CapÃtulo 48
Entre Lambidas e Mordidas -- Capítulo 48
A viagem de Canoinhas a São Paulo, parecia uma eternidade. Daniela, olhava para o relógio o tempo todo. Rezava pedindo a Deus que protegesse Yasmin e os gêmeos.
-- Vai dar tudo certo, Dani -- Bianca tentava acalmar a amiga, mas também estava muito preocupada.
-- Mas eles são tão pequeninos ainda -- Daniela passou a mão pela nuca, flexionando os músculos doloridos -- Tão fraquinhos.
-- Já vi muita coisinha minúscula nascer e se desenvolver maravilhosamente bem.
-- Eu sei, mas é um risco bem maior -- Daniela olhou novamente para o relógio -- Que demora!
Quando a comissária de bordo atravessou o corredor em direção a elas, Daniela soltou o folego.
-- Vamos aterrissar dentro de alguns minutos. Por favor, queiram apertar o cinto de segurança e pôr o encosto da poltrona na vertical -- disse a moça sorrindo com educação e simpatia.
-- Finalmente, meu Deus! -- estremeceu só de pensar no sofrimento pelo qual Yasmin deveria, estar passando. Não podia suportar a ideia de que alguma coisa acontecesse a eles.
Assim que o avião aterrissou e a aeromoça abriu a porta, Daniela e Bianca dispararam pelo aeroporto indiferente às pessoas que caminhavam pelo saguão. Todos davam passagem a elas com medo de serem atropelados e jogados ao chão.
-- Ainda bem que não nos pararam na alfândega, né Dani?
-- Eles não pararam a gente, porque só temos bagagem de mão -- Dani apontou para uma enorme porta de vidro -- Vamos pegar um carro.
As duas seguiram em direção à saída. Entraram no primeiro táxi da fila e pediram para o motorista pisar fundo no acelerador em direção a maternidade.
O trânsito em volta do aeroporto estava horrível, o que deixava Daniela ainda mais nervosa.
Minutos depois, tomavam o túnel que conduzia para fora do aeroporto, rumo ao centro da cidade. O motorista guiava com habilidade e Daniela agradeceu a Deus por isso.
Chegaram à rua São Carlos do Pinhal, na Bela Vista, mais cedo do que imaginaram.
Uma estranha inquietação invadiu Daniela quando o taxista estacionou na frente do prédio da maternidade.
-- Boa sorte, mamãe! -- desejou o simpático homem -- Desejo que os bebês venham com saúde e muita luz para deixar a vida de vocês ainda mais brilhante e radiosa.
Daniela, sorriu agradecida.
-- É muito gentil de sua parte, obrigada.
Daniela e Bianca foram direto à recepção. Matias e Paula assim que as viram correram ao encontro delas.
-- Qual é o estado dela? -- perguntou Daniela, aflita.
-- Ainda não temos informações -- Matias segurou a mão da irmã -- O doutor Éder pediu para assim que chegasse procurasse por ele.
-- Onde posso encontrá-lo?
-- Vou procurar algum funcionário que possa nos ajudar -- Matias saiu apressado em direção à uma porta lateral e quando voltou, estava acompanhado de uma enfermeira.
Por sorte a enfermeira era gentil e atenciosa. Prontamente ofereceu-se para ajudar.
-- Eu vou procurar o doutor Éder e avisá-lo que você chegou -- a enfermeira sorriu e seguiu por um corredor.
Durante a meia hora seguinte, Daniela não teve sossego. De cinco em cinco minutos, ia até o balcão e voltava.
-- Aonde se met*u a enfermeira? -- Daniela estava tensa e ansiosa.
-- Ela volta logo, tente ficar calma -- disse Paula, caminhando até o bebedouro para buscar um copo com água.
Em alguns segundos a enfermeira retornou.
-- O doutor pediu desculpas pela demora.
-- Como ela está? E os bebês?
A ansiedade de Daniela fez a moça sorrir.
-- Não fique nervosa, pois ela já foi levada para iniciar o processo de anestesia.
-- Isso quer dizer que eu não posso vê-la? -- Daniela perguntou, decepcionada.
-- Você não quer acompanhá-la? É um direito seu.
-- Que...Quero... Acho que quero... -- respondeu hesitante.
-- Só não vai desmaiar, loira -- Bianca deu uma gargalhada -- Não vai fazer fiasco.
-- Quer ou não quer? -- perguntou a enfermeira, sorrindo -- Não é tão assustador, assim.
