intenção de voltar. Por mim nem mesmo teria lembranças. E me pedir isso era assustadoramente injusto.
-Eu sei que...
-Eu não vou voltar. - Minha voz sair irritada.
-Minha querida, apenas escute a que tenho a lhe dizer. - Vovó me pede angustiada.
-O que estar acontecendo? Por que essa insistência?! Já lhe disse milhares de vezes que não piso os meus pés nesse lugar.
-Lizandra! - Um suspiro cansado soa do outro lado da linha. –Agora é diferente.
-Diferente?! - Tento engolir minha frustração. Apesar de tudo, vovó não é a causadora de minha angustia. Pelo contrario. –Vovó, eu não quero falar sobre isso. - Comento tentando mudar o foco do assunto.
-Liz, é sobre o vovô. - Quando ela fala isso, sinto um aperto em meu coração.
-O que houve com ele? - Pergunto em um tom desesperado.
-Ele... Ele... - Dona Catherine enrola me deixando ainda mais aflita.
-Vamos vovó. Não é tão difícil. - Reclamo pelo silêncio do outro lado. –É só dizer.
-Ele sofreu um infarto. - Sinto o ar escasso em meus pulmões. É como se suprimissem a minha respiração. –Ele...- Vovó começa a chorar. –Ele não para de chamá-la. Então eu te liguei. Eu sei o quanto é difícil minha querida. Mas por favor, volte pra casa.
-Eu... Eu não posso vovó. - As lágrimas já se acumulavam em meus olhos azuis. Mas eu não podia deixa-las transbordar.
-Não seja egoísta! - A voz da senhora sai reprovadora. –Já está na hora de enfrentar o passado. E seu pai...
-Não tenho pai!
-Então faça isso pelo seu avô e por mim. - Então um silêncio constrangedor cair sobre nós duas. Ficamos caladas. Eu podia ouvir claramente sua respiração descompassada. Também sei, que ela podia ouvir a minha. –Liz, eu não te pediria isso se não fosse importante.
-Como ele estar? - Pergunto com medo de que algo ruim tivesse acontecido com o único homem que foi um exemplo de pai em minha medíocre vida.
-Ele apenas quer vê-la. Foi assustador. - Vovó suspira cansada. -Mas ele estar bem melhor agora.
-Quando isso aconteceu?
-Ontem à tarde. Tentei te ligar antes, mas não conseguir. - Então me lembro do passeio prolongado com Manu. Acabei esquecendo o aparelho celular no hotel. Por um momento me odiei por isso.
-Não se preocupe, vovó. Estarei aí o mais rápido que posso.
-Obrigado. - Sua voz sai emocionada. –Sinto muito por isso.
-Jamais se desculpe por algo do tipo. A senhora sabe o quanto é importante em minha vida. Assim como aquele velhote teimoso. - Digo em tom de brincadeira. Jamais gostei de vê-la triste.
-Olha só quem fala em teimosia. Você é tão ou mais que Bernardo. Vocês dois me deixam louca. - Ela sorrir animada. –Eu te amo. E estou morrendo de saudade.
-Também estou com saudade vovó. - Levo a minha mão livre sobre os meus olhos cansados. –Diga aquele velhote que o amo. E que ele se comporte até eu chegar.
-Direi. - Houve mais alguns segundos de silêncio. –Obrigado, eu...
-Não por isso, vovó.
-Liz...
-Pois não?!
-Você é uma mulher valente. - Mordo o meu lábio inferior ao ouvir isso. –Nunca se esqueça.
-Não esquecerei. - Falo emocionada sabendo o qual grande era o significado daquela pequena frase. –Até mais vovó.
-Até, minha querida.- E só o que escuto é o som da ligação encerrada.
-Então é isso?! - Digo baixinho pra mim mesma.
Volto-me novamente para o rio Garonne. Estou há mais de dois anos viajando por vários lugares do mundo. Sempre registrando momentos e emoções. Não que eu não goste de fotografar. Para falar a verdade, foi esse pequeno sopro de vida que me salvou. Não escolheria outra profissão, não agora. Não com a certeza de que jamais poderei fazer o que tanto amo. Ou amei. Já não sei a resposta para esse desesperado questionamento. Afinal, mesmo se eu quisesse jamais poderei voltar a tocar, não como antes. Olho para a minha mão esquerda. Vejo algumas pequenas cicatrizes. Isso faz meu coração comprimir. Ela é incapaz de executar movimentos tão complexos e apaixonantes. Não depois que...
