CapÃtulo 37
Isadora acordou, estava ansiosa, procurou disfarçar, não queria que Melissa percebesse algo. Não sabia do que se tratava, primeiro investigaria, e só depois contaria a namorada. Fez sua higiene pessoal, e foi em direção a cozinha, onde preparou um café e fez algumas panquecas. Melissa não demorou aparecer, estava com o cabelo desalinhado, roupão aberto e bocejando enquanto coçava a barriga.
-- Hoje está fria. – declarou se aproximando e beijou a cabeça loira.
-- Sente-se, já preparei seu café e suas panquecas. – a morena foi até a geladeira e se abaixou procurando por algo.
-- A geleia de damasco e o requeijão estão sobre a mesa. – ela se ergueu sorrindo e cantarolou algo incompreensível – Que música é essa?
-- A música do requeijão com tudo. – sentou sorrindo e pegou o vidro de requeijão derramando-o sobre as panquecas. – Diga-me, linda mulher loira, o que pretende fazer hoje? – Isadora sorriu, mas estava nervosa, e não pretendia demonstrar. Sabia que se olhasse diretamente para os azuis da advogada, ela perceberia que havia algo de errado.
-- Vou até a universidade. – respondeu sentando-se após se servir de café.
-- O que tem a fazer por lá?
-- Entregar a correção do meu trabalho. – Melissa limpou a mão e estendeu.
-- Eu levo você.
-- Não precisa hoje seu dia está cheio.
-- Mas largo tudo para lhe satisfazer. – disse sorrindo. Isadora ficou com os olhos úmidos e foi para seu colo, enchendo-a de beijos.
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No horário marcado, Isadora aguardou a pessoa que havia enviado a correspondência. Havia passado da hora, sua ansiedade era imensa, mas ela pensou que poderia ser um trote e resolveu ir embora, no entanto, quando se aproximou da porta, viu um homem entrar e sorrir ironicamente para ela.
-- Você? – perguntou surpresa.
-- Vejo que estava indo embora. – fez sinal de negação com a cabeça – Péssima escolha.
-- Eu só vim aqui para desencargo de consciência, poderia ser uma brincadeira da Mel e...
-- Não é brincadeira e espero que você tenha o bom senso de entender isso. – jogou uma pasta em direção a ela – Leia o que tem aí dentro.
-- O que é isso? – abaixou para pegar a pasta
-- Pensei que os comentários sobre loiras fossem apenas piadas de mau gosto, agora vejo que possuem um fundo de verdade. – novamente foi irônico – Leia! – ordenou sem paciência. Isadora começou a folhear os papéis que estavam dentro da pasta. Havia extratos bancários em nome do pai dela. Contas no exterior, balancetes da empresa da família de Melissa, assim como várias propriedades em seu nome.
-- O que significa tudo isso? – perguntou com os olhos brilhando, mas ela já sabia a resposta.
-- Seu pai desviou dinheiro da empresa da sua “amada”, além de outras coisas. – explicou em tom baixo. - Ele lavou o dinheiro com propriedades, aproveitou da influencia da família Alcântara Peixoto e se apropriou de pequenos presentes. Interessante mesmo foi o fato de fazer um excelente pé de meia para a única filha. – colocou a mão no queixo – Pelo menos algo realmente conquistado com o próprio mérito do trabalho dele. – sorriu com a própria brincadeira.
-- O que você vai fazer com isso? – perguntou demonstrando insegurança, ela intuía o que poderia vir com esta revelação.
-- Sou uma pessoa muito generosa, e trouxe três propostas para lhe fazer. - Isadora demonstrou dúvida, então ele concluiu. - Primeiro leia estes papéis e depois conversaremos. - entregou uma pasta para loirinha que demonstrou surpresa após ler as primeiras folhas, e só então voltou a fitá-lo com os olhos úmidos.
-- O que você quer com tudo isso? E essa passagem?
-- Três opções. - sorriu - Letra A: como lhe disse, sou uma pessoa generosa e lhe arrumei uma boa colocação em um dos melhores jornais de Nova Iorque. Você só precisa pegar as passagens e embarcar na data do voo. Lógico que não poderá nunca falar a verdade para Melissa Cristina. Opção B: muito mais simples, porém dolorosa. Nessa você não aceita nada e encaminho tudo isso para as autoridades competentes. Seu paizinho será preso e morrerá na cadeia. Mas como ele morrerá? - imitou a voz de Isadora - Pelo câncer. Como viu no laudo médico, ele morrerá deste maldito tumor. – fez uma careta - Ou por pior das hipóteses, algum amigo de cela, vem e mata. Sabe como é difícil confiar em traidores. - riu com sarcasmo. - E finalmente a última opção: faço tudo isso chegar às mãos de Melissa Cristina, e ainda vou incrementar a situação para ela matar seu paizinho. Além de facilitar a dor do paizão, ainda vai ter a felicidade de ter a namorada na cadeia. Visita íntima em presídio feminino deve ser muito divertida.
-- Meu pai ou Mel?
-- Isso mesmo.
-- Por que você está fazendo isso? Mostrando estas falcatruas e depois o laudo médico?
-- Por quê? – perguntou gritando e começou a chorar - Por quê? – falou mais baixo
-- Não quero você e Melissa Cristina juntas. Entendeu? E se falar a verdade, faço tudo para incriminá-la pela morte do seu pai.
-- Quanta maldade! – desabafou chorando.
-- Maldade? Não querida, isso é amor.
-- Amor? Isso é posse, maldade... – rasgou os papéis que ainda estavam em suas mãos. – Ela não lhe ama! Nunca vai amá-lo.
-- Pode rasgar, tenho mais. – sorriu – Para não dizer que sou mal, darei um período de duas semanas, ops! – fez uma cara de surpresa – Semana que vem é sua formatura, sabe que havia esquecido? Pelo menos tem duas semanas, você se forma e depois evapora. – sorriu. Isadora olhava-o com uma expressão de repulsa, nojo e fúria. – Com o dinheiro que seu papai tem, ele poderá lhe ajudar longe do Brasil. – bateu com a mão na cabeça – Novamente esqueci: vocês não se falam não é? Bem, vou lhe dar um dinheirinho e passagens para você se virar para onde for assim ninguém me acusa de ser mal como sempre fazem. – voltou a sorrir.
-- Seu crápula!
-- Sem elogios querida, isso enaltece meu ego. – voltou a sorrir. – Estarei aqui na próxima sexta, neste mesmo horário, espero que você use a consciência e bom senso e não fale nada a sua amada. Acho que faremos um bom negócio. Pense bem. – saiu deixando Isadora sozinha e chorando.
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Passava das oito horas da noite, Melissa não sabia mais para quem ligar em busca de notícias de Isadora. Ela havia saído cedo, e sumido o resto do dia.
-- Merd*! Merd*!
-- Calma Mel, ela deve ter ido para o cinema, ou no shopping, sabe como ela é “desmembrada”. – Júnior tentava acalma-la, mas recebeu um olhar fulminante, e resolveu ficar quieto.
-- Ele pode ter razão Cris, isso pode ter acontecido – completou Bruna.
-- Isso não faz parte de Isadora, ela teria me avisado. – andava de um lado a outro – Nós estamos mantendo um relacionamento sem segredos, qualquer um pode ter nos acompanhado e, sei lá, ter sequestrado minha pequena.
-- Não pensa o pior Cris. – eles ouviram a chave na porta e os três pularam de suas cadeiras.
-- Droga Isadora, onde você estava? – Melissa perguntou se abraçando a ela, examinando-a depois.
-- O que aconteceu Melissa? – perguntou escondendo a tristeza e a dor que sentia.
-- Como o que aconteceu? Isadora você saiu cedo e não deu notícias o dia inteiro... Amor você nunca chega depois das cinco sem avisar, e agora são quase nove. Quer nos matar? Quer me matar? – tentou se aproximar, mas a loirinha se afastou, e quando percebeu o que havia feito, retornou a puxou para perto.
-- Desculpa amor – beijou seus lábios – Vou tomar um banho e depois dormir.
-- Não vai comer nada Isa? – Júnior perguntou preocupado. – Não tá muito ruim não, foi Melissa quem fez. – recebeu outro olhar da morena e foi para trás de Bruna. – Ela vai lhe comer, sem comer nada, ai vai ficar fraquinha, tá ligada? Não vai conseguir lhe comer direito. – Melissa rosnou e ele puxou a namorada para frente da morena.
-- Fica quieto, Júnior!
-- Obrigado gente, mas preciso só de banho e cama. – ela saiu em direção ao quarto, deixando Melissa e Bruna perplexas.
-- Cris, o que foi isso?
-- Não sei, mas vou descobrir, ou mudo meu nome. – respondeu ainda surpresa.
-- Melissa é bonito, mas eu não gosto do Cristina. Troca para Melissa Maria, esse fica lindo, né amor? – Júnior falou olhando de Melissa para Bruna, e recebeu um beliscão da namorada.
-- Cala essa boca idiota! – Melissa gritou, deixando-o constrangido e triste. Ela saiu em direção ao quarto, e não percebeu os olhos de Júnior umedecer.
-- Só quis dizer o que realmente pensei, não sabia que ela gostava tanto assim do nome.
-- Vem Jú, vamos para minha casa, melhor deixa-las sozinhas hoje. – quis ser solidária com a dor do namorado.
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Melissa entrou no quarto, retirou a roupa e vestiu um camisão. Ficou deitada, aguardando o demorado banho de Isadora finalizar. Quando a loirinha saiu, e encontrou deitada, com os braços atrás da cabeça e a perna cruzada por cima da outra, balançando o pé no ar.
-- Ainda acordada? – perguntou enquanto levantava o lençol do seu lado da cama.
-- Preferia que estivesse dormindo? – olhou de lado observando os movimentos da pequena.
-- Não quis dizer isso, você é inteligente suficiente para saber a que me referi.
-- O que esta acontecendo Isadora? – virou-se de lado, apoiando a cabeça em uma das mãos, enquanto a outra acariciava a barriga da sua loira.
-- Não aconteceu nada, estou apenas com sono. – tentou controlar o desejo de lhe contar tudo. A morena se aproximou mais, buscando se aconchegar ao corpo menor e acaricia-lo, mas foi detida dos seus impulsos. – Não Melissa. Agora estou realmente cansada. – empurrou a mão maior.
-- Não quer fazer amor? – estava surpresa. A resposta da loirinha foi o silêncio. – Isadora, eu fiz uma pergunta.
-- Mel, eu não quero. – olhou com tristeza os olhos azuis - Estou realmente cansada, podemos conversar amanhã?
-- Tudo bem. – Melissa percebeu que não conseguiria dormir irritada da forma que estava e se levantou.
-- Para onde você vai?
-- Tentar me desligar, e imaginar que TAMBÉM estou cansada.
-- Melissa eu...
-- Isadora que você não queira falar, desabafar, tudo bem, mas não queira subestimar minha inteligência falando que está cansada... – fitou as esmeraldas com pesar, Isadora sentiu a tristeza refletir nas safiras – Nunca tivemos segredos, sempre fomos sinceras e você chega tarde, sem explicações... – colocou a mão na cabeça – sem fome de comida e muito menos de sex*... – andou de lado a outro e completou – Essa é a primeira vez em dois anos que você se recusa a fazer amor, aliás, a primeira vez que brigamos por isso.
-- Mel vem cá, não precisa dormir longe, só peço para confiar em mim, estou apenas cansada.
-- Eu conheço você e sei que está acontecendo alguma coisa.
-- Melissa isso já está sendo insistência em ver algo onde não existe... – sentou na cama – isso é infantilidade.
-- Infantilidade? Pois bem senhora madura, fique aqui que vou tentar me enfi*r no forno com jornal para amadurecer e terminar esta conversa depois. – saiu do quarto com uma expressão fechada, bateu com força a porta e foi para seu escritório. Isadora permaneceu deitada, também sem sono, perdida em seus pensamentos na tentativa de encontrar alguma saída.
“Preferia um milhão de vezes ficar triste a magoar você meu amor, mas desta vez não poderei me abrir, ou meu pai ou até mesmo você, pagará caro.” – os pensamentos fervilhavam na cabeça loira, ela começou a chorar em silêncio, até deixar o cansaço tomar conta do seu corpo, caindo em um sono profundo. No outro dia, bem cedo, Isadora acordou e percebeu que Melissa não havia dormido na cama. Levantou-se e foi atrás da morena, encontrando-a deitada no chão do escritório, com uma almofada apoiando sua cabeça e as pernas erguidas no sofá. – “Por que tem que ser assim meu Deus?” – pensou enquanto via a cena que lhe apertou o coração. Ela se aproximou e ficou de joelhos, na tentativa de ajuda-la a retornar para cama.
-- Mel acorda. Vamos para cama. – chamou com delicadeza à morena.
-- Ahã?! O que aconteceu?
-- Amor, você dormiu no chão, vamos para cama.
-- Não quero ir para cama, quero apenas que converse comigo. – respondeu se levantando e alongando o corpo.
-- Converso o que você quiser, mas agora vem para cama, ainda é cedo.
-- O que aconteceu ontem Isadora? – fixou os olhos azuis nos verdes.
-- Nada. Melissa, expliquei que estava cansada e foi realmente isso.
-- Tem certeza?
-- Sim. – odiava mentiras, mas neste caso era o único jeito de preservar o crápula do seu pai e Melissa. – Vem para o quarto comigo?
-- Faz uma massagem? Não consigo sentir muito bem minhas costas. – pediu com um jeito infantil que logo convenceu à loirinha.
-- Vem. – sorriu e lhe deu um beijo.
As duas mulheres seguiram para o quarto. Melissa retirou o camisão, ficando apenas de calcinha. Isadora iniciou a massagem de forma casta, quase profissional, mas logo cedeu aos encantos do corpo maior, deixando-se levar pelo desejo. Ela se entregou as carícias e beijos, antes que pudesse segurar seu desejo, estavam fazendo amor.
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O clima parecia ter retornado ao normal, mas, o humor da loirinha estava tão inconstante como suas ideias para sair desta arapuca.
Melissa fazia de tudo para agradá-la, mas sua paciência andava curta, assim como o humor da namorada.
-- Isadora, sua mãe está ai – Melissa informou após entrar no quarto, e passando direto para o closet.
-- O que ela deseja? – perguntou displicentemente, preocupada apenas com a expressão da mulher que amava, sem perceber o absurdo que acabava de perguntar.
-- Falar comigo. Veio discutir sobre a última coleção outono inverno da Armani. Ah, e perguntar por que não encaminhamos nosso convite de casamento para ela. – respondeu secamente e pegou um casaco, só então percebeu a grosseria, coçou a cabeça, passou uma das mãos no rosto e completou. – Estou indo caminhar um pouco, não sei se retorno para o jantar.
-- Mel espera... – pulou da cadeira e segurou o braço da morena – Por que isso?
-- Isso o que Isadora?
-- Hoje é sexta, geralmente ficamos juntas toda à tarde... – estava sem jeito. – Pensei que talvez, nós pudéssemos ir para nossa casa, ter um momento de tranquilidade...
-- Casa? Realmente sempre vamos... – coçou a cabeça - Mas na quinta, e lembrando bem os últimos acontecimentos, ontem eu propus isso, e você respondeu que “não estava afim”. – baixou a cabeça e depois levantou fitando os olhos verdes – Hoje você ficou a metade da manhã na rua, voltou depois do almoço e agora vem falar... – sacudiu os ombros – manso, sem maiores explicações... – olhou com pesar - não quero mais falar sobre isso.
-- Estou chata ultimamente... – pensou um pouco – Estou preocupada com a formatura e...
-- Isadora, sua mãe está lá na sala... – disse com os braços cruzados e apontando a sala com a cabeça – esperando você, talvez este não seja o melhor momento para conversarmos. – interrompeu antes de ouvir outras explicações sem sentido.
-- Tudo bem. – quando a morena estava saindo ela a chamou novamente – Vamos jantar juntas? – perguntou segurando a vontade de chorar.
-- Acho melhor deixarmos este dia para refletir sobre o rumo das coisas, talvez precise pensar o que realmente quer e acredita. Não sei se valerá a pena um casamento, quando sua principal preocupação é com a formatura. – respondeu, novamente, em tom áspero e saiu antes de qualquer outro argumento. Isadora suspirou e revirou os olhos, entregando-se ao cansaço. Ela chegou à sala e viu que a morena já havia saído, percebeu sua mãe sentada em uma poltrona de canto.
-- Bom dia minha filha! – tentou uma aproximação, mas foi rejeitada.
-- Como vai Rute? – não demonstrou qualquer tipo de sentimento.
-- Isadora, não fale assim comigo... – estava visivelmente abalada com a resposta da filha – Sei que não tenho sido boa mãe, e muito menos uma boa filha... – olhou dentro dos olhos verdes da filha – Mas quero me redimir e tentar melhorar para você e para meu pai.
-- Pouquinho tarde não é? – ficou em pé, mantinha distância da sua mãe – Engraçado que isso vem acontecer logo agora que descobriu que não tem mais a segurança de uma casa própria.
-- Realmente coincidiu o período, mas estou aqui por causa da sua formatura, e pelo medo que senti quando soube o que seu pai lhe fez.
-- Não tenho mais pai. – “Droga, por que eu não acredito no que falo? Seria tão mais fácil me livrar desta chantagem”. – perdeu-se em seus pensamentos e esqueceu a mãe.
-- Isadora!
-- Oi
-- O que está acontecendo minha filha? Estou lhe chamando aqui e você parece distante. – olhou a expressão da filha e lembrou a mesma expressão em Melissa – Aconteceu alguma coisa entre você e Melissa?
-- Lógico que não. – levantou-se e arrodeou o sofá – A senhora tirou isso de onde?
-- Isadora, eu sei que nunca fui próxima, nem tentei ouvi-la, saber suas necessidades... – também se levantou – Eu não sabia e nem desconfiava que você fosse lésbica, e muito menos namorava Melissa.
-- Começamos a namorar a pouco mais de dois anos.
-- Imaginei que desde...
-- Não, foi um pouco antes, do meu digníssimo, pai me espancar. – foi irônica.
-- Minha filha, eu tive muito medo de lhe perder. – estava com os olhos úmidos – Por favor, Isadora, perdoe meus erros, minhas omissões, deixe-me ser a mãe que nunca fui. – implorou após pegar a mão da filha.
-- Eu não posso simplesmente apagar tudo o que você fez com vovô...
-- Não precisa apagar nada, deixe ao menos tentar recuperar meu papel de mãe... Filha, eu não aprovo os atos do seu pai, e não quero me afastar da única coisa preciosa que tenho. – começou a chorar.
-- Mãe, eu não posso mais me decepcionar, sofri muito e não iria aguentar tudo isso novamente.
-- Não vai, confie... Não vai. Eu quero apoiar você e Melissa no que se fizer necessário. Quero vocês juntas e felizes. – puxou a filha para um abraço e as duas choraram por um tempo. Ester quebrou o silêncio. – Quando você descobriu que era lésbica?
-- Sempre fui mamãe. – respondeu enxugando os olhos.
-- Só namorou a Melissa? – perguntou limpando o rosto.
-- Não. Eu sempre a amei, mas ela era heterossexu*l*, e namorava muito – sorriu – também, não a culpo. Sempre foi linda, tinha que ser mesmo assediada, paquerada, cobiçada. – falava com tanto amor que as lágrimas voltaram a inundar os olhos de Rute. – Sofri muito com esta paixão, e sem saber como controla-la. – sorriu – Morria de ciúme de todo homem que chegava a dez metros de distância dela.
-- Nunca percebi nada minha filha, como pude ser tão cega? Egoísta?
-- Naquele período que o vovô adoeceu e ela me acompanhou mamãe, acredite, eu estava no céu. O vô percebeu, ele me incentivou a conversar, e por medo de perder, ou estragar nossa amizade, evitei. Quando nos entendemos, ela confessou que já me amava e sentia-se da mesma forma.
-- A falta de comunicação, disso eu entendo bem. – lamentou Rute. As duas conversaram sobre suas vidas por mais de uma hora. Isadora falou sobre sua formatura e Rute quis se envolver com a compra da sua roupa e os preparativos. Ela evitou falar sobre o casamento. O assunto que não saia da cabeça da loirinha foi inevitável.
-- Mamãe tem notícias do seu ex-marido?
-- Não falo com seu pai. – viu a expressão de desgosto da filha – Com Timóteo desde a época que ele apareceu, depois do assalto. – corrigiu-se.
-- Assalto?
-- O assalto que ele sofreu logo após sua internação. – disse a última palavra com receio da reação da filha, mas prosseguiu - Ele foi assaltado, passou alguns dias sumidos, e quando o encontraram no meio do mato, ele estava machucado, alguns dedos quebrados e vários cortes e hematomas.
“Esqueci-me da surra que Mel lhe deu. Senhor Pai, Melissa sonhar que estou sendo chantageada por conta da liberdade dele, é a mim que ela vai matar. Droga! Que pai eu arrumei hein?” – pensou novamente enquanto ouvia sua mãe.
-- Ele “tá” bem? Quer dizer, melhorou? – não quis se denunciar.
-- Até onde sei ótimo – olhou novamente a filha – Não o vejo desde esta época, eu cortei relações com ele. – observou a filha e tomou coragem para falar. – Isadora, senti um clima entre vocês, está tudo bem?
