Capítulo 10 - O perdão do poeta
Cheguei em casa e a primeira coisa que fiz depois de desfazer minha grande mala foi retornar as 850 ligações da minha mãe que, desta vez, devo admitir, estava em cólicas, com razão, pela minha falta de notícias. Ela quase sempre exagerava nos pedidos de satisfação, mas eu já estava há quase 24 horas sem me pronunciar.
Quando me atendeu, tive que ouvir que ela já tinha tomado 2 comprimidos de rivotril, além de ter passado a noite em claro, chorando, e estar coberta de urticária de preocupação. Menti, dizendo que meu telefone não conseguia completar as ligações, mas que havia chegado bem.
Já passava das 21h quando recorri à LAE – Liga dos Assessores Emocionais. Às 21h30, eu, Marcos e Marina já estávamos sentados em nossa sede, o bar na esquina da minha casa. Depois de narrar todos os acontecimentos das últimas 48 horas, nos mínimos detalhes, a decisão foi unânime: não havia dúvida, o acaso havia me surpreendido, me tomado de assalto.
Apressei-me em esclarecer que eu não havia sido tomada, que continuava reticente e desconfiada e, sendo assim, preferia manter distância.
Marina me olhou, enquanto tragava um cigarro e resumiu:
– Desconfiada pode ser, mas também apaixonada, encantada.
Marcos limitou-se a completar dizendo:
– Ai, amiga, acho que você devia dar uma chance a ela. Sei lá, ela parece tão fofa.
E eu:
– Ai, gente, não sei. No começo todo mundo é fofo. Depois, acaba todo mundo machucado.
– Bom, você quem sabe, mas acho que já faz tempo demais que a senhorita está sozinha e já está correndo o risco de ficar amarga – fulminou Marina.
– Também acho. Se joga, amiga, e vê no que dá. Qualquer coisa a gente está aqui para te levantar – aconselhou Marcos.
– Vou pensar. O pior é que saí da casa dela sem nem deixar meu telefone – disse.
– Não tem desculpa, não. Ela lhe deu o telefone dela e você sabe onde ela mora. Vá lá e surpreenda essa mulher – arrematou Marina.
– Ir lá? Não sei. Acho que é muito oferecimento – ponderei.
– Você dormiu na cama dela! – atirou Marina
– Eu estava praticamente inconsciente. E, você disse muito bem, DOR-MI – esclareci.
– Pois pronto. Vá lá e fique acordada – riu ela.
– Também acho – concordou Marcos.
– Se eu for ouvir vocês, é capaz de virar uma desfrutável – brinquei.
– Na-nã-não. Se você ouvir a gente é capaz de ser feliz – disse Marina, tomando um gole de cerveja.
Voltei para casa pensando que de repente eles estariam certos e que, de fato, aquilo podia ser uma oportunidade. Um convite do acaso ou uma peça do destino.
Demorei a dormir e acabei aproveitando para trabalhar um pouco. Meu celular emitiu um sinal de mensagem e, quando fui pegá-lo na cabeceira, ao lado na cama, vi um guardanapo dobrado embaixo da luminária. Lembrei imediatamente do bilhete de Carol em nosso primeiro encontro.
Embora em péssimas condições, depois de submetido à máquina de lavar, ainda era possível ver as informações: o número de um telefone celular e um endereço de email. Segurei o papel e pensei em mandar um email, mas desisti, pois achei que a ansiedade da espera pela resposta poderia causar muitas expectativas em mim.
Ao mesmo tempo, ponderei se ligar não pareceria íntimo demais. Afinal, já passava das 23h e ela podia estar dormindo ou na companhia de alguém.
Pensei em ligar para Marcos e Marina para pedir a opinião deles, mas achei que seria uma atitude muito adolescente.
Então, resolvi mandar um WhatsApp:
Oi, tomara que não esteja atrapalhando. Queria poder agradecer pela noite de ontem.
Um minuto se passou após o envio da mensagem e o celular continuava mudo. Verifiquei se o tráfego de dados estava ativado e se a internet estava funcionando normalmente. Tudo certo, com exceção do silêncio.
Depois me dei conta que mandar WhatsApp e email dava exatamente no mesmo. Continuei trabalhando, mas não consegui mais me concentrar. Olhava para a tela do computador e para a tela do celular, em busca de alguma informação que me distraísse da ideia fixa.
Fui até a cozinha, fingindo estar com sede. Levei o celular e resolvi esquecê-lo propositalmente lá, para romper o vínculo.
De repente, um som. Sinal de mensagem.
Corri.