Nunca mais saberei o que é deslizar suavemente sobre as teclas de um piano. Mesmo depois de dezenas de cirurgias para recuperar os movimentos e sensações. Elas não foram capazes de trazer o meu eu completo. Foram longos anos de fisioterapias. Longos anos de dor. E a certeza de que nunca mais tocarei com a plenitude de antes. Fecho com força a minha mão. E sinto a mágoa de tantos anos acumulada.
Volto-me, e olho para dentro do quarto. E em passos lentos me aproximo da mulher adormecida em minha cama.
Afinal, a vida continua.
Fim do capítulo
Olá! Este é o meu primeiro conto, então sejam gentis. Rsrsr
PS: Sinto muito por qualquer erro de ortografia. Bjs...
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Mandyletta
Em: 08/10/2018
Aaaa que bom que você voltou com um capítulo, o medo q tenho de você desistir ou cancelar é grande rs.
Amo demais essa história e sua escrita e não a hora do reencontro entre a Sam e a Liz. Então por mais q eu queira te matar kkkk tô muito mais feliz com a sua volta.
Vê se não por muito tempo! Bjs
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erikarenata
Em: 30/05/2018
belas palavras!! Acredito tbm que não só as palavras fazem uma história como todo um contexto como falou, e isso que vc passa na tua história. Mas posso contar sim, seria por aqui mesmo?
Resposta do autor:
Como a senhorita disse... rsrsrs... Em publico não.
Pode me enviar pelo e-mail. Vou adorar saber.
bjus...
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erikarenata
Em: 30/05/2018
Em publico não rs
Mas se surgir a oportunidade te contarei com todo o prazer...é sempre bom compartilhar historias, chega a ser um desabafo
bjs
Resposta do autor:
Em publico não rsrsr... Ok.
Existem varias formas de se libertar. O dialogo é uma delas. Ouvir a história de alguém, é como desnudar a pessoa, como conhece-la a fundo. Existe a forma como é contada, os gestos, a forma como se olha, as palavras que são ditas, a emoção que é imposta. Tudo isso diz um pouco sobre quem somos. E como nos sentimos. Então sim, eu adoraria saber. Se for possível é claro... Por não...
Bjus...
PS: Sou uma boa ouvinte. rsrsr... Então pode desabafar quando quiser.
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erikarenata
Em: 29/05/2018
Sempre vou acompanhar e não vou deixar a desejar!rs
Estou amando a história realmente e vou até o final contigo
Só não demora a postar que isso é tortura haha
bjss
Resposta do autor:
É bom mesmo. rsrsrsr...
Fico honrada em saber que estar gostando, como já disse antes essa é a minha primeira história. Ao menos com essa temática. Mas estou amando escrever.
Prometo que postarei sempre que possível. Não pretendo torturá-la muito. rsrsrs...
Bjus linda.
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Naiara Gopin
Em: 20/02/2018
Aguardo ansiosamente a continuidade dessa história. Muito obrigada a autoria, essa história é brilhante! Que venha os próximos capítulos... :)
Resposta do autor:
Pode ter certeza que virão muitos outros. Obrigado minha linda é sempre bom ouvir a opinião de todas vcs.
Beijos
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Jubh
Em: 03/01/2018
Tem certeza de que é seu primeiro conto? Então começou muitíssimo bem!!! Ansiosa já para o desenrolar dessa história tão rica em detalhes e que nos leva para dentro da cena. Parabéns e não desanime!
Resposta do autor:
Certeza absoluta. Rsrsrs...
Mas espero sinceramente que seja o primeiro de muitos. Obrigado pelo incentivo. Ele é sempre bem vindo. Espero que me acompanhe nesse desenrolar, nesse algo que acabo de descobrir que é deliciosamente viciante. E pode ter ser certeza que pretendo escrevê-lo até o fim.
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