CapÃtulo 17
Entre Lambidas e Mordidas -- Capítulo 17
Yasmin estava disposta a transformar a sua vida com Daniela em um incrível recomeço. Ela havia se apaixonado pela doçura, pela força e pelo mistério que envolvia a garota. Adorava sua personalidade brincalhona e amante da natureza e principalmente dos animais.
Estava se permitindo viver essa nova fase da sua vida intensamente. Tudo era novidade nesse seu momento! E não tinha medo de desafios, tinha medo de uma vida sem sentido.
Yasmin sentia-se bonita, desejada. Feliz.
Despertou dos pensamentos com um sorriso bobo em seu rosto. Não queria abandonar aquela felicidade letárgica, mas a voz de Pedro chegou até ela como um estrondo.
-- Pela sua cara o almoço deve ter sido maravilhoso -- disse apertando os dentes.
-- Provavelmente não tão bom quanto ao seu, mas não posso reclamar. É sempre bom rever os amigos -- guardou a bolsa no armário e sentou-se em sua cadeira.
-- A secretária do Matias me informou que ele foi viajar. Você sabe para onde ele foi?
Yasmin ficou admirada e olhou para ele com os olhos cheios de preocupação.
-- Que coisa estranha! Estive com Matias no almoço e ele não comentou absolutamente nada a respeito. Deve ter acontecido algo muito grave.
-- Deve sim. Quem sabe "A semana de moda Fashion Week, em Nova Iorque, Milão, Paris ou Londres"?
Yasmin fez cara feia. Era revoltante a forma como os irmãos menosprezavam tudo o que Matias fazia. Não permitiam a sua participação nos assuntos mais importantes da empresa deixando ele de fora de todas as decisões.
Lavínia andava pelo corredor da empresa, de Canoinhas. Ela tinha ao seu lado uma moça jovem, de vinte e poucos anos, com cabelos negros cacheados e olhos de um castanho escuro. Era um tanto gorda demais e as roupas formais exageradamente justas, não ajudavam em nada.
-- Fiz uma reserva para você no melhor hotel da cidade, não é nada comparado aos hotéis de São Paulo, mas são bem aconchegantes e limpinhos - sorriu verificando anotações em uma prancheta -- Estou me saindo bem?
Lavínia fez que sim com a cabeça.
-- Está se saindo bem. Só faltou dizer o seu nome -- falou no tom mais amigável possível.
-- Clara -- respondeu ela, erguendo o queixo em uma atitude orgulhosa -- Clara de Oliveira.
-- Muito prazer, Clara. Agora me leve para conhecer o laboratório.
Clara indicou o caminho e seguiram lado a lado pelo longo corredor.
Daniela sentou no sofá da sala com um copo da achocolatado na mão.
-- Que louco seria se chovesse achocolatado. A gente iria se molhar Toddynho -- riu sozinha -- Quanta bobagem! -- pegou o celular e enviou um whats para Yasmin:
"Acredito que você saiu e levou a chave, só pra eu não fugir de você, mas tenho aula importante hoje não posso faltar".
Yasmin recebeu a mensagem e passou as mãos pelo rosto.
-- Droga! Saí com tanta pressa do apartamento que me esqueci de deixar a chave reserva com a Dani -- foi até o armário e pegou a bolsa -- E agora?
Olhou no relógio de pulso e saiu. Quando chegou ao corredor deu de cara com Pedro, Luiz Carlos e Lara.
-- Eu mereço -- bufou assim que viu os três conversando.
-- Ora, ora, se não é a minha linda mulher? - Pedro falou dando um sorrisinho sem graça de lado -- Já está saindo amore?
Yasmin respirou fundo sem muita paciência.
-- Vou passar no shopping antes de ir para casa -- era a justificativa que ela dava e desejava ardentemente que Pedro acreditasse -- Só vou comprar umas coisinhas.
-- Não se preocupe com a hora meu amor -- Pedro puxou uma Yasmin trêmula para os seus braços -- Pode ir tranquila comprar as suas coisas. Sei que está indo comprar um lingerie só para me agradar.
Yasmin sentiu náuseas. Caminhou até a janela e observou a tarde começando a cair lá fora.
-- Você vai direto para casa?-- perguntou ela a caminho da porta do elevador.