Estava lá a resposta:
Já disse que não precisa agradecer. Foi um prazer. Posso considerar que tenho seu telefone agora?
Ri sozinha e respondi:
Pode sim.
Tive vontade de escrever mais, mas fiquei com receio de acabar falando demais.
Não tive como pensar muito, já que o telefone tocou logo em seguida.
Era Carol.
– Oi – eu disse, tentando parecer o mais descontraída possível.
– E aí? – ela perguntou
– Aqui – respondi, sem saber o que dizer.
– Está fazendo o que? – perguntou com mais objetividade.
– Estava escrevendo uma petição, mas agora vou ver um seriado, já que esgotei todo o meu sono ao longo do dia – expliquei.
– Pois é, eu também acabei pegando carona no seu sono e agora estou super acordada. Vai assistir o que? – quis saber.
– The Good Wife – disse.
– Sério?! Estou na quinta temporada e você?
– Na terceira ainda. Mas quem diria, temos uma antropóloga viciada em séries de TV americanas!
– Todo mundo tem seu ponto fraco – justificou.
– Bom, se você não se incomodar de rever, está convidada para assistir, comentar aos olhos dos estudos sociais e comer um carpaccio – convidei de olhos fechado, como uma criança que tem medo de ouvir a reposta.
– Só vou se puder não tecer quaisquer comentários teóricos, apenas passionais, mas o carpaccio, esse eu prometo comer com prazer – aceitou.
– Então venha, que a sessão vai começar – avisei.
– Você vai me dar o endereço ou vou ter que usar tudo que aprendi nas séries outra vez para descobrir onde você mora? – desafiou.
– Ah! Então quer dizer que foi The Good Wife que ensinou você a descobrir identidades? – quis saber.
– Descubro utilidade em tudo – explicou.
– Eu moro a 5 minutos da sua casa. Anote aí – disse.
– Dá para ir a pé. Só não vou por causa da hora – falou.
– Espero você então! – disse.
Apressei-me, tomei banho, coloquei perfume, dei uma olhada rápida na casa para ver se estava tudo em ordem e sentei para esperar. Vinte minutos depois, o interfone do meu apartamento tocou. Ela havia chegado. Corri no banheiro, coloquei mais desodorante e abanei as axilas para não parecer que havia feito aquilo. Ai, que vergonha!
Sentei no sofá, tentando parecer natural e esperei a campainha tocar.
Abri a porta e nos cumprimentamos com dois cordiais beijinhos no rosto.
Levei-a até o sofá e ofereci uma taça de vinho. Ela aceitou prontamente. Coloquei um pouco para mim também, mas logo substituí o líquido por chá. Vinho deixava minha gastrite crônica, aguda, e meu comportamento, crônico. Fui até a cozinha, onde podia continuar dialogando com ela, já que morava num loft com cozinha americana. Ela elogiou o vinho, parecendo conhecedora do assunto, mas deixando claro que era leiga, apesar de gostar da bebida.
Voltei, pondo o carpaccio em cima da mesa e coloquei um episódio de The Good Wife. Assistimos e comentamos animadamente três episódios. Carol bebeu toda a garrafa de vinho e não tinha qualquer condição de sair dali dirigindo, embora não perecesse embriagada à primeira vista.
Convenci-a de que deveria dormir em minha casa, pois já estava tarde demais para voltar. Subimos as escadas para onde ficava meu quarto e providenciei uma escova de dentes para ela e uma camiseta. Ela escovou os dentes, mas se recusou terminantemente a colocar a camiseta. Coloquei meu pijama e deitei, cobrindo nós duas com o edredom. Dez minutos depois, ela sentou na cama puxando o jeans como se estivesse incomodada com o tecido e o tirou sem cerimônia.
Ela estava ali seminua, tão vulnerável. No entanto, preferi não me precipitar em nenhuma investida, por achar que o sex* deveria ser uma decisão mais sóbria.
Passamos a noite juntas, mas apenas dormimos. Aquilo parecia até estar virando rotina. Acordei às 5 da manhã, quando Carol levantou para ir ao banheiro. Esperei ela voltar e perguntei se estava tudo bem. Ela sentou na cama e disse:
– Desculpa, eu não tenho sou de ter esse tipo de comportamento alcoólico. Eu só estava sem saber como me comportar, como agir, ainda estou, eu acho.
– Não estou preocupada com isso. Quero só saber se você está bem – tranquilizei-a e abracei-a.
Nossas bocas se cruzaram e se tocaram. Beijamos-nos longamente. Enquanto nossas mãos ainda experimentavam nossos corpos timidamente.