-- Quero, sim -- dessa vez Daniela respondeu com firmeza.
-- Então vamos! Vou lhe encaminhar para a "sala dos acompanhantes", onde você receberá a indumentária: Calça, blusão, máscara, touca e sapatilhas descartáveis.
Na sala ao lado, Daniela foi acomodado em um sofá.
-- Aguarde aqui só por um minuto? Não vou demorar. Quero apenas ver se você já pode entrar.
-- Tudo bem, obrigada -- Daniela suspirou, estava nervosa, pois não sabia o que estava acontecendo no centro cirúrgico.
A enfermeira cumpriu o prometido e logo voltou.
-- Vamos Daniela. Está tudo pronto -- disse a moça.
Ela estava tão concentrada nos seus pensamentos, que nem reparou que ela havia retornado à sala. Havia esperado tanto por aquele momento que mal podia acreditar. Sentiu-se invadida por uma profunda felicidade. Suas mãos estavam vermelhas e geladas. Não sabia se era de frio ou de nervosismo.
-- Daniela! -- a enfermeira a chamou novamente -- Vamos subir para a sala de cirurgia.
Daniela deu um pulo da cadeira e se levantou num gesto quase obediente.
-- Como ela está? -- perguntou enquanto a seguia pelo corredor silencioso.
-- Yasmin está anestesiada e muito calma.
Enquanto caminhava pelo corredor em direção ao centro cirúrgico, pensava em como a vida parecia uma viagem de ônibus. Em cada ponto uns entram outros saem, alguns passavam mais tempo no ônibus e deixavam marcas, outros passavam até despercebidos sem deixar marca alguma. Em sua viagem de ônibus, conheceu muitas garotas e justamente Yasmin, a mulher de seu irmão, foi a que mais marcou. Isso era algo muito louco e improvável, coisa que jamais imaginaria acontecer. Porém, ao menos para Daniela, essa era a verdadeira essência da vida, uma caixinha de surpresa a ser desembrulhada a cada segundo.
-- Sabe como eu me sinto? -- Daniela perguntou para a enfermeira.
-- Me diga.
-- Como uma criança, prestes a abrir o presente mais importante de sua vida. Um presente enviado diretamente de Deus para mim.
-- Como diz Daniel Godri Júnior: Deus nos deu presentes barulhentos e a isso chamou de filhos! -- disse a enfermeira sorrindo -- Tenho dois.
Doutor Éder e sua equipe já tinham iniciado o processo de abertura da barriga.
Daniela entrou no centro cirúrgico e de imediato sentiu um cheiro forte de queimado por causa do bisturi usado no processo de cauterização do corte.
-- Dani!
Yasmin começou a chorar assim que viu Daniela entrando na sala.
-- Meu amor! -- Daniela andou rápido até ela e segurou a sua mão -- Como você está minha princesa? -- deu um beijo carinhoso em sua testa e sentou-se em um banco ao lado dela.
-- Não estou sentindo nada da região peitoral para baixo devido a anestesia -- Yasmin disse chorosa -- Estou com medo.
-- Não precisa ter medo, meu amor. Vai ficar tudo bem.
Daniela encostou o rosto no rosto de Yasmin e assim ficaram. Bem próximas e de mãos dadas.
Um pano impedia que ambas visualizassem o que estava acontecendo na barriga, embora ouvissem os comentários da equipe médica.
Daniela evitava o máximo que Yasmin ouvissem alguns nada agradáveis como quando começaram a retirar a menina:
"Ela está muito fraquinha, o cordão umbilical estava levando pouco alimento para ela"
"Pega a tesoura, preciso cortar um pouco mais aqui".
-- Sabe, princesa? Estive pensando: A pior coisa é perguntar com quem o bebê recém-nascido se parece. Ele nasce todo inchado e rosa, parece uma peça de mortadela.
-- Dani! -- Yasmin sussurrou.
-- Só mais uma coisinha amor: Imagine um bebê bomba nascendo: ele nasce com vários cordões umbilicais, um de cada cor, e o médico tem que cortar o certo senão ele explode!
-- Sabe que eu não havia pensado nisso, Daniela -- o doutor Éder entrou no bate-papo.
-- Acho melhor o doutor começar a pensar em fazer uma especialização no Oriente Médio, já existem alguns cursos por lá.
Quando a menina foi retirada de ponta-cabeça e começou a chorar, Daniela não resistiu, abandonou Yasmin e correu para perto da pequena.
O obstetra entregou ela para a enfermeira. Daniela não conseguiu sequer ver a sua princesinha.