-- Vou demorar em sair daqui, mas vou direto para casa -- ele encurtou a distância que os separava e lhe deu um beijo na testa -- Nos vemos mais tarde.
Após ela sair, Pedro voltou para junto do irmão e de Lara.
-- Desculpe, mas tenho que resolver algumas coisas, continuaremos nossa conversa em outro momento.
Fez um gesto com a mão, caminhou para a porta e saiu.
-- Eu também tenho que sair -- Lara falou apressada -- Desculpa, mas é urgente.
-- Eu vou com você -- Luiz acompanhou a gerente até o estacionamento entrou em seu carro e também saiu.
-- Olááá...
O dono da lanchonete se virou de súbito. Olhou para os dois e riu baixinho.
-- O que desejam? -- perguntou sorrindo.
-- Duas laranjinhas, por favor -- lançou um olhar cansado para o homem e completou por entre os dentes -- Era a minha bebida preferida na infância.
-- Ai que fofo! -- Vinicius disse com uma voz absurdamente melosa.
-- Que fofo! -- Falou o dono da lanchonete com a voz carregada de maldade -- Vou pegar a laranjinha.
A dupla se sentou em uma mesa próxima a janela e passaram a observar os transeuntes na calçada.
-- Esse lugar mudou muito desde a última vez que estive aqui -- o vento que entrava pela janela lhe despenteava o cabelo e lhe movia as roupas enquanto falava.
-- Você acha que a menina ainda mora na fazenda dos Pauly?
-- A menina não, ela agora deve ser uma moça linda e adorável... Aiiiiiiiiii... Que delicia! Laranjinha!
Com o berro, o garçom quase derrubou a bandeja.
-- Precisa ser tão escandaloso. Estamos em uma cidade do interior. Vai que eles são homofóbicos? -- Vinicius olhou para o garçom que ria do jeito extravagante de Matias.
-- Deus é meu pastor e ele sabe que eu sou gay. O resto que se dane.
-- Não se preocupem. O povo daqui tem respeito à diversidade - falou simpático - Desejam algo mais?
-- Não. Obrigado -- Matias ficou olhando o garçom se afastar -- Esse é tão gay que foi espremer um cravo e saiu uma rosa.
-- É uma bicha bofe -- "Bicha bofe". É usado para todos aqueles homossexuais que não são afeminados -- Agora que estamos aqui qual será o próximo passo?
-- Comprar um pote de Nutella, depois, vamos procurar um hotel para nos hospedarmos.
Ao chegar a seu apartamento, Yasmin foi direto para a cozinha, antes mesmo de tirar a bolsa do ombro. Pelo barulho de louças era lá que Daniela estava. Parou por um instante no batente da porta.
De costas para ela, vestindo uma calça jeans e uma camiseta branca, Daniela manuseava a cafeteira.
Na mesa já havia biscoitos e as canecas para o café.
-- Boa tarde! -- falou Yasmin.
-- Boa tarde -- disse Daniela assim que se virou -- Sabia que cárcere privado é crime hediondo? -- caminhou até ela, abraçou-a pela cintura e beijou sua boca.
-- Foi maldade né?
-- Não me importo, mas não me deixe sozinha.
Yasmin se afastou e circulou em volta dela, assobiando a cada volta que dava.
-- Está linda e cheirosa. Desse jeito vou começar a sentir ciúmes das suas colegas da faculdade.
-- Não diga isso, meu coração só palpita por você -- sorriu apontando para a cadeira -- Senta. Ainda tenho um tempinho para um café -- encheu duas canecas e entregou uma para a ruiva.
Yasmin se acomodou na cadeira indicada a ela e respirou profundamente antes de dizer:
-- Gostaria muito que você ficasse aqui no apartamento -- assoprou levemente a fumaça que saía da caneca de café -- Eu não vou poder ficar, mas quero que você fique.
Daniela a encarava, confusa e calada.
-- Sei que você mora em uma republica, então não vejo problemas quanto a isso.
Daniela saltou da cadeira e a olhou diretamente nos olhos.