Até que, como se tivéssemos entrado em sintonia, todas as barreiras pareceram derreter-se. Ela enfiou a mão por dentro da minha blusa e apalpou os meus seios com veemência, como se quisesse fazê-los caber em suas mãos. Depois, desceu a mão direita por dentro do meu short e sentiu o que eu já sabia desde o início do beijo.
A umidade já tomava conta de todo o meu sex*, quando ela com o dedo indicador percorreu todo o meu clit*ris com tanta delicadeza, que parecia mais fazer carinho do que sex*, isso tornava o ato ainda mais íntimo e gostoso. Ela mordia o bico do meu peito como se fosse arrancá-lo e meu corpo tremia de desejo. Penetrou-me com força e me fez goz*r tantas vezes antes de me virar de costas, me segurar pelos cabelos me penet*ar, ao mesmo tempo, pela frente e por trás. Meu corpo já não respondia mais a mim, tinha movimentos próprios, involuntários. Eu mexia os quadris como em uma dança ritmada. Quanto mais mexia, mais ela me penet*ava. Eu estava completamente entregue a ela. G*zei até cansar e senti-a goz*r no meu corpo com o roçar dos meus movimentos no corpo dela. Falávamos palavras do mais baixo calão, que só nos permitiríamos em um contexto daqueles.
Mal havia saído do último gozo, quando busquei o sex* dela. Meu corpo foi invadido por uma onda de satisfação quando senti que ela também estava excitada. Era minha vez de retribuir tamanho prazer. Comecei mordendo suavemente seu pescoço, ch*pei seu peito devagar e percorri todo o seu abdômen com a língua até chegar à fenda de onde brotava aquela lava quente. Percorri com suavidade todo o clit*ris, grandes e pequenos lábios, até que a penet*ei com a língua e a senti goz*r em minha boca. Usando a mão, puxei suavemente o seu clit*ris e ela gem*u baixinho; apertei os grandes lábios, como se quisesse fechar sua v*gin* e então comecei a estimular o seu clit*ris e ela gritou de prazer. Virei-a de costas e deitei sobre seu corpo. Mexi meus quadris, roçando meu sex* na sua nádega e goz*mos juntas uma, duas, três vezes, até sermos vencidas pelo cansaço.
Dormimos na posição em que nos amamos pela primeira vez. Acordei uma hora depois e levantei com cuidado para não acordá-la. Ri sozinha em ver uma mulher dormindo nua em minha cama depois de tanto tempo. Agora, parecia-me que a espera tinha valido a pena.
Vesti meu pijama novamente e desci as escadas. Sentei no sofá e liguei o computador para acabar a petição que havia iniciado no dia anterior. Uma hora depois, alguém me abraçava por trás e beijava meu pescoço com carinho, dizendo:
– Bom dia.
Puxei-a para o sofá por cima do encosto e ela caiu sentada do meu lado. Aninhei-me no seu ombro, beijei sua boca e respondi:
– Bom dia.
Depois, continuei digitando, enquanto ela me observava.
– Será que depois dessa noite de vexame e de um início de manhã avassalador, eu posso saber quem você é? – perguntou ela.
– Avassalador? – quis saber.
– Completamente avassalador – confirmou.
– Se é assim – Estiquei o braço até a minha bolsa, peguei um cartão de visita e a entreguei dizendo:
– Ao seu dispor.
– Uau! Luísa Medeiros de Mendonça, advogada especialista em Direito de Empresas. Mendonça e Carreiro Advogados Associados. Isso é aquele escritório enorme que fica na avenida? – perguntou.
– Uhum – respondi.
– Gente! Que mulher poderosa eu fui arrumar! – brincou.
– E você? – perguntei.
– Bom, fiquei até envergonhada agora, mas vamos lá – disse ela indo até sua bolsa e me entregando um cartão de visita.
– Maria Carolina Cavalcanti Ferraz, professora Dra. em Antropologia do Comportamento, Professora Titular do Departamento de Antropologia. Doutora? – perguntei.
– Sei que não é lá grande coisa, mas a tese é razoável, se quiser ler depois… – disse rindo alto.
– Claro que quero ler! – falei, animada.
O telefone dela tocou e ela o procurou dentro da bolsa rapidamente. Afastou-se um pouco de mim para atender.
– Alô?
– xxxxxx
– Olha, hoje eu não posso. Não vou estar em casa.
– xxxxx
– Mas se for só para isso, a chave está no lugar de sempre, você pode passar lá e pegar.
– xxxxxx
– Ok. Então a gente se fala amanhã.
– xxxxx
– Outro para você.
Mil coisas passaram pela minha cabeça enquanto a conversa se dava e uma insegurança tomou conta do meu corpo. Tive vontade de perguntar quem era, mas senti vergonha da minha reação e também não me sentia à vontade ou digna de tamanha intimidade. Quando ela desligou, colocou o fone em cima da mesa e veio em minha direção dizendo:
– O que você pretende fazer hoje? – perguntou como se fosse me fazer uma proposta.
– Nada – disse, sem conseguir disfarçar minha insegurança e desconfiança por causa da ligação.
Ela percebeu claramente o que estava acontecendo, o que fez minha vergonha aumentar ainda mais. Então ela sentou-se ao meu lado, na beira do sofá e disse:
– Eu desconfio o que tenha feito você ficar assim, mas não tenho certeza. Quem acabou de ligar para mim foi minha ex. Tive um relacionamento que durou quatro anos e acabou há um ano. Tínhamos um gato, ou melhor, quando a conheci ela já tinha o Bob…
– Olha, não precisa me dar satisfação da sua vida, dos seus relacionamentos – disse eu arredia.
– Eu sei que não preciso, mas eu quero – me respondeu firmemente. – Sendo assim – continuou ela – quando nos separamos, Bob ficou comigo até que ela encontrasse um local para ficar. Agora, ela encontrou e levou o Bob semana passada, mas algumas coisas dele ainda estão lá em casa e ela precisa pegar. Só isso – concluiu.
– Ok – respondi incrédula.
– Bom, quero deixar claro que não quero te machucar e que, embora não saiba o que aconteceu com você antes, as pessoas são diferentes, os comportamentos não são padronizados. E, independente do que acontecer com a gente daqui pra frente, eu gosto de você, não quero te fazer mal. Entendo a sua desconfiança, mas precisa me conhecer para confiar em mim.
– Ok – respondi, sem querer me deixar levar, mas me sentindo mais segura.
Ela subiu e entrou no banho. Desceu 15 minutos depois, pronta. Pegou a bolsa, sentou-se ao meu lado e veio beijar minha boca. Eu virei o rosto. Ela então disse:
– Olha, eu vou estar em casa o dia todo esperando você ligar. Podemos jantar, assistir filme ou fazer qualquer coisa que você queira – ela disse.
– Tá bom – respondi olhando nos olhos dela.
Ela levantou e se foi.
Quando ouvi a porta bater eu chorei, sem saber se aquela era mais uma das obras do destino para mim. Fiz então uma conferência telefônica com Marcos e Marina e o resultado foi:
– Lu, não entre nessa de achar que todo mundo é igual – disse Marina.
– Também acho, Lu. Entendo seus medos, mas se tá bom, então deixa rolar – falou Marcos.
– Ok – disse eu.
Fim do capítulo
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patty-321
Em: 17/11/2017
Só quem já foi machucada sabe como dói e como é difícil confiar novamente, principalmente qdo tudo é tão intenso e bom. Aquela estória, esmola demais, cego desconfia.
Resposta do autor:
Patty, concordo em gênero, número e grau contigo. Só quem passou sabe.
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ik felix
Em: 16/11/2017
Cara autora,
Estou gostando bastante de sua história e irei acompanhá-la. Meus sinceros parabéns pela mesma!
Cara o que será que aconteceu na vida amorosa da Luísa para ela ser tão arredia assim com a Carol?
Até o próximo capítulo e abraço!
Resposta do autor:
Que bom que está gostando! Quanto à Luísa, decepções minha cara, decepções. Acho que o problema não está em Carol, está em qualquer pessoa. Nesse momento, Carol é a pessoa. Mas, fique certa, Luísa está se defendendo por medo de que alguém possa machucá-la novamente.
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naybs
Em: 16/11/2017
Nossa, que hot esse cap ein!
Como não amar tanto a Carol? *.* Essa mulher já mostrou que é bem madura. E o legal que ela é dra em comportamento humano kkkk será que ela vai usar do conhecimento dela para dobrar a Luisa? Haha
A Luisa parece eu antigamente, desconfiada de tudo. Mas é o que a Dra disse, nem tudo é um padrão. Aí você conhece alguém que quebra essas desconfianças e é só alegria!
Bora Luisa, liga pra Carol!*.* kkkk
Amei o cap! Ansiosa!
Resposta do autor:
Hot? Você não viu nada!
Concordo, nem tudo é um padrão. Acho que Luísa precisa se dar uma chance e ai sim, vai ser só alegria!
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