-- Está sim mamãe, estou apenas cheia de coisas com formatura, apresentação do trabalho final. Semana que vem, quando isso tudo terminar, as coisas voltarão ao normal. – “Deus, como queria tudo voltando ao normal!” – pensou novamente.
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Isadora ouviu barulho vindo da porta do apartamento e correu, imaginando ser Melissa.
-- São vocês. – afirmou com desânimo.
-- Pensei que tínhamos um pouquinho de IBOPE nesta casa.
-- Não somos da polícia amor. – repreendeu Júnior.
-- IBOPE amor, não é BOPE. – olhou Isadora – O que aconteceu Isadora? – Bruna perguntou. – Amor, vai lá dentro preparar suas roupas para dormir comigo, enquanto isso, eu converso com a Isa.
-- Não posso conversar também? – perguntou irritado.
-- Lógico que pode, mas são coisas de mulheres, e os homens não entendem muito bem.
-- Tudo bem, não tenho mais desejo exótico pela morena gostosa da Isa, vou lá então. – saiu um pouco frustrado, causando sorrisos de diversão na namorada.
-- Ele não tem mais desejos “exóticos” por Cris. – sorriu – E tudo graças a minha capacidade de envolvê-lo. – brincou – A senhorita está me devendo essa.
-- Oh! Favor imenso assim nem tem como pagar. – sorriram.
Isadora explicou tudo o que havia acontecido pela manhã e nos dias anteriores. Bruna ouviu a tudo atentamente.
-- Amiga, fala sério, será que esse “cansaço” – fez aspas com os dedos – foi mesmo por causa da formatura? Não tem nada escondido ou omitido?
-- O que eu poderia esconder Bruna?
-- Isa, amo meu padrinho de paixão, tenho ele como um segundo pai de verdade, e confio plenamente na sua palavra, mas não posso dizer o mesmo do pai dele. – foi para perto da amiga e segurou sua mão – O senhor José é de met*r medo até ao vento. – pensou um pouco – Nem o padrinho o enfrenta, acho que só vi a Cris ter essa coragem.
-- Cris... – disse pensativa e forçou um sorriso – Acho interessante quando vocês a chamam de Cris ou Cristina.
-- O avô dela exigiu, e como a madrinha Ester quem colocou Melissa e ela a chamava sempre assim, havia todos os dias grandes discursões, então ela resolveu, após forte pressão, chama-la só de Cristina.
-- Até nisso ele se met*u – disse com pesar.
-- Então tem mesmo dedo sujo dele ai?
-- Não falei isso Bruna, nem fala uma coisa dessas, Melissa ouvi vai ser uma grande briga.
-- Está escondendo para ela não descobrir e brigar? Não acha que Cristina é grandinha o suficiente para saber lutar e se proteger?
-- Não é nada disso.
-- Fala o que é então Isadora. – viu que a amiga se sentia pressionada – Não precisa me dizer nada, mas fala com sua mulher, explica o que está lhe incomodando, ela vai saber resolver. – voltou a segurar as mãos da loirinha – Você não tem noção da força e determinação dessa morena, fale com ela. – viu os olhos verdes se encherem de água e resolveu mudar de assunto – Tenho uma ideia, vou leva-la até onde sua “princesa encantada” estar.
-- Sabe onde é?
-- Não, mas meu “radar” chamado de irmão sabe. – ela ligou para Enrico e se informou, pediu para ele não dizer que ela estava levando Isadora. – Vamos lá? – perguntou com um olhar divertido.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Alexia
Em: 17/07/2017
Olá! Rafa
O amor realmente de vez em quando é dor pois só amando muito pra vc cometer a loucura de cair numa chantagem como a de Joaquim e largar pra trás a pessoa amada que fez e faria qualquer coisa para vê feliz lamentável! Bjs!
Resposta do autor:
Amor geralente dói, ela faz parte da vida e do aprendizado. Beijos
Mille
Em: 08/07/2017
Isa tem um imenso coração, pois vai escolher deixar a Mel e livrar a cara do pai, que tenho 98% que esses pais é uma grande mentira. E ela não pode culpar ninguém, a Mel tentou descobrir, a mãe e até a Bruna dando conselho.
Esse Joaquim é peça nas mãos do senhor José e espero que a Mel não caia na lábia dele depois que a Isa deixa-la.
Bjus e até o próximo
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