-- Posso ser bobinha Jéssica, mas não sou burra -- falou séria -- Você não mora nesse apartamento. Uma pessoa elegante como você não passa a achocolatado e biscoitos. Muito menos com o guarda roupa vazio -- voltou a sentar, ainda mais confusa do que estivera -- Você está mentindo pra mim Jéssica. Você está mentindo desde o começo -- Daniela passou a mão pelo cabelo. Estava guardando aquelas palavras desde o primeiro dia -- Você deve ser uma milionária egocêntrica absorta em si mesma, com pouca consideração pelos outros, egoísta, preocupada com os próprios interesses.
Yasmin sentia-se fraquejar com a emoção que via refletida nos olhos dela. Sentiu aquelas palavras como uma bofetada em seu rosto.
Não podia continuar escondendo sua vida por muito tempo.
-- Não quero te magoar Dani, mas ainda não posso falar. Será que não entende?
Daniela olhou no relógio e se levantou. Queria de alguma forma ficar e terminar a conversa, mas não podia faltar. O curso estava puxado, e seus professores não aliviavam.
-- Como posso entender se você não me fala a verdade? -- precisou se sentar e tentar controlar as emoções -- as lágrimas percorreram livremente seu rosto. Secou as bochechas e respirou fundo -- Preciso ir. Estou no final do curso, toda aula é importante.
Yasmin segurou o braço dela. Não suportaria que Daniela lhe virasse as costas.
-- Amanhã à noite? -- o pranto lhe atrapalhava a respiração enquanto falava -- Prometo falar tudo.
Daniela assentiu com a cabeça. Chegara até ali, não iria desistir dela com tanta facilidade. Beijou seu rosto e pegou a chave reserva.
-- Estarei aqui lhe esperando. Se não aparecer, deixarei a chave com o porteiro.
-- Boa noite! - Lavínia desejou para a recepcionista do hotel -- Tem uma reserva no nome de Lavínia.
-- Claro, a funcionária da Vargas S.A. Não é mesmo?
-- Sim, sou eu mesma.
-- Vou pedir para um funcionário subir sua bagagem -- falou atenciosa.
-- Obrigada! -- Lavínia esfregou os olhos com força. Não tinha ideia se ela estava mesmo diante dele ou era fruto de sua imaginação.
-- LAVÍNIAAA...
-- É ele mesmo -- resmungou baixinho -- Matias? O que faz aqui? Não me diga que veio fiscalizar o meu trabalho?
-- "Tô bege". Uma cidade enorme como essa e a gente consegue se encontrar? Menina, coisa do destino mesmo.
Lavínia revirou os olhos.
-- O que faz aqui?
-- Fala baixo loka. Estou disfarçado não percebeu?
-- Disfarçado de bicha? -- olhou para as combinações super estilosas do rapaz -- Tá bom. Vou fazer de conta que acredito.
-- Esse aqui é o Vinicius -- Matias falou grosso e deu dois tapinhas no ombro dele -- Meu amigão.
Lavínia franziu a testa e retorceu os lábios num sorriso compreensivo e sacudiu a cabeça.
-- Para com isso Matias. Eu sei que você é gay -- disse calmamente -- Eu entendo que você tenha que esconder de Pedro e Luiz, mas de mim não precisa.
Matias suspirou e escondeu o rosto entre as mãos.
-- Você tem razão. Não vou ficar nessa brincadeira de esconde-esconde. Ainda mais sabendo que você é uma caminhoneira.
-- Menos Matias -- Lavínia sacudiu a mão no alto -- Vai ficar aqui por quanto tempo?
-- Espero que por alguns dias. Tenho negócios para resolver aqui -- ele falou em tom indiferente, mas Lavínia ficou curiosa.
-- Algum problema com a empresa?
-- Não tem a ver com a empresa -- respondeu -- Vamos procurar um restaurante legal para jantarmos?
Yasmin apertou com força o volante. Encostou a cabeça no vidro da janela com os olhos fechados. Sua mente divagava em tudo o que tinha acontecido nos últimos minutos.
Não tinha mais dúvida. Amava Daniela. Por desgraça, amava Daniela com toda a alma e não podia se afastar dela. De onde buscaria forças para terminar o casamento com Pedro? Forças para enfrentar a família e cair de cabeça em um relacionamento com uma garota meiga, carinhosa, mas infantil e irresponsável?
Eram tantas perguntas. Sua cabeça fervilhava que chegava a doer. Precisava tomar uma decisão e tinha que ser aquela noite. Chorou como se suas lágrimas fossem infinitas.
Yasmin acabara de sair do estacionamento do prédio indo em direção à mansão. Porém estava tão transtornada que não percebeu que estava sendo seguida por um carro preto.
Matias, Vinicius e Lavínia jantavam em um restaurante italiano no centro de Canoinhas. Apesar de a casa estar relativamente lotada, tiveram a sorte de encontrar uma mesa desocupada.
-- Para refletirmos vou contar uma pequena parábola do Japão feudal -- Matias falou olhando para baixo.
Certa vez um jovem guerreiro chegou para seu mestre samurai e, com audácia, disse-lhe:
"-- Sensei, o senhor está muito velho, não luta mais, eu sou muito melhor que você!"
Então o sábio samurai, um bravo guerreiro que havia lutado inúmeras batalhas, olhou para o jovem e sabiamente respondeu:
"-- Vai tomar no seu cú, seu recruta do caralh*!!!"
Lavínia e Vinícius se olharam em silêncio.
-- Qual a sua intenção em contar essa porcaria? -- Lavínia pegou uma taça de vinho, levou até a boca, percebeu que uma bela mulher a observava de uma mesa no canto do restaurante. Não fugiu do olhar, pelo contrário, ela ergueu os olhos e a encarou com um sorriso se formando nos lábios.
-- Não tenho intenção nenhuma, apenas achei legal -- Matias falou, mas percebeu que Lavínia estava mais interessada em um par de olhos negros que a encaravam sem a menor discrição -- Lavínia vai fundo. Não seja tão exigente, lembre-se que o príncipe da Xuxa já foi o Sérgio Malandro.
A mulher se levantou com uma taça de vinho na mão e caminhou calmamente por entre as mesas, sempre olhando fixamente para Lavínia.
-- Boa noite -- falou com um sorriso que Lavínia amou -- São turistas?
-- Estamos a trabalho -- Lavínia respondeu encantada com a bela mulher.
-- Sejam bem vindos -- estendeu a mão para Lavínia -- Me chamo Roberta e o meu prazer é imenso em recebê-los.
"Haverá sempre, em algum lugar, um cão abandonado, que me impedirá de ser feliz" Jean Anouilh.
Se você tem um animalzinho de estimação e quiser mandar a foto dele para participar da capa de uns dos capítulos do romance, envie nesse whats: 47 91333878. Não se esqueça de colocar o nome do fofinho (a) para participar da história.
A capa será atualizada após uma semana.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
cidinhamanu
Em: 11/12/2017
No Review
rhina
Em: 03/09/2016
Olá.
Boa tarde..
ACERTEI....Lavínia e Roberta.
Demais ....demais.
Quem será que está seguindo a Yasmim..
Beijos.
Rhina.
Resposta do autor:
Olá rhina.
Ponto pra você.
No próximo capítulo saberemos quem está no carro misterioso.
Beijão garota. Um lindo e abençoado domingo. Até.
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wood
Em: 03/09/2016
Que quarteto fantástico vão formar em Canoinhas,só faltou a Dani entre eles.Acho que não vai ser tão fácil Yasmin se livrar desse marido insuportável e capaz que ele vai deixar ela em paz.Quanto às mentiras espero que ela consiga o perdão da Dani e aprenda a lição.Mistério na saída dos três. Beijão minha linda até o próximo!
Resposta do autor:
Olá meu anjo.
Você tem razão. O Pedro vai infernizar a vida das duas. Muita coisa pra acontecer. Emoções a mil. Beijão.
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Mille
Em: 02/09/2016
Hum carro preto seguindo a Yasmim deve ser Pedro ou Lara??? Ambos saíram apressados.
Roberta encantou por Lavínia, e Matias cada vez mais perto das pessoas que podem levar até a Daniela.
Se a Lara for mesmo irmã da Dani, ela não deixara Pedro ou qualquer Vargas encostar na irmã, ainda acho que o juiz deixou outra pessoa sabendo desse testamento e que tem outro herdeiro.
Bjus e até o próximo, ótimo final de semana
Resposta do autor:
Olá Mille.
Infelizmente Pedro é um homem muito violento. Yasmin e Daniela não terão descanso. Muitas novidades a vista.
Beijão garota. Um maravilhoso domingo.
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