-- Higieniza, pesa e leva para a UTI Neonatal.
Essas palavras deixaram Yasmin em pânico.
-- Dani! O que aconteceu com nossa menina?
-- É normal amor -- disse sem ao menos saber se era ou não -- Ela tem o tamanho de uma latinha de refrigerante de 300 ml.
-- Dani! -- Yasmin começou a chorar, mas o seu choro foi abafado pelo choro alto do menino.
-- Esse é um genuíno Vargas, princesa. Já nasceu querendo ganhar tudo no grito -- Daniela aproximou-se da enfermeira -- O menino nasceu um pouquinho maior, amor. Do tamanho de uma latinha de refrigerante de 350 ml.
O menino também foi encaminhado para a UTI Neonatal.
-- Agora você precisa descer, Daniela -- doutor Éder pediu educadamente.
-- Claro! -- Daniela deu um beijo carinhoso em Yasmin -- Te vejo daqui a pouco, princesa.
-- Dani, cuida do bebês. Não deixa que nada de ruim aconteça -- pediu chorando.
-- Pode deixar, amor -- Daniela prometeu e saiu.
Foi tudo muito rápido, levou pelo menos uns 15 minutos, depois que Daniela entrou no centro cirúrgico para acompanhar o parto. Parecia um sonho. Um sonho maravilhoso.
"A primeira manifestação da criança no mundo, ao nascer é realmente o choro, para dizer aos pais que está junto deles. Os pais, principalmente a mãe, ao ouvirem o primeiro choro do filho, sentem a alegria assomar em seus corações, que nesta hora se encontram em estado de alta sensibilidade. Os desencarnados que ali se encontram batem palmas energéticas de alegria, igualmente, e a criança renova suas forças com as lágrimas em profusão. Até aqueles que assistem a mãe sentem um estado de bem-estar ao ouvir a música do Espírito que vem à luz da vida". (Filosofia Espirita - Volume VIII).
Daniela desceu e ficou por uns 10 ou 15 minutos sozinha na frente do berçário contemplando os gêmeos. Estava embasbacada mirando aquelas pequenas criaturas, recém-nascidas. Era a coisa mais incrível que tinha acontecido em sua vida.
-- O que eu fiz, meu Deus, para merecer essas criaturinhas?
Todos dizem que junto com o nascimento do bebê nasce uma mãe. Daniela nunca se viu preparada para encarar a figura materna. Mas, naquele momento, a vontade de tê-los perto de si, superava o medo e o receio de fazer algo errado. Era como se ela tivesse ficado pronta de forma instantânea.
-- Deixa de ficar babando no vidro e vem me dar um abraço -- Matias abriu os braços e a abraçou forte. Lágrimas rolaram pelo seu rosto e o rosto de Daniela.
Quando Daniela e Matias chegaram na recepção, os amigos os receberam com festa.
A loira soltou o ar pela boca e sentou na poltrona.
-- Gente, é muita emoção para um só coração -- ela relaxou os braços e se recostou na poltrona.
Paula sorriu e sentou ao lado dela, os olhos brilhantes de felicidade.
-- Parabéns! -- abraçou a amiga -- Como eles são?
-- Vi de longe, mas me pareceram as coisinhas mais linda do mundo.
-- Você sabe que a partir de agora vai ser tudo para os bebês, né Dani? Prepare-se para ouvir a Yasmin falando o tempo todo: Não toca no bebê, Dani. Não acorda o bebê, Dani. Não pinta o bebê, Dani. Não afoga o bebê, Dani -- Bianca imitava a voz e os gestos de Yasmin.
-- Sua bobinha -- Daniela abraçou a amiga -- Obrigada, Bia, por estar sempre presente nos piores e nos melhores momentos da minha vida.
Bianca passou a mão pelo rosto disfarçando a emoção.
-- Não me faz chorar, loira.
-- Com licença -- doutor Éder se aproximou e Daniela ficou de pé. Todos estavam ansiosos para ouvi-lo -- Os bebês nasceram de 34 semanas e 3 dias. Eles precisarão ficar na UTI Neonatal durante alguns dias, pois tiveram problemas respiratórios -- antes que Daniela falasse algo, ele colocou a mão sobre o ombro dela e continuou calmamente: -- Não sei dizer ao certo por quantos dias, talvez 15, ou mais, depende.
-- O bebês correm algum risco, Doutor? -- perguntou, Matias.
-- Ainda não posso garantir nada, eles vão ter que ganhar peso, aprender a mamar. Não vou dizer que será fácil, mas temos grandes chances.
-- Eu sei que vai dar tudo certo -- Daniela possuía uma fé inabalável de que tudo daria certo, que Deus as ajudaria e que no final tudo ficaria bem -- Eu posso ver a Yasmin? Eu sei que ela precisa descansar, mas preciso conversar pessoalmente com ela, tranquilizá-la, dar o meu carinho.
-- Tudo bem, mas não a deixe falar muito -- aconselhou o doutor.
-- Dani, fica com a chave do meu carro -- disse Matias -- Eu pego uma carona com a Paula.
-- Obrigada!
Daniela abriu a porta lentamente, tentando não fazer barulho. Numa poltrona, uma enfermeira mexia em seu celular. Ergueu os olhos quando Daniela entrou.
-- Ela está dormindo? -- perguntou, sussurrando.
-- Acho que não -- respondeu sorridente -- Tente falar com ela, mas fale pouco. As dores a incomodam muito.
Daniela a fitou por um momento e então se aproximou, carinhosa. Segurou a mão dela e beijo-a delicadamente.
-- Eu me contento em apenas vê-la por um minuto -- falou, olhando-a com carinho. Passou a mão no cabelo dela e sorriu. Inclinou-se para ela e disse baixinho:
-- Obrigada, minha pequena princesa. Muito obrigada por ter me proporcionado esse momento.... essa é a maior felicidade que posso desejar.
Yasmin abriu os olhos com dificuldade e fitou-a. A mão que estava entre as suas reagiu, fechando-se. Seus lábios se moveram e, depois de algum esforço, conseguiu pronunciar:
-- Eu te amo!
-- Eu também te amo, minha pequena flor branca e perfumada! Agora não são dois. São quatro corações batendo no mesmo compasso do amor -- disse Daniela, beijando-lhe a testa, de leve.
Fim do capítulo
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rhina
Em: 20/07/2017
Sabe autora. ....me encanta a sua. ...a nossa Dani
E como leva sua escrita. ...
os nomes dos bebês. ...olha se deixar realmente por conta
e autoria da Dani......vai ser bombástico
agora imagina a Dani educando duas crianças. ....
Yasmim vai enlouquecer. ....porque afinal será três crianças. ....
rhina
NovaAqui
Em: 17/06/2017
Nada melhor que nossos filhos nascerem bem, mesmo que prematuros. Quando nossa filha nasceu e vimos que tudo estava bem com ela, pareceu que tiramos um peso enorme das costas. Agora é permanecer um pouquinho na UTI para ficarem mais fortinhos. Ei Vandinha, qual será o nome deles?
Adorei o doutor Éder kkkk imagina ter que cortar o fio certo kkkkk só a Dani mesmo
Acho que Bia está certa, Yasmin não vai deixar Dani em paz. Quando Dani pegar nas crianças, Yasmin vai gritar kkkk
Adorei o capítulo com o nascimento dos bebês
Abraços fraternos procês!
Resposta do autor:
Olá minha querida.
Olha, se eu te contar os nomes que a Daniela está pensando, você não vai acreditar. É lógico que a Yasmin não vai permitir, nunca, mas acho melhor ela ficar bem esperta e não deixar a Dani ir sozinha registrar as crianças.
Beijão. Um domingão maravilhoso pra vocês aí!
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patty-321
Em: 17/06/2017
Que capÃtulo lindo e emocionante, bom ver a Dani com tanta fé e amor. Toda mulher parturiente precisa muito disso. Ficamos muito frágeis e sensÃveis em toda a gestação e no parto então. Dor e alegria ao mesmo tempo. Neste caso mais preocupação pois os bebês são prematuros. Lindas palavras da Dani. Obrigada Vándinha, vc como sempre escreve de uma maneira maravilhosa. Boa noite. Bjs
Resposta do autor:
Boa noite, Patty.
Obrigada! Você é muito gentil.
Nada como uma mulher para entender outra mulher, não é mesmo? Somos sensíveis a dor da outra.
Beijão. Uma noite cheia de paz e amor.
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Mille
Em: 17/06/2017
Boa noite Vandinha
Que capítulo lindo e muito fofo, Dani sem perder a graça.
O garotão vai dar trabalho para essas duas mães, mais acho que a menina será muito sapeca.
Foi muito emocionante.
Bjus e até o próximo
Resposta do autor:
Olá Mille!
Sei não. Essas meninas baixinhas e miudinhas são um perigo. Você não acha?
Um domingo lindão para você. Beijos